29 de março de 2015

Os olhos da cara


Jornal O Estado do Maranhão

          O governo do PT levou a economia brasileira a uma situação de crise em que qualquer solução do problema custará, inevitavelmente, os olhos da cara dos brasileiros. A inflação é alta, o desemprego cresce, a recessão persiste. Todos esses males podem ser traduzidos como perda de renda das famílias. O estado de nossa economia hoje não permite o vislumbre de uma saída indolor – qualquer uma –, do buraco, pois o preço a pagar pela incompetência, reforçada pela ideologice esquerdista barata, é muito alto e pago pelas pessoas comuns. Estas gostariam de continuar, porém mal conseguem, com sua vida decente, criando seus filhos, produzindo sem sentir o bafo do Estado no seu pescoço, sem ver diariamente nos meios de comunicação notícias sobre bilhões e bilhões roubados das empresas estatais e dos cofres públicos – como se estivéssemos falando de roubo de galinha de quintal, como nos velhos tempos –, recursos, afinal, arrancados dos nossos bolsos, num país com uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo.
          A visão de que “um pouco de inflação não faz mal” já produziu e, pelo visto, continuará a produzir, desastres econômicos em série. Ideias sobre suposta desconexão entre, de um lado, gastos públicos descontrolados, persistentemente acima das receitas, e, de outro, inflação levaram, em todos os países onde postas em prática, a processos inflacionários, conducentes, no fim, à desorganização da produção, desabastecimento e convulsões sociais, com as más consequências de todos conhecidas, golpes de Estado, em suma, ao caos socioeconômico. Peço, encarecidamente aos leitores a indicação de apenas uma economia de mercado em que as chamadas políticas econômicas heterodoxas tenham, como essas do PT, dado resultado. Ou melhor, resultados deram. Foram, todavia, maus resultados, resultados calamitosos. Marx dizia que a realidade muda as ideias e não o contrário, falando a respeito do materialismo dialético, embora não se saiba como poderia existir uma dialética da matéria. Seja como for, se esqueceu de nossos esquerdistas, para quem, não importa qual seja a realidade, basta apenas acreditar em “boas” ideias, “ideias libertadoras”, ter fé religiosa nelas, a fim de que a realidade mude. É o que chamo de economia de vodu. Acredite e tudo de bom (ou de ruim) acontecerá.
          No caso do Brasil, essas políticas criaram feia realidade, perceptível, até, por Dilma Roussef. Acertadamente, mas a contragosto, sem convicção profunda, sem acreditar em suas próprias receitas do momento, mas pressionada pelas circunstâncias, resolveu fazer um ajuste econômico, cortando gastos e aumentando receitas. Como tinha prometido o paraíso a seus eleitores na campanha pela reeleição, justamente o contrário do que tenta fazer agora, a popularidade dela “deu uma queda, foi ao chão”, como Teresinha de Jesus, da cantiga de roda. Gente de seu próprio partido, o PT, comandada por Lula, reclamou, pediu a ela que revertesse as medidas já tomadas, de corte de despesas. Ora, atender tal demanda equivale a voltar às políticas fracassadas. Dito de outra maneira, é aprofundar os males da economia, com custo maior, ainda, do que o custo de fazer o ajuste, Mas, Lula e sua turma estão preocupados com outra coisa: a possibilidade, ou não, de ele se candidatar, a presidente em 2018. Associado às medidas impopulares, mas necessárias, de Dilma, sua candidatura some. Por isso, o pedido dele de mais do mesmo.
          Resumindo, se mantiverem as medidas corretas, a um preço alto, porque vêm tarde, Dilma e o PT ficam mais impopulares (já não falo da roubalheira), mas resolvem o problema, com choro e ranger de dentes no caminho. Se volta à antiga política, exigência eleitoreira de Lula, aprofunda a crise e, com ela, de imediato, os custos, para o país, de solucioná-la, pela confusão econômica a ser criada. Mais adiante, quando a realidade se impuser novamente, resolvê-la custará muito mais. Eis porque eu disse no início que qualquer solução do problema custará os olhos da cara. Caro, tudo é, numa economia inflacionária.

