18 de novembro de 2001

Copa 2002

Jornal O Estado do Maranhão
Pareceu e, de fato, foi um pouco ridículo, para uma potência do futebol como o Brasil, ter comemorado, na quarta feira passada, a classificação para a Copa do Mundo de 2002 como se tivesse vencido, por exemplo, uma Argentina, uma Itália ou uma Alemanha na partida final. Essa reação se explica pelo frustrações de uma inédita campanha de derrotas nos jogos eliminatórios, em disputa com antigos fregueses de caderno.
Era inimaginável, até recentemente, irmos para um jogo com medo de perder para a Venezuela, país que tem como seus esportes mais populares o beisebol e o basquetebol, seguidos do futebol na preferência do público. No entanto, o receio esteve presente até o início do jogo. Felizmente, a lógica prevaleceu, o que nem sempre acontece no futebol. O time brasileiro venceu jogando, para valer, somente no primeiro tempo da partida.
Afinal, o Brasil, em dezesseis Copas, ganhou quatro, foi vice-campeão em duas, terceiro em duas e quarto em uma, terminando, portanto, entre os quatro primeiros colocados em mais da metade delas. Se alguém disser que isso é coisa do passado ou é pouco, eu direi que nas mais recentes disputas, fomos campeão, em 1994, e vice, em 1998 e que nenhum outro país fez tanto quanto o nosso.
O mal brasileiro, nesse terreno, ou gramado, tem origem em seus dirigentes. Eles não entram em campo. Todavia, participam, como suspeitos, até agora, de mil roubalheiras. Digo roubalheiras com base em duas CPIs criadas para investigar o futebol. Elas encontraram indícios de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, conforme a documentação e os depoimentos reunidos pela devassa. Na Comissão da Câmara, uma tal de tropa de choque da CBF impediu a votação do relatório final e tornou inócua toda a investigação. A do Senado sofre, no momento, igual sabotagem por outros membros da mesma “tropa” sem uniforme, mas de finos fraque, casaca e cartola. Tal manobra poderá ser a salvação do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, principal acusado, mas a perdição definitiva do nosso futebol.
Independentemente dessas lambanças, contudo, temos uma longa tradição de não acreditar na seleção antes de competições importantes, talvez porque ser pessimista é sempre seguro. Estatisticamente, os pessimistas estarão certos na maioria das vezes. Além disso, quando suas previsões falharem, ninguém vai dizer nada na euforia da vitória. No caso de serem corretas, eles vão poder dizer satisfeitos e superiores: – Eu não disse?!
Quem folhear os jornais e revistas de 1958 vai perceber a incredulidade brasileira ou, pelo menos, da chamada crônica esportiva, a respeito da seleção que ia disputar a Copa. O técnico Feola era um dorminhoco, os jogadores não tinham preparo físico, os russos estavam jogando um futebol científico, o time inglês, chamado servilmente de English Team, usava táticas maravilhosas, a França tinha um ataque arrasador. Todo mundo estava jogando um bolão. Só o time brasileiro era de peladeiros, de pernas-de-pau.
Em 1970, dizia-se que a nossa participação na Copa do México ia ser pior do que a de 1966. Nesta, não havíamos passado da primeira fase. Vivíamos a época da ditadura militar. Dizia-se que Dario, o Dadá Maravilha, fora convocado, para salvar a pátria, por “sugestão”de Medici, o general-presidente. O certo é que o futebol brasileiro não prestava.
Nas eliminatórias, contra essa mesma Venezuela, o primeiro tempo terminou de zero a zero. Os comentários eram todos sobre o domínio dos venezuelanos. Eles iam ganhar no segundo tempo. Pois bem, o Brasil fez cinco a zero. Nelson Rodrigues, com suas tiradas espirituosas, disse em uma crônica, quando a seleção embarcou para o México: – Partiu o escrete. Terminou o seu exílio. Acrescento que em 94 e 98 foi a mesma coisa.
A história bem poderá se repetir em 2002. Não como farsa, como acontece geralmente, mas como reafirmação da superioridade do nosso futebol. Para isso, será necessário afugentar os principais culpados pela crise da seleção.

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