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Previsões

Jornal O Estado do Maranhão Na semana passada eu dizia que nesta época do ano florescem facilmente boas intenções e bons sentimentos, raramente transformados em boas ações capazes de povoar o paraíso. Proliferam também, acrescento, as previsões sobre o amanhã da humanidade, das pessoas famosas e, até, da gente simples do povo, compreensivelmente desejosas de saber como será a vida amorosa delas no ano prestes a começar, pois os amores – de todo mundo, parece – sempre se preocupam com as incertezas do futuro e anseiam por palavras otimistas e tranqüilizadoras como só os adivinhões sabem dizer, pois freqüentemente os romeus e julietas têm muitos desencontros que atrapalham a felicidade completa e permanente, tão perto dos amantes, mas freqüentemente tão distante, sendo simples quimera, segundo alguns descrentes no amor. As previsões são rotineiramente feitas no tom solene e misterioso de quem tem um saber elevado e uma relação direta com um ser qualquer superior, capaz de comunicar ao p

Papai noel capitalista

Jornal O Estado do Maranhão Nunca me pareceu tão verdadeiro como na semana passada o dito “vivendo e aprendendo”, que é parte do imenso baú da sabedoria popular, feita de senso-comum e lógica simples, e que tanto nos ajuda nos momentos de falta de inspiração, outro nome de falta de idéias. No rádio do carro, eu ouvia uma discussão sobre a implantação de projetos de siderurgia em São Luís. Os ouvintes davam opiniões, guiados, naturalmente, pela clarividência do apresentador. Um deles, aparentemente por nenhuma razão, começou a falar sobre o Natal e Papai Noel. Não me surpreendi de início, porque, afinal, estamos a poucos dias dessa grande festa cristã, tão cara a nossas tradições e propícia à floração de bons sentimentos e intenções, nem sempre transformados em boas ações. No meio de seu discurso, no entanto, ele soltou a informação que até agora não me saiu da cabeça: o Bom Velhinho fora inventado pela Coca Cola. Querendo aumentar a venda de seu famoso refrigerante, a multinacional co

Dívida, sem dúvida!

Jornal O Estado do Maranhão Tudo mundo sabe. Em nome de hipotética “conquista de direitos” e quixotesca “defesa da soberania nacional” face ao bicho-papão FMI, algumas bobagens foram colocadas na Constituição de 1988. Uma das mais pitorescas foi a da limitação da cobrança de juros a 12%, exigência que, cumprida, nos levaria à anarquia econômico-financeiro, porquanto implicaria a renúncia a qualquer política monetária. Os juros, como os estudantes de primeiro semestre de economia sabem, é o preço do dinheiro. Eles são uma referência básica para todas as atividades econômicas, junto com a taxa de câmbio e os salários. Seu tabelamento em nível artificialmente baixo causaria desestímulo à poupança e problemas de crédito, com as conseqüências que não precisamos mencionar de tão óbvias. Felizmente esse dispositivo constitucional, produto da ignorância acerca dos mais elementares princípios econômicos, foi revogado, por absoluta impraticabilidade, como os congressistas perceberam em crise mo

Saúde perfeita

Jornal O Estado do Maranhão Há três anos, eu escrevi uma crônica com o título “Coco mata”. Eu fazia referência ao conselho, de parte dos entendidos em prevenção de doenças, sobre a necessidade de se fazerem checkups anuais, depois de certa idade, que, tenho de confessar, já ultrapassei com relutância e má vontade, mas há não muito tempo. Seria, tal procedimento, uma espécie de seguro contra ataques traiçoeiros de uma doença moderna qualquer, dessas desconhecidas de nossos avós, ou mesmo das mais antigas, como derrame cerebral, atualmente chamado de acidente vascular-cerebral. Nós, que não somos médicos nem ameaçamos ninguém com o desejo de sê-lo, ficamos sem saber como proceder a fim de preservar a saúde, pois o recomendável num momento pode não sê-lo no seguinte, como no caso da margarina que, dizem atualmente os pesquisadores, não é boa nem ruim para nosso organismo. Antes, não só não fazia mal ao coração como até o protegia, por causa de sua procedência vegetal, sendo o substituto

