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Mostrando postagens de 2006

Ano Novo, Ano Velho

Jornal O Estado do Maranhão Se o final de 2006 servir de indicador de como será 2007, não poderemos ser otimistas no Ano Novo. Dê uma olhada, caro leitor, nos jornais das duas últimas semanas para se convencer disso. Já não falo de acontecimentos lamentáveis como o escândalo da compra de votos no Congresso. Limito-me a casos mais recentes, noticiados pela Folha de S. Paulo , de onde tiro as manchetes. Comecemos pela crise da aviação civil. “Aeroportos já têm atrasos e filas antes mesmo do Natal”, notícia de um dia depois de o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) dizer que o feriado seria tranqüilo para os que se arriscassem a viajar de avião. Não foi, sendo necessária a intervenção da polícia a fim de conter a raiva de passageiros frustrados e revoltados com os atrasos. Aliás, o presidente da Anac continua dizendo que não haverá problemas de novo agora. Acredite quem quiser. “Governo culpa empresas pelos atrasos nos vôos” e “TCU culpa governo pelo apagão aéreo”. É o

Justa homenagem

Jornal O Estado do Maranhão Em casa, vindo da Assembléia Legislativa do Estado, onde assisti à solenidade de entrega do título de cidadão maranhense ao professor Raimundo Medeiros Lobato, pus-me a recordar meus tempos de aluno do colégio dos irmãos maristas de São Luís, quando ele, como membro da irmandade de origem francesa, fundada por Marcelino Champagnat, foi diretor da escola, de 1965 a 1970, tendo chegado aqui em 1964. Durante toda minha vida de estudante, eu freqüentei escolas católicas ou ligadas ao catolicismo em alguma época: a Escola Santa Terezinha, no Monte Castelo, das irmãs Valois, a Faculdade de Economia do Maranhão, que depois faria parte da Universidade Federal do Maranhão que fora em sua origem uma instituição católica, e a Universidade de Notre Dame, em Indiana, Estados Unidos, considerada a segunda melhor universidade católica dos Estados Unidos, onde fiz mestrado e doutorado em economia. No ano de minha ida para os maristas as regras de procedimento eram ainda b

Sem Justiça

Jornal O Estado do Maranhão O cidadão pobre e negro que tinha 33 anos de idade quando extraordinária tragédia o atingiu, deve ter pensado, como Josef K., personagem do escritor tcheco de fala alemã, Franz Kafka, no romance O processo , que alguém certamente o havia caluniado, “pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum”. As forças que a partir daquele momento deram início a lento mas inexorável movimento para esmagar aquele homem e dele retirar a dignidade, revelaram mais uma vez uma das características marcantes do mundo contemporâneo: a violência do Estado frente ao cidadão comum indefeso, e a angústia existencial e o desespero nascidos daí. Como Wagno Lúcio da Silva, esse era seu nome, haveria de perceber, a engrenagem da burocracia estatal, posta em movimento – neste caso a burocracia do sistema de justiça, rápido em condenar pessoas da condição social humilde dele, não as de alta renda –, não pára antes de dar voltas e mais voltas. Cumpre, assim, exigência derivada so

Foi-se Pinochet

Jornal O Estado do Maranhão Foi-se Pinochet, como se vão todos os ditadores, como se foram Stálin, da União Soviética, Hitler, da Alemanha, Franco, da Espanha, Salazar, de Portugal, Somoza, da Nicarágua, Strossener, do Paraguai, ditadores africanos e mais um infinidade deles, sendo a lista extensa, capaz de nos fazer concluir com segurança que, na história da humanidade, a ditadura é regra e não exceção, não devendo tal afirmação surpreender ninguém, pois a dominação do homem pelo homem, a opressão do mais fraco pelo mais forte, o roubo, a guerra, a violência, a opressão, a tirania, muitas vezes em nome de belos ideais que têm enchido o inferno, tudo isso não é senão a mais pura expressão dos instintos, muitas vezes rebeldes ao controle do processo civilizatório, partilhados pelos humanos com os outros primatas. Foi-se Pinochet, como iremos todos nós um dia, como uma diferença dele para nós, simples anônimos, comuns, sem pretensão nenhuma, a não ser a da fugidia felicidade: ele deixou

