Postagens

Mostrando postagens de março, 2005

Vida e Morte

Jornal O Estado do Maranhão   Primeiro, o homem, no abrigo de uma caverna que o protegia das forças da natureza e dos outros animais em luta pela sobrevivência individual e pela perpetuação da espécie, teve consciência de existir. Aos poucos, atenuadas as duras condições de vida, depois de gerado um excedente material que lhe permitiu momentos de brevíssimo ócio, sobrou-lhe algum tempo para reflexão, que, finalmente, veio explodir muito mais tarde, com força incomum, aparentemente do nada, mas como resultado lógico de uma longa evolução, na filosofia dos nossos avós espirituais, os gregos. Veio-lhe daquelas condições iniciais – esta narrativa é apenas uma forma de imaginar a pré-história existencial de nossa espécie – veio-lhe daí, eu dizia, a consciência de sua própria finitude, pois não morriam muitos nas lutas pelo território, pela água, pela alimentação, não morriam os pais, não morriam os amigos, não morriam os inimigos, não morriam todos, até mesmo os mais jovens, os continuador

A César o que é de César

Jornal O Estado do Maranhão   O Ministério da Saúde e a prefeitura do Rio de Janeiro engalfinham-se pela saúde do povo da Cidade Maravilhosa. Mas, quem achar que da briga resultará algum benefício de caráter permanente para a população, trate de se internar num hospital longe de lá, a fim de se tratar de ingenuidade aguda. Em meio a golpes baixos e altos, e contra-golpes sujos e malcheirosos, o governo federal decretou estado de calamidade pública na rede hospitalar do Rio e interveio em seis hospitais municipais. Em represália, o prefeito César Maia exonerou 51 funcionários dos hospitais de seus cargos em comissão, depois retirou as gratificações e cargos de chefia de 285 e, por fim, suspendeu o fornecimento às unidades hospitalares de kits para análise de tipos sangüíneo dos pacientes, que precisariam de toda a paciência do mundo para aceitar essas decisões. Todas essas medidas edificantes, prova de elevado fervor cívico e comovente preocupação do prefeito do Rio com a saúde do povo

Gerundismo

Jornal O Estado do Maranhão   Esta semana eu vou estar escrevendo sobre um modismo que vai estar agredindo por muito tempo, sem dó nem piedade, a língua pátria, a nível de analfabetismo funcional, enquanto deturpação da maneira correta de expressão verbal. Os leitores vão estar percebendo minha colocação e vão estar vendo que vou estar me referindo ao gerundismo. Alguém vai poder estar pensando que vou estar exagerando na crítica ao uso injustificável do gerúndio, característica dessa praga lingüística. Quem for estar pensando de tal forma vai estar enganando a si mesmo. Eu vou estar, até, sendo benevolente, porque o que eu deveria estar fazendo é estar pedindo às autoridades que os gerundistas estivessem sendo colocados de volta nos bancos da escola primária e estivessem levando puxões de orelha cada vez que fossem estar falando assim. Mas, eu vou estar pedindo apenas que eles parem de estar espalhando essa moda obtusa que solapa ardilosamente o idioma pátrio, tal como a globalização

É Ouro!

Jornal O Estado do Maranhão Poucas vezes na história do Oscar, penso eu, um filme mereceu tanto a premiação como Menina de Ouro . Ele conta a história de uma garçonete pobre, chamada Maggie Fitzgerald, interpretada por Hilary Swank – por sinal ela ganhou este ano o Oscar de melhor atriz e, também, em 1999 –, que sonha tornar-se uma grande lutadora de boxe. Para isso se dedica a treinar com extraordinária obsessão, como só as pessoas determinadas fazem. O veterano treinador Frankie Dunn (Clint Eastwood), dono do ginásio decadente onde ela se exercita diariamente, inicialmente se recusa a orientá-la, mas finalmente a aceita. Os dois, ela afastada da família insensível e interesseira e ele, da própria filha, estabelecem uma profunda relação de amizade, enquanto a carreira dela tem crescente sucesso até ser destruída por uma tragédia. A eutanásia desejada por ela é o grande dilema que seu amigo e quase pai, católico praticante, irá enfrentar com plena consciência das implicações éticas e