Um exemplo

Jornal O Estado do Maranhão Celso Furtado, morto recentemente, foi um dos mais influentes intelectuais do Brasil na segunda metade do século XX. Certamente, sua obra permanecerá como referência indispensável para os estudos da história econômica do nosso país. Seu livro, Formação econômica do Brasil , ao lado de Raízes do Brasil , de Sérgio Buarque de Holanda, Retrato do Brasil , de Paulo Prado, Casa Grande e Senzala , de Gilberto Freire, Os sertões , de Euclides da Cunha, Formação do Brasil contemporâneo , de Caio Prado Junior, e alguns livros mais, é parte da melhor interpretação, no campo da ensaística, da economia e da sociedade brasileiras. Toda uma geração de estudiosos tem buscado em sua obra os fundamentos de sólidas reflexões acerca da construção do nosso grande destino nacional. Seria, porém, injusto vê-lo apenas como um economista ou um historiador econômico. Aliás, nenhum bom economista é tão-só um economista. Ele, um erudito, tinha uma imensa esfera de interesses. Era um

A invisível

Jornal O Estado do Maranhão No meu tempo de criança, morria-se em casa, ou pelo menos ali se faziam os velórios. Era a época das mulheres encalhadas e do recolhimento aos conventos ou deportação para o Rio de Janeiro, forma certa de morte social, daquelas moças ou esposas que se “perdiam”, davam passos em falso, em compreensíveis momentos de fraqueza. Hoje em dia, não sei se para melhor ou pior, as mulheres não encalham, a não ser por vontade própria, não sendo isto propriamente um encalhe, em cujo caso não se diz que ela ficou pra titia, as “fracas” não são enviadas ao Sul ou obrigadas a se retirar deste mundo e de suas tentações, como castigo de seus pecados da carne, nem se morre ou se velam os queridos mortos no próprio lar onde, na época de meus pais, se nascia. Lembro perfeitamente da morte de um vizinho. Apesar de doente havia meses, ele nunca fora, pelo menos na minha lembrança, a um hospital, dos poucos de então. O médico, sim, eu soube depois, o visitara diversas vezes, pois

Infidelização TIM

Jornal O Estado do Maranhão Fidelização é um neologismo inventado pelos marqueteiros. Já foi incluído no Houais, provando a liberalidade, a respeito de novidades lingüísticas, da equipe que produz o dicionário hoje. A mim, soa meio bobo, em especial na boca de atendentes de empresas de telefonia celular como a TIM. Deveria ser, mas não é, isto: “conquista da constância do cliente com relação ao uso dos produtos de determinada marca, serviço, loja ou rede de pontos de venda etc”. O leitor já verá por quê. Todos sabem o significado de fidelidade, ou pensam saber. Seja como for, ela é desculpa para muita briga, mas, em todo caso, ela depende de cada um. Ninguém é fiel ou deixa de sê-lo contra sua própria vontade, a não ser por breves períodos e em circunstâncias especiais. Ela é semelhante ao amor, com quem anda de braços dados. Ninguém ama ou é fiel por causa de uma lei, decreto ou regulamento. Eu pensava, ingenuamente – dou minha mão à palmatória, que nem é mais usada, porém deveria, p

Fim do mundo

Jornal O Estado do Maranhão A certeza era imperturbável. O mundo ia se acabar, mas somente mais tarde ele me anunciou a grande nova. Não seria daqui a bilhões de anos, quando a Terra, por querer voar muito perto do Sol, qual Ícaro com suas asas soldadas com cera, cairá na estrela e se transformará em pó, à semelhança de seus habitantes desde o começo dos tempos, dessa última vez pela ação do mesmo fogo que hoje, distante, nos dá vida. O desastre seria em alguns meses ou, no máximo, um ano. Não adiantaria recorrer aos deuses, rezar, chorar, pedir, implorar. Não havia esperança de tudo se passar como na canção em que “anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar”, porém tudo continuara como sempre, exceto pelas confissões de pecados mortais e veniais, com muito barulho, confusão e divórcios. Apesar da certeza da catástrofe próxima não se via nele sinal algum de desespero, diferentemente de um personagem de um filme de Woody Allen. Ao saber, ainda bem criança, do destino inexorável d

O verbo é Chagas

Jornal O Estado do Maranhão O verbo é o princípio de tudo. Ele nos fez e nos faz humanos, nos inventou, reinventou e reinventa permanentemente. É a própria essência da interminável luta pela comunicação significante com nossos semelhantes, quantas vezes frustrada, mas indissoluvelmente parte da nossa natureza. Ele nos distingue como superiores – o antropocentrismo aqui é justificado – aos seres dos quais, não fora por essa diferenciação tão cotidiana, todavia tão poderosa, estaríamos separados tão-só por alguns genes. O verbo, sim, é o inventor daquilo que chamamos de espírito ou alma. Mas, como todos nós aprendemos à custa de muitos desencontros e desentendimentos, o manejo do verbo não é trivial, sendo embora uma faculdade distintivamente humana. Queremos dizer uma coisa e dizemos outra. Erramos no tom, erramos nas palavras, erramos nas frases. Sem remédio, pois o dito não morre depois de enunciado. Ele somente começa a viver naquele dia, como anunciou Emily Dickinson e como o prova