Nada e tudo

Jornal O Estado do Maranhão Folheio os jornais da semana anterior à passada e leio com alegria a notícia da absolvição pelo Superior Tribunal de Justiça, por 23 votos a zero, do desembargador Mílson Coutinho, em ação penal proposta pelo Ministério Público Federal, originada em representação da Associação dos Magistrados do Maranhão acerca de hipotética contratação irregular de funcionários pelo Tribunal de Justiça do Estado durante o período em que ele foi seu presidente. Minha surpresa foi nenhuma, pois isso era mesmo reclamado pelo bom senso, que nem sempre está presente nas proposituras do Ministério Público, ou nas sentenças dos tribunais, que dão, algumas vezes, a impressão de pretenderem atuar em algum vácuo social, cegos às exigências de uma sociedade complexa como a nossa, como no caso da derrubada pelo STF da cláusula de barreira para os partidos políticos. Surpresa foi descobrir que o STJ havia tomado a decisão havia algumas semanas, sem Milson, durante esse tempo, ter dit

A César...

Jornal O Estado do Maranhão A César o que é de César. Declaração recente e acertada do presidente Lula, revelando seu desejo de evitar que a Lei de Responsabilidade Fiscal seja mutilada, afastou algumas preocupações da sociedade brasileira a respeito da possibilidade de volta da antiga idéia, colhida na cultura do vodu econômico nacional, de que gastos do governo sem controle não devem ser combatidos e não têm nenhum efeito deletério sobre a economia, ademais de terem as características da infinitude e geração espontânea. Se fosse verdadeira, a idéia teria, muito tempo atrás, levado a humanidade, e não apenas a classe operária, ao paraíso, sem o imperativo de termos de sair da vida e voltarmos à mineral existência. Dizia-se então, nessa pré-história do combate à inflação, como se começa a dizer agora, não ser necessário submeter o governo, em especial os estaduais, ao equilíbrio orçamentário, coisa do neoliberalismo, do capitalismo selvagem e de direitistas sem alma, como se houvesse

Cotas

Jornal O Estado do Maranhão O tema é polêmico e sujeito a emocionalismo capaz de levar muita gente a esquecer o bom senso e a racionalidade, se for possível estas qualidades prevalecerem num debate a respeito de milhares de pessoas discriminadas social e economicamente. Quero lembrar logo o fato bastante conhecido, mas esquecido com freqüência, de os Estados Unidos serem tomados como referência quando se fala do estabelecimento de cotas no ensino superior no Brasil. É natural ser assim, porquanto o sistema educacional americano é excelente, a julgar pela obtenção sistemática de Prêmios Nobel em diversos campos do saber e pelo reconhecimento mundial da excelência de sua educação universitária, apesar de defeitos que apenas destacam suas qualidades. A obtenção desse conceito se deu e se dá num contexto de crescente integração racial e criação de oportunidades de acesso à educação para os variados grupos étnicos componentes da sociedade americana. Existirá lá um sistema de cotas raciais

Controle,não!

Jornal O Estado do Maranhão Vem do senador e pastor, ou bispo, Marcelo Crivella, sob a forma de projeto de lei em tramitação no Senado Federal, ameaça à liberdade de informação, parecida com aquela de que falei na semana passada, de outro senador, Eduardo Azeredo, esta de vigilância dos usuários da internet. Agora o monitoramento seria sobre a imprensa. Crivella, que tem apoios interessados e bons companheiros na maldosa empreitada, quer alterar a Lei de Imprensa com o fim de proibir o que ele chama de divulgação de informações “potencialmente” ofensivas à honra. O projeto teve parecer favorável da senadora Fátima Cleide, do PT de Rondônia, para quem a idéia transformada em lei iria “coibir a atuação leviana dos meios de comunicação que divulgam denúncias sem ao menos verificar a solidez e a autenticidade dos elementos que lhe servem de base”. A opinião dela não é desinteressada. Ao contrário, provém do interesse de seu partido em impedir denúncias de mensalões, compras de dossiês e o

Cadastro ou cadarço

Jornal O Estado do Maranhão Não me surpreendo com o bizarro projeto do senador Eduardo Azeredo, de vigilância sobre os usuários da internet, sob a desculpa de, com essa intimidação, evitarem-se atividades ilegais na grande rede mundial. A mentalidade por trás da tentativa é velhíssima. Tão velha que chegamos a esquecer de maus exemplos do passado. De um, porém, por mais recente, o leitor se lembrará. É o do cadastro de telefones celulares pré-pagos. Como as autoridades do Executivo são incapazes de controlar a utilização criminosa da telefonia celular, como já se viu muitas vezes – não conseguem sequer bloquear o uso de celulares nos mal afamados presídios brasileiros – decidiram que os possuidores de pré-pagos teriam de fornecer informações para a montagem de um cadastro, instituição onipresente no Brasil, onde existe um, inútil, em cada esquina. Basta ir a qualquer loja de operadoras de telefonia celular e ver a ansiedade dos vendedores em aceitar qualquer informação cadastral de

