Incertezas
Jornal O Estado do Maranhão Para as crianças de classe média como eu, nos anos cinqüenta no distante bairro do Areal, depois Monte Castelo, era um grande acontecimento ficar doente de cama, se isso não indicasse algo grave. Uma gripe, uma queda, uma garganta inflamada, como essa a me incomodar agora, ao nos prender em casa, depressa tornavam realidade nosso desejo não tão secreto de faltar às aulas pelo menos por um dia. Nessas ocasiões, meu pai pegava no centro da cidade um dos carros de praça da época, no Posto Vitória, telefone 1400, com seus choferes, hoje taxistas, conhecidos de toda na cidade, com seus belos e pesados carros importados, e trazia o médico pediatra (as médicas eram raras ou inexistentes) para ver os filhos que deixara sob os cuidados da minha mãe, que os considerava uns santos, ao contrário dos pequenos amigos deles, legítimos capetas em forma de gente. Eu via nos médicos uma aura mágica e indefinível. Não me passava pela cabeça continuar doente por mais de vinte