11 de novembro de 2001

Um ano

Jornal O Estado do Maranhão
Chego, com este, a 52 artigos dominicais aqui em O Estado do Maranhão. Escrevê-los tem sido uma experiência inestimável para mim nesses doze meses. Digo isso porque renovo semanalmente a chance de expor, com o máximo de boa fé, posso assegurar, algumas idéias e de receber a aprovação ou a desaprovação dos leitores. É claro que, em ambos os casos, o proveito maior é meu. Algumas vezes, concordando ou discordando, eles fazem-me perceber algumas nuances daquilo que tentei dizer, mas não disse com nitidez. Sou obrigado, dessa forma, a ter mais cuidado e certificar-me de que estou transmitindo exatamente o pretendido.
Chego, assim, a outra vantagem desse exercício semanal. Ele me força a esclarecer melhor as idéias para mim mesmo, arrumá-las melhor, por assim dizer, para poder expô-las de forma mais clara. Ou menos obscura, pelo menos. Independentemente do mérito de minhas opiniões, tal treinamento torna possível, portanto, evitar interpretações equivocadas, mal entendidos e perda de tempo com explicações que, com esse cuidado, sequer necessitam ser apresentadas.
As reações dos leitores são, quase sempre, bastante corteses, sejam favoráveis ou contrárias aos meus pontos de vista. Percebo que a maioria, embora, naturalmente, preocupada com o assunto em si, também, faz seus julgamentos com base em outros critérios. Suas análises não se sustentam, apenas, na concordância, ou não, apriorística com a minha maneira de ver. Elas vão mais longe. Ponderam sobre a existência, ou não, de coerência e clareza na minha exposição e de lógica nos meus argumentos. Não são puramente ideológicas nem supõem um ponto de partida moralmente correto, em contraposição a uma hipotética incorreção ética do articulista.
Mas, há exceções, infelizmente. Embora em quantidade muito pequena, existem os que não desejam debater, mas impor pontos de vista sem qualquer discussão, por meio do uso de rótulos e palavras de ordem. Foi por isso que já fui carimbado, de corpo presente, ao vivo, de terrorista, em uma ponta do espectro ideológico, e de reacionário, na outra. Acabei um reacionário extremista, portanto. Sou levado a pensar, então, sobre meu acerto em algumas coisas. Devo estar andando longe dos extremismos. Cada um desses autênticos extremistas me coloca na ponta oposta à sua.
O “terrorista” foi por conta dos meus comentários acerca do atentado do dia 11 de setembro deste ano aos Estados Unidos, país que muito admiro, onde vivi por cinco anos. Tenho um filho, Lino Filho, com dupla nacionalidade, americana e brasileira, por ter nascido lá. Em resumo, eu dizia que aquele ato de violência não tinha justificativa moral alguma, mas tinha uma explicação na política externa americanas, sem exclusão da responsabilidade dos governos corruptos dos países pobres, pelas mazelas de seus povos.
O “reacionário” veio de minhas observações sobre a greve das universidades federais. Pelo tom emocional da reação, só posso concluir pelo meu acerto em dizer que falanges minoritárias da universidade gostam muito de criticar, mas pouco de ser criticadas. Na maioria das vezes, preferem, em lugar da discussão civilizada e racional, colocar um carimbo nos que não rezam pela sua cartilha. É mais fácil porque dispensa o extenuante trabalho de argumentar, de racionar, de pensar. Todo rótulo é pré-definido e conhecido, pelo menos para as platéias a que é endereçado. Vem daí o aplauso infantil entusiasmado a esses arroubos “de esquerda”, tornados um reflexo condicionado aplicado a toda hora e a todo mundo.
Mas, ao fim, sai-se enriquecido da experiência. Expor-se ao julgamento dos leitores é participar do jogo democrático, exigente do livre debate e circulação de idéias. É acreditar, como acredito, no amadurecimento de nossa sociedade, o suficiente para torná-la tolerante das opiniões divergentes. É uma atitude que certamente ajuda a eliminar o perigo da opinião única, de tantos prejuízos no passado, e ainda hoje, às sociedades nas quais é proibido discordar.

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