9 de julho de 2006

Magia eterna

Jornal O Estado do Maranhão

No domingo passado, antes da eliminação do Brasil da Copa-2006, pela França, eu dizia: “De qualquer modo, jogo é jogo. Podemos ganhar ou perder, porém as maiores chances são nossas. Espero que neste domingo (escrevo na quinta-feira) já estejamos nos preparando para jogar com Portugal ou Inglaterra [...]”.
Voltamos, ou dito de forma mais exata, os jogadores voltaram, a maioria deles, não “o grupo”, para suas casas na Europa, fugindo de explicações. Cafu, um dos poucos com a coragem de dar as caras, disse que nem sempre o melhor vence, sem lembrar que não vencemos justo porque não fomos os melhores. O Brasil mostrou, tendo excelentes jogadores, não ter um time, bom ou ruim. Talvez tenhamos adquirido a síndrome do Real Madrid Suas estrelas de todas as grandezas, não conseguem ganhar títulos importantes.
Os jogadores brasileiros acreditavam que o simples fato de pisar no relvado, como dizem os valentes portugueses, os faria ganhar de qualquer um. Esse raciocínio, aplicado com rigor, os dispensaria de ir à Alemanha ganhar uma Copa já ganha em suas mentes (A deste ano confirmou a tradição de um dos quatro grandes, Brasil, Argentina, Itália e Alemanha sempre disputar a final, desde 1930). Ou, por trás de tudo, prevaleceram interesses comerciais ilícitos.
É frustrante ver jogadores com tanta contribuição ao futebol brasileiro no passado mostrarem tanta apatia na disputa da mais importante competição de um esporte em que eles sempre foram referência dos fãs no mundo inteiro. O encerramento da participação de alguns deles na Seleção não poderia ser mais melancólica.. Houve as exceções de sempre, representadas por Dida, Lúcio e Juan, sendo indispensável dizer que Ronaldinho e Kaká foram as grandes decepções. Fazer tais afirmações não constitui caça às bruxas, nem adesão ao “eu não disse” dos especialistas de mesa-redonda da TV, pois fácil é, mas muitas vezes injusto, apontar dedos acusadores em momentos como este. É tão-só a menção a fatos.
Em meio a tantas explicações sobre o fiasco, oferecidas logo após a desclassificação, podemos fazer um apelo à psicologia da satisfação pessoal e perguntar se teriam motivação para se empenhar a fundo homens como Cafu e Roberto Carlos, mas não apenas eles, que, vindo da pobreza, satisfizeram, durante suas carreiras meritórias, todos os desejos de um jogador de sucesso: dinheiro, fama, aceitação social, reconhecimento, prestígio e todas as outras coisas em cuja obtenção se empenham com ansiedade os seres humanos de todas as classes, de maneira ilusória e alienante, todavia alcançadas por poucos. Teriam, muitos deles, algum acréscimo de satisfação em repetir o título de campeão do mundo? Não sei nem ninguém sabe. Teriam perdido a identificação nacional por jogarem há tanto tempo na Europa? Não acredito.
Não havia fogo nas cabeças e corações deles, semelhante àquele que “arde sem se ver”. Não se via amor, entrega, dedicação, paixão, como de parte dos alemães, italianos, portugueses, franceses e dos brasileiros em outras jornadas. Houve um grande vazio, começando na direção do time. Não digo ser essa uma atitude consciente. Dou o benefício da dúvida e digo apenas ter faltado a faísca que a tudo incendiasse. Culpa de Parreira, da CBF, dos atletas? Difícil dizer. Ou foi a armadilha do sucesso anterior, fenômeno tão freqüente, com sua capacidade irresistível de despertar vaidades adormecidas?
Quem já acompanhou muitas Copas, como eu, não duvida de muitas vitórias brasileiras em futuro próximo. É possível que o jovem torcedor hoje com 15 anos de idade, bem acostumado a ver o Brasil na final de todas, depois da de 1990, se entristeça agora. Isso passará depressa. Só não passará a magia do futebol, essa paixão mundial, em particular a do futebol brasileiro, eterna.

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