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Mostrando postagens de 2005

Papagaios, Patos, Gatos E Perus

Jornal O Estado do Maranhão   Seu Antônio, viúvo, aposentado solitário, morador de Brasília, tinha um papagaio havia mais de quarenta anos, sua única companhia depois da morte da mulher. (Não sei se o animal tem vida tão longa, confio na informação da TV.). Tinha também um vizinho inimigo de papagaios, à semelhança daquele outro de Timon, no Maranhão, que não gostava de cachorros, em especial de Bingo, que o mordeu, despertando-lhe a ira, disso resultando denúncia à polícia e prisão do cachorro, humano também (como o papagaio), na divinatória classificação do ex-ministro do Trabalho, Rogério Magri, pois, como se vê hoje, bicho virou gente, a julgar por clínicas de estética, hotéis, academias de ginásticas e salões de beleza que antes serviam apenas aos chamados seres racionais, mas agora prestam serviços aos clientes de quatro patas, que fazem gato e sapato de seus pretensos senhores. O caso do viúvo, porém, é outro. Ele queria apenas companhia confiável, alguém para lhe aliviar a sol

Ratos e Homens

Jornal O Estado do Maranhão Pesquisas científicas que procuram maneiras de utilizar células-tronco em seres humanos provocam intensos debates, pelas dúvidas que suscitam no campo da ética. Ao contrário das demais células, elas são capazes de se diferenciar, constituir diferentes tecidos em nosso organismo e de se auto-replicar. No entanto, tão-só as embrionárias, assim chamadas por serem encontradas nos embriões, podem se diferenciar ou se transformar em qualquer um dos 216 tecidos do corpo humano. O restante das células-tronco podem, em um caso, modificar-se em quase todos os tecidos, menos na placenta e anexos embrionários; em outro, se diferenciam em poucos; no último caso, em apenas um tecido. Elas poderão ser úteis, para citar somente dois casos de aplicação promissora, na cura da diabetes e na regeneração de lesões graves. (Não, eu não me tornei de repente um especialista no assunto, só usei a internet para obter essas informações no sítio do jornal O Estado de S.Paulo , na seçã

Duas Mulheres

Jornal O Estado do Maranhão   Aquela mulher que vemos ali acaba de se levantar. Irá silenciosa preparar o café da manhã para a família pobre de um bairro pobre, na manhã que mal se inicia, depois de tomar banho de água fria, estarei ficando velha, perguntará a si mesma no banheiro, e pensará no marido, depois chamará os filhos para a escola, o mesmo marido para o trabalho, a todos para a vida diária corriqueira, sem novidades, exceto aquela que todos saberão no fim do dia, de que ela só terá consciência no último instante e apenas por um brevíssimo momento ou quem sabe não terá, não compreenderá a origem da sensação estranha de calor e leve dor em todo o seu frágil corpo. Arrumará as roupas de todos, lavadas na noite anterior, depois que chegou tarde do trabalho, fará recomendações, não cheguem tarde, cuidado na rua, lavará a louça e deixará a mesa pronta para o almoço pois àquela hora ainda não estará de volta. Agora chama a filha, hoje tu vais comigo, é sábado, tem serviço extra, a

Brasileirão

Jornal O Estado do Maranhão O campeonato brasileiro de futebol, o Brasileirão, chega ao fim com sucesso hoje. Seria melhor não fosse pelo juiz que manipulou algumas partidas, anuladas de imediato pelo tribunal de justiça desportiva. A rapidez da ação evitou as usuais polêmicas, de resultados imprevistos sobre o andamento da competição. O acerto da forma de disputa, a mesma adotada na Europa, levou a que as duas equipes mais eficientes neste ano, Corinthians e Internacional, de Porto Alegre, sejam as únicas com chances de alcançar o título, como, aliás, acontece quando o merecimento prevalece. A razão do êxito do Brasileirão está justamente aí, num sistema de pontos corridos, com rebaixamento e jogos de todos contra todos em dois turnos. Não é o caso da Copa do Brasil, torneio cujo objetivo é dar oportunidade de vencê-lo a times sem tradição nacional, com um pouco de sorte em pequeno número de partidas eliminatórias. Os méritos dessa boa organização são da CBF. Quem não se lembra da re

