24 de novembro de 2013

Gente Sensível

Jornal O Estado do Maranhão

          O Brasil é um país original. Aqui, todo mundo é esquerdista, caso único no mundo. O bobinho, ao falar com a imprensa, dar entrevista à televisão, escrever longos e obscuros artigos em jornaleco, revista ou blog financiado pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica ou Petrobrás (afinal, empresas estatais devem servir mesmo a esse fim, apoiar as ideias dos companheiros e difamar adversários políticos) tratará logo de deixar claro o quanto é sensível aos chamados problemas sociais. Reivindicará então o monopólio desse nobre sentimento. Pronto, é um esquerdista dos bons, politicamente correto. O galardão autoconcedido o deixa satisfeito: “Sou bacana, me importo com os pobres. Hoje vou dormir tranquilo como um justo”.
          Em seguida jogará em cima das consciências degeneradas dos “direitistas” a vergonhosa insensibilidade deles. Se o cara for contra a intromissão do Estado na vida privada dos cidadãos, a ponto dos governantes tentarem determinar o cardápio das crianças na escola, assim retirando dos pais decisão em princípio só deles, então é quase um candidato à morte por apedrejamento em praça pública por incorreção política.
          É a sensibilidade ultrassensível, vamos dizer assim, dessas figuras, que as leva e as levou a apoiar regimes promotores do assassinato de mais de uma centena de milhões de pessoas por trabalhos forçados, fome e doenças ou simples fuzilamento, enforcamento, envenenamento e câmara de gás (lembram-se do acordo entre a Alemanha de Hitler e a antiga União Soviética de Stálin, logo antes da Segunda Guerra Mundial, e de que o partido nazista era o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães?). E o apoio incondicional ao paraíso dos trabalhadores da Coreia do Norte, que tem a particularidade de ter sucessões governamentais de natureza dinástica, já em terceira geração? E a tragédia do Camboja, atualmente monarquia constitucional, mas que por um tempo, durante a Guerra do Vietnam, foi submetido a um regime socialista de brutalidade inimaginável e contra o qual jamais se ouviu um escasso e envergonhado comentário dos sensíveis? Lá, o governo endureceu contra o povo sin perder la ternura jamás. Os países submetidos a esse tipo de governo sempre foram numerosos. Todos, com exclusão de nenhum, todos foram apoiados pela sensibilidade socialista.
          E o Brasil dos tempos atuais? Ora, a mesma sensibilidade, neste caso com pretensão a justificar em nome do “povo” desvio de dinheiro público, tentativa de compra do Congresso e tudo o mais imaginável no terreno de falcatruas e ataques às instituições da democracia, em especial o Supremo Tribunal Federal. Este, tendo 9 de 11 ministros indicados pelo PT, fez, mesmo assim, um “julgamento de exceção”. Imaginem se a proporção fosse invertida: 2 pelo PT e 9 por outros partidos. Na cabecinha dos bons companheiros, todos os condenados já estariam fuzilados.
          Esse pessoal é tão sensível que se comove com a doença, grave certamente, de José Genoíno, ex-presidente do PT. Coitado, ele não sabia que estava assinando papeis de empréstimos destinados a encobrir o furto de recursos públicos. Só faltam dizer, da doença, que ela absolve de seus crimes o deputado. Doente, sim; inocente, não; nem mártir. Ele foi condenado em outra ação, AP-420, há pouco reenviada ao STF. Nunca antes na história deste país, se viu tanta arrogância em condenados, levando-os a se acharem no direito de julgar o STF. O raciocínio é este: se a causa é “boa” – a causa de se perpetuar no poder –, então todos os meios valem inclusive e principalmente os ilegais.
          A bancada da Papuda, penitenciária do Distrito Federal onde estão os mensaleiros, tem permissão de receber visitas de seus familiares e companheiros, no bom sentido, claro, quando bem entenderem, ao contrário dos parentes dos outros presos, que têm dia, uma vez por semana, e hora de recebê-los e são partes do mesmo povo em nome do qual os presidiários agiam em benefício próprio e do partido. É muita sensibilidade. Mas, finalmente o PT descobriu, surpreso, nas penitenciárias lugares, assim, um pouco desconfortáveis

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