Bolsa-Escola

Jornal O Estado do Maranhão Voltam às manchetes novas denúncias de irregularidades em programa social do governo federal. Não é a primeira vez nem será a última, afirmação que faço na suposição de o conhecimento do passado servir, na maioria das vezes, para imaginar o futuro, se, como neste caso, as condições político-sociais que produzem uma situação vexatória como essa não mudarem. Desta vez é o chamado Bolsa-Escola, atualmente parte do Bolsa-Família, destinado a incentivar monetariamente a matrícula de crianças na escola. Pelo andar da carruagem, ele poderia mudar o nome para Bolso-Escola, pois, ao colocar dinheiro no bolso de quem já tem uns trocados, deixa de colocá-lo no de quem anda com a bolsa vazia, mas, por isso mesmo, não pode ter seu direito de embolsar alguma educação negado por causa de sua pobreza. A Bolsa vem das tetas do governo e vai parar ou passear no bolso dos bem escolados. Esse pessoal merece mesmo é bolsadas, mas com bolsas cheias de pedras, para ver se tudo qu

Educação zero

Jornal O Estado do Maranhão Nélson Mota, que descobriu Marisa Monte, músico, escritor, compositor, produtor cultural, autor do livro de memórias Noites Tropicais e de algumas obras primas da nossa música popular, entre elas “Como Uma Onda”, em parceria com Lulu Santos, chega de Nova York depois de morar na cidade por nove anos e reclama. Reclama com razão de alguns hábitos disseminados no Brasil que lhe causam, e a muitos, a mim pelo menos, indignação, por representarem falta de respeito ao cidadão e à vida em sociedade e aversão ao consumidor. Supostamente, este, no Brasil, é protegido por um Estatuto. Mas, na prática os efeitos positivos dessa peça de legislação são quase nenhum, apesar de alguns progressos de uns tempos para cá. Creio entender o sentimento do compositor, pois quando voltei dos Estados Unidos, depois de cinco anos de residência, sem vir uma única vez ao Brasil, também tive de reaprender a convivência com esse comportamento, sem aceitá-lo, porém. Antes o combato. Nã

Reforma política

Jornal O Estado do Maranhão Uma das melhores coisas destas eleições, não foi as próprias eleições, mas a rapidez de sua apuração. Não teríamos motivos de comemoração, se avaliássemos o pleito pelo analfabetismo arrogante de vários candidatos e suas promessas de realização impossível; pela nova fraude do voto migrante, pela qual eleitores, em número capaz de influenciar no resultado da disputa, têm seus títulos transferidos para municípios onde não moram, com o fim de aumentar a votação dos autores do golpe; pela balbúrdia partidária, incentivada pela legislação, permissiva nos assuntos importantes, como o da fidelidade ao partido, e restritiva nos pequenos, numa tentativa inútil de regulação exaustiva da realidade socio-política do Brasil; e pela chatice do programa gratuito de propaganda política. Todavia, progressos já ocorreram no combate à corrupção, em comparação com o tempo em que inexistiam urnas eletrônicas. Alguns dos problemas de hoje estão mais ligados à cultura política da

Ranger de dentes

Jornal O Estado do Maranhão Contaram-me que, no sábado, a turma, velho costume, estava no maior bate papo, todo mundo despreocupado da vida, copo de cerveja na mão num bar da Litorânea. Conversa de futebol, eleição e mulher. Curtição da manhã de sol e de vento forte e gostoso dessa época do ano aqui na Ilha. Gente de meia idade, com a vida mais ou menos arrumada, aparentemente sem grandes problemas. O celular toca ­– mais um – e uma voz conhecida diz que está chegando com uma novidade. “Por telefone não tem graça, quando chegar aí, eu digo. Quero ver a cara de vocês”. O pessoal ficou mudo quando ele contou. Até os vira-latas da calçada em frente sentiram a mudança dos ânimos no bar. O sujeito chegou com uma história sobre o desprestígio do pênis. De cara, pensaram ter ouvido “do tênis”. Qual tênis? Seria um exemplar de alguma velha marca, fora de moda, incapaz de sustentar os esforços prolongados de quem o coloca nos pés? Ou seriam todos os calçados desse tipo, que, de tanto usados, p

