20 de dezembro de 2015

Natal

Jornal O Estado do Maranhão

          Frequentei estabelecimentos católicos durante toda minha vida em escolas, até mesmo na pós-graduação, pois é católica a Universidade de Notre Dame, em Indiana, nos Estados Unidos, onde fiz mestrado e doutorado em Economia, entre 1978 e 1983, quando andei estudando alguns aspectos da atuação de multinacionais no Brasil, em especial o da criação de empregos, ao comparar-se empresas brasileiras com as primeiras. A única laica foi exatamente a primeira, o Jardim de Infância Dom Francisco, ali na praça da Alegria. Era praça da tristeza nos tempos antigos, pois ali se executavam condenados à morte, levando o povo a chamá-la de largo da Forca Velha. Antes de se chamar Dom Francisco, ela se chamara Decroly, em homenagem a Ovide Decroly, educador belga.
          Sintetizo essa trajetória tão só com o fim de dizer que tão longa convivência com o catolicismo e os ensinamentos cristãos, não apenas na escola, mas, também, na convivência familiar, em especial com minha mãe, avós, tios e tias, não me tornou uma pessoa religiosa. Todavia, longe de lamentar tal experiência, eu a considero inestimável. Muitos princípios morais presentes nos ensinamentos cristãos, foram e são de valor incomensurável para mim.
          Pessoas sem fé, como eu, não no homem, mas em vidas depois da morte e na existência de seres superiores, fazem parte de minoria que, segundo os biólogos evolucionistas, tem uma incapacidade radical nesse tipo de crença. Não é uma questão de escolha nem é algo contingente, produto de circunstâncias, mas necessário. O vulgo, ou não, declara serem elas destituídas de senso moral, como na famosa, mas errada, afirmação: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Bom, o ser humano é possuidor de um senso inato do certo e do errado. Intuitivamente, ele sabe que, por exemplo, matar é errado, é comportamento capaz de ferir sua intuição moral. Por que alguém agiria contra seus próprios instintos? A afirmativa sobre a existência de Deus parte da ideia de que a humanidade é destituída daquele senso. Quanto a isso, posso dizer: somos uma das minorias mais discriminadas. Vejo sobrancelhas se arquearem, muitas vezes sem nelas se descobrir nada de comportamento cristão, quando falo dessas ideias.
          Criado nessa milenar tradição, dela, uma das festividades de que mais gosto é a do Natal. Estão presentes em mim as noites da véspera de Natal e o nosso esforço de crianças para ficar acordados e ver Papai Noel chegar, sempre sem sucesso. Gostava e gosto pelo clima que se cria nessa época do ano, a reunião da família, amigos, o encontro com pessoas queridas, o sentimento de solidariedade humana, embora haja igualmente alguma tristeza.
          Talvez por isso, mas não apenas por isso, o conto de Machado de Assis mais do meu agrado é A Missa do Galo, obra prima do conto sem enredo e de uma única situação concentrada, simultaneamente um clima de tranquilidade e tensão, no encontro entre um jovem que espera a Missa do Galo e uma jovem senhora infeliz no casamento. Mil sugestões emergem de um simples diálogo entre os dois. Sem o Natal, sem o clima do Natal, tal tesouro teria ficado por ser criado.
          A todos, feliz Natal.

6 de dezembro de 2015

Causa e consequência

Jornal O Estado do Maranhão

          O processo de julgamento político da presidente Dilma Rousseff chegará a seu término com a retirada dela da cadeira que ora ocupa ou, alternativamente, com a continuação de seu mandato. Ninguém, no entanto, poderá afirmar, neste momento, com segurança, qual será seu desfecho.
          Dilma não é processada por roubo de recursos públicos, ocultação de contas bancárias na Suíça, aumento injustificado de patrimônio e ocorrências do gênero. Seu crime, de outra natureza, pelo menos pelo conhecido até o momento, é de responsabilidade, como previsto em lei, por ter ela, entre outras medidas, assinado suplementações ao orçamento federal sem a devida autorização do Congresso Nacional e executado programas de governo com o uso de recursos de bancos estatais, financiamento proibido por lei.
          Vivemos situação semelhante no já longínquo 1992, quando o presidente Collor teve de renunciar a seu cargo, depois de legítimo processo de impeachment contra ele. Seu mandato também era legítimo, mas tão só até o momento do cometimento de crimes contra a Constituição. Na época, o PT foi um dos comandantes da luta para derrubá-lo. A mesma tentativa o partido fez contra Fernando Henrique, Itamar Franco e José Sarney. Ficou famoso, na época, o bordão petista: fora FHC. No entanto, ninguém diz, agora, que o partido liderou tentativas de golpes, da mesma forma que não se pode chamar de golpe eventual impedimento da presidente. Como, se tudo está sendo encaminhado dentro do ordenamento constitucional? Evidente, sendo o julgamento político, político será o posicionamento do Congresso.
          Dilma já faz parte do minúsculo grupo de presidentes que viram o Legislativo julgá-los politicamente: somente ela, o geneticamente corrupto Collor, já citado, e Getúlio Vargas em 1954. Neste último caso, com absolvição do ex-ditador e, então, presidente.
          Como chegamos a tal situação, de todos os modos danosa ao país?
          Começamos a afundar com a ascensão do PT ao governo federal. As coisas ainda caminharam bem enquanto foi mantida a política econômica herdade dos dois governos anteriores. Depois, o PT achou de adotar heterodoxia econômica fracassada, antes, em vários países. Daí em diante, tudo começou a andar mal. Em paralelo, era montado pelo PT imenso esquema de corrupção, visando tanto enriquecer seus dirigentes com recursos públicos e destruir as instituições democráticas quanto garantir a permanência eterna do partido no poder. Com o fim de manter o esquema funcionando, Lula inventou uma candidata fantoche como sua sucessora. Eleita, ela mostrou ser incompetente em todas as áreas: administrativa, política e econômica. Até o irrevogável Mercadante seria melhor do que ela. A junção de uma administração econômica errada com a roubalheira desenfreada e mais a deterioração de qualquer princípio moral ou ético, levou-nos ao desastre em andamento. Se ela sair, será, igualmente, pelo conjunto de sua obra de destruição.
          A imensa maioria do povo brasileiro quer Dilma fora do governo, como desejou que Collor saísse. Ela é, simultaneamente, consequência e causa de nossos problemas. É hora de ir para casa brincar com os lindos netinhos.

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