15 de junho de 2014

Vai ter Copa



Jornal O Estado do Maranhão


          É bobagem das grandes desejar a derrota do Brasil na Copa sob o argumento de que, vitoriosa, a Seleção ajudaria a presidente Dilma na tentativa de reeleição em outubro próximo, como se houvesse relação de causa e efeito entre vitória (ou derrota) no futebol e avaliação positiva (ou negativa) do governo dela ou de qualquer outro. A administração federal por certo é muito ruim, mas não será o resultado da competição que fará as pessoas mudarem de ideia a respeito do governo do PT e sobre o próprio partido.
          Equívoco de natureza semelhante, todavia diferente no objeto de crítica, é o relativo ao volume de recursos públicos aplicados na construção de estádios e ampliação de sistemas urbanos de transporte de massa. O total desses dinheiros é, relativamente às necessidades imediatas de investimentos públicos, pequena. O problemas não está aí, está na falta de cumprimento das promessas, como a de uso exclusivo de recursos privados nas obras e de obediência aos orçamentos exibidos por ocasião da apresentação da candidatura do Brasil a sediar a Copa.
          Ora, nada disso foi cumprido. Recursos públicos foram utilizados em quase 100% dos casos assim como os orçamentos em muito foram aumentados, criando a suspeita da existência de esquemas de corrupção de agentes públicos, como é frequente acontecer. Houve atrasos nas obras. Várias delas estavam incompletas no dia da abertura do torneio ou foram prometidas para o fim do ano. Algumas sequer foram iniciadas e foram cortadas da lista dos compromissos, chamada de caderno de encargos pela burocracia da Fifa. Muitos pessoas contrárias à competição, o são por esses motivos. Outras, os revolucionários do Leblon, no Rio de Janeiro, ou dos Jardins, em São Paulo, o são por ideologia, aquela responsável nos países socialistas, como a antiga União Soviética, China, Vietnã, Camboja, Cuba e diversos países da falecida Cortina de Ferro pela morte de milhões de pessoas por fuzilamento, fome, exposição ao frio extremo, trabalhos forçados e más condições de higiene.
          Vai ter Copa, sim, e o futebol brasileiro irá brilhar, como já o fez na abertura do torneio quinta-feira passada, contra a Croácia, com destaques no nosso time para Neymar e Oscar. Muitos dirão que o juiz deu um pênalti inexistente em Fred e terão razão em dizê-lo porque a falta não ocorreu. Pois seja. Na ausência da marcação equivocada o placar seria de 2 a 1, em vez de 3 a 1. Mas, esperem aí. O juiz, Yuichi Nishimura, não é o mesmo do Brasil contra a Holanda na Copa de 2010? Não foi ele quem deixou de dar um pênalti a nosso favor, cometido em Kaká como resultado de uma “tesoura voadora” de um jogador holandês no brasileiro dentro da própria grande área da Holanda? Os erros dos juízes fazem parte do esporte. Àquela altura do jogo de 2010 o Brasil vencia por 1 a 0. Se chegasse a 2 a 0 com o pênalti não marcado, dificilmente nossa equipe deixaria de vencer. O juiz não errou somente a favor do Brasil. Errou também em 2010, contra. São ridículas as teorias conspiratórias de que o Brasil comprou a Copa.
          Um amigo, um dos milhões de entendidos em futebol (eu me divirto com a previsão dos entendidos, que sempre veem as outras seleções como mais “perigosas” do que de fato são) me disse: “Se o Brasil por acaso levar um gol antes de fazer o seu, não terá força de se recuperar contra os croatas”. Aconteceu o contrário em condições mais adversas do que se poderia imaginar. Além de sair perdendo, tal situação surgiu de um gol contra, fato ocorrido pela primeira vez com o Brasil em Copa do Mundo. O inesperado da situação poderia ter desequilibrado emocionalmente nossa equipe o que não aconteceu.
          O povo continua sua velha história de amor com a Seleção. Não será meia dúzia de agitadores do PSTU, partidos congêneres e movimentos associais delinquentes que irão sequestrá-la das mãos de milhões de brasileiros. Afinal, ela é uma das poucas instituições capazes de despertar em nós orgulho de nosso (não deles) país e o sentimento de sermos membros da mesma comunidade de cidadãos livres e iguais em direitos e deveres.

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