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Mostrando postagens de novembro, 2003

Até quando?

Jornal O Estado do Maranhão Quem já trabalhou na administração pública e teve o encargo de gerir orçamentos conhece as dificuldades de fazer despesas inadiáveis com as receitas produzidas pela sociedade – pois o Estado nada produz e, por conseguinte, não cria tipo algum de riqueza–, que têm de ser aplicadas com máxima eficiência social. Não falo propriamente da inarredável pequenez financeira ante a infinitude das tarefas indispensáveis ao acréscimo de, não digo felicidade, mas de bem-estar material à sociedade. Esse problema só terá solução no dia de um possível juízo final. Ou no momento em que o Sol engolir a Terra, sem juízo nenhum. Falo disto. Esses dinheiros têm origem em um contrato social pelo qual todos concordam em renunciar a uma parte de suas rendas, sob a forma de impostos e, simultaneamente, em fazer um arranjo institucional pelo qual algumas pessoas são autorizadas a conduzir a aplicação da arrecadação, seguindo regras previamente estabelecidas. Um pressuposto desse acor

Guajajaras e internet

Jornal O Estado do Maranhão Há invenções que admiramos permanentemente, como se tivessem sido criadas há pouco tempo e, portanto, ainda causassem surpresa. O avião é uma delas. Sempre me fascinou a capacidade de andar no meio das nuvens de uma máquina criada pelo homem, mas que, reparando bem, não voa, apenas imita um vôo, nem tem asas como as dos pássaros, porque, diferentemente das do avião, aquelas, as asas de verdade, se movimentam, fazem ondulantes e graciosos movimentos e são movidas a sangue e ar, não a petróleo, o pai de todas as guerras no mundo de hoje, a julgar pela última no Iraque. O fascínio desse invento reside precisamente nesse prodígio de, com seu peso de muitas toneladas metálicas e brilhantes, conseguir, em seu deslocamento aéreo, dar a impressão de leveza e beleza, presentes em todo equilíbrio instável, como o do equilibrista de corda-bamba sobre um precipício. Está na iminência de sofrer uma queda, mas a evita no momento seguinte. No caso do avião, é a aerodinâmic

Burocratite aguda

Jornal O Estado do Maranhão No Brasil, as pessoas de mais de 90 anos são odiadas pela burocracia estatal, que adora fazer cadastros, remédio infalível para todas as fraudes. Essas seriam as primeiras hipóteses levantadas por um antropólogo das Maldivas, vamos supor, em sua pioneira visita ao exótico e distante Brasil, na semana passada. Ele haveria de tomar notas para um próximo livro sobre nossa cultura, abordando o tratamento desrespeitoso, arrogante e insensível dispensado pelos nativos a seus idosos e bem poderia tirar suas conclusões desabonadoras para o país com base na desastrada tentativa do INSS, presenciada por ele, de obrigar os anciãos a comparecer aos postos do órgão, com o fim de fazer mais um recadastramento, destinado, supostamente, a combater a roubalheira no sistema de pagamento de benefícios previdenciários. O caso é este. Um bando de espertalhões, aproveitando-se da impiedosa ineficiência do aparato burocrático estatal, tentam assaltar o erário permanentemente, seg

Rachel

Jornal O Estado do Maranhão Um dia, os médicos descobrem na adolescente de 19 anos uma doença pulmonar. A mãe, preocupada como todas as boas mães, obriga a filha a ir para a cama às nove horas da noite. O que fazer, se o sono não chega tão cedo e não há luz elétrica na casa de campo da família? As chamas e as sombras dançarinas do lampião aceso a noite inteira bem poderiam libertar esses fantasmas que enchem a imaginação dos jovens e se escondem durante o dia de sol tão brilhante, como o daquela terra seca, quase tão carente de água como estivera em 1915. Mas, nem os fantasmas aparecem nem a moça pensa neles. Pensa, sim, em escrever um livro, falando da estiagem de quinze anos antes, que se revelaria logo, logo, predestinado, pois os livros, como as pessoas também têm sua história e seu destino. Deita-se de bruços, pega um lápis e um caderno, desses pautados, e começa, aproveitando-se de sua pouca experiência de jornalista precoce, estreante em jornal ao 16 anos, mas valendo-se, também

A soja transgênica

Jornal O Estado do Maranhão Quem estuda os problemas de desenvolvimento econômico percebe a dificuldade de achar-se uma explicação com validade universal para o subdesenvolvimento. A multiplicidade de fatores envolvidos no seu entendimento tem levado os estudiosos a enfatizar ora um ora outro aspecto da questão. Assim, o não especialista fica confuso, sem saber qual o melhor remédio para o atraso relativo dos países subdesenvolvidos. Cientistas de várias áreas têm se juntado ultimamente aos economistas nessa tarefa explicativa. Um exemplo desse bem-vindo comportamento está no livro Armas, germes e aço , de um biólogo evolucionista, Jared Diamond, que faz uma interessante análise de longo prazo sobre o desenvolvimento dos povos. Por esse estudo, vemos que alguns fatores determinantes devem ser considerados. Isso é também verdadeiro no curto prazo. Neste caso, vejo a cultura, em sua reação a inovações, como uma boa explicação do atraso ou avanço econômico. Em economias capitalistas como