Os corpos da China

Jornal O Estado do Maranhão Uso informações do Banco Mundial divulgadas no site http://web.worldbank.org. A taxa média de crescimento anual do PIB da China foi de 9% desde o fim dos anos 70, o que re-tirou da pobreza absoluta centenas de milhões de pessoas, tornando o país, sozinho, responsável por mais de 75% da redução da pobreza entre os países em desenvolvimento nos últimos 20 anos. Entre 1990 e 2000, o número de pessoas vivendo com um dólar por dia diminuiu em 170 milhões. As mu-danças desse período criaram uma economia dinâmica, com melhora substancial dos indicadores soci-ais. O analfabetismo adulto, por exemplo, caiu de 37% em 1978 a menos de 5% em 2002 e a mortali-dade infantil de 41 por 1,000 nascidos vivos em 1978 para 30 em 2002. No entanto, muitos problemas persistem. A taxa de redução da pobreza diminuiu a partir de me-ados dos anos 90, a desigualdade na distribuição de renda aumentou e há sérios problemas ambientais. Apesar do sucesso do programa do governo, de corte

Quem explica?

Jornal  O Estado do Maranhão Não é de hoje meu espanto com a fixação de certas figuras da política maranhense em José Sarney. Nada acontece no Maranhão, nenhum fenômeno ocorre, natural ou social, sem que Sarney seja invocado. Houve chuva demais ou não houve nenhuma, ventou muito ou a brisa parou de soprar? Vai ver foi Sarney. O sol queimou alguma pele sensível, a lua não apareceu, a safra quebrou, o preço subiu, a feijoada salgou? Foi Sarney. O pãozinho subiu, o café tá amargo, a manteiga rançosa? Sarney, Sarney e Sarney. Quanta homenagem! Tive a oportunidade de dizer antes e repito. Idéia fixa como essa é uma forma de admiração – sabe-se lá por meio de quais misteriosos mecanismos da complexa psicologia humana ela surge –, de mesura disfarçada, de reverência enrustida, pois a criação de demônios equivale à criação de deuses. A campanha para a eleição de hoje está cheia de exemplos. Cito apenas um. Lula veio ao Maranhão, a fim de participar de um comício de apoio à senadora Rosean

Manipulação

Jornal O Estado do Maranhão No debate da semana passada entre os candidatos a governador do Maranhão, encontrando-se de um lado a senadora Roseana Sarney e do outro o ex-prefeito de São Luís, Jackson Lago, este afirmou que 900.000 maranhenses já deixaram o Estado como resultado de dificuldades econômicas e pôs a “culpa” desse suposto êxodo no grupo Sarney, ao qual atribui com freqüência tudo que acontece no Maranhão desde 1612 ou antes. Esse antiqüíssimo discurso, tão antigo quanto as idéias dos anos cinqüenta do ex-prefeito, não deixa de ser um tributo inconsciente, pois confere aos adversários terríveis poderes, capazes de fazer José Sarney voltar séculos no tempo a fim de reescrever a história, assumindo culpas antigas de nossa formação social, se se pode colocar culpa em alguém pelo males do Maranhão em quatro séculos de história. Mas, muita gente autodenominada marxista ou socialista, adepta de interpretações grandiosas e grandiloqüentes da história, não resiste ao impulso de

Tempo de pagar

Jornal O Estado do Maranhão Começo por onde terminei na semana passada: “Se, como foi anunciado com euforia na imprensa governista, Roseana foi rejeitada por 52,8% do eleitorado, então, pelo mesmo raciocínio, Jackson o foi por 65,6%, Vidigal por 85,8% e os outros, juntos, por quase 100%”. Costumam dizer os americanos, com aquele espírito materialista, prático e realista característico deles, dando-nos a impressão de frieza e indiferença, no entanto apenas superficiais, como sabe quem teve a oportunidade de com eles conviver, que não existe almoço de graça. Tudo tem custos e preço, embora, em algumas circunstâncias eles não sejam aparentes nem pagos por quem deveria. Significa dizer que alguém mais se encarregou de fazê-lo, quem sabe um sujeito oculto, um malfeitor, um vigarista qualquer, um malandro ou um benfeitor, um filantropo, um anjo, um santo. O leitor desejará saber a relação dessas idéias com rejeição eleitoral. Em verdade tem muito. Rejeições de 65,6% e de 85,8%, têm de possu

