31 de janeiro de 2013

Dia da Vergonha para a ABI – Associação de jornalistas abre as portas para Dirceu atacar a imprensa livre e o Judiciário. Quanto será a vez de Fernandinho Beira-Mar e de Marcola?

Clique no link abaixo para saber a que ponto a ABI se degradou.


Dia da Vergonha para a ABI – Associação de jornalistas abre as portas para Dirceu atacar a imprensa livre e o Judiciário. Quanto será a vez de Fernandinho Beira-Mar e de Marcola?

27 de janeiro de 2013

Cachorro na rua

Jornal O Estado do Maranhão

          Não sei se o leitor já foi perseguido por cachorros em nossa cidade. Ainda não? Nunca numerosa matilha de 15 a 20 deles decidiu correr atrás de você, na tentativa de morder-lhes os calcanhares ou arrancar-lhes pedaços da batata da perna ou, quem sabe, qual nos filmes de terror, cravar os dentes na sua garganta e saciar, vamos dizer, insaciável sede de sangue? Eu já fui ameaçado, muitas vezes. Numa delas, fui arranhado – felizmente não fui mordido –, pelo afiado canino de um canino, necessitando de tomar vacinas.

          Em minhas andanças de bicicleta por São Luís e pelo resto da Ilha – São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa –, depois de tanta perseguição, eu acabei chegando à conclusão óbvia de haver mais desses animais nas vias públicas do que gente. Não faço a comparação entre os de rua e humanos na mesma situação (na linguagem politicamente correta, “em situação de rua”). A população de cães que perambula pela Ilha supera em muito a população humana total (não exagero). No entanto, poucas têm sido até agora as manifestações de preocupação pública com os cachorros e suas vítimas potenciais.
          E nas residências, alguém poderá perguntar, quantos são esses animais? Esses vão igualmente às ruas passear, com a diferença de voltarem para casa. É o caso de fazer um censo. – Quantos a senhora tem, madame? Dois? Deixe-me anotar. – E este aqui, é de verdade ou é só um brinquedinho eletrônico? O certo é isto: eu nunca passei por uma rua, avenida ou praça de São Luís sem encontrar um monte deles. Os humanos de rua encontram-se apenas em algumas áreas e não são tantos.
          Veja só, leitora. No mundo animal, excetuando-se dele nossa misteriosa espécie, reproduzem-se as mesmas disputas e estruturas do nosso. Vem um grupo de cachorros filosofando sobre a morte da bezerra, ou da cachorra, e as dificuldades da vida e eis uma cadelinha, balançando o rabo com passinhos ligeiros e graciosos e uma beleza não afetada pelo fato de não tomar banho há muito tempo. Por sorte dos brutamontes ela está no cio. Quem vencerá a luta por ela? O mais forte, claro, o mais esperto, o mais rápido, sei lá, qualquer um desses. Os fracos, os menos espertos, os lentos ficarão a ver navios e, quem sabe, estrelas após levarem imerecida surra dos outros.
          Essa desigualdade traz à mente outra, entre os de madame e o os menos afortunados em “situação de rua”. Uns vão a salões de beleza, a hotéis especializados, têm quem os leve a passear e os proteja dos maus elementos vagabundos; eles comem do bom e do melhor e chegam a escolher suas namoradas e namorados. Em suma são da classe dominante e insensível, adepta do capitalismo selvagem. Os outros comem não o pão amassado pelo Diabo, mas o pão amassado em forma de bolinhas pelos fregueses dos restaurantes, e outros restos de comida. Paciência, a vida tem dessas coisas.
          É a revolta com tudo isso a razão de sua agressividade e da ameaça às pessoas. Só pode ser. Como nos dias de hoje a revolução dos bichos está fora de moda, contentam-se em me perseguir e a outros ciclistas incautos o bastante para se aventurarem ao ar livre com suas bikes. O que fazer nessas circunstâncias?

          Apelar às autoridades? Aí está. Não apelo apenas a seu senso de justiça, antes à obrigação de fazerem cumprir as leis, dando a elas a eficácia esperada de toda peça de legislação. Contribuirão, livrando-nos dessa praga, como tenho muita esperança de acontecer, para a plena vigência das leis, sem essa de que não pegam. Pois a legislação sobre o assunto existe e órgãos teoricamente responsáveis por sua execução, também, como o Centro de Controle de Zoonoses. Sei das dificuldades financeiras atuais da prefeitura e do empenho do senhor prefeito em superá-las e elas serão superadas. Os executivos responsáveis por essa área da administração municipal saberão compreender a gravidade da ameaça aos cidadãos representada pelos animais sem dono onipresentes na cidade e tomar as providências necessárias. Penso na participação da Sociedade Protetora dos Animais, como facilitadora no estabelecimento de uma estratégia para isso.

