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Mostrando postagens de 2017

Ângela e os bororós

Luiz Alfredo Raposo Economista           Deu na e-midia, a chanceler Ângela Merkel teria dito a juízes e altos burocratas que pleiteavam salários de professor: “como posso igualar vocês a quem os ensinou?” Aqui, inverso o quadro, indagam como reagiria uma Merkel presidente. Alemãmente, creio. Começaria por anotar os problemas federais: 1) os supersalários (acima do teto legal) têm um bruto dum peso na folha de ativos. 2) É enorme, frente à do INSS, a aposentadoria média do setor público. “Cópia” dos salários da ativa, ela continua a desigualdade. 3) Inviável mais imposto, está-se no nível alemão e muito aquém da renda per capita alemã. 4) No atual ciclo demográfico, o movimento de aposentações é tal, que a folha dos inativos promete comer, não demora, toda a receita orçamentária.            É, desastre na Previdência gera desastre no Tesouro e descarta soluções via só (1) ou (3). P. ex., aumentar os professores e trazer os salários da elite ao nível alemão... O jeito seria atacar

Imprevidência

Jornal O Estado do Maranhão           Quando, nos anos 50, eu era um vivaz garotinho, como se dizia então, uma pessoa idosa era quase uma raridade. Muitos adultos usavam a expressão “lá vem o velho” para amedrontar as crianças dos casais com 7, 8, 9, 10 ou mais filhos e fazê-las ficar quietas. Conformação demográfica como essa, com muitos jovens e poucos idosos, aparecia numericamente como uma elevada participação percentual dos primeiros na população, característica dominante havia décadas. A pirâmide populacional brasileira era larga na base e bem fina no topo.           Ocorreu a partir de então, como em outros países de nível de renda semelhante ao do Brasil, célere processo de urbanização, que levou à diminuição das taxas de fecundidade, com consequências importantes na nossa composição etária. A relação jovem/idoso começou, também aceleradamente, a cair. Países de renda mais alta do que a nossa passaram da mesma forma por essas mudanças, mas a velocidades muito mais baixas. D

Infestação

Jornal O Estado do Maranhão           A infestação da maioria das redações dos grandes veículos de comunicação pelo “pensamento” esquerdista é matéria – uso esta palavra por ser ela objeto de veneração nesses lugares sagrados, onde existem altares a seu culto e se repete a toda hora o mantra sobre matéria atrair matéria – de um dos poucos consensos no Brasil, país tão disposto a tudo transformar em discórdia, até mesmo os argumentos acerca de comunistas terem direito de morar no Leblon, ou não terem, em apartamento com vista para o mar. Eles têm, sim, pobrezinhos! Nessas redações militam mais comunistas, é avaliação consensual, do que na China inteira, país nominalmente socialista, mas, na prática, capitalista, sendo esta a razão de o país vir crescendo tanto há tanto tempo, não por causa de imaginária sabedoria milenar chinesa.           Pois são essas hordas de passivistas políticos cheios de indignação teórica (verdadeiros passivistas não vão às ruas, apenas insuflam as massas) qu

Façam o que eu digo...

Jornal O Estado do Maranhão           O cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas, doutor pela New School University e professor visitante na Universidade Stanford, construiu um Índice de Custos do Governo – ICG, concebido para medir de maneira sintética a eficiência do governo – não deste, mas de qualquer governo – em sua relação com o Congresso. As variáveis utilizadas no cálculo são: a) no lado dos custos, conforme está em artigo por ele publicado na Folha de S. Paulo, de 9/11/2017, não num jornalzinho qualquer do PCdoB: “1) quantidade de ministérios (e secretarias com status de ministério) que um presidente decide ter em seu governo; 2) total de recursos que aloca entre os ministérios (e secretarias com status de ministério) ocupados pelos membros da coalizão; 3) montante em emendas individuais que os parlamentares fazem ao Orçamento anual e que o presidente executa”. Os itens 2 e 3 têm seus valores calculados como percentagem do PIB); b) do outro lado, dos

Perde e ganha

Jornal O Estado do Maranhão            A vitória de Temer contra a denúncia do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mostra sua habilidade e força políticas (não à toa, ele foi presidente da Câmara três vezes), fecha uma fase exitosa de seu governo até o momento e abre outra de extrema importância para a vida nacional, quando uma reforma da previdência poderá ser feita, com o fim de evitar o colapso da previdência social.            Mas não procure nos grandes portais noticiosos qualquer avaliação positiva sobre o presidente, quando se fala a respeito da votação da quarta-feira passada. Ao contrário, há nesses saites avaliações de apresentadores e colunistas, que são quase unânimes em proclamar o enfraquecimento do presidente. Se ele ganhou no voto e se enfraqueceu, então, é conclusão lógica, deveria ter trabalhado para perder. Aí, sim, sairia fortalecido.           Percebeu, caro leitor? Ganhar com a meta de perder e, logo, perder com a de ganhar. Isso não é um pouco conf