Rotina

Jornal O Estado do Maranhão   Num domingo de verão, fim da tarde, quando milhares de pessoas voltavam a Paris em seus automóveis, um engarrafamento paralisou na auto-estrada o trânsito em direção à cidade. Depois de algum tempo os motoristas se convenceram de não ser o problema temporário, mas de longa duração. Aos poucos, sem meios para escapar, depressa estruturaram uma pequena comunidade. Logo, porém, surgiram as mesmas relações humanas desumanizadas, se assim posso dizer, da sociedade maior de onde vinham, marca distintiva da vida nos nossos dias. A primeira necessidade era estabelecer regras garantidoras da sobrevivência física de todos. Como assegurar o abastecimento de água e comida? Formaram-se grupos, surgiram chefes, conflitos, alianças. Muitos conversavam, falavam sobre suas vidas, desabafavam com gente nunca vistas em outra ocasião, pensavam nas obrigações que não poderiam cumprir, liam, sonhavam, amavam, odiavam. Criou-se um almoxarifado geral, organizou-se a distribuição

Memória

Jornal O Estado do Maranhão   A lei estadual há poucos dias aprovada pela Assembléia Legislativa que tem como objeto retirar da Fundação da Memória Republicana a posse do Convento das Mercês é uma tentativa de atingir José Sarney. Não é uma disputa jurídica, pois a opinião dos mais qualificados juristas maranhenses e de outros Estados diz ser perfeito o ato que convalidou a doação do prédio para a Fundação. A Academia Maranhense de Letras recebeu em doação do governo do Estado, em 1951, o prédio de sua sede na rua da Paz. O governador Sebastião Archer da Silva cometeu alguma ilegalidade ao sancionar a transferência? Haverá neste momento a disposição de aprovar lei retornando a edificação ao patrimônio público, de onde foi retirada de forma legal e legítima, como foi o Convento? Por certo, nós todos seremos julgados com severidade no futuro se essa lei de fato vigorar. A justiça ainda irá se pronunciar com serenidade sobre ela.  Onde está a razão dessa atitude capaz de ameaçar a existê

Gato por Lebre

Jornal O Estado do Maranhão Nos velhos tempos, o Partido dos Trabalhadores desejava ser diferente. Ele teria virtudes ausentes nos outros e estes teriam defeitos dos quais ele não padeceria. E assim se passaram 25 anos. Durante esse tempo se ouvia sobre os seus adversários a acusação de que eram corruptos e não faziam o necessário para tirar o povo da miséria porque lhes faltava “vontade política”, não uma vontade qualquer, como a insinuar nos partidos “burgueses” a existência de outra, a de desviar dinheiro público, e como se a resolução dos problemas nacionais dependesse só dessa vontade. Para quem se dizia socialista ou marxista achar que apenas tal predicado dos dirigentes resolve os problemas de um país revela um idealismo filosófico – idealismo não no sentido comum referente a pessoas desprendidas, indiferentes à riqueza e de nobres ideais, pois já se sabe não ser esse o caso dos petistas – muito distante das teses materialistas nas quais a sociologia desse pessoal supostamente

A Língua

Jornal O Estado do Maranhão Em 1954, quando eu tinha seis anos de idade, já me interessava por futebol. Lembro bem da Copa do Mundo daquele ano, na Suíça. Lá o Brasil perdeu, em partida batizada como A Batalha de Berna pela imprensa, para a Hungria, o time favorito, que foi derrotado na partida final pela Alemanha Ocidental, resultado classificado então como zebra pelos entendidos. Como os de hoje, eles viviam de palpites errados sobre os prováveis vencedores. A derrota brasileira em 1950 no Maracanã para o Uruguai, recente como era, ainda gerava muitas discussões. Criou-se um clima de tal pessimismo e tanta autoflagelação nacional que Nélson Rodrigues disse depois que quando a Seleção viajou para a disputa na Suécia em 1958 o exílio da equipe acabara. Ninguém acreditava na nossa equipe. No entanto, as estatísticas forneciam razões para otimismo. Em 1938 ficamos em terceiro lugar e foi nosso o artilheiro, Leônidas da Silva; em 1950, fomos vice-campeões. (Em 1942 e 1946 o torneio não

O Povo

Jornal O Estado do Maranhão   O povo é sábio, é justo, é bom, é generoso, é altruísta. É a encarnação coletiva do bom selvagem, de Rousseau, transformado num lobo feroz, não muito depois da chegada dos europeus a estas terras, por conta das agressões do invasor. A civilização, tão-só, o corrompe, com as ardilosas artimanhas do capital, que produz sociedades degeneradas, e com as manobras dos capitalistas, sempre dispostos a se aproveitar dos trabalhadores em benefício do aumento de lucros. Os comentários de alguns jornalistas da imprensa do Sul, irritados com a derrota do sim no recente referendo, permitem se fazer dessa entidade etérea, o povo, retrato como esse. Esse fetichismo do povo, como possuidor de todas as virtudes em contraste com as elites cheias de todos os defeitos, prevalece apenas, no entanto, até o momento de desacordo entre, de um lado, a visão dos problemas nacionais dos fetichistas e monopolistas da ética e, do outro, a visão popular acerca da melhor maneira de res

Dois Errados...

