24 de fevereiro de 2019

Variedades históricas



Publicada no jornal O Estado do Maranhão

Tenho em mãos o livro mais recente de Luiz de Mello, cujo título é “Variedades históricas maranhenses”, publicado neste início de ano. Este acréscimo à sua já alongada bibliografia não teve lançamento festivo, como já se tornou comum quando o resultado de suas pesquisas históricas e de sua produção literária tornam-se concretos sob a forma de livros de carne e osso, nem obesos nem esqueléticos.

Exercendo sua vocação autêntica de pesquisador da nossa história, Luiz vive desenterrando quase-mortos de nosso passado – fatos e pessoas – dando-lhes renovadas vidas, em benefício dos estudos históricos sobre o Maranhão.

A fim de se ter ideia, ainda que aproximada, da operosidade dele, é suficiente – listo apenas parte de seus trabalhos – saber que entre os livros por ele organizados estão um ensaio, “O Maranhão histórico”, de Ribeiro do Amaral, o primeiro presidente da Academia Maranhense; crônicas de Crisóstomo de Sousa; a “Informação sobre a Capitania do Maranhão dada em 1813”, de Bernardo José da Gama; “Escorço da história do açúcar no Maranhão” e “No Tempo das eleições a cacetes”, de Jerônimo Viveiros. Esses volumes todos, organizados por ele, eram inéditos em livro, condição da qual foram libertados graças a seus esforços solitários, com a particularidade de terem sido publicados, pelo menos sua metade, com recursos de rubricas do orçamento LMELLO, conforme ele informa e os próximos dele confirmam.

Não se pense, contudo, ser ele tão só compilador de textos. Não. Ele é também um ficcionista. Lembro bem de conversas com o saudoso Jomar Moraes, acerca dos contos de Luiz. Quem conheceu Jomar de perto poderá testemunhar seu rigor em dispensar elogios, deste modo evitando a desvalorização do elogio, da mesma forma como acontece com a moeda, pois esta, emitida sem controle, leva a seu próprio enfraquecimento, A regra deve ser esta: elogiar sem exageros. Pois bem, mais de uma vez ouvi Jomar fazer elogios ao “Meridiano oposto”, de Luiz, pela arquitetura moderna dos contos e pela atmosfera surrealista do conjunto. Esse livro foi ganhador do prêmio literário cidade de São Luís, de 1987, assim com outro de contos, ”O Segredo de Guímel”, o foi em 1993. Eu iria longe, se continuasse a relacionar outras obras dele.

Neste livro de agora, ele recolheu, sempre sob o parâmetro da divulgação de textos inéditos em livro, mas de importância para nossa história, trabalhos de Sotero dos Reis, César Marques, Alexandre Rodrigues Ferreira, Ribeiro do Amaral, Arnaldo Ferreira, João Afonso do Nascimento. Os assuntos tratados por essas personalidades cobrem imprensa provincial, biografias de homens ilustres do século XIX, dificuldades de navegação do rio Tocantins, memória sobre a introdução do arroz branco no Estado do Grão-Pará, etc.

É com esse espírito de pesquisa nas fontes primárias que se desencava a matéria prima básica do estudo da história. Nesse aspecto, Luiz de Melo tem dado contribuição admirável à nossa terra.

Certeiras as palavras de Jomar, em introdução a esse livro de agora: “[...] Luiz Mello é um pertinaz e completo pesquisador, a par de escritor na exata acepção dessa palavra, que entre nós anda desprestigiada até o extremo da reles banalização.”

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