29 de março de 2011

Mílson Coutinho em São Paulo

          Confirmado: o ex-presidente da Academia Maranhense de Letras, Mílson Coutinho, irá a São Paulo a fim de submeter-se a uma cirurgia para eliminação de um aneurisma na aorta. Acompanhado de familiares, viajará no próximo domingo e logo na segunda-feira pela manhã tem consulta que definirá a data da cirurgia.
          Ele está tranquilo depois das explicações que recebeu de seus médicos aqui em São Luís. Depois de receber alta, fará uma excursão pelas livrarias de São Paulo. Na volta, terminará seu livro sobre a justiça eleitotal no Maranhão, a ser lançado no segundo semestre deste ano.
          Boa sorte ao caro amigo.
         

27 de março de 2011

Veados e onças

Jornal O Estado do Maranhão

          Eu sempre fui um carnívoro radical, amante de um bom churrasco, argentino ou brasileiro. Mas, certa época, tive de enfrentar o vegetarianismo. Dava pena ver seus adeptos com ares de esfomeados, magros o quanto se pode ser com a ingestão de ervas e raízes. Eu tinha a impressão de que eles estavam o tempo todo com o pensamento num bom bife, sem jamais admitirem tal fraqueza, embora se saiba que a carne é fraca. No entanto, eu e quase todos os apreciadores de carne, quase chegamos a sofrer discriminação nos restaurantes e nas rodas sociais da cidade. Não estou certo se éramos  então maioria, pois os nossos jamais foram à boca de cena anunciar: “Eu como. Ninguém pode meter o nariz (ou a boca) nos meus hábitos”. Qual a maneira, nessas circunstâncias, de estimar quantos éramos? Certeza, tenho disto. Nossa imagem se confundia com a de trogloditas, homens da era paleolítica, por assim dizer. Tristes dias, aqueles.
Falando de tempos pré-históricos, vejam só a novidade. Tive informações na internet sobre uma tal de dieta do Paleolítico, à base de proteínas, chamada também de “Flintstone”, em referência a personagem de história em quadrinhos habitante desse período que vai de 2,5 milhões a 11 mil anos atrás, ao fim do qual, do total de alimentos ingeridos pelos seres humanos, 50% eram carne.
A dieta é em verdade uma promessa – mais uma – de fazer as pessoas preocupadas com o excesso do próprio peso emagrecerem com rapidez, com nenhum sacrifício. Algo como fazer omeletes sem quebrar os ovos. Fiquei desconfiado, contudo feliz com o anúncio, pois eu não queria propriamente perder peso. Meu desejo era comer muita carne, a melhor fonte de proteína, sem que ninguém viesse me dar conselhos sobre os malefícios do costume. Agora eu tinha respaldo científico, pensei, talvez com precipitação. E ainda poderia jogar na cara dos pretensos conselheiros a famosa pergunta retórica, no fim das contas uma afirmação: Eu não disse?
Fui ver mais de perto. Pelo anunciado aos quatro cantos do mundo pelo Dr. Arthur de Vany, o inventor da receita, economista, isso mesmo economista, cientista do comportamento e professor da Universidade da Califórnia, o primeiro mandamento alimentar dos seres humanos deve ser: “Coma apenas o que você poderia caçar, matar, colher ou tirar da terra, como um homem das cavernas”.
Cocei a cabeça. Homem das cavernas? De minha parte, seria muito difícil seguir as recomendações, eu, homem urbano em todos os sentidos, que nunca morei em cavernas nem embosquei ninguém. A esse respeito, estou na total dependência de estranhos. Confio, porém, nas palavras de Adam Smith: “Não é da bondade do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse. Apelamos, não a sua humanidade, mas a seu egoísmo [...]”. A carne acaba chegando ao meu prato graças ao bendito desejo de lucro do açougueiro. Sem ele, para comer, eu estaria na dependência de um burocrata no escritório central de planejamento.
As sugestões do economista, no entanto, têm um inconveniente insuperável: o jejum intermitente. Num dia, deve-se comer toda a carne possível com os acompanhamentos indicados. Depois, é ficar de papo pro ar, digerindo a refeição. Quando o estômago estiver vazio, deve-se ainda jejuar durante dois dias até se aventurar de novo, como uma vulgar sucuri após a digestão de um boi inteiro, na caça a uma linda gazela, por exemplo, recomeçando o ciclo. Essa a razão pela qual defendo a mudança do nome para dieta sucuri. O Dr. Vany garante, se algumas recomendações adicionais forem seguidas, bons resultados na perda de peso, cura da diabetes e quase todos os problemas de saúde.
Coçada a cabeça e, assim, iluminado o raciocínio, concluí ser melhor continuar com o meu próprio método: comer todos os alimentos, sem descriminação de nenhum de minha preferência, com moderação.
Coma tudo, leitor, mas não saia pelo interior da Ilha, tacape e lança em uma das mãos e a esposa na outra, arrastada pelos cabelos, à caça de proteína em forma de veados e onças.