Jornal O Estado do Maranhão Vai se tornando comum nos meios petistas, bem como nos assemelhados e aderentes, o seguinte argumento amoral – nem imoral chega a ser, o que revelaria certa consideração a padrões de moralidade pública, algo fora das cogitações do ex-campo majoritário do ex-PT. Como, dizem, outros partidos usaram e usam caixa dois em campanhas políticas, o PT estaria justificado por ter criado também o seu, com o fim de comprar os votos necessários à aprovação de projetos do governo no Congresso Nacional, com a força do vil metal, materializada no mal afamado mensalão. Este neologismo, por sinal, tão logo foi inventado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, se popularizou instantaneamente, revelando entusiasmada receptividade popular às denúncias do então parlamentar acerca do comportamento criminoso do petismo, outrora monopolizador da moral e dos bons costumes da vida pública. Por conta desse amoralismo nascido em Paris, em entrevista de nosso presidente, quando ele tentou

É Palhares o Morcego?

Jornal O Estado do Maranhão Não sei se o leitor já ouviu falar de Palhares, o canalha. Não um canalhinha qualquer. Ele era o canalha irretocável, perfeito, honesto. Atacava sem piedade as cunhadas nos corredores, depositando, qual morcego de filme de terror, mordidas e mais coisas no pescoço e em várias outras partes do corpo delas, na época em que muitas moças casavam, porém não saíam logo de casa, para onde traziam os maridos, pelos menos enquanto eles não arrumassem um bom emprego. Pois esse personagem inesquecível da ficção de Nélson Rodrigues, era um cara assim. Morava na casa do sogro. Mesmo vivendo lá, não se detinha ante as exigências da falsa moral burguesa do sogro e não deixava passar nenhuma oportunidade de assediar as irmãs da mulher que, pobre coitada, jamais desconfiou de nada. Agora, os cientistas anunciam a descoberta de inusitado comportamento num ser que age no estilo Palhares. Os machos dos morcegos da espécie Rhinolophus ferrumequinum fazem sexo com a sogra e, até

Por Que Não

Jornal O Estado do Maranhão   Votamos hoje num referendo cuja divulgação nos meios de comunicação omitiu de todos nós informações relevantes sobre o assunto acerca do qual deveremos nos manifestar – a possibilidade da proibição da fabricação e venda de armas de fogo no Brasil –, dizendo sim ou não, e as razões de termos de fazê-lo. Muitos não saberão sequer o significado da palavra referendo e menos ainda diferençá-la de plebiscito, desconhecida de seu Rodrigues, que não admitia ignorá-la, como ignorava também o significado de proletário, no conto de Artur Azevedo, ignorância responsável por rusga familiar entre ele e d. Bernardina, sua mulher. Teimosia e desconhecimento semelhantes a respeito das conseqüências da eventual vitória do sim, criarão condições propícias à elevação do índices de violência e criminalidade, como aconteceu em outros lugares. A votação é sobre o Estatuto do Desarmamento, lei aprovada com o condicionante, introduzido pelos adversários da proibição, que a consi

Os Bustos do Panteon

Jornal O Estado do Maranhão   Na quarta-feira passada, comissão de acadêmicos da Academia Maranhense de Letras – AML, formada por Jomar Moraes, seu presidente, Mílson Coutinho, Joaquim Itapary, Lourival Serejo e eu, encontrou-se com o prefeito de São Luís, Tadeu Palácio, para dar prosseguimento à frutífera reunião do dia 11 de agosto último. Como da vez anterior, ele nos recebeu de maneira cordial e demonstrou, sobre o assunto que nos levava a procurá-lo novamente, vivo interesse e conhecimento detalhado. Discutimos a situação dos bustos, até pouco tempo atrás presentes na Praça do Panteon, de homens importantes de nossa vida literária, quase todos construtores da identidade cultural maranhense a partir do século XIX, obra continuada por legítimos sucessores no século XX e neste. Enquanto, durante anos, modelados em bronze, estiveram naquele local, era como se ausentes permanecessem para muita gente. Não para os malfeitores, porém, especializados em arrancá-los de onde estavam para,