Descolado

Jornal O Estado do Maranhão           Sabem o sujeito descolado? Diz o Houaiss: “Habilidoso na solução de questões, no trato com outrem, etc.; astuto, esperto (é um sujeito descolado, sempre consegue o que quer)”.            Blogueiros, colunistas da grande imprensa e de internet, e muitos autonomeados especialistas (estes constituem o grupo mais divertido de profissionais; morro de rir de suas explicações óbvias e de suas previsões quase sempre erradas) deram agora de dizer que a economia se descolou da chamada crise política, sem oferecer aos leitores nenhuma evidência factual sobre o tal descolamento, mas com bastantes ideias pré-concebidas e visões ideológicas tomadas como mandamentos divinos.             Aproveitando-se dessa suposta separação, a turma chega a conclusões engraçadas. Uma delas é a de que a recuperação atual (com estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto - PIB ainda pequenas, positivas, contudo, para 2017 e um pouco melhores em 2018, assim como com as es

Desarrumação

Jornal O Estado do Maranhão           Na quarta-feira passada, o “Estado de São Paulo” publicou editorial, no qual trata de assuntos de grande importância para o futuro do Brasil. Logo no início, o jornal fala de passagem de sério problema nacional. Ele nasce de característica do nosso mundo político: a concessão de benefícios aos brasileiros, sem preocupação com a fonte dos recursos indispensáveis a torná-los reais, arrancando-os da virtualidade. É o conhecido “depois se vê isso”, atitude contra a qual já me pronunciei, utilizando-me do ditado “dinheiro não dá em árvore”. Todavia, se desse, mesmo – acrescento agora –, deixaria de ser moeda, perdendo todas suas funções de instrumento de troca, meio de pagamento, reserva de valor, denominação comum de valores. Nesse caso, caroço de pitomba seria moeda tão boa quanto a outra, nascida na forma de folha já impressa nos galhos da pitombeira, pois a oferta de ambas seria infinita, o que as desvalorizaria instantaneamente. Teoria monetária

Nós vai ser amigo de Janot

Jornal O Estado do Maranhão           O assunto da hora é o áudio da já famosa conversa entre, de um lado, Joesley Batista, de Goiás, o chefe do grupo JBS, e, de outro lado, o senhor Saud, seu braço direito e esquerdo simultaneamente, quando está em pauta este outro assunto: o oferecimento e repasse de propinas aos mundos político e governamental do Brasil. Como o leitor já sabe, Joesley e seu irmão, Wesley, por falcatruas variadas, assinaram acordo de delação premiada com o MPF, comandado pelo procurador-geral da república, o senhor Janot, cujo mandato termina em pouco mais de uma semana. O acordo serviria para torná-los imunes à Justiça.           Como é notório, Joesley, muito provavelmente orientado pelo auxiliar mais próximo de Janot, o procurador Marcelo Miller, fez, na “calada da noite”, como gosta de dizer a imprensa, gravações clandestinas de conversa que teve como presidente Temer, como parte do acordo de delação. Nos áudios do diálogo, não há nada a incriminar o presidente

Condenação de Lula por Moro

Leiam aqui a parte final da decisão de Moro sobre Lula. O documento original inteiro tem mais de 200 páginas. A numeração, iniciando-se em 948, pois os itens de 1 a 947 não aparecem, é a mesma do documento original. 948. Luiz Inácio Lula da Silva Para o crime de corrupção ativa: Luiz Inácio Lula da Silva responde a outras ações penais, inclusive perante este Juízo, mas sem ainda julgamento, motivo pelo qual deve ser considerado como sem antecedentes negativos. Conduta social, motivos, comportamento da vítima são elementos neutros. Circunstâncias devem ser valoradas negativamente. A prática do crime corrupção envolveu a destinação de dezesseis milhões de reais a agentes políticos do Partido dos Trabalhadores, um valor muito expressivo. Além disso, o crime foi praticado em um esquema criminoso mais amplo no qual o pagamento de propinas havia se tornado rotina. Consequências também devem ser valoradas negativamente, pois o custo da propina foi repassado à Petro

Aos progressistas

Luiz Alfredo Raposo Economista Fomos às ruas pela saída da fabricante de uma mega-calamidade econômica. A chefe de governo cega e surda à maior roubalheira da história universal da infâmia. O animal político que findou sem apoio congressual do próprio partido (vide DRU 2015). Com um time de bambas, o substituto faz um programa econômico sensato e muda a gestão das estatais. Melhora o jogo com o Congresso e não perde uma. Começa a funcionar e maio era o mês das reformas. Indigestas à alta burocracia e à elite sindical, sem elas, dizia o governo, o que víamos não passava de uma visita da saúde. Depois, sabia Deus... Tudo tomava jeito de final feliz, quando vem o suspeitíssimo episódio da gravação do empresário-delator. Gravação de banalidade atroz. O notável era ir alguém, com o placet de altas autoridades, espionar o chefe da Nação. Mas aí entra a coisa nossa da inversão da culpa: o crime está, não em estuprar ou espionar, mas em ser estuprado ou espionado. Lembram o ex-presiden

