7 de setembro de 2014

"Controle social" das pesquisas

Jornal O Estado do Maranhão

          Eleições vêm e vão, candidatos aparecem e desaparecem, – no mais das vezes em favor da felicidade geral da nação, pois sem eles não ouvimos como nestes dias promessas de paraísos na Terra, de sacrifícios indolores em nome da redenção, se não das almas, pelo menos dos humanos corpos, de cura de males econômicos e sociais a custo zero e de todos esses milagres tão abundantes nesta época –, candidatos desaparecem, eu dizia, sem que os mensageiros das más notícias não sejam acusados de produzirem-nas, embora delas sejam meros coletores e transmissores. As vítimas têm sido os institutos de pesquisa eleitoral, quando divulgam os resultados de suas análises. Certo, há os fabricantes de resultados previamente combinados. Mas, a credibilidade desses é nenhuma e muito evidente. Só os portadores de bom conceito quanto à qualidade de seus produtos perante os candidatos e eleitores se firmam de um pleito a outro.
          Este ano, contudo – o leitor e o eleitor já devem ter notado –, têm sido quase inexistentes contestações aos números produzidos pelas empresas do ramo, Ibope, DataFolha e outras. É que falar mal delas quando as projeções de votos incomodam determinado candidato torna difícil para ele elogiá-las na semana seguinte. Eleições têm lá suas surpresas. Alterações nos humores eleitorais podem ser bastante frustrantes do ponto de vista de quem em algum momento da campanha esteve na liderança e logo depois viu sua vantagem desaparecer. E não se pense que a oscilação tem origem em suposta falta de consciência dos cidadãos acerca de seus próprios interesses, tese tão cara às esquerdas, a da falsa consciência, que atribui a função de suprir essa hipotética deficiência do povo, ou, mais propriamente, do trabalhador, ao partido condutor das massas, no caso do Brasil papel reivindicado pelo PT.
          E se tudo virasse de novo, voltando à situação da semana anterior? Como os críticos dos institutos explicariam as mudanças? Teria havido repentina iluminação, um fiat lux que abriu os olhos dos eleitores à percepção de seus verdadeiros e permanentes interesses? A simples retórica populista de um lula qualquer teria convencido o povo de seu erro de antes? Se fosse assim, no entanto, melhor teria sido jogar fora as dilmas da vida e colocar como candidato um homem de tanta força de convencimento. Afinal, Dilma é a presidente mais fraca, mais confusa, mais anacolútica, mais desorientada, mais despersonalizada, mais despreparada, mais submissa, embora com ares de mandona, que já houve “na história deste país”. Na administração, na política, na gestão da economia, na política externa e em tudo mais.
          A saída de cena das questões sobre a confiabilidade das pesquisas representa progresso na nossa prática política, que libera tempo de debate a ser mais bem usado na discussão do futuro do país. Em vez de ficarmos na base do “esse resultado só pode estar errado, porque no meu bairro todo mundo vota em Fulano”, enfoque primário e ignorante do bê-á-bá dos métodos de inferência estatística, podemos concentrar esforços em elaborar soluções viáveis para nossos problemas com respeito a segurança, educação, política econômica, reforma política, combate à corrupção com seus mensalões, etc.
           As constatações expostas acima servem a mim mesmo como uma forma de exorcizar algo que me ocorreu recentemente: E se algum petralha resolver propor o “controle social” de pesquisas eleitorais “dazelites”, inspirado pelas recentes alterações a menor na probabilidade de vitória de Dilma, embora nenhum candidato a esta altura já possa dizer-se eleito ou derrotado? Uso o termo petralha aqui na forma definida no “Grande Dicionário Sacconi da língua portuguesa”, ressalvando que nem todo petista é petralha nem todo petralha, petista. Você, leitor, já imaginou o pesadelo de ter sempre números positivos em favor de Dilma influenciando o voto de milhões de eleitores, uma vez “socialmente” controladas as previsões sobre o resultado das eleições por conselhos petistas?
          De fato, é preciso exorcizar essa ideia autoritária antes até que ela apareça.

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