Sessões Contínuas

Jornal O Estado do Maranhão Eles se foram em silêncio, um de cada vez, pouco a pouco. Um dia, sentimos alguma coisa diferente. Olhamos em volta e não os vimos. Tinham ido embora, desde o da mais alta classe até o mais popular. Eles se sentiam desprezados, abandonados pelos amigos. O último a ir-se foi o Passeio, o cinema na rua do mesmo nome, pois é de cinemas que falo. Era o penúltimo no centro da cidade e foi inaugurado em 1962. Fechou há poucas semanas, depois de 43 anos de funcionamento. Creio ter sido o primeiro em São Luís com ar condicionado. Seus proprietários haviam construído antes, em 1960, o cine Monte Castelo, quase ao lado de nossa casa. Eu tinha 12 anos e vi construírem o prédio desde o alicerce até o teto. Eu me sentava na copa a fim de fazer os deveres de casa. Vezes sem conta perdi a concentração nos estudos, observando pela janela lateral os operários completarem o imenso telhado, aos pouco fechando os vazios, com fieiras e fieiras de telha, como quem vai colocando

Nova Orleans

Jornal O Estado do Maranhão   Nova Orleans foi, em 1718, como São Luís em 1612, fundada por franceses. Portanto, cento e seis anos depois de nossa cidade. O Estado de Louisiana, onde está localizada, originalmente foi possessão da França, vendida por Napoleão I aos Estados Unidos em 1803. É famosa pelo Bairro Francês com seu Mardi Gras, que lembra nosso Carnaval, pelo Dixieland jazz e pelo blues, por sua culinária e por ser o lugar de nascimento de músicos como Jelly Roll Morton e Louis Armstrong. Construída às margens do Mississipi, ela foi atingida por um furacão batizado como Katrina. Poucas vezes houve uma ataque natural tão devastador numa área em que fenômenos desse tipo são comuns. Localizada abaixo do nível do mar em vários pontos, tem em redor diques para contenção do rio ao Sul e do lago Pontchartrain ao norte. Essa linha de defesa, contudo, não foi capaz de conter o imenso volume de água vindo dessas duas direções, quando as barreiras se romperam. Os que não conseguiram sa

De Outro Mundo

Jornal O Estado do Maranhão   Estão vendendo pacotes turísticos para a Lua. Não é ficção; é realidade. Daqui a cem anos, quem sabe, algum pesquisador de jornais antigos se espante de nos admirarmos, hoje, de feito que será banal na época dele, como esse de flutuar serenamente entre os astros. Após levar dois milionários americanos à Estação Espacial Internacional, em 2004, creio, a Space Adventures , empresa dos Estados Unidos, está oferecendo passeios à Lua. Os capitalistas que, como se sabe, são selvagens preocupados apenas em ganhar dinheiro em vez de se dedicarem ao bem-estar dos povos, miram um mercado formado por milionários de toda parte, sempre dispostos a consumir novidades da tecnologia. Portanto, a oferta de aventura poderá ter boa receptividade, pelo menos entre os ricos. O preço é de US$ 100 milhões. A maioria de nós não é capaz de avaliar com exatidão o poder de compra de uma quantia desse porte. A montanha de dólares não dá direito, por enquanto, a um pouso na Lua. Tra

Letras em Festival

Jornal O Estado do Maranhão   O Festival Geia de Literatura realizado entre os dias 24 e 26 deste mês na cidade de São José de Ribamar veio preencher carência de nossa vida cultural. Não digo ser dos intelectuais do Estado, ou apenas deles, esse antigo desejo de realização de eventos como esse, porque seria tornar simplista uma questão melhor compreendida se atentarmos para tradição que, mesmo rica, sofre processo, já secular de – usemos a palavra certa – decadência. A verdade é esta. A partir da expansão econômica do fim do século XVIII, surgiu no Maranhão um grupo brilhante na literatura, na historiografia, nas ciências, nas artes plásticas, com personalidades como Odorico Mendes, João Lisboa, Sotero dos Reis, Gonçalves Dias, Joaquim Serra, Henriques Leal, Trajano Galvão, Gentil Braga, Sousândrade. Depois, apareceram nomes como Artur Azevedo, Aluísio Azevedo, Raimundo Correia, Graça Aranha, Humberto de Campo. Foram tais figuras, ou muitas delas, especialmente as primeiras, que dera

Sem Aviso

Jornal O Estado do Maranhão Uma pedra atravessou o caminho por onde eu ia despreocupado de tudo, de alegria e de tristeza, parou em certo ponto de sua viagem inconveniente, lá fincou o pé e, por vários dias, se recusou a sair, como se, de propósito, quisesse me causar sofrimento. Mas, é sempre assim, quando algum mineral componente de nosso corpo, o cálcio especialmente – que é pó semelhante ao que voltaremos um dia –, acumulado já em pedra, pequena embora, resolve deixar o calor de nossos rins e o aconchego de nosso interior, de onde jamais deveria sair, para vir até aqui fora por um estreito caminho, inadequado, evidentemente, a passeio como esse. Em meio à luta para expulsar a solerte inimiga dali de sua trincheira, dolorosa luta que, embora suspensa, ainda não chegou ao fim, pude ainda, tentando disfarçar a dor, ler um texto do meu confrade da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, sobre o recém-falecido capitão Antônio Alves Gondim. Sigo a narrativa sobre a revolta coman

