17 de abril de 2016

Última instância

O Estado do Maranhão

          Vejo na TV, quinta-feira à noite, dia 14/4, apreciação pelo Supremo Tribunal Federal de pedido do Partido Comunista do Brasil e, igualmente, do advogado-geral da União, ambos, o partido e o advogado, na tentativa, o primeiro, de procrastinar, e o segundo, de impedir o andamento do processo de impeachment da presidente da República, Dilma Roussef. 
          Farei apreciação a respeito do advogado em outra ocasião. Concentro-me, de imediato, na evidente ironia de ver um partido comunista, cujo objetivo é “superar” as forças produtivas da economia capitalista e implantar a ditadura do proletariado, ou outro nome qualquer que desejem dar a ditaduras de verdade, como “democracia proletária”, a utilizar, esse partido (aqui, corro a completar o pensamento, explicitando a quem desejo me referir, isto é, ao partido, evitando, assim, anacoluto involuntário, ao estilo Dilma), mecanismos de uma democracia sem adjetivos, como a nossa, para os fins do PC do B. Neste caso, se trata de dar suporte ao governo mais corrupto, já empossado na presidência da República.
          A ironia não está, apenas, no uso desses mecanismos. Está, principalmente, em que, nos países comunistas, antes e, ainda, agora, o judiciário era meramente órgão de chancela dos desejos do Executivo, representado, naturalmente, pelo Partido Comunista. Quem, minimamente informado sobre a história do século XX, não se lembra dos famosos julgamentos de Moscou, no auge entre 1936 e 1988. Eles resultaram na execução de praticamente todos os membros do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética. Entre os executados estava Kamenev, comunista da velha guarda, antigo revolucionário e amigo de Lenine. No tribunal, depois de confessar crimes imaginários, ele se levantou e disse: “Qualquer que seja minha sentença, considero-a de antemão justa. Não olhem para trás”, disse a seus filhos. “Sigam Stalin”. Este, o autor da ordem de execução.
          Atenção, leitor mais jovem. Não era o governo soviético matando membros de um partido comunista na clandestinidade. Os assassinados eram filiados do mais alto escalão. Escapou, tão só, Stalin, o grande ditador. Essa era a democracia proletária. Não havia a quem recorrer, que já não estivesse controlado pelo regime. Um judiciário a quem os cidadãos ou entidades pudessem recorrer, como no Brasil, com a certeza de serem ouvidos imparcialmente, não existia. São a instituições como essa, tão odiadas pelos comunistas, que eles depressa apelam. Imaginem como seria tratado um partido capitalista num regime comunista.
          Essa mentalidade ditatorial, semelhante à do PT, afetada pelo ódio à prosperidade capitalista e às liberdades individuais, jogou o país no caos, evidente em todo o país. Agora apelam à justiça da burguesia insensível a fim de se manter no poder. O impeachment de Dilma não se dará apenas por crimes de responsabilidade. Será também pela destruição, mesmo momentânea, do futuro de um povo. A reconstrução será longa e penosa. Mas, ela dará sentido à luta dos brasileiros contra a barbárie petista.

PS: Até o STF se tornou golpista, pois acaba de decidir contra o governo em todos os recursos contra o impeachment.

3 de abril de 2016

Uma atitude mental

O Estado do Maranhão

          Em 1954, eu tinha 6 anos de idade. Lembro muito bem do suicídio do ditador Getúlio Vargas, então presidente da República, eleito em 1950, democraticamente, depois de seu período semiditatorial entre 1930 e 1937 e, abertamente, ditatorial daí até 1945. Prevaleceu genuíno clima de consternação, com músicas fúnebres nas emissoras de rádio, edições extras dos jornais a toda hora e o povo triste e revoltado. Gegê era, sim, popular, mesmo quando autocrata, assim como Medici o seria, no regime militar, quando na presidência da República.
          Todo ditador é sanguinário, permitam-me dizer o óbvio. É que o óbvio nem sempre é óbvio, como é possível ver da adoração das esquerdas brasileiras por ele. É como se as atrocidades cometidas pelo seu regime, durante tantos anos, jamais tivessem existido, não fossem óbvias. O comunista Luís Carlos Prestes, estrela-guia de um dos Partidos Comunistas brasileiros, viu sua mulher ser enviada por Getúlio a um campo de concentração na Alemanha, onde ela foi assassinada. Isso não impediu, mais tarde, a aliança de Prestes com o autor intelectual da morte dela, transformado em herói da classe operária. Acima e além da vida de Olga Benário, sua esposa e companheira de militância política, estava a Causa.
          Em nome dessa ideia, tudo era é permitido. Uma monstruosidade moral como essa, um crime covarde dessa magnitude, contra uma grávida – repito, mulher de Prestes –, podia ser aceito pelos comunistas porque o fim era bom, o estabelecimento do Paraíso obreiro na Terra. Os assassinatos de milhões de pessoas pelos regimes comunistas podiam e deviam ser ignorados, porque um novo homem estava em criação, sobre os cadáveres do velho homem.
          Era uma atitude mental não igual, porém muito semelhante à dos petistas de hoje. Se é por um objetivo supostamente nobre, pode-se furtar à vontade, não só com o fim de levar a classe operária ao Nirvana, como manter sua vanguarda, representada pelo Partido, eternamente no poder, a fim de continuar com a obra de resgatar o proletariado das garras dos malvados capitalistas. Nobres ideais!
          Dilma Roussef, com mentalidade de bunker, Lula com ares messiânicos, mas atitudes muito cruas, sem respeito por valor civilizatório algum e sem o entendimento da política como a arte da conciliação em benefício da resolução dos problemas do país, juntos, os dois, a diversos líderes petistas, levaram o país a situação de deterioração econômica, caos administrativo, desagregação política, decomposição moral e falcatruas orçamentárias de dimensão e grau não vistos anteriormente entre nós. Está aí, como evidenciada pelas pesquisas de opinião mais recentes, a confirmação, pelo do povo brasileiro, da péssima qualidade de nosso governo. Em qualquer índice que se escolha para exame, os percentuais negativos vão de 69% (avaliação do governo) a 82% (maneira de governar). É, na prática, avaliação unânime.
          Dilma Roussef deve sofrer o impeachment não só por crimes de responsabilidade. Ela deve ser punida, severamente, pelos males cometidos contra os cidadãos brasileiros; pelos dez milhões de desempregados; pelo roubo, aos brasileiros, da esperança de uma vida melhor.

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