Tios e sobrinhos
Jornal O Estado do Maranhão O garoto, nos seus quinze anos, deitava-se em uma alvíssima rede, acariciado pela brisa salgada da praia de Itapeua, em Cajapió, e lia a tarde inteira. Usaria os óculos de lentes grossas e armação fina que ainda usa setenta anos depois, a destacarem-lhe o nariz de remotos antecedentes judeus, prováveis cristãos novos em Portugal, ou quem sabe de árabes? Seria possível usar tal objeto naquelas terras tão pobres, em tempos tão antigos, mas tão recentes, hoje, na sua memória? A fascinação pela leitura veio, por certo, quase ao mesmo tempo da consciência de ver a luz e de estar no mundo. Quase não se lembrava de ter aprendido a ler. Era como se, ao nascer, já possuísse todas as letras da língua portuguesa. Embora sem a mesma fascinação, seu pai, Luís, era um grande leitor. De suas idas a São Luís trazia os romances, jornais e revistas que a família lia. Viajava nos precários igarités e lanchas que atravessavam bravamente o terrível Boqueirão, destruidor de emba...