Herança maldita

Jornal O Estado do Maranhão Leio nas páginas amarelas da revista Veja entrevista do antropólogo Roberto DaMatta, professor recém-aposentado da Universidade de Notre Dame, em Indiana, Estados Unidos. Eu estudei economia nessa instituição, na área de organização industrial. Mais especificamente, como parte de um projeto financiado pelo Ministério do Trabalho dos Estados Unidos, analisei as implicações para a criação de emprego das tecnologias utilizadas no Brasil pelas empresas multinacionais, comparadas com as nacionais, agrupadas por setores econômicos segundo critérios do IBGE. Quanto maior uma empresa, mais tecnologias intensivas em capital, que geram pouco emprego em comparação com as intensivas em mão-de-obra, serão utilizadas, independentemente da nacionalidade da empresa. As multinacionais, conforme meu estudo mostra, são maiores em comparação com as brasileiras do mesmo setor e usam tecnologias mais intensivas em capital. Justificam-se, portanto, políticas governamentais, de u

Almas Generosas

Jornal O Estado do Maranhão Nas últimas semanas, como estivesse de mudança para nova residência, abandonando o outrora charmoso bairro do Olho d’Água, tive de examinar velhos papéis, antes no fundo de velhas gavetas, o melhor lugar onde não achá-los quando deles se precisa e, no entanto, o primeiro em que os guardamos. Minha intenção era selecionar, aproveitando a inevitabilidade do manuseio, durante a confusão mudancista, os poucos que ainda possivelmente servissem para alguma coisa e jogar fora a maior parte, na suposição de serem agora desnecessários às necessidades práticas da vida. Coisas como antigos recibos, notas fiscais, declarações de imposto de renda da era pré-informática, feitas à mão na vigência de moedas já mortas e enterradas, antediluvianos manuais de obsoletos aparelhos eletrônicos despachados para os museus há séculos. Vã intenção, pois sempre que estou a ponto de tornar real uma separação como essa, verdadeira perda de pequenos pedaços de minha própria história, po

Letras e números

Jornal O Estado do Maranhão As eleições deste ano trouxeram à discussão o analfabetismo dos candidatos a vereador e prefeito, bem como outras curiosidades que, entra ano sai ano, divertem o eleitor, a exemplo dos nomes e apelidos folclóricos e das propostas, mais folclóricas ainda, de melhoramento de suas cidades. Eles não prometem tão-só o paraíso na Terra, desejo de todos, pois entre esperar a felicidade no além ou tê-la nesta vale de lágrimas terreno, não há quem não prefira a segunda opção, de gozo imediato. Tenho a impressão de serem muitos deles uns grandes gozadores com a boa fé dos eleitores. Eles chegam perto de garantir, com a inflação de postulantes auto-intitulados evangélicos, a salvação eterna em troca de voto que, afinal, devem pensar, só custa o trabalho de ir a um local de votação e apertar alguns botões de máquinas eletrônicas. Parece não haver dúvida sobre a proibição, pela Constituição de 88, em seu artigo 14, parágrafo 4º . , da eleição de pessoas incapazes de ler

Discursos

Jornal O Estado do Maranhão Muitas vezes Machado de Assis externou sua opinião sobre a influência maligna, segundo ele, da política sobre a atividade literária. Numa crônica de 31 de janeiro de 1870, ele fez uma análise de Entre o céu e a Terra , de Flávio Reimar, que não era outro senão o nosso Gentil Braga. O livro fora enviado pelo autor, com uma recomendação de um grande amigo de Machado, Joaquim Serra. Por sinal, quando este morreu em 1888, o escritor carioca escreveu uma das suas mais belas crônicas, das muitas que publicou, durante, praticamente, toda sua vida, em jornais do Rio de Janeiro, de onde nunca saiu, indo no máximo a Petrópolis. Isto inspirou Luciano Trigo a escrever um ensaio chamado O viajante imóvel: Machado de Assis e o Rio de Janeiro de seu tempo , uma espécie de guia da cidade, do século XIX, com base nos romances, contos e crônicas de Machado. Este, apesar desse, digamos, provincianismo, foi o mais universal de nossos escritores. Viajava com a leitura de seus a

O senhor ouvidor

Jornal O Estado do Maranhão Em 1543 quando era corregedor da Justiça em Elvas, no Alentejo, em Portugal, o cidadão Pero Borges recebeu do rei D.João III a incumbência de supervisionar a construção de um aqueduto. A obra ia pela metade quando parou. A verba acabara. Os vereadores da cidade indignaram-se, talvez por não terem a oportunidade de participar do trabalho de dar sumiço aos recursos destinados ao aqueduto. Enviaram, então, uma carta ao rei, solicitando uma investigação sobre as razões da carência dos fundos que eles pensavam ser bastantes a tão necessária obra, destinada a matar a sede de água dos habitantes da cidade e, como se vê, de dinheiro de Pero e seus comparsas. O rei deu autorização para a abertura de um inquérito, tão “rigoroso”, suponho eu, como os de hoje. Os investigadores chegaram à óbvia conclusão. O corregedor colocara no bolso 50% da verba, correspondente a um ano de seu salário. Três anos depois ele foi condenado a devolver ao erário o dinheiro surrupiado, e

