15 de setembro de 2013

Vai e volta?

Jornal O Estado do Maranhão

          Está na hora de fazer contas, pessoal, hora da aritmética, hora do 2 + 2, hora da escolinha. Vamos lá.
          Quanto o governo brasileiro, comandado pelo PT, vai gastar em um ano com os primeiros médicos cubanos que chegaram ao Brasil, em número de quatrocentos, a fim de participar do programa Mais Médicos? Quatrocentos médicos à base de R$ 10 mil por cada um, por mês, durante 12 meses. Socorre-nos a aritmética: 400 x R$ 10.000,00 x 12 = 48 milhões de reais. Terminamos a primeira etapa da conta.
          Vejam, agora. O número total dos profissionais da área médica no Brasil, vindos da belíssima ilha do Caribe, de povo alegre e simpático, apesar da feroz ditadura, não será de apenas quatrocentos. Aumentará dez vezes a partir do próximo ano, chegando a 4.000 médicos. Nova conta e chegaremos ao valor total a ser gasto anualmente pelo Brasil com o Programa na contratação dos cubanos: quatrocentos e oitenta milhões de reais, resultado de se multiplicar os 48 milhões mencionados acima por 10, praticamente meio bilhão de reais. Nestes tempos de roubos de bilhões e bilhões dos cofres públicos esse valor pode parecer, e de fato é, fichinha diante do que se vê quase diariamente por aí. O milhão está completamente e irreversivelmente desmoralizado, é coisa dos antigos ladrões de galinha. Agora a turma só fala em bilhões, em negócios feitos por malandros de casaca, fraque e cartola, por malandros federais e mesmo internacionais e talvez internacionalistas.
          Pera aí, o inteligente leitor, dirá. Qual o problema? É dinheiro gasto na melhoria da assistência à saúde do povo brasileiro. Ora, ora, há mais coisas aí do que a intenção de prevenir doenças.
          Em todos os casos de contratação de um profissional estrangeiro pelo Programa Mais Médicos, a relação é direta entre ele e as autoridades brasileiras. Seja português, espanhol, argentino, saturniano ou venusiano, ele assina um contrato sob as regras trabalhistas locais e ganha um salário cuja utilização é de sua livre escolha. Se quiser gastar tudo com amendoim torradinho, por exemplo, com chocolate suíço, com rum ou com bons “puros”, assim seja, é sua escolha, ninguém pode nela meter o nariz, especialmente os dirigentes de seus países.
          Não no caso em questão. Os quatrocentos e oitenta milhões de reais entram diretamente no bolso do governo da Ilha, não dos médicos. Estes receberão tão só, por mês, umas poucas centenas de dólares, equivalente a seus salários quando trabalham em sua terra, valor muito distante dos R$ 10 mil pagos pelo Brasil a Cuba. É só isso, nada mais. No fim, o governo de lá resta com o resto, que é quase tudo. Admitamos uma sobra em torno de quatrocentos e cinquenta milhões de reais nos cofres governamentais. Não é pouca coisa numa economia do tamanho da economia de lá, com imensas carências.
          Mas, eis minha fraca memória a perguntar ao dr. Google se não teria havido uma história mal explicada sobre o envio de dinheiro cubano para a campanha do PT e, claro, de Lula, na eleição presidencial de 2006. Houve, sim, ele me diz. Pobre de mim sem esse assistente tão valioso, pronto 24 horas por dia a corrigir minhas confusas lembranças, à minha disposição feito um escravo mudo.
          Em frente. As quantias em jogo nesse episódio nem eram assim tão grandes. Tratava-se de “apenas” 3 milhões de dólares, 7 milhões de reais ao câmbio de hoje. Era ainda coisa de quem apanha galinha no quintal alheio. Na história entraram ex-auxiliares de Palloci, de quando ele era prefeito em Ribeirão Preto, um diplomata cubano, automóveis blindados, jatinhos, o comitê de Lula em São Paulo, etc. Com antecedentes como esse, será fora de propósito suspeitar de que o mesmo possa acontecer novamente, com o uso de tecnologia mais moderna de transporte de valores? A motivação será mais forte, pois, afinal, esse dinheiro-bumerangue oferece custo mínimo e benefício máximo às partes envolvidas, mas custo máximo e benefício mínimo aos donos do dinheiro: o contribuinte brasileiro.
          O dinheiro vai e volta como caixa dois ou a solidez moral do PT não permitirá tanta maranha?

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