9 de outubro de 2011

ONGs

Jornal O Estado do Maranhão

Acertada e a bom tempo a decisão do recém-empossado ministro do Turismo, Gastão Dias Vieira, de suspender os convênios de ONGs com o Ministério atualmente sob sua direção, para exame detalhado de possíveis e prováveis irregularidades. Como a imprensa está cansada de noticiar, não são de agora as suspeitas de uso de verbas públicas por essas organizações para fins não propriamente públicos, mas privados. Tal procedimento levou em muitos casos ao sufocamento e posterior encerramentos das atividades daquelas que em número não pequeno sem dúvida prestavam e ainda prestam bons serviços de caráter social.
O curioso sobre as ONGs é serem, no Brasil pelo menos, verdadeiros oximoros ambulantes, pois, tendo em sua denominação genérica a intenção ou a decisão de não serem governamentais, com entusiasmo o são, mais do que qualquer outra organização, porque não vivem sem dinheiro governamental (são privadas, mas não o são), ou dito de outra forma, só vivem dele, farto e generoso, não sei se sob a devida fiscalização. A desenvoltura delas é tanta que criam a impressão de falarem em nome do povo. No caso das ONGs ambientais, elas se julgam a própria consciência do conservacionismo nacional. Afinal, quem as elegeu ou a seus dirigentes para falar pela sociedade? Quem lhes deu um mandato para representarem o nosso pensamento?
 Nesse aspecto, tive uma experiência valiosa com respeito ao aprendizado das manhas do setor quando fui secretário do Meio Ambiente nos dois primeiros governos Roseana Sarney. Sofri assédio de algumas, não muitas, pois aqui no nosso Estado elas são em pequeno número. Uma tentou obter da Secretaria uma boquinha argentária, recursos de cuja aplicação nunca prestaria contas ou o faria ficcionalmente. Seu chefe, ou dono, ou capo, como se queira chamar, era um sujeito autointitulado jornalista. A julgar pelas agressões sistemáticas e incansáveis ao idioma pátrio, a faculdade onde ele estudou deveria ser fechada imediatamente. Ele não conseguia juntar nada com nada ao escrever uma simples linha.
Uma vez me enviou uma correspondência que começava assim: “Senhor secretário, diante mão quero [...]. “Diante mão”, quando o sujeito queria dizer, suponho, “de antemão”. De sua vasta produção literária, não cito outros achados da mesma natureza porque não quero com eles ocupar o espaço restante desta conversa quinzenal. Com críticos assim, nenhum secretário precisa de quem o elogie.
Tendo uma coluna num jornal local, o “jornalista-ambientalista” era considerado um guia, uma referência por muita gente do setor e fora dele. Como não obteve meio grama do vil metal do governo, passou a me atacar, mas por mim foram ignorados a coluna e ele, o contumaz agressor do português. Pela falta de uma delegacia especializada em crimes contra a língua nacional, não o levei à polícia onde ele poderia ser obrigado a escrever duzentas vezes num caderno pautado: “Não devo maltratar o idioma de minha pátria”. Ou levar meia dúzia de bolos, à moda antiga, além de chibatadas, de forma semelhante à proposta do senador Reditario Cassol para condenados que se recusarem a trabalhar na prisão.
Em seu início, essas organizações guardavam a imagem de serem feitas por pessoas dispostas a dedicar parte do tempo de seu próprio lazer a atividades de interesse público. Ainda hoje é o que a maioria faz, notadamente as pequenas. Elas representam quase 80% do total, segundo o IBGE. As grandes, no entanto, tornaram-se verdadeiras empresas, meio de seus dirigentes ganharem a vida – e que vida – honesta ou desonestamente, e de mal aplicar dinheiros do governo. Elas pretendem influir na vida política do país sem mandato de ninguém para isso, a não ser delas mesmas e da própria certeza de que sabem o que é bom para o Brasil.
Não duvido da perseverança do ministro em sua determinação de pôr fim à situação pelo menos em sua área de atuação. Ele saberá separar as ONGs interessadas em prestar bons serviços à sociedade daquelas preocupados apenas no próprio bem-estar de seus dirigentes.

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