30 de junho de 2013

Conta o fascimo


Jornal O Estado do Maranhão

          No dia 16 deste mês de junho publiquei aqui um texto sobre os protestos comandados, como eu dizia então, pelo “Movimento Passe Livre, que é o grupo responsável pela baderna”. Recebi vários e-mails irados e até insultuosos, sempre com aquela característica de tentar desqualificar o pensamento divergente ou enquadrá-lo no politicamente correto.

          Bem, já passei da idade de querer agradar a turma ali da praça. Eu não escrevo a fim de agradar ninguém. Para desagradar, menos ainda. Escrevo a fiel expressão de meu pensamento, coincidente ou não com o da maioria. Numa democracia, não pode prevalecer a reverência acrítica às maiorias, só por serem maioria, e muito menos às minorias.                  

          Não retiro nada do que disse. Apenas, por limitação de espaço, não pude dizer mais sobre acontecimentos tão importantes, como os protestos justificados, mas difusos, sem um foco visível, sobre quase tudo de errado no Brasil. Quem tem a paciência de me acompanhar conhece minhas críticas a essa situação. Tenho crédito para expor o que penso, livre de censuras de leninistas retardatários, adeptos da porrada como método político. Todo mundo – eu, não menos do que ninguém –, anda de saco cheio com a corrupção e o descaso com os direitos do cidadão.
          Atente-se, como tenho reiteradamente sugerido, à campanha sistemática do PT, contra as instituições da República, como o Supremo Tribunal Federal e a justiça. Chegamos ao ponto de a presidente da República, do PT, mandar o ministro da Justiça ignorar ordem judicial de reintegração de posse. Se não são cumpridas decisões dessa importância irão se cumprir outras menos impactantes na sociedade?
          Voltemos ao MPL, cujos partidários defendem uma aberração chamada “democracia líquida”, parente próxima da democracia direta. Resumindo, eles querem o fechamento dos legislativos e dos partidos e sua substituição por conselhos populares, isto é, por sovietes de trabalhadores, agricultores, soldados, etc. Não é por acaso que é cada vez maior a rejeição aos partidos nas manifestações. Estes são sem dúvida ruins, mas o caminho não é se deixar levar por essa facção. É reformar o sistema, não eliminá-lo, abrindo neste último caso caminho ao fascismo de esquerda. A eliminação dos partidos é via rápida rumo à ditadura. Os gritos das ruas contra eles nos levará aonde? Fora da política não há salvação.
          Quem afinal elegeu o MPL e o levou a ser reconhecido como nosso representante, levando-o a se credenciar como parte legítima em negociações com a presidente da República? Volto a dizer: isso é igual a dar ao bandido Marcola status de negociador.
          Virou mantra da imprensa classificar as manifestações como pacíficas, mas infiltradas por vândalos. É mesmo? Não parece, pois eles estão por todo o país e ninguém consegue controlá-los. Se quisesse, a maioria o faria; ou a própria polícia se a ela fosse dada a chance de uso legítimo da força contra esse pessoal. Se os bandos agem tão à vontade é porque encontram algum apoio.
          Ainda que desconsiderássemos fatos como esses, não é violência também cassar o direito constitucional dos outros cidadãos de ir e vir? Impedi-los de chegar em casa ou ir para o trabalho? Bloquear quando lhes dá na veneta vias urbanas e rodovias, inclusive as dos aeroportos?
          Algumas coisas boas surgiram dos protestos. Mas, atenção, há outras muito perigosas. Uma é tentativa de implantação de uma República plebiscitária, como na Venezuela, passando por cima do Congresso. Outra é a criação, já proposta pelo líder do PT na Câmara dos Deputados, de mecanismos de democracia direta. Aproveitando da confusão atual, a presidente Dilma desenterrou essas ideias, inspiradas por Lula, de documentos do 3º Congresso do partido, realizado em 2007.
          A realização de um plebiscito sobre a reforma política nos moldes propostos é tão complexa que o povo votaria sem saber em quê e nos faria correr o risco de piora do sistema com a implantação de votação em lista fechada e o financiamento público exclusivo de campanha. Haja caixa dois, três... 

          A coisa não está cheirando nada bem. E não deve melhorar tão cedo.

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