Bem da Nação

Jornal O Estado do Maranhão     Dizem ser a corrupção um dos piores males do Brasil. As avaliações de organizações internacionais de monitoramento do assunto nos colocam entre os primeiros colocados nessa competição em que deveríamos “dar tudo de si”, como se diz no nos meio futebolístico, para ser os últimos. Estamos na companhia de países pouco confiáveis porque presos, segundo nossa visão, à cultura da corrupção como norma. É a história do macaco não olhar para seu rabo. Vejam a Rússia. Ao fim do antigo regime se atirou sem peias a uma economia de mercado, essa, sim, selvagem nas regras – ou na falta de regras – de funcionamento. Nós vemos a sociedade russa sob a dominação da máfia, imagem reforçada pela falta de tradição democrática sólida no país, aprofundada durante os 70 anos de ditadura de partido único dos companheiros comunistas. A doença russa é mais sinistra do que a brasileira ? Duvido. O julgamento é consensual: aqui, o furto é endêmico. Como mudar, como livrar o Brasil

Um Trovão

Jornal O Estado do Maranhão     Somente muito depois, quando nos tornamos adultos, iríamos compreender a irritação da mãe de nosso amigo, o que então nos parecia pura implicância. Cada um de nós colocava seu melhor revólver e cartucheira e corria para sua casa, vizinha à nossa, se por acaso não era ele quem vinha. Íamos dispostos, a modo dos heróis dos filmes de bangue-bangue que víamos nos seriados de fim-de-semana no cinema Rialto ou nos gibis que colecionávamos com cuidados especiais, a lutar a favor do bem e contra o mal, em compenetrada imitação do “artista” e seu “companheiro”, ninguém querendo fazer o papel de “bandido”, ao “brincar de caubói”. Nos filmes, os nossos ídolos sempre se livravam de emboscadas, truques sujos dos bandidos e quedas em abismos. Estes pareciam estar ali apenas com o fim de deixar a platéia em suspense, pois nunca acontecia daqueles super-homens se precipitarem neles de verdade. Os caras malvados, sim, podiam cair à vontade. Na vida real, o perigo era o

Sigilo Quebrado

Jornal O Estado do Maranhão     No capitalismo, que nunca estaciona, mas, ao contrário, evolui constantemente, como afirmou repetidamente Karl Marx, existe um fenômeno chamado por Joseph Shumpeter de “destruição criativa”. Alguns setores e atividades da economia, e os empregos a eles vinculados, são periodicamente destruídos, porém recriados, com outras características, em novas áreas, de tal forma que, no balanço final, a destruição é compensada, mais ou menos na mesma proporção, pela criação. Essa dinâmica, segundo a visão shumpeteriana, surge das inovações tecnológicas introduzidas no sistema econômico, com apoio em estruturas de crédito, por firmas inovadoras, capazes, dessa maneira, de se apropriar, durante algum tempo, de lucros extraordinários. Evidentemente, não é consolo para os trabalhadores demitidos a existência de oportunidades de conseguir novos empregos. De qualquer modo, as chances não estarão ao alcance deles porque, de fato, eles só poderiam obter trabalho outra vez

Destroços

Jornal O Estado do Maranhão   Machado de Assis, agnóstico assumido, gostava de ler um importante livro do Velho Testamento: “Eu me consolo no desconsolo do Eclesiastes”, disse certa vez referindo-se a suas leituras bíblicas. Sigo seu exemplo. É dessa porção da milenar sabedoria judaica a afirmação de não haver novidades no mundo. “Não há nada que seja novo debaixo do céu e ninguém pode dizer : Eis uma coisa nova. Porque ela já houve nos séculos que passaram antes de nós”. Portanto, não devemos nos surpreender por ter a alta direção do novo PT se revelado tão corrupta e incompetente como se revelou, adotando práticas mais desonestas do que as apontadas nos seus antigos adversários. Mas, como todas as coisas têm o tempo certo, de acordo ainda com o Eclesiastes, havendo o momento de destruir e o de construir, pode ser que estivesse escrito desde sempre ser este o de CPIs. Se não forem por estas erguidos os fundamentos da eliminação da corrupção brasileira bem como da reconstrução moral