21 de março de 2011

Renúncia de Mílson Coutinho

       O acadêmico Mílson Coutinho renunciou na quinta-feira passada, dia 18, à Presidência da Academia Maranhense de Letras. Ele havia se licenciado do cargo desde novembro por recomendação de seus médicos, que o proibiram de se submeter a situações de estresse. É que ele está com um aneurisma na aorta. 
     Sua renúncia não foi surpresa para seus pares que vinham sendo informados permanentemente de seu estado de saúde.
     Ele irá em breve a São Paulo onde complementará a série de exames que fez em São Luís e se submeterá a tratamento especializado.
Mílson, embora precoupado, como é natural nessas circunstâncias, está otimista. Ele conversou recentemente por longo tempo com o decano da Academia, José Sarney, que foi quem lhe recomendou ir a São Paulo, cidade onde há mais recursos tecnológicos à disposição dos médicos. Sarney disse que o ex-presidente da AML poderá contar com seu apoio aqui, em São Luís, e naquela cidade.
     Na volta, Mílson pretende concluir seu mais novo livro, sobre o TRE do Maranhão.

Eleição na AML

     A Academia Maranhense de Letras realizou a primeira sessão ordinária do ano na quinta-feira passada, dia 18 de março. Na ocasião, o presidente da Casa, acadêmico Benedito Buzar, declarou, em virtude do falecimento no dia 15 de fevereiro de Clóvis Sena, que residia em Brasília, vaga a cadeira 5, antes ocupada pelo saudoso acadêmico.
     Em seguida, o presidente disse que estava aberto o prazo de 60 dias para a inscrição, que se encerra no dia 16 de maio, uma segunda-feira, de quem deseje participar da eleição em que será escolhido o sucessor de Clóvis.

6 de março de 2011

Reforma

Jornal O Estado do Maranhão

          O Senado criou uma comissão e a Câmara dos Deputados, outra, incumbidas da elaboração, cada uma, de um projeto sobre a reforma política. Os dois projetos serão conciliados em um com a finalidade de angariar ampla base de apoio a sua aprovação no Congresso.
A única forma de democracia compatível com o Estado liberal, como o brasileiro pretende ser, apesar da repulsa a tal ideal de parte dos remanescentes do velho estalinismo nativo, não morto como se pensa, mas incrustado nos partidos autointitulados de esquerda, é a democracia representativa. Mas, como definir democracia, em termos de seus mecanismos de funcionamento? Ela é conjunto de regras de procedimentos de caráter universal. Uma delas é a de que todos os eleitores devem ter votos iguais. Outra, a maioria não deve tomar decisões limitantes dos direitos da minoria. Há diversas outras. Elas estabelecem a forma de chegar-se a decisões políticas e não a qual decisão chegar. Estabelece, apenas, as regras do jogo.
Há visões alternativas testadas na prática com resultados desastrosos em termos humanos, como nos países do Leste Europeu, de que as “democracias populares” são tristes exemplos. Entre nós, a ideia de democracia direta – ideal de grande parte do PT, fiel a suas raízes autoritárias –, para cuja operacionalização é quase impossível estabelecer regras funcionais de procedimento, é ameaça potencial à vida democrática.
Dados os pressupostos, podemos perguntar agora como se devem escolher os representantes. No Brasil, temos o sistema proporcional, pelo qual a soma dos votos dados ao partido político (ao votar num determinado candidato, estamos votando simultaneamente no seu partido), de acordo com certos cálculos, determina o número de seus deputados no Congresso Nacional. A lista de candidatos, neste caso, é aberta, pois somente após a apuração sabe-se a ordem em que os candidatos foram eleitos. Se um partido obteve cinco cadeiras, serão eleitos os cinco candidatos mais votados de sua lista, não importando se o primeiro colocado teve 1.000 votos e o quinto apenas dez. Outro, pode obter cinco cadeiras também, mas seu candidato que ficou em sexto lugar, pode ter, digamos, 100 votos, muito mais do que o último eleito do outro, mas não se elegerá. Na prática, um candidato com grande número de votos acaba elegendo colegas partidários que obtiveram poucos votos.
Entre as propostas de mudanças no sistema, encontra-se a de manutenção do sistema proporcional... piorado. O eleitor não votaria no candidato, apenas no partido. A lista, prévia, seria fechada, isto é, conteria, pela ordem de preferência dos burocratas partidários, os candidatos que eles desejam ver eleitos. Eles determinariam, até o limite do número total de representantes eleitos proporcionalmente, quem iria eleger-se, e não o eleitor. Aponta-se o fortalecimento dos partidos nesta forma de escolha. Parece o contrário. Fortalecida seria a burocracia com seus interesses especiais.
A proposta do vice-presidente da República, Temer, vai ao extremo oposto: a eleição se daria num único distrito, o distritão, coincidente com a área do Estado, sendo eleitos os candidatos pela simples ordem de votação, como na eleição de senador, e não proporcionalmente. Aqui, o problema seria inverso, o enfraquecimento dos partidos e o estímulo a candidaturas de duas ou três celebridades com o fim de atrair votos. O restante dos candidatos da lista poderia vir de mensaleiros, por exemplo. No sistema atual, ninguém se lembra em quem votou um mês depois da eleição. No proposto, o eleitor não saberia nem mesmo antes.
Meu ponto de vista é este: o voto distrital, com a criação de verdadeiros distritos, em número adequado, nos Estados e municípios, satisfaz um dos critérios da boa representação: aproximação entre o representante e o representado.
PS – Acabo de receber a notícia da eleição do poeta Marco Lucchesi para a Academia Brasileira de Letras. Ele abrilhantou com uma palestra sobre Dante as comemorações, em 2008, do Centenário da Academia Maranhense de Letras, quando tive a honra de presidir a Casa.

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