15 de outubro de 2006

Tempo de pagar

Jornal O Estado do Maranhão

Começo por onde terminei na semana passada: “Se, como foi anunciado com euforia na imprensa governista, Roseana foi rejeitada por 52,8% do eleitorado, então, pelo mesmo raciocínio, Jackson o foi por 65,6%, Vidigal por 85,8% e os outros, juntos, por quase 100%”.
Costumam dizer os americanos, com aquele espírito materialista, prático e realista característico deles, dando-nos a impressão de frieza e indiferença, no entanto apenas superficiais, como sabe quem teve a oportunidade de com eles conviver, que não existe almoço de graça. Tudo tem custos e preço, embora, em algumas circunstâncias eles não sejam aparentes nem pagos por quem deveria. Significa dizer que alguém mais se encarregou de fazê-lo, quem sabe um sujeito oculto, um malfeitor, um vigarista qualquer, um malandro ou um benfeitor, um filantropo, um anjo, um santo.
O leitor desejará saber a relação dessas idéias com rejeição eleitoral. Em verdade tem muito. Rejeições de 65,6% e de 85,8%, têm de possuir uma explicação, não surgiram do nada. É o preço, alto neste caso, resultante da soma de custos de administrações municipais ruins em São Luís, especialmente a última das três de Jacson Lago, entre janeiro de 2001e abril de 2002. Em outras palavras, o almoço de graça não é de graça, vai ser pago no segundo turno da eleição com a moeda da rejeição ao governo (o cálculo não é meu, mas da antiga oposição), embora aos que irão pagá-lo agora a refeição parecesse grátis durante certo período. Achavam que não seriam obrigados a liquidar a conta.
Uma das fontes dessa cobrança está na criação de uma oligarquia municipal no Palácio La Ravardière há mais de vinte anos. Quem não se lembra de São Luís, Patrimônio Cultural da Humanidade, Jamaica Brasileira, Atenas Brasileira, Cidade dos Azulejos, transformada , infelizmente, em um lixão só de uma ponta à outra da ilha? Em 2002, o sucessor do então prefeito Jackson Lago na prefeitura, do mesmo partido dele, decretou calamidade pública como decorrência de sua avaliação sobre a situação da saúde pública, de fato ameaçada pela montanha de lixo não recolhido.
O sistema de coleta havia entrado em colapso em 2001 e a população exigia solução imediata para o problema. A estatal encarregada da coleta, a Companhia de Limpeza e Serviços Urbanos – Coliseu, não coletava quase nada, fazia o mínimo. Ela fora levada a uma situação falimentar pela mesma má administração que criou as condições para o sumiço de vários caminhões da empresa. A falência desta aconteceu sem surpresa de ninguém.
O lixo, não sendo recolhido ou o sendo em volume muito abaixo do criado pela sua produção numa cidade grande como a nossa e sendo levado – por certo nos caminhões que restaram depois do desaparecimento misterioso investigado pela polícia –, em quantidade muito pequena até o aterro sanitário municipal da Ribeira, lugar onde deveria receber destinação adequada, o lixo, dizíamos, encontrava então mais um problema: a ausência de tratamento, de tal forma que ele era jogado ali sem cuidado algum. Como conseqüência, no período de chuvas em São Luís, aquela área se transformava num grande lamaçal, com os impactos desastrosos, conhecidos de todos, sobre o ambiente em seu entorno e, portanto, sobre as pessoas. O número de urubus atraídos para o local foi sempre muito superior ao de outros aterros sanitários no Brasil e no exterior e cresceu tanto que o vôo deles se transformou em ameaça a outros vôos, os dos aviões, pois o aterro está próximo do aeroporto.
Por fim, caro leitor, o elevado preço da negligência administrativa de Jackson Lago será desembolsado em breve pela antiga oposição com pesados juros. As urnas receberão o débito e darão o recibo, para não restar dúvida. O almoço não será de graça de modo nenhum. Se pensavam que outros pagariam por eles, enganaram-se.
 

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