25 de setembro de 2016

Juros de mora

Jornal O Estado do Maranhão


          Guido Mantega foi a pessoa que durante mais tempo exerceu o cargo de ministro da Fazenda no Brasil: oito anos, de 2006, no governo Lula, até 2014, quase ao final do desastre econômico petista engendrado pela ex-presidente Dilma Roussef e seu partido. Ele foi considerado pela revista “Época”, na época, um dos 100 brasileiros mais influentes de 2009.
          Pois o ex-ministro influente e tão longevo no ministério foi, primeiro, conduzido, há meses, coercitivamente, pela Polícia Federal, à sede do órgão, em São Paulo, no âmbito da Operação Zelotes, para depor em inquérito que investiga reduções ou cancelamentos ilegais de multas a várias empresas suspeitas de terem comprado decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – Carf, do Ministério da Fazenda, e delas se beneficiado; agora, na quinta-feira passada, ele foi alvo da famosa Operação Lava Jato, em sua 34ª fase, e preso temporariamente, mas logo solto, por suspeita de corrupção, fraude em licitações, associação criminosa e lavagem de dinheiro, em contratos  assinados entre a Petrobras e o consórcio Integra Offshore, composto pela OSX e Mendes Júnior, para a construção das plataformas P-67 e P-70 para a exploração das reservas do pré-sal, o mesmo pré-sal que ia ser a redenção do Brasil, mas tornou-se a redenção financeira de dirigentes do PT e de partidos associados.
          Falo sobre Mantega porque ele, junto com José Dirceu, o suposto guerreiro do povo brasileiro, e, naturalmente, Lula, "comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava Jato", na expressão usada na denúncia dele à Justiça, feita, em Curitiba, pelo Ministério Público Federal, são, em conjunto, o que de mais simbólico, no mau sentido, há nos escândalos de corrupção do PT. Segundo meu entendimento, o mais danoso para o país está em que os assaltos a empresas estatais e fundos de pensão, afora a mineração em veios auríferos menos rendosos, serviam, não exclusivamente, ao enriquecimento dos dirigentes partidários; serviam, igualmente, a projeto de poder, cujas táticas de ataque incluíam a desmoralização das instituições e de pessoas, de tal forma que, enfraquecidas, elas não tivessem forças, como não têm na Venezuela, de se opor ao mando petralha. Ao contrário, chancelariam, já aparelhadas, um regime ditatorial que manteria aparências de democrático. Lembremos que Hitler subiu ao poder por decisão do povo da Alemanha, pelo mecanismo de eleições, mas antes ele e seu partido já haviam debilitado as instituições democráticas alemãs.
          Meu desacordo (digamos assim) com o PT não está, tão só, na desonestidade de seus dirigentes, nem em sua mentalidade de bunker, que leva seus adeptos a se verem como do Partido Escolhido divinamente para espargir o bem monopolisticamente, pelas mãos de vanguarda partidária, que saberia o que é bom para o povo, melhor do que o próprio povo. Minha discordância essencial nasce tanto de seus métodos, como, por exemplo, a tentativa controle estatal de todos os meios de comunicação, quanto de seus objetivos, consubstanciados no desejo de hegemonia ditatorial.
          O Brasil está mudando. Os devedores pagarão seus débitos, com juros e juros de mora.

11 de setembro de 2016

Violência brasileira

Jornal O Estado do Maranhão

          O Brasil, antes considerado pacífico, é visto hoje como violento, tendo cidades com estatísticas de homicídio bastante elevadas relativamente às de outros países, segundo a ONG Seguridad, Justicia e Paz, do México. Em São Luís, por exemplo, a taxa é de 53 homicídios por 100.000 habitantes. Nossa capital fica em 21º lugar, no mundo todo, nessa triste classificação. Em comparação, em Tijuana, no México, mundialmente famosa pela violência, a mesma taxa é de 39/100.000. No outro extremo, São Paulo – mais de 10 vezes maior do que São Luís, sendo a capital de Estado menos violenta do nosso país, apesar de informações distorcidas dada sobre ela pelos grandes órgãos de imprensa de lá (eles não citam estatísticas comparativas) –, tem uma taxa de homicídio de menos de 10/100.000.
          Qual a causa de a violência ter crescido tanto no Brasil? O discurso politicamente correto, difundido, principalmente, pelo esquerdismo babaca e boboca, afirma que são as desigualdades socioeconômicas as responsáveis pelo problema. Os pobres – as pessoas pertencentes às classes de renda mais baixa –, revoltados com as disparidades geradas pelo capitalismo malvado, teriam, justificadamente, segundo eles, tomado a justiça nas próprias mãos, assaltando, matando e roubando. Assim, fazem justiça social. Quem tem mais, tem de ser desapropriado de seus bens, para dar aos pobres, amenizando, dessa forma, a má distribuição de renda. Em outras palavras, a ética da responsabilidade é trocada pela ética da irresponsabilidade. Ninguém é mais responsável por suas próprias ações. Se um “dimenor” entrar num ônibus, roubar os passageiros e, de quebra, matar um ou dois, a culpa é do sistema (capitalista, está implícito), não dele. Se matar a mãe, então aí mesmo é que não tem culpa de nada.
          Ora, uma coisa fica bem clara em tal visão: o preconceito contra os pobres. Então, só porque pobre, o sujeito sai atacando as pessoas por aí? Mas não é só isso. Há diversos países com desigualdades maiores do que a nossa, mas com taxas de homicídios muito baixas comparadas à daqui. A Índia é um exemplo. O discurso da vitimização é incentivo ao aumento do crime.
          Há outros fatores que explicam também o fenômeno: a ineficiência da justiça e a demonização das polícias. O sistema judiciário brasileiro ainda não cria no criminoso, rico ou pobre, a certeza da punição, levando-o, por cálculo de custo/benefício, mesmo intuitivo, a arriscar-se no cometimento de crimes. As polícias, demonizadas, agem timidamente na repressão a manifestações de rua feitas por grupos dispostos a destruírem patrimônios públicos e privados, como se tem visto, com medo de punições posteriores. Financiados e incentivados pelo PT e seus asseclas, esses movimentos são outro aspecto da criminalidade criada pelo discurso politicamente correto.
          Recentemente, Reinaldo Azevedo lembrou confronto ocorrido em março de 1968 entre Black Blocks e a polícia em Roma. Sobre o episódio, disse Pier Paolo Pasolini, homem de esquerda, mas culto: “Ontem, quando vocês lutavam com os policiais em Valle Giulia, eu me identificava com os policiais. Porque os policiais são filhos de gente pobre […].” Os imbecis daqui não sabem disso.

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