Eterna juventude

Jornal O Estado do Maranhão   Tem gente que acha eleição, especialmente a municipal, a coisa mais chata e irritante do mundo e faria qualquer negócio para se livrar dela. O volume altíssimo nos altos falantes dos carros de som dos candidatos, as promessas não-cumpridas com a maior cara de pau, as trocas de partido, mal encerrada a votação, o analfabetismo de muitos, são de encher o saco do eleitor. Com razão, é bom dizer. Ninguém gosta de ser enganado, ou incomodado sem mais nem menos. Quanto mais por um pessoal acostumado a prometer o paraíso e entregar o inferno ou não entregar nada. A bem dizer, eles só entregam os adversários, com denúncias, dossiês e espionagem eletrônica. No fim, todo mundo acaba entregando todo mundo, mas não os mandatos, que, em princípio, não são dos eleitos, mas do povo. Eu penso de outra forma. Se dependesse exclusivamente de mim, haveria eleição anualmente, ou até semestralmente. Exagero? O leitor já deve ter notado como, no aspecto físico, as cidades se t

Más notícias

Jornal O Estado do Maranhão O governo continua acertando na economia, que mostra sinais de recuperação, ameaçada, no entanto, pela alta do preço do petróleo, e errando no resto. Entrou na ordem do dia a polêmica sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo. A discussão surge num momento em que, acossada por denúncias de irregularidades fiscais contra os presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil, a administração petista passou, por sua vez, a denunciar as denúncias, falando de um suposto “denuncismo”. É o feitiço contra o feiticeiro, pois ninguém mais do que o PT denunciou Deus e o mundo no passado. Mas, como seu mundo agora é outro, o partido passou a considerar boa só a denúncia contra os outros, sejam eles do governo, antigamente “acusado” de “neoliberal” e autoritário, ou da oposição, agora tachada de denuncista, quando antes, nos velhos maus tempos, estava apenas defendendo o interesse do “sofrido povo”. Essa atitude precisa ser denunciada imediatamente, sob pena da o

Um professor

Jornal O Estado do Maranhão Recebo um cartão de pêsames de Kalil Mohana e vou às gavetas procurar velhas fotografias de meu tempo do antigo ginásio no Colégio Marista. Ele não está em nenhuma apesar de ter sido meu professor de história. Estão o Irmão Ivo Anselmo, professor de Química, com seu porte marcial e ares germano-gaúchos de chefe escoteiro disciplinador e de falso durão, quase se ouvindo seu sotaque de um tipo que eu nunca ouvira antes aqui nas lonjuras de nossa província; o Irmão Raimundo Lobato, trazendo em tudo a marca de seus ancestrais do Marajó, professor da fascinante física, moreno em contraste com o branco Anselmo, os dois, um do extremo Sul do Brasil e o outro do Norte, refletindo conjuntamente a heterogeneidade do nosso povo; Irmão Geraldo, nordestino valente que nos obrigava a decorar todos os afluentes do rio Amazonas, das margens esquerda e direita, sem perder nenhuma chance de mostrar a camisa do Flamengo invisível na foto, sob a batina um pouco desleixada; o I

A Mãe

Jornal O Estado do Maranhão Há dores particulares que se tornam universais por serem comuns a todos nós. Quem não as sentiu ainda, um dia as sentirá e sofrerá com elas, tornando-se mais humano. Uma delas é a da morte de uma pessoa amada. Penso, assim, que os leitores serão compreensivos e não se importarão se eu lhes falar sobre a nossa mãe, minha e de muitos irmãos, Maria Raposo Moreira. Ela acaba de morrer aos 83 anos, em paz consigo, com o mundo e com o seu Deus de todas as horas. Quem sabe no futuro, algum curioso descobrirá, ao ler velhos jornais, a existência em São Luís do Maranhão, onde passou a maior parte de sua vida, de uma mulher nascida em Cajapió, que, por sua inteligência excepcional, temperamento marcante, caráter firme e aptidão especial para criar filhos, ao lado de seu grande amor, Carlos Moreira – eles agora felizes se reencontram, a fim, desta vez, de ficarem juntos por toda a eternidade –, cumpriu diligentemente a missão de mãe. O senso de responsabilidade, a dis