15 de março de 2015

Sem um barulho desses

Jornal O Estado do Maranhão

          Machado de Assis gostava de dizer que suportamos com paciência a cólica alheia. De fato, as pessoas são compreensivas, quando não partícipes de situações em que, por exemplo, alguém reclama de ameaças ao exercício de direito assegurado a ele pela Constituição. Aí então, pedem calma ao reclamante mesmo ao custo, para a vítima, de a aceitação do conselho representar, na prática, a espoliação de um direito constitucional. Essa a situação dos moradores da área onde moro: paciência, diziam os que moram longe daqui.
          Tal reflexão me ocorreu quando li a notícia de decisão tomada, em Apelação Cível, pela Primeira Câmara Cível, do Tribunal de Justiça do Maranhão, confirmando decisão de primeira instância, em que funcionou como relator o desembargador Jorge Rachid Maluf. O Apelante era a casa noturna Chinelo de Dedo, encravada em área residencial, à avenida Joaquim Mochel, no Cohatrac IV, e os Apelados, Maria Celeste Gonçalves de Jesus e outros. Estes são moradores do entorno do estabelecimento. Eles ingressaram na Justiça contra a poluição sonora causada pelo Chinelo: tloc, tloc, tloc. O Juiz de Direito da 8ª Vara Cível da Capital, Luiz Gonzaga Almeida Filho, julgou procedente o pedido para determinar o fechamento do estabelecimento. A casa noturna apelou.
          Uma das pragas mais disseminadas em São Luís é exatamente essa. Falo daquele tipo de poluição sonora cujos causadores são pessoas que, por estarem tocando seu trabalho, se acham no direito de estabelecer regras próprias de comportamento, com desprezo pelas leis. De outro ângulo, se estas não são cumpridas porque o criminoso é pobre, caso em que, como proclamado muitas vezes por ideólogos do monopólio da sensibilidade social, o criminoso deveria ser automaticamente perdoado; ou, ao contrário, porque é rico e, em o sendo, não precisaria do sistema legal na defesa de seus legítimos interesses, admissão involuntária, parece-me, de que usar o poder econômico pessoal é valido, se o objetivo é se sobrepor aos demais cidadãos, por cima da legislação, se a lei não é cumprida, eu dizia, e aceitamos passivamente desrespeito como esse, então melhor seria voltar às cavernas, onde a vontade do mais vicioso prevalecia.

          A poluição sonora, como a morte repentina, não escolhe local para dar as caras. Ocorre nos chamados bairros populares e nos dos “endinheirados”. Os moradores da área onde moro reagiram a partir de 2012 contra uma situação como essa e vencemos a luta. Tenho notado que reagir não é regra geral. Muita gente prefere aguentar calada, sofrer noites mal dormidas, sujeitar-se a estresse prolongado, que lhe prejudica a própria saúde, do que reclamar da afronta.
          Quando, na ocasião, tomamos medidas legais contra os desmandos perturbadores, alguns conhecidos me perguntavam quem era o padrinho político do criador do incômodo. Eu dizia não saber e, mesmo, não acreditar haver um. Eu adicionava à minha resposta desejar, apenas, saber se nossas reclamações estavam respaldadas por uma fumacinha de bom direito e de provas aceitáveis numa corte de Justiça, porque, na esfera administrativa nada obtivemos de 17 órgãos públicos federais, estaduais e municipais, exceto do Iphan-MA. Parte do preço a pagar é receber, como recebi, e-mails ameaçadores, supostamente anônimos.
          Contudo, há, sim, esperança de mudança. Exemplo a animar nossas expectativas é a posição do desembargador Jorge Rachid, na apreciação da acima referida Apelação Cível. Vejam o final de seu voto: “Entendo que o fim de tais ações não deve ser necessariamente o fechamento da casa noturna, [...] mas, reduzir a níveis aceitáveis o volume das potentes aparelhagens de som, geradoras de perturbação, intranquilidade e outros prejuízos à saúde, porém, quando não se consegue esta diminuição, pode haver sim o fechamento do estabelecimento. [...] Assim, deve prevalecer no caso o interesse público, mantendo-se a sentença que determinou o fechamento do estabelecimento, razão pela qual voto pelo improvimento do apelo”.
          Esperamos possa esse entendimento firmar jurisprudência e possamos dormir sem um barulho desses.