Números falam

Jornal O Estado do Maranhão Na eleição de domingo passado para chefe do Poder Executivo do Maranhão havia uma cooperativa de três candidatos patrocinados pelo governo estadual e mais outro grupo de quatro, de partidos conhecidos como nanicos, sendo dois destes de cunho ideológico. Esse agrupamento tão heterogêneo – e aqui está a característica lamentável da campanha –, dedicou-se a atacar a candidata Roseana Sarney. Pouca ou nenhuma análise, idéia ou proposta., a não ser as delirantes, equivocadas ou simplesmente erradas. Apesar dessa conjugação de forças – ou de fraquezas, para dizer melhor, a julgar pelo resultado do primeiro turno – a senadora Roseana Sarney foi vitoriosa no Estado, com 47,21% dos votos válidos, e vitoriosa em quase todos os municípios. Ela está, desse modo, a uma distância de apenas 2,8 pontos percentuais de vencer no segundo turno. Em números absolutos, foram, aproximadamente, um milhão e trezentos mil votos contra novecentos e quarenta mil do segundo colocado

Está na hora

Jornal O Estado do Maranhão Nas eleições anteriores a esta, os showmícios e a poluição visual das peças de propaganda em outdoors e cartazes mais confundia do que esclarecia as pessoas, além de tornar os custos de campanha elevados, além do razoável. Isso irritava a maioria do eleitorado, em vez de agradá-lo, e divulgava o nome dos artistas, não as idéias dos postulantes. Chegávamos às urnas mais desinformados do que no início da disputa, surdos de tanto ruído e fartos de tantas “mensagens” bonitinhas, mas ordinárias, e sem condições de entendê-las, pelo conhecido vazio de conteúdo delas. Com as restrições impostas pela legislação, a coisa melhorou, mas nem tanto. Mesmo assim, as cidades ficaram menos barulhentas e sujas, embora não se possa dizer o mesmo de candidatos de uma categoria especial, a dos mensaleiros, sanguessugas e trambiqueiros contumazes. Isso, porém, não nos impedirá de eleger os mais bem qualificados entre os outros. É salutar ainda para a sanidade da política br

Pesquisas

Jornal O Estado do Maranhão   De umas eleições para cá, apareceu na arena eleitoral uma personagem mais importante do que os próprios candidatos e mais importante do que os eleitores. É a pesquisa de intenção de voto, usada pelos ameaçados de derrota nas urnas como um pau-para-toda-obra, a última garantia de que a realidade não é tão ruim como parece e nem tudo está perdido, mesmo se os fatos teimarem em se mostrar rebeldes a sonhos e fantasias. Contudo, essa é uma tábua de salvação frágil e fugidia, a exemplo de todas as esperanças nascidas da falta de opções. Sua capacidade de socorrer, na imaginação, essas pessoas, quando elas se sentem derrotadas, tem um equivalente na outra face da luta eleitoral, pois ela também serve ao propósito complementar de mostrar que a mesma realidade, quando vista de outro ângulo, favorável aos adversários, não é tão boa assim, é mera manipulação, efeito de jogo sujo, produto do desespero. Fala-se mais sobre ela, em certas rodas político-patidárias,

Sem dúvidas

Jornal O Estado do Maranhão No Maranhão existem coisas, dizem, que só acontecem aqui, levando a situações cômicas, trágicas ou tragicômicas, pelo seu inusitado e inesperado. Todas as culturas, pela própria natureza do fenômeno cultural, conforme se pode ver de sua definição como “padrões explícitos e implícitos de comportamento [...], adquiridos e transmitidos por meio de símbolos, e que constituem as realizações características de grupos humanos”, dos antropólogos A. L. Kroeber e C. Kluckhohn, têm suas peculiaridades. Devemos vê-las, portanto, com boas doses de paciência e compreensão. Há um caso, aqui em São Luís , contado com certa freqüência em algumas rodas sociais. É o do Cristo que, numa peça teatral de bairro, durante a Semana Santa, açoitado para valer, num realismo fora de hora de atlético centurião, largou a cruz, não tão pesada assim, investiu furioso contra o surpreso romano, tomou-lhe o açoite das mãos e, para divertimento da platéia, gritou: “Tu tá é no sério?”. O a