O Paraíso-presídio

Jornal O Estado do Maranhão           Em verdade vos digo, limpeza ética total, de anúncio de detergente, não foi feita para este mundo sublunar, é tão só tarefa do mundo de Janot e de seus bem-aventurados companheiros de MPF. Ninguém tão puro como eles. E eis que, comovidos, assistimos à tentativa deles de criar no trópico o “novo homem”, à sua imagem e semelhança, perfeito, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê, em tudo diferente do velho conhecido nosso, já nascido em pecado, feito de desejo e de pó, como no poema de Auden, com defeito e virtude, egoísmo e altruísmo (mesmo que este possa ser uma forma disfarçada de egoísmo, como dizem os céticos extremados).           Falta a esse pessoal o estudo da História, com agá maiúsculo. Os bolcheviques russos também cederam à tentação dessa utopia e partiram para a criação do novo homem e do paraíso proletário sobre a Terra. Mas, erraram a mão, usaram o que a história mostra ser a receita da tirania: negaram-se a criar in

Um substituto para Temer

Por Luiz Alfredo Raposo Economista Publicado no Jornal do Commercio, Recife, em 30/5/2017 D obrado o cabo  dos 70 ,   adeus  tempo  do aca n hamento .  De  cala r  ou  medir as  palavras ,  ante  um perigo  grave e  claríssimo .  Daí  o   mandamento   d este bilhete . C ontra a corrente , sim. E mb ebi do , porém,   d e  algo  que  Unamuno formulou   como ninguém :  y  viviré   esperándote ,  Esperanza ! Vejamos:   o   quadro  fiscal  é  grave . O déficit primário federal de  2017  deve  ir  a  R$ 200  bi ( lhões ) .  Com  os  juros, de  uns  R$ 300 bi,  eleva -se   a dívida pú b lica  federal (R$3,2 tri)   em   15 % !  Alucinante  e insustentável .   N esse  ritmo,  em quatro anos, o Tesouro est ar á  com água  pel o nariz . E o Banco Centra l,  é   a cara feia  da necessidade,   passará à função ( inconstitucional )  de financiador  do Tesouro . R ecebidos  os títulos,  os pagará  e  reterá  ou revend erá  com deságios  ( prejuízos)  cada vez maiores.   É o   cataclismo  

A favor da lei

Jornal O Estado do Maranhão           Quando a confusão destes dias era menos frenética, em 17/5/2017, às 5:30 h, eu falava, em post no Facebook, da falta de base legal da decisão judicial de primeira instância, de interdição do Instituto Lula: “Era como interditar o prédio de um Ministério porque o ministro trambiqueiro fez reuniões suspeitas em seu gabinete, localizado no edifício”. Bem antes, reclamei da ilegalidade cometida pelo juiz Moro, ao fazer pública uma gravação de Dilma com Lula. Ela dizia ao ex-presidente que acabara de enviar, por “Bessias”, decreto de sua nomeação para cargo no Palácio do Planalto. Havia a presidente da República no áudio, embora ela não fosse o objeto da escuta. Só o STF poderia dar autorização. O ministro Teori deu um pito em Moro e proibiu a divulgação.           Critiquei, ainda, por ditatoriais, algumas das chamadas 10 medidas de combate à corrupção, como a da aceitação em juízo de prova obtida ilegalmente e publiquei crônica, aqui no jornal, com

Força, Temer

Por Luiz Alfredo Raposo O caso é o seguinte: Temer vinha trabalhando direitinho. Tinha a agenda certa e estava a realizá-la com habilidade. Resultado, o temporal aos poucos se dissipava: a produção ensaiava uma recuperação, depois de nove trimestres seguidos de queda contínua; a inflação anualizada despencara dos dois dígitos, em 2015, para pouco mais de 4%; as demissões estancaram, e, em fevereiro e abril, o quadro até se reverteu. Faltava, para dar força e estabilidade ao movimento de recuperação, resolver a grave questão do déficit primário crescente, diluvial que apareceu, desde 2013-14, no Orçamento da União (e dos Estados). Déficit que contamina a economia, desencorajando os investimentos e o próprio consumo de bens duráveis. E que levou à queda desastrosa da demanda e à crise econômica. A solução era uma reforma previdenciária, que atenuasse o crescimento da despesa-mãe desse déficit, a despesa previdenciária. A demografia passou a trabalhar contra e, agora, a onda de pesso