23 de agosto de 2015

Um mau exemplo

Jornal O Estado do Maranhão

          Estive na Associação Comercial do Maranhão – ACM, na noite de quarta-feira, dia 19. Fui assistir ao painel Cenários Econômicos e o Novo Ambiente de Negócios no Maranhão, com a participação do economista Felipe Holanda, presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos – IMESC, e de Simplício Araújo, secretário de Estado de Indústria e Comércio do Maranhão – SEINC, expositores, ambos; como debatedores, João Gonsalo, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão e doutor em economia, e Gustavo Marques, arquiteto, consultor e vice-presidente da ACM.
          Apesar da menção a "cenários econômicos", o assunto não deu as caras na exposição de Simplício. Predominou em seu discurso uma retórica política recheada de acusações a seu antecessor, Maurício Macedo, sem menção explícita a este, mas, a ninguém escapou a intenção de Simplício. No entanto, quem lá estava, em sua maioria, tinha interesse, penso eu, em conhecer a visão do governo sobre a economia do Estado e o respectivo plano de ação governamental, pensado, supõe-se, como instrumento capaz de contribuir com alteração positiva de nossa obsoleta estrutura econômica.
          Foi atitude, essa do secretário, de atacar seu predecessor, que é profissional de reconhecida competência e correção, tendo construído, antes de ir para o setor público, brilhante carreira no setor privado, como responsável por setores importantíssimos da ALUMAR, onde goza de excelente reputação, mesmo hoje, foi atitude, eu dizia (o anacoluto, aqui, é recurso estilístico e não involuntário e vicioso, como os de Dilma) deselegante. Mas, nos dias correntes, quem se importa com elegância e boa educação, não é mesmo? Por que se preocupar com essas coisas, quando você pensa estar no topo do mundo, mundo de tiranetes das margens do Mearim? Parece-me, até, o ataque, uma descortesia aos promotores do evento. Em outras ocasiões, eles devem ter convidado também o secretário anterior para fazer palestras no mesmo auditório onde o atual o atacou.
          No entanto, Simplício, que, com certeza, será conhecido, ao fim de seu período na pasta, como um poço de virtudes morais e cívicas, um catão tecnológico, um caráter sem jaça, deve ter provas das denúncias feitas por ele de público e, portanto, será muito fácil dirigir-se ao Ministério Público ou à Polícia Federal e denunciar seu antecessor como um meliante da estirpe, assim, de um petralha, um dirceu, um genoíno, uma dilma, um lula. Em um nonassegundo, o alvo de suas acusações sentirá o braço pesado da justiça à velocidade de The Flash. Não duvide, caro leitor.
          Ao escrever, agora, percebo que dou oportunidade inestimável a Simplício, de evitar potencial acusação de prevaricação, pois, quem, ocupando cargo público, não leva ao conhecimento das autoridades falcatruas com dinheiros públicos, tendo delas tomado conhecimento, falta, "por interesse ou má fé aos deveres do seu cargo, do seu ministério" (Aurélio). Prevarica. É reles prevaricador.
          A noite, todavia, não foi só de escuridão. Houve claridade, clareza, clarividência. O professor João Gonsalo, em boa hora, deu uma aula de Economia, mostrando que: a) a crise econômica brasileira atual se deve, principalmente, a erros na condução da política econômica; b) a taxa de crescimento dos salários não pode subir indefinidamente, como tem ocorrido, acima da elevação da taxa de produtividade do trabalho, levando, caso persista, a sérios problemas econômicos, em particular, na indústria, sendo essa a principal razão para a chamada desindustrialização e não eventual sobrevalorização da taxa de câmbio; c) o Brasil, por motivação ideológica, se colocou à margem do fluxo de comércio internacional; d) o governo deve se limitar a investir na infraestrutura socioeconômica do Estado e, assim, aumentar a produtividade do setor privado e de toda a economia, requisito indispensável para o crescimento econômico.
          O espaço disponível não me permite falar de tudo. Digo, apenas: o professor deveria dar um curso intensivo para agentes públicos sem noção de economia.

