13 de outubro de 2013

Jornal O Estado do Maranhão

          A 7ª Feira do Livro de São Luís, promovida pela Prefeitura da cidade com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado, EMBRATUR e Associação dos Livreiros do Estado do Maranhão, agradou aos participantes e frequentadores do evento que já vai se tornando tradição, boa tradição. Quando a primeira foi feita, ainda na gestão do prefeito Tadeu Palácio, meu contemporâneo e colega no colégio Marista, muita gente, inclusive eu, não acreditava que iria durar.
           Explicável tal expectativa porque baseada no antigo e pernicioso hábito de nossos dirigentes de não darem sequência a projetos, ruins ou bons, de gestões anteriores apenas por isso, por serem de gestões anteriores. Felizmente, continuidade da Feira vai desmentindo a opinião de que velhos hábitos são duros de morrer e esse certamente já se encontra em estado terminal, pelo menos em relação ao importante acontecimento.
          Este ano, tivemos frutífera parceria entre as administrações do Município e do Estado. A deste, entre outras providências, cedeu prédios para uso pela Feira, entendimento alcançado com o fim de desmentir outro equívoco, o da impossibilidade de cooperação entre as duas esferas de governo, quando a cultura maranhense dela necessita. Por aí se vê que o livro, eterno como é, será sempre, além de suporte, elemento de convergência cultural e política quando o bem comum do nosso povo assim o exige.
          Justa, justíssima a escolha do poeta Nauro Machado como patrono da Feira e muito feliz a iniciativa de trazer outro grande poeta, carioca, talvez o melhor de sua geração no Brasil, e igualmente ensaísta, crítico e tradutor, Ivan Junqueira, com o fim de falar sobre a obra do maranhense. Não sei se ele deixou aqui o texto de sua palestra, cujo título é A Obra de Nauro Machado no Contexto da Poesia Brasileira. Se o fez, deveria ser publicado a fim de não se perder.
          O evento, por sua realização na Praia Grande, no Centro Histórico, adquire um charme especial. Afinal, andar por aquelas ruas é encontrar-se com nossa história, como ela se desenrolou a partir do último quartel do século XVIII e se materializou, em especial, na herança de belos sobrados. Em mim, aquela área desperta lembranças da juventude, quando eu ia ao escritório de meu pai, na escadaria do beco Catarina Mina, e ficava a ver um homem numa mesa ao lado da dele, falando um português com um sotaque estranho aos meus ouvidos, inicialmente, embora compreensível a maior parte do tempo. Era o comerciante, Antônio Azevedo, de quem meu pai era sócio na firma Azevedo & Moreira, de representação e conta própria. Eu poderia perguntar, como a saloia portuguesa a sua companheira, quando Pedro Braga dos Santos, no interior de Portugal, pediu informações às duas: “Que diabo de língua esse gajo está a falaire que a gente entende quase tudo?”.
         Mas, algo inusitado houve na Feira, ao se ponderar ser ela “do Livro”. O espaço das editoras e livrarias foi, segundo avalio, muito pequeno. Relatam-me livreiros, organizadores e várias outras pessoas interessadas em livros, tanto como leitores quanto como escritores, a quem expus minha surpresa, o veto do IPHAN à utilização da rua Portugal para a ampliação do espaço destinado aos livros. Os argumentos eram o da proteção de seu calçamento contra a ameaça de possíveis buracos a serem feitos durante a montagem dos estandes bem como o da preservação da visão dos passantes relativamente aos prédios históricos. Contudo, como visto após a desmontagem, no local onde foram assentados, nenhum dano ocorreu. Quanto ao prejuízo à visão, não sei como estandes de 2 a 3 metros de altura poderiam obstruir a visão de prédios tão altos como aqueles da rua Portugal, que ficou subutilizada, sem o necessário realce.
          O Centro Histórico pertence à todos nós. A finalidade de sua preservação não é apenas a de mera contemplação, mas de uso pelos moradores da cidade dentro de regras claras, pré-estabelecidas em discussão aberta e franca entre as partes envolvidas. Com vistas à Feira do próximo ano, ela deve se iniciar agora, já, já. Só desse modo, se encontrará boa solução do problema.

Texto do advaogado Carlos Nina postado no facebook





Carlos Nina, advogado e ex-presidente da OAB-MA, ex-promotor e ex-juiz


Aos condenados da Lagoa da Jansen
13 de outubro de 2013 às 21:18

Em razão dos artigos que escrevi e publiquei, inclusive nesta rede, sobre os abusos que têm atormentado os residentes na Lagoa da Jansem, em São Luís, tenho sido procurado para saber o que pode ser feito contra isso. Tenho dito que não adianta esperar que o Poder Público faça alguma coisa, pois o que está fazendo é contra os moradores da área, quer pela omissão, quer pela conivência. Ou os moradores reagem ou o bairro perderá - se é que ainda não perdeu - a paz e a tranquilidade, além da segurança, que já é precária. Com o que está sendo promovido na área, a segurança estará cada vez mais comprometida. Daí à desvalorização da área e dos imóveis é só uma questão de tempo. Sugiro, portanto, que os interessados procurem reunir-se para discutir opções, ou, se quiserem viver em paz, procurem outro lugar. Como diz o ditado popular, os incomodados que se retirem, porque o Poder Público não está nem um pouco preocupado com as tragédias que poderão acontecer em razão dos conflitos que a situação poderá causar.

Enquanto eu mesmo não mudar, com minha família, estarei disposto a colaborar com aqueles que quiserem reagir. Até porque o que está acontecendo na Lagoa da Jansem já aconteceu em outros lugares e pode acontecer até nos lugares para onde se queira ir, no futuro. Tudo porque as pessoas não reagem e a ganância de quem detém o Poder não tem limites, não respeita ninguém.

As manifestações que recebi sobre o último artigo são desanimadoras. Não há uma só mensagem de esperança ou de confiança no Poder Público. Ao contrário. Contudo, reitero a lembrança da luta de Lino Moreira, na Penísula da Ponta d'Areia. E ele está disposto a colaborar na luta dos que, na Lagoa, quiserem reagir. Penso que a experiência dele será muito valiosa para os interessados.

Machado de Assis no Amazon