2 de outubro de 2005

Os Bustos do Panteon

Jornal O Estado do Maranhão   
Na quarta-feira passada, comissão de acadêmicos da Academia Maranhense de Letras – AML, formada por Jomar Moraes, seu presidente, Mílson Coutinho, Joaquim Itapary, Lourival Serejo e eu, encontrou-se com o prefeito de São Luís, Tadeu Palácio, para dar prosseguimento à frutífera reunião do dia 11 de agosto último. Como da vez anterior, ele nos recebeu de maneira cordial e demonstrou, sobre o assunto que nos levava a procurá-lo novamente, vivo interesse e conhecimento detalhado.
Discutimos a situação dos bustos, até pouco tempo atrás presentes na Praça do Panteon, de homens importantes de nossa vida literária, quase todos construtores da identidade cultural maranhense a partir do século XIX, obra continuada por legítimos sucessores no século XX e neste. Enquanto, durante anos, modelados em bronze, estiveram naquele local, era como se ausentes permanecessem para muita gente. Não para os malfeitores, porém, especializados em arrancá-los de onde estavam para, derretidos, vendê-los por qualquer vintém furado a cúmplices receptadores.
Era como se não estivessem ali porque nunca se ouviu clamor público algum contra os atos de agressão a nossa cultura ou o mais débil rumor na imprensa acerca de providências a serem tomadas para evitar a interminável repetição do crime. Os homens ali representados, mortos fisicamente havia mais de um século em alguns casos, morriam mais uma vez, vitimados pela indiferença de muitos, mas não de todos.
Em cumprimento do ditame do artigo 1º de seus estatutos, de promover “a defesa das tradições maranhenses” a AML foi, naquela data, ao prefeito. Este, informado do que se passava, de imediato determinou a retirada dos bustos da praça e abrigou-os no Centro de Artes Japiaçu. Providência em boa hora tomada, pois vários deles já estavam descolados de seus pedestais, indefesos ante o furto iminente.
Concordamos na ocasião sobre a imperiosa necessidade de mantê-los longe da criminalidade, tendo, ainda, a AML, na condição de entidade de direito privado sem fins lucrativos, se prontificado a unir seu esforço ao do Município na tarefa de obter recursos para a execução de projeto de reforma daquele logradouro. Feito isto, eles seriam de novo recolocados lá, em condições adequadas de segurança.
A ausência depressa operou o milagre de torná-los bem presentes. De repente, ganharam vida e tornaram-se objeto da preocupação de gente que os tratava antes com descaso e insensibilidade, sem se importar com o furto e a depredação que sofriam. Ademais, exigiu-se da Academia solução impossível de ser dada, por não ter ela competência legal para tanto. É importante, no entanto, compreender que apenas se inicia a preservação e defesa dos bustos, trabalho aberto, é claro, à participação de quantas instituições estejam dispostas a colaborar. O assunto interessa a todos. É salutar que muitos manifestem apreensão neste momento. Antes tarde...
Na conversa de agora, chegou-se à conclusão de que eles poderiam, em seguida à completa restauração a ser custeada pelo Município, conforme pronta garantia dada pelo prefeito, ser colocados no pátio do Museu Histórico do Estado, após, naturalmente, acerto com a direção daquela instituição. Ali, eles estarão abertos à visitação pública, mas protegidos do vandalismo.
Por fim, foi aprovada a idéia de criação de comissão com representantes da Prefeitura, AML e IPHAN, que terá o encargo acima mencionado, de mobilização de recursos para o remodelamento da Praça. A Academia com o prestígio de seu nome quase centenário e história em defesa de nossa cultura poderá dar colaboração proveitosa à missão. Caso não seja possível fazer a reforma como desejada, nova decisão deverá ser tomada mais adiante, sobre o endereço definitivo dos bustos.
Eis a história.

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