2 de novembro de 2014

Projeto ilegítimo

Jornal O Estado do Maranhão

          Candidatos a postos do Executivo são eleitos, em parte, pelas ideias apresentadas na campanha. Os eleitores as avaliam com as informações que possuem e tomam decisões acertadas do ponto de vista de seus interesses. Na eleição recém-encerrada, para presidente da República, um dos temas debatidos com franca radicalização foi o do controle (ou descontrole) da inflação e do papel do Banco Central na preservação do valor da moeda nacional. A presidente Dilma afirmou, com base em teoria e dados empíricos antes desconhecidos, pois vindos de Marte, que a fim de se chegar à taxa de inflação de 3% seria necessária taxa de desemprego de 15%. Sua mensagem era óbvia: ela não elevaria os juros com o objetivo de reduzir a inflação, porque tal medida faria crescer o desemprego demasiadamente. Que nos conformássemos com inflação alta e crescente. Três dias depois da eleição, ela mandou o Banco Central (lembre-se, leitor, ela não gosta de BC autônomo) aumentar os juros. A taxa básica ficou em 11,25% ao ano, o mercado já prevê 12% em pouco tempo e, acreditem, um dos nomes da lista de cotados para assumir a direção do BC é banqueiro, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco.
          Teria ela mudado de ideia? O crescimento das taxas de desemprego não a preocupam mais? Elevar juros deixou de ser coisa do neoliberalismo desalmado das elites? O BC agora pode ser entregue a um banqueiro e pode majorar juros sem tirar o alimento da mesa e da boca dos pobres? Marina, objeto desta mentira repetida mil vezes com o fim de nela ser posto o selo mentiroso de querer matar o povo de fome, pelo menos entregaria o BC aos banqueiros à meia noite num terreno baldio, segundo Dilma. A presidente o entregará “diuturnamente”, como se diria em dilmês castiço, para acalmar os miseráveis mercados. Ou o Banco já estava anteriormente, em pleno desgoverno petista, dominado pelos banqueiros e no gozo de plena autonomia, nas barbas de Dilma? Como se sabe, as bancas nacional e internacional são compostas de gente má e insensível, que pretende acabar com o país descoberto por Lula e não por Pedro Álvares. Afinal, o senhor Trabuco honrará o próprio nome e sairá por aí atirando nos pobres brasileiros?
          Após o aumento dos juros, o estelionato eleitoral se completará com o aumento de combustíveis e eletricidade.
          Do projeto petista-leninista, consta também o chamado “controle social da mídia”. Controle não é, porque a palavra dá um certo tom de neutralidade às maquinações criminosas dos companheiros. Eles querem, mesmo, é a eliminação da imprensa independente e a manutenção apenas dos blogues sujos, que são financiados com dinheiro das estatais. Seriam eles os combatentes pela liberdade de darem apoio ao governo e destruírem com calúnias e difamação a reputação alheia. O assunto foi evitado nos debates eleitorais por conhecerem seus proponentes a repulsa dos brasileiros a essa ideia. Dilma foi eleita também com essa missão de controlar a imprensa.
          A pauta petista tem, ainda, item ousado: a usurpação de poderes do Congresso Nacional via criação de conselhos populares, semelhantes aos existentes na Venezuela, cujos membros seriam indicados pelo governo, isto é, pelo PT. Eles atuariam nos órgãos de Estado, inclusive nas agências reguladoras, determinando as políticas públicas a serem implementadas no país. A Câmara dos Deputados acaba de impor derrota ao governo a esse respeito, votando decreto legislativo que derruba o do Executivo que criava os conselhos e implantava uma justiça paralela. Neste caso, se alguém invadisse uma propriedade, a Justiça como a conhecemos hoje não poderia conceder mandatos de reintegração de posse antes de ouvir uma tal mesa de negociação em que o proprietário espoliado estaria sempre em minoria e entidades como o MST, em maioria. O Senado confirmará a queda.
          Ninguém poderá alegar não conhecer as intenções do PT. Seus líderes sempre foram claros acerca de seu projeto ileg´timo e o partido tentará cumprir a agenda bolivarianista. Arrependimentos de quem, de boa-fé ou não, votou a favor desse projeto serão tardios.

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