1 de março de 2015

Nossa moral e a deles

Jornal O Estado do Maranhão

          O ex-ministro Guido Mantega e sua esposa, Eliane, foram recentemente hostilizados na lanchonete do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Algumas pessoas sugeriram ao casal tratar-se no SUS ou mudar-se para Cuba, além de gritarem impropérios aqui impublicáveis. Ao agirem dessa forma, os agressores se igualaram àquele assalariado pelo PT, que perseguia por toda parte o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, apenas porque este tomara decisões contrárias aos interesses escusos do partido no julgamento do Mensalão.
          As regras de convivência das sociedades civilizadas, ou das pretendentes a sê-lo, rejeitam atitudes como essa, que igualam os autores da agressão não apenas ao celerado petista desejoso de criar constrangimentos a Barbosa, mas os igualam, principalmente, à costumeira amoralidade petista, segundo a qual todos os meios são válidos se for para o bem do PT. Justificar a agressão a Guido é adotar o lema petista: “Nós agredimos, mas os petralhas também agridem”. É equiparar-se moralmente ao petismo, o que não é boa coisa.
          Querem ver uma coisa? Lula, depois de iniciar, em seu governo, a destruição da Petrobrás, entregando-a a uma quadrilha de companheiros, achou de fazer há poucos dias “um ato em defesa” dela, cinicamente, após a descoberta da ladroagem na empresa. Macaqueando o comportamento do regime venezuelano, levou ao tal encontro – feito não na praça, onde o povo poderia participar e vocalizar sua insatisfação com o roubo como método de se manter no poder, mas, sim, no conforto de ares condicionados –, uma tropa de choque de tipo diferente daquele usado pelo governo, quando a oposição consegue instalar CPIs e o governo tem interesse em nada apurar-se. Esta é a tropa de choque da imoralidade. Lula levou uma tropa de choque físico, como as SS de Hitler, composta de gente jovem, forte e truculenta, que partiu contra adversários que protestavam contra o desmantelo da Petrobrás. O fim é “mostrar a esses direitistas quem manda nesse país”. Tanto é assim, que Lula disse: “[...] mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stedile colocar o exército dele nas ruas”.
          O que ele chama de exército é um bando de invasores sem respeito algum às leis, mas com muito ódio à democracia, acostumados a sugar cada pingo do leite que jorra das tetas estatais. E o caudilho referido pelo Apedeuta é Pedro Stédile, trotskista obsoleto, porém perigoso, capo do MST. Ele invade propriedades produtiva, destrói laboratórios de pesquisa e disse que suas tropas estão prontas a defender Dilma, no caso de impedimento da presidente, como se impedir presidentes não fosse mecanismo democrático previsto na constituição do Brasil e, por sinal, já aplicado contra Collor, quando o PT era o mais entusiasmado defensor de sua aplicação. Virou golpe agora?
          Comportamento dessa natureza não haverá nas manifestações de 15 de março a favor do impeachment de Dilma Roussef. Os cidadãos de bem, os inconformados em carregar nas costas uma das cargas tributárias mais altas do mundo, somente para ver seu dinheiro escorrer pelo ralo da corrupção, irão às ruas pacificamente. Não se deixarão intimidar pela violência dos tontons macoutes de Lula, como não cairão na tentação, eles mesmos, de lançar mão (ou pé) da mesma violência dos lulistas, a não ser com o fim de defender-se. Deixemos conduta como essa com o petismo.
          E já que falei de trotskismo me vem à mente o livro “Moral e Revolução”, de Trotsky, que contém um texto chamado “Nossa Moral e a Deles”, em que ele justifica os crimes das vanguardas revolucionárias porque elas seriam a encarnação do futuro risonho da classe trabalhadora. Coincidência com o pensamento petista não é mera coincidência.
          Vamos inverter os termos da proposição trotskista. Nossa moral – a moral daqueles que não justificam a violência, o assassinato de prefeitos, o roubo, a violência, a perseguição aos adversários, os petrolões – é diferente da deles, mestres na arte de justificar toda espécie de crimes. Temos orgulho de que seja assim.
          E vamos à manifestação pelo impeachment.

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