9 de agosto de 2015

Um bom exemplo

Jornal O Estado do Maranhão

          Tenho aqui o volume 14, Número 3, da Revista de Pesquisa em Saúde – RPS, do Hospital Universitário – HU, este, da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. A publicação é de alta qualidade e segue normas de publicação adotadas pela comunidade acadêmica internacional. Dos vinte membros de seu conselho editorial, participam, como representantes da Universidade, apenas quatro, ou seja, um quinto. Baixa proporção como essa é sinal de disposição dos dirigentes das duas instituições a que a Revista está ligada bem como de seu corpo editorial, chefiado por Arlene Caldas, de ter avaliações isentas sobre o conteúdo dos artigos a ela submetidos. Alguns dos outros membros do Conselho são da USP, UFRJ, UNB e UHG, da Suíça, e de várias universidades de prestígio.
          Mesmo um leigo nessa área, como eu, pode facilmente perceber que não se trata de jogo de cartas marcadas, pelo qual avaliações benevolentes, por pares do entorno imediato do autor, na função de membros de conselhos editoriais, são feitas a fim de, mais tarde, invertidas as posições de avaliador e autor, serem retribuídas com a mesma benevolência. Chamam minha atenção, ainda, a boa qualidade dos textos em inglês dos "abstracts"e da tradução dos títulos dos artigos. Ao consultarem-se estes, se poderá encontrar a bem marcada característica de a RPS voltar-se, prioritariamente, para assuntos maranhenses, com levantamentos de informações primárias em instituições de saúde locais, como, por exemplo, o HU e o Centro de Saúde Genésio Ramos Filho, os dois em São Luís. Entre os dez artigos apresentados, há um, com o título "Contribuições das orientações pré-operatórias na recuperação de pacientes submetidos a cirurgias cardíacas", que me fala de perto, pois fiz há, aproximadamente, um ano e meio, cirurgia cardíaca para a colocação de quatro pontes nas coronárias.
          Agora, podemos perguntar sobre a posição da RPS nesta fase de sua história editorial e responder que não se pode dissociá-la das transformações por que passou a UFMA durante o reitorado do professor Natalino Salgado Filho. Vejam só. Quando ele assumiu a Reitoria em 2007, vindo da direção do HU, a Universidade, possuía, tão somente, um curso de doutorado, em funcionamento precário. Passou a 9 e mais 10 em cooperação com outras universidades brasileiras. Havia 12, de mestrado, que totalizam 35 hoje. Os incrementos, substanciais, como se vê, e não apenas quantitativos, levaram a UFMA a contabilizar atualmente mais de 1.200 alunos de mestrado e doutorado, não pequeno avanço, sem falarmos na recuperação de várias estruturas físicas e a construção de outras, entre estas a do Departamento de Inovação Tecnológica e Patentes, que já obteve 50 registros de patentes e contribui, expressivamente, com a desmistificação da tese esquerdista de que empresas privadas contaminam, com o vírus da fome de lucro, projetos de pesquisa acadêmica. Hoje, o Hospital Universitário realiza cirurgias cardíacas e neurocirúrgicas de alto complexidade, assim como transplantes de órgãos, permitindo que, além de atender pessoas sem alternativas financeiras de realizar procedimentos como esses em hospitais particulares, colabora com a UFMA no desempenho adequado do papel mais importante dela, o de instituição de pesquisa. Sem esta, o que é uma universidade, além de escola de 3o grau?
          Após da saída do professor Salgado, o Hospital foi dirigido pelos professores Maria do Desterro e Vinicius Nina. Atualmente, sua direção está a cargo da dra. Joyce Lages. Ela, como os demais, deram, com reconhecida competência, continuidade à expansão do HU, consolidando-o como centro de atendimentos do SUS e como instituição produtora de conhecimento sobre a realidade maranhense na área da saúde.
          A Universidade Federal do Maranhão e o Hospital Universitário são excelentes exemplos de como órgãos públicos podem ser bem administrados e oferecer a nossa população, à parte pobre, à remediada ou à rica, assistência médica de alta qualidade, sem discriminações, como é próprio do SUS, fonte de seus recursos que, afinal, são públicos.

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