Auto-engano

Jornal O Estado do Maranhão Estive entre os dias 25 e 29 de agosto em Grajaú, cidade de rica tradição histórica, a fim de, como consultor, prosseguir no trabalho de elaboração do plano diretor de lá, acompanhando na ocasião Gustavo Marques e equipe técnica da G Marques, que também elaborou o de Barreirinhas e prepara os de São José de Ribamar e Santo Amaro. Antes de falar da atuação do prefeito Mercial Arruda, quero dar meu testemunho de um fato político interessante. Venho eu subindo, em minha caminhada matinal, das margens do rio Grajaú, na parte baixa e antiga da cidade, em direção da alta. Encontro um senhor de 70 anos, cordial como os que vivem em lugares sem violência, voz e andar ainda firmes. Renovo então o hábito de sondar os moradores a respeito de suas opiniões sobre a vida política brasileira. Depois de alguns minutos, ele, um pouco desconfiado – quem será esse sujeito de fora que fica fazendo perguntas pra gente – começa a fazer avaliações. De Lula, quando falo do mens

Os anti-Sarney

Jornal O Estado do Maranhão Em época de eleição como esta, a imaginação dos candidatos e sua ânsia por promessas impossíveis de serem cumpridas, ameaçam tornar o processo eleitoral um irretocável teatro do absurdo. Se um candidato a presidente promete a criação de dez milhões de empregos em quatro anos, o outro não fica atrás e anuncia como sua meta a geração de 12 milhões. Ou se o primeiro garante matar a fome dos pobres no primeiro ano de governo, o segundo oferece caviar a todo mundo no primeiro mês. Ninguém diz como vai cumprir as promessas e quanto elas custarão, além de palavras bonitas e vazias. O dinheiro, detalhe sem importância ao qual apenas os chatos dão atenção, já se sabe de onde virá, do magro bolso do contribuinte, sempre chamado a pagar a conta da demagogia. Exemplos de delírios como esses, convenientes para quem promete e inconvenientes para quem os ouve, típicos de temporada eleitoral, são inumeráveis. Usaríamos uma página inteira deste jornal a fim de listar pequen

Honesto desconhecido

Jornal O Estado do Maranhão Em meio a 24 deputados da Assembléia Legislativa de Rondônia, houve um solitário que não se envolveu nas falcatruas dos três Poderes, há pouco noticiadas. Ninguém sabe seu nome, é um desconhecido. Se tivesse entrado na dança seria pop star, porque notícia boa é notícia ruim. Convoco o caro leitor a uma campanha nacional para levantar fundos destinados a erguer uma estátua a esse Honesto Desconhecido. Não se fazem estátuas do Soldado Desconhecido, em lembrança dos homens que deram a vida pela pátria, anônimos que, se não o fossem, poderiam ter os nomes colocados em ruas, avenidas, praças, rodovias? Não se estendem, de outro ponto de vista, menos nobres, tapetes vermelhos para gente que, dado o tempo suficiente, passa de ladrão do dinheiro público a benemérito da sociedade? Não se elegem para fazer leis especialistas em descumpri-las? Não se chama de excelência os que não o são? Não se aplaudem os golpistas federais? Qual a razão de não se fazer tão modest

Copacabana, Brasil

Jornal O Estado do Maranhão Foram dois anos de angústias, sobressaltos, medo, incertezas e apenas uma certeza: se fosse descoberta seria assassinada em menos de 24 horas. Aquela mulher de 81 anos de idade, que morava na ladeira dos Tabajaras em Copacabana, chamada no passado de Princesinha do Mar, e vivia exposta aos maus humores e loucuras dos freqüentadores de uma boca de fumo próxima a sua casa, tomara a decisão de filmar as atividades diárias de traficantes e viciados em drogas em frente a sua casa. Comprou uma filmadora caseira com dificuldade, pois recebe quinhentos reais por mês como aposentada, e se pôs a reunir evidências da falta da segurança que não lhe era dada pelas autoridades. Com base nas imagens obtidas, a polícia prendeu 32 pessoas, nove delas policiais, e a mulher (não se sabe seu nome) ganhou na primeira instância do judiciário o direito de receber R$ 150 mil, como indenização pela situação de desespero em que estava por culpa do governo. Contudo se viu obrigada