4 de fevereiro de 2018

Competência

Jornal O Estado do Maranhão

Passo os olhos pela programação dos desfiles da chamada Passarela do Samba. A lista anuncia tanto os tradicionais concursos do Rei Momo, da Rainha e das Princesas do Carnaval quanto a entrega das chaves da cidade às autoridades carnavalesca. Elas só as devolverão ao prefeito, se não estiverem exaustos e, quem sabe, de ressaca, na Quarta-Feira de Cinzas. Espero a eleição de um rei do tipo tradicional, pesado, mas ágil e alegre, bom sambista, bem-humorado e magnânimo com os plebeus: os homens do sexo feminino, as mulheres, do masculino e o restante dos tradicionais súditos; não um rei malhado, como vimos alguns anos atrás.

Vi nomes curiosos, de tom marcial, entre os blocos tradicionais e entre os organizados (deve haver os desorganizados, mas estes não são mencionados), mas não entre as escolas de samba, turmas de samba, tribos de índios e blocos afros.

Entre estes últimos, vejo no primeiro lugar da lista do desfile da terça-feira de Carnaval, o GDAM. Quem vê o grupo em desfile na passarela e em outros circuitos da folia (esta, desconfio, é palavra usada nos dias de hoje somente na época de Carnaval) poderá incorrer no erro de pensar nele como apenas um bloco no meio de tantos. Não é. Sua participação no Carnaval, apresentando como uma de suas atrações um corpo de dança muito bom, é tão só uma de suas meritórias atividades.

O GDAM completará em breve 32 anos de fundação, sempre sob a liderança de meu amigo Cláudio Adão. É uma Organização Não Governamental que vem, durante esse tempo todo, prestando inestimáveis serviços de orientação contra as drogas e de atendimento a crianças, adolescentes e jovens de comunidades de baixa renda de São Luís e de uma área de quilombo, a de Santa Rosa dos Pretos, na zona rural de São Luís. Mais, ainda, o GDAM contribui com divulgação do reggae. Seu bom conceito permitiu sua habilitação ao recebimento de recursos do Criança Esperança, que hoje apoia um de seus projetos, de vários para os quais o GDAM tem obtido financiamentos ao longo do tempo. Suas receitas, portanto, não dependem do setor público.

Seu sucesso é exemplo a ser seguido e levanta a interessante questão acerca da conveniência ou não do apoio governamental, com recursos de impostos, a grupos da cultura popular. A meu ver – penso, em especial no Carnaval e no São João – estes nasceram e cresceram sozinhos, prova de sua capacidade inicial de andar com as próprias pernas. Mais tarde, sob o argumento falacioso de “apoio a nossa cultura”, passaram a ter seus custos bancados pelo setor público, como, por exemplo, o bumba-meu-boi e as escolas de samba, chegando-se, até, à institucionalização da figura do dono de boi. Ora, uns e outros, os bois e escolas, são empreendimentos privados lucrativos. Como tal, devem arcar com suas próprias despesas, especialmente em meio à crise como a atual, de que mal a economia começa a sair, mas à qual voltará sem a reforma da Previdência. Se, no entanto, forem deficitários, não merecem sobreviver, pois o déficit é sinal de incompetência administrativa ou da rejeição a eles, expressa no mercado, pelos apreciadores das escolas e dos bois. O GDAM sobrevive porque agrada e é competente.

Parabéns a Cláudio Adão e seus companheiros.

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