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Mostrando postagens de maio, 2003

Com meus botões

Jornal O Estado do Maranhão Naquele tempo, entre o fim dos anos cinqüenta e começo dos sessenta, carregávamos, nós, garotos de classe média do Monte Castelo, nos bolsos dos calções, dentro de pequenos sacos de pano macio, cuidadosamente enlaçados por cordões na extremidade superior, pequenas caixas metálicas redondas, antes embalagens das Pastilhas Valda, depois guardiãs dos nossos preciosos times de botão, a protegê-los de olhares cobiçosos. Uso nobre, comparado com o original, de mero depósito de remédio para alívio de uma coceirinha qualquer na garganta. Com o pensamento no conforto dos craques de plástico, forrávamos com flanela, verde ou vermelha, o interior do recipiente, evitando, com esse cuidado, arranhões em suas brilhosas superfícies e a diminuição de seu valor de troca. Aliás, era incomum vendermos os mais valorizados, mas não trocá-los, o que acontecia com alguma freqüência, embora eu mesmo, como com os livros, ficasse indignado com a sugestão de desfazer-me dos meus. Os

No reino da mentira

Jornal O Estado do Maranhão Quantas vezes já não se ouviu dizer que a primeira vítima das guerras é a verdade? Essa afirmação, de tão repetida, tornou-se um lugar-comum. Mas, a fim de não passarmos por mentirosos, devemos admitir que se mente do primeiro ao último disparo, do primeiro ao último morto. Esse empenho na mentira não se dirige ao inimigo. Ele nunca acredita nela. A mentira visa ao próprio povo cujos governantes as patrocinam. Mente-se mais para os amigos do que para os inimigos, como um golpe psicológico destinado a manter a coesão interna em sociedades engajadas em guerras. Recuos são transformados em avanços, derrotas em vitórias, covardia em heroísmo, humilhação em exaltação, ódio em amor, desonra em honra, e assim por diante. Eu achava que todas os embustes bélicos, se assim se pode classificar as mentiras de época de guerra, já tinham sido inventados. Eis então que um sujeito resolveu inovar durante o recente ataque dos Estados Unidos contra o Iraque. Certo, ele não p

Hora de reformar

Jornal O Estado do Maranhão Acusam o presidente Lula da Silva e o PT de incoerência. De fato, depois de chegar ao poder, o partido e seu mais expressivo líder rapidamente colocaram em prática as políticas econômicas tenazmente por eles combatidas durante décadas, sem ao menos dar a seus eleitores o consolo da implantação de suas próprias receitas, recomendadas anteriormente, supostamente destinadas à cura da injustiça social no nosso país. O chamado neoliberalismo, de que a administração passada era “acusada”, foi adotado sem nenhum acanhamento pela atual, antes oposição, embora não se mencione mais a palavra execrada, neoliberal. Não se ouve mais essa “acusação” contra ninguém. Todavia, a política é a mesma, com uma diferença: sua aplicação é radical agora, embora sua denominação tenha desaparecido. Nem mesmo a atual oposição, anteriormente governo, “insulta” de neoliberal a nova direção petista do país. Lembra-se, quem sabe, de sua antiga defesa das políticas governamentais de hoje.