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Mostrando postagens de dezembro, 2006

Ano Novo, Ano Velho

Jornal O Estado do Maranhão Se o final de 2006 servir de indicador de como será 2007, não poderemos ser otimistas no Ano Novo. Dê uma olhada, caro leitor, nos jornais das duas últimas semanas para se convencer disso. Já não falo de acontecimentos lamentáveis como o escândalo da compra de votos no Congresso. Limito-me a casos mais recentes, noticiados pela Folha de S. Paulo , de onde tiro as manchetes. Comecemos pela crise da aviação civil. “Aeroportos já têm atrasos e filas antes mesmo do Natal”, notícia de um dia depois de o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) dizer que o feriado seria tranqüilo para os que se arriscassem a viajar de avião. Não foi, sendo necessária a intervenção da polícia a fim de conter a raiva de passageiros frustrados e revoltados com os atrasos. Aliás, o presidente da Anac continua dizendo que não haverá problemas de novo agora. Acredite quem quiser. “Governo culpa empresas pelos atrasos nos vôos” e “TCU culpa governo pelo apagão aéreo”. É o

Justa homenagem

Jornal O Estado do Maranhão Em casa, vindo da Assembléia Legislativa do Estado, onde assisti à solenidade de entrega do título de cidadão maranhense ao professor Raimundo Medeiros Lobato, pus-me a recordar meus tempos de aluno do colégio dos irmãos maristas de São Luís, quando ele, como membro da irmandade de origem francesa, fundada por Marcelino Champagnat, foi diretor da escola, de 1965 a 1970, tendo chegado aqui em 1964. Durante toda minha vida de estudante, eu freqüentei escolas católicas ou ligadas ao catolicismo em alguma época: a Escola Santa Terezinha, no Monte Castelo, das irmãs Valois, a Faculdade de Economia do Maranhão, que depois faria parte da Universidade Federal do Maranhão que fora em sua origem uma instituição católica, e a Universidade de Notre Dame, em Indiana, Estados Unidos, considerada a segunda melhor universidade católica dos Estados Unidos, onde fiz mestrado e doutorado em economia. No ano de minha ida para os maristas as regras de procedimento eram ainda b

Sem Justiça

Jornal O Estado do Maranhão O cidadão pobre e negro que tinha 33 anos de idade quando extraordinária tragédia o atingiu, deve ter pensado, como Josef K., personagem do escritor tcheco de fala alemã, Franz Kafka, no romance O processo , que alguém certamente o havia caluniado, “pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum”. As forças que a partir daquele momento deram início a lento mas inexorável movimento para esmagar aquele homem e dele retirar a dignidade, revelaram mais uma vez uma das características marcantes do mundo contemporâneo: a violência do Estado frente ao cidadão comum indefeso, e a angústia existencial e o desespero nascidos daí. Como Wagno Lúcio da Silva, esse era seu nome, haveria de perceber, a engrenagem da burocracia estatal, posta em movimento – neste caso a burocracia do sistema de justiça, rápido em condenar pessoas da condição social humilde dele, não as de alta renda –, não pára antes de dar voltas e mais voltas. Cumpre, assim, exigência derivada so

Foi-se Pinochet

Jornal O Estado do Maranhão Foi-se Pinochet, como se vão todos os ditadores, como se foram Stálin, da União Soviética, Hitler, da Alemanha, Franco, da Espanha, Salazar, de Portugal, Somoza, da Nicarágua, Strossener, do Paraguai, ditadores africanos e mais um infinidade deles, sendo a lista extensa, capaz de nos fazer concluir com segurança que, na história da humanidade, a ditadura é regra e não exceção, não devendo tal afirmação surpreender ninguém, pois a dominação do homem pelo homem, a opressão do mais fraco pelo mais forte, o roubo, a guerra, a violência, a opressão, a tirania, muitas vezes em nome de belos ideais que têm enchido o inferno, tudo isso não é senão a mais pura expressão dos instintos, muitas vezes rebeldes ao controle do processo civilizatório, partilhados pelos humanos com os outros primatas. Foi-se Pinochet, como iremos todos nós um dia, como uma diferença dele para nós, simples anônimos, comuns, sem pretensão nenhuma, a não ser a da fugidia felicidade: ele deixou

Nada e tudo

Jornal O Estado do Maranhão Folheio os jornais da semana anterior à passada e leio com alegria a notícia da absolvição pelo Superior Tribunal de Justiça, por 23 votos a zero, do desembargador Mílson Coutinho, em ação penal proposta pelo Ministério Público Federal, originada em representação da Associação dos Magistrados do Maranhão acerca de hipotética contratação irregular de funcionários pelo Tribunal de Justiça do Estado durante o período em que ele foi seu presidente. Minha surpresa foi nenhuma, pois isso era mesmo reclamado pelo bom senso, que nem sempre está presente nas proposituras do Ministério Público, ou nas sentenças dos tribunais, que dão, algumas vezes, a impressão de pretenderem atuar em algum vácuo social, cegos às exigências de uma sociedade complexa como a nossa, como no caso da derrubada pelo STF da cláusula de barreira para os partidos políticos. Surpresa foi descobrir que o STJ havia tomado a decisão havia algumas semanas, sem Milson, durante esse tempo, ter dit

A César...

Jornal O Estado do Maranhão A César o que é de César. Declaração recente e acertada do presidente Lula, revelando seu desejo de evitar que a Lei de Responsabilidade Fiscal seja mutilada, afastou algumas preocupações da sociedade brasileira a respeito da possibilidade de volta da antiga idéia, colhida na cultura do vodu econômico nacional, de que gastos do governo sem controle não devem ser combatidos e não têm nenhum efeito deletério sobre a economia, ademais de terem as características da infinitude e geração espontânea. Se fosse verdadeira, a idéia teria, muito tempo atrás, levado a humanidade, e não apenas a classe operária, ao paraíso, sem o imperativo de termos de sair da vida e voltarmos à mineral existência. Dizia-se então, nessa pré-história do combate à inflação, como se começa a dizer agora, não ser necessário submeter o governo, em especial os estaduais, ao equilíbrio orçamentário, coisa do neoliberalismo, do capitalismo selvagem e de direitistas sem alma, como se houvesse