17 de dezembro de 2017

Imprevidência


Jornal O Estado do Maranhão

          Quando, nos anos 50, eu era um vivaz garotinho, como se dizia então, uma pessoa idosa era quase uma raridade. Muitos adultos usavam a expressão “lá vem o velho” para amedrontar as crianças dos casais com 7, 8, 9, 10 ou mais filhos e fazê-las ficar quietas. Conformação demográfica como essa, com muitos jovens e poucos idosos, aparecia numericamente como uma elevada participação percentual dos primeiros na população, característica dominante havia décadas. A pirâmide populacional brasileira era larga na base e bem fina no topo.
          Ocorreu a partir de então, como em outros países de nível de renda semelhante ao do Brasil, célere processo de urbanização, que levou à diminuição das taxas de fecundidade, com consequências importantes na nossa composição etária. A relação jovem/idoso começou, também aceleradamente, a cair. Países de renda mais alta do que a nossa passaram da mesma forma por essas mudanças, mas a velocidades muito mais baixas. Deixemos quietos, porém, por instantes, os garotos. Vamos examinar o topo da pirâmide.
          Simultaneamente à diminuição do número de nascimentos por casal, os idosos começaram a aumentar, como proporção da população total. A razão foi a melhoria geral, embora desigual por regiões, das condições de saneamento básico e de assistência à saúde; o aparecimento de novos medicamentos; a erradicação de doenças endêmicas; os avanços tecnológicos na medicina; a melhoria nos cuidados com a alimentação, etc. Tais avanços levaram ao aumento da expectativa de vida ao nascer. As pessoas passaram a viver mais e a participação dos mais velhos na população aumentou e aumenta a taxas maiores do que a do crescimento geral.
          O encontro desses dois fatores, diminuição do número de jovens e aumento do de idosos, é o gerador do déficit previdenciário, sem considerar aquela parte dele criada por aposentadorias especiais de alguns grupos de funcionários públicos. De cada 100 trabalhadores economicamente ativos em 2004, havia 43 jovens e 15 idosos. Em 2014, meros 10 anos depois, segundo o IBGE, esses números tinham mudado: jovens desceram a 33, e aposentados subiram a 21. Em 2060 haverá 24 jovens para 63 aposentados. Há cada vez menos pessoas trabalhando e contribuindo com a Previdência e mais se aposentando. O sistema é insustentável, como está hoje, pois o envelhecimento da população vai ser ainda mais rápido daqui por diante. O crescimento explosivo do déficit – constitutivo da maior parte do desequilíbrio fiscal –, é inevitável sem a reforma e levará à volta da inflação, recessão, desemprego, alta do dólar e mais.
          A reforma da Previdência não é questão de gosto, como disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles É de necessidade e, acrescento eu, de sobrevivência. A Grécia, dirigida por governo de esquerda, se recusou a fazê-la. Logo a seguir, foi obrigada a voltar atrás, adotando reformas muito mais drásticas e dolorosas, pela ameaça iminente do caos.

           Mas digo, se isso for consolo para o momento de pensarmos no futuro dos filhos e netos, que o problema será resolvido de uma forma de outra, por bem ou por mal, pois países não têm falência decretada. No entanto, eles, esses queridos filhos e netos, irão pagar uma conta multiplicada várias vezes e nos julgarão pela imprevidência de não fazê-la agora.

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