14 de junho de 2015

Consumidores, uni-vos!



Jornal O Estado do Maranhão

          Não poucas vezes, tenho falado contra o desamparo do consumidor, diante da falta de profissionalismo de empresas que o tratam com ares arrogantes de quem está fazendo favor a suas vítimas. Quem já teve a paciência de ler textos de minha autoria se lembrará de minha persistente defesa da economia de mercado e, portanto, da livre iniciativa, que se torna tangível na forma de empreendimentos livres do jugo estatal, com ampla liberdade de buscar o lucro em concorrência com outros. Em verdade, se fosse para ter prejuízo, quem se arriscaria no mercado? Essa busca, porém, não pode significar a competição sem regras ou o tratamento dos clientes com descaso. O lucro é bem-vindo, apenas se for obtido de forma civilizada.
          O capitalismo é uma forma de organizar a economia. Para funcionamento adequado, ele exige obediência a princípios éticos de parte dos empreendedores, assunto discutido pelo grande Adam Smith há quase dois séculos e meio. Esse regime econômico, ao contrário do propalado pelo esquerdismo primário, em especial do alto (ou do baixo) de suas cátedras nas universidades federais, não tem nada de anárquico, como a história econômica prova, com os inúmeros exemplos de sucesso na criação de riqueza para a humanidade. Os exemplos contrários, de fracasso, mostram o tanto de miséria, dor e pobreza criados, inevitavelmente, pelo socialismo real. Basta, para comprovar essa afirmação, observar a Coreia do Norte comunista, com seu ditador gorduchinho, que seria engraçado se não fosse um assassino de milhares de seres humanos, principalmente pela fome e pobreza, e compará-la com a rica democracia capitalista da Coreia do Sul.
          Não falo em tese nem por ouvir dizer, relato experiências – más experiências –vividas por mim no trato com empresas acostumadas a dar tratamento desrespeitoso aos demandantes de seus produtos e serviços. Foram duas recentemente.
          A primeira foi esta. Sempre otimista, adquiri, no ano passado, um televisor para ver o Brasil ganhar a Copa do Mundo de futebol. O aparelho apresentou defeito justamente poucas semanas depois de terminada a garantia de um ano do fabricante. Como eu havia contratado outra, do tipo estendida, tratei de utilizá-la. Recorri à Cardif Seguros, responsável pela cobertura financeira do reparo. A seguradora indicou, então, uma assistência técnica Sony, que faria o serviço, a firma E. R. Carvalho Costa, à rua dos Manacás no Jardim São Francisco. Aqui começaram os problemas. A empresa prometeu apanhar o aparelho no dia 6 de maio, mas, não o fez. Prometeu, novamente, fazê-lo no dia 7 e, de novo, nada. No dia 8, finalmente, levaram o televisor. Depois disso, não disseram mais nada. No dia 18, dez dias depois, telefonei pedindo informações. Disseram-me que o prazo era de 30 dias, num tom de “é pegar ou largar”. Reclamei com a seguradora, o que levou a assistência a ligar para minha residência, no dia 23, dando novo prazo de mais 30 dias para o conserto. Significa dizer, quase dois meses desde a data em que o televisor foi levado. Não é essa a forma correta de tratar clientes.
          O segundo caso é da área médica. Necessitando fazer exames cardiológicos, decidi, por sugestão de Graça, minha mulher, fazê-los, com agendamento prévio, no DOM, um centro de medicina diagnóstica. Um deles foi marcado para as dez e meia, horário por mim cumprido rigorosamente. Para encurtar a conversa, fui atendido à uma hora da tarde, duas horas e meia depois do horário agendado, mas, tão só, depois de reclamar da demora. Não me deram explicação alguma para tão longo atraso. Trata-se de caso de charmosos comerciais nos meios de divulgação, que mostram uma coisa, sendo o comportamento da prestadora de serviços outro. Eu senti como se me tivessem dito que o atendimento era pela famigerada ordem de chegada, prática pela qual quem atende maximiza receitas e o número de atendidos e estes, a chateação e o tempo de espera. O agendamento foi feito para quê, se não seria cumprido? Esse, o padrão de atendimento em toda parte.
          Consumidores de todo o mundo, proletários ou não, uni-vos!

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