13 de janeiro de 2013

Desenvolvimento e Cultura


Jornal O Estado Maranhão

          Grande parte de minha vida profissional, eu passei na busca de alternativas possivelmente capazes de dar conta dos problemas econômicos do Maranhão. Meu primeiro emprego, tendo eu 19 anos de idade, foi na Companhia Progresso do Maranhão – CPM, criada quando José Sarney era governador do Maranhão.
          A Companhia fora imaginada como primeiro passo da implantação de uma agência de apoio ao desenvolvimento no Estado, o que de fato ocorreu pouco depois, ainda no mesmo governo, com a criação do hoje extinto Banco de Desenvolvimento do Maranhão – BDM. Este herdou da CPM não só a maior parte do quadro técnico, do qual eu já fazia parte, como os programas de financiamento às atividades industriais, em especial pequenas e médias indústrias, e ao setor primário da economia maranhense. Daí em diante, a Companhia especializou-se em atividades de captação de recursos financeiros no mercado e o BDM assumiu a tarefa de suporte ao setor privado do Estado.
          Aquela foi uma época, segunda metade dos anos 60 e primeira dos 70, de grande euforia desenvolvimentista. Aqui no Estado, José Sarney realizou uma de suas grandes obras, intangível mas real: despertou na sociedade a percepção do crescimento como um processo não apenas desejável, como possível. Todos ou quase todos acreditávamos que, removidos certos gargalos de infraestrutura econômica, o aumento da riqueza era quase consequência automática: comunistas, direitistas, revolucionários, reacionários, gente defensora do livre mercado ou do planejamento centralizado ao estilo soviético, católicos, ateus e umbandistas. Lembro das longas e entusiasmadas discussões com Bandeira Tribuzi no BDM. Havia divergências entre nós, mais táticas do que estratégicas, sobre como chegar lá. Mas, no essencial o diagnóstico era economicista. Líamos então diversos economistas em voga, das mais variadas tendências, mas sempre enfáticos quanto à importância da infraestrutura econômica no desenvolvimento. De certa forma, a maioria estava, nesse aspecto, influenciada pelo pensamento de Marx.
          Aos poucos, no entanto, comecei a perceber que a base material era tão só condição necessária, mas não suficiente àquele processo. Tê-la não era garantia de ir ao Paraíso. Poderia acontecer que, a despeito de tal pré-requisito existir em algumas sociedades, o avanço não ocorresse e elas não se tornassem mais ricas nem mais justas nem mais democráticas nem mais felizes. Começou a ficar clara a importância de fatores culturais, entre eles o nível de educação da população, mas, principalmente, as atitudes diante da prosperidade e dos arranjos institucionais apropriados a nos fazer sair da luta de todos contra todos e entrar na vida civilizada.
          Ficava cada vez mais evidente a existência de certa repulsa diante do lucro e da prospera: “Fulano está ganhando muito dinheiro”, num tom de reprovação, se ouvia e ainda se ouve. É a mente ideologicamente anticapitalista. Ora bolas, se o ganho foi honesto, deveríamos aplaudir o empresário, porque, afinal, seu capital correu riscos no mercado e as consequências de decisões erradas é a falência, com todo o cortejo de dolorosas consequências para ele. Os lucros de suas empresas realimentam o crescimento, pois empresários não os comem. É bom ele lucrar muito e não pouco. Se não houver lucro ou se ele for irrisório, não haverá reinvestimento.
          Outro traço cultural danoso é o desrespeito a leis, normas e regulamentos. É a história do jeitinho e das leis não pegarem bem como a ideia de o cidadão poder desrespeitá-las “só um pouquinho”, sem consideração dos direitos dos concidadãos, ou de ela ter vigência com respeito a uns – os pobres, ou, ao contrário, os ricos – e não a outros. Existem exemplos comezinhos às pencas em nossa vida diária, desde o estacionamento em fila dupla em portas de escolas privadas– “é só um minutinho” – até a poluição sonora produzida por quem não liga para a lei e desconhece as regras de convivência civilizada. É a mentalidade pré-moderna e pré-capitalista como essa a causa principal da marcha lenta do progresso. É a cultura do atraso.

Machado de Assis no Amazon