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Tiro nos pés, cabeça, tronco e membros

  Muitos antes de tornar-se presidente da República, quando ainda era membro do baixo clero do Congresso Nacional, perguntaram a Jair Bolsonaro, no programa Câmara Aberta, se ele fecharia o Congresso Nacional, caso fosse eleito, um dia, no futuro distante, presidente do Brasil. A resposta veio rápida: “Não há [a] menor dúvida, daria golpe no mesmo dia! Não funciona! E tenho certeza de que pelo menos 90% da população ia fazer festa, ia bater palma, porque não funciona”. Em outra ocasião, em discurso no plenário da Câmara dos Deputados, ele se saiu com esta reflexão filosófica: “Sou a favor sim de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que esse Congresso Nacional dê mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está muito próximo”. A referência a ditadura, me traz à lembrança a avaliação, por ele feita, sobre o pau-de-arara, instrumento de tortura, usado fartamente pelas polícias civis de todo o país e por forças de repressão a movimentos políticos legítimos, em regimes dit

Contra as meninas

 PEC do Perdão, PEC do Aborto, PEC da Delação e PEC das Praias. PEC significa, caro leitor, Proposta de Emenda à Constituição, sendo a nossa, de 1988, a segunda maior do mundo, com 131 emendas, até 2024, além dos 250 artigos originais. Em tamanho, perdemos apenas para a da Índia, que tem 448 artigos e 94 emendas. Este último país, portanto, já emendou 94/448 artigos, ou 21% por cento do total de sua constituição em vigor, promulgada em 1950, há 74 anos. O Brasil já emendou a sua 131/250 artigos, ou 50% dos artigos dela, de 1988, até aqui meros 36 anos. Como as mudanças são feitas pelo Legislativo, quase se pode perguntar qual a serventia de um Tribunal Constitucional nessas circunstâncias. Mas, a ser mantida a regra atual, vamos ter uma nova constituição a cada cinquenta anos, sem se convocar uma Assembleia Constituinte. Por exemplo, exijam-se dois terços de concordância dos Estados brasileiros com a emenda a ser feita. Tal procedimento serviria, até, ao fortalecimento da Federação b

O entulho protecionista

Eis-me de volta ao “Jornal Pequeno”, depois de tanto tempo. Eu não estreio hoje neste jornal. Estreio de novo, pois fui um dos colaboradores da Página da Juventude, dirigida, aí por volta de 1966, por meu grande amigo Carlos Nina, notável advogado, ex-presidente da OAB-MA e líder de um grupo de entusiasmados jovens mal saídos da adolescência, dispostos a se arriscarem no mundo das letras. Éramos, além dele, Aldir Dantas, Viriato Gaspar, João Alexandre Viegas Costa Júnior, meu colega do Colégio Marista, bem como Lucideia Oliveira e Regina Teles. Desta vez, foi o poeta Cassas quem me sugeriu o retorno e se deu o trabalho de falar com Vinicius Bogéa, que, por sua vez franquiou o jornal à minha colaboração. Muito obrigado a todos. Não, não guardei nada publicado naquela época. Fiz bem. O JP me desperta memórias afetivas de minha avó, Marcelina dos Santos Raposo. Foi seu hábito comprar infalivelmente, durante décadas, diariamente, o “Jornal Pequeno”, que ela lia com verdadeiro prazer. També

Lira de um anjo

  Dou ao leitor o currículo, verdadeira lira dos anjos (de Álvares de Azevedo), do deputado Arthur Lira, inventor do Orçamento Público Secreto, pelo qual, provavelmente, bilhões de reais arrecadados diretamente do bolso dos contribuintes, foram gastos, ninguém sabe em quê, onde, por quem e em qual quantidade. Ele fez carreira na política alagoana e na nacional, chegando a presidente de uma das Casas do Congresso, a Câmara dos Deputados, por ele presidida atualmente. Passeou pela maioria dos partidos políticos de orientações ideológicas que se estendem por todo o espectro ideológico, da esquerda à direita, prova da baderna do vigente sistema político nacional. Elegeu-se a todos os cargos do Legislativo brasileiro, nas esferas municipal (vereador), estadual (deputado estadual) e federal (deputado federal), com exceção do de senador da República. Foi líder do Partido Progressista na Câmara de 2012 a 2013 e considerado um dos principais aliados de  Eduardo Cunha . Depois foi indicado p

Camarilha dos qautro

Jornal O Estado do Maranhão São recorrentes os ataques do presidente Bolsonaro e três de seus filhos a dois fundamentos da democracia, o Poder Legislativo e o Judiciário. A mais recente agressão deu-se na semana passada, quando ele distribuiu vídeo a seguidores, chamando-os a participarem, no próximo 15 de março, de manifestação de apoio a ele, de repúdio ao Congresso Nacional bem como ao Supremo Tribunal Federal –STF, e de exigência de fechamento das duas instituições. O apoio aos manifestantes, por parte do presidente da República, equivale a oferecer-lhes aval para aprofundarem a ousadia golpista. Porque se isso não for a pregação de um golpe de Estado, é o quê? Um apelo à paz e harmonia entre os poderes? Quem tem acompanhado as declarações dos quatro contra a ordem democrática não pode deixar de concluir pela existência de um projeto antidemocrático, sob a aparência de insanidade mental. Polônio, personagem de Shakespeare, na peça “Hamlet”, diz sobre o comportamento do personagem

Por séculos e séculos

Jornal O Estado do Maranhão Por fim, o governo federal parece dedicar um pouco de tempo a assuntos indiscutivelmente vitais ao futuro do Brasil, em vez de focar – como vem fazendo e para dar tão só um exemplo –, em disputas, dentro do PSL, que têm como motivação a ânsia de controle de verbas do partido pela corrente interna ligada ao presidente, em confronto com o grupo do deputado Bivar. Os recursos envolvidos nessa disputa típica da chamada velha política chegam a mais de duas centena de milhões de reais no próximo ano, sendo R$ 200 milhões, aproximadamente, de Fundo Eleitoral, e R$ 68,4 milhões de Fundo Partidário. É dinheiro para nova política nenhuma colocar defeito. Mas é compreensível o fogo cruzado. Afinal, eleições se fazem com dinheiro. Proibida a doação por empresas, de onde viriam os recursos destinados à eleição dos candidatos, se queremos deixar o dinheiro do tráfico fora da jogada? Dos nossos bolsos, contribuintes indefesos. Assim decidiram nossos representantes no C

Caso de interdição

Jornal O Estado do Maranhão “[...]. Eu nunca fui muito afeito à política, acredite se quiser. Em 28 anos na Câmara, nunca fui de uma comissão”. A primeira parte da afirmação acima é sincera, mas não inteiramente. Não é ainda toda a verdade, porque Jair Bolsonaro, seu autor, odeia a política, não apenas não é “afeito” a ela. A política exige convencimento, paciência e articulação partidária, esta última exigência antes demonizada por ele, mas agora adotada, quando falou com deputados do PSL, com o fim de pedir votos para seu candidato a líder, na briga, no partido, entre seus seguidores e os do deputado Bivar. Nunca ter sido de comissão parlamentar, como menciona na segunda parte, apenas evidencia seu espírito beligerante e autoritário como também desrespeito a importante mecanismo de representação popular. Trata-se tão só do desassombro dos ignorantes da própria ignorância. Seu isolamento na Câmara dos Deputados resultou do costume de confrontar os membros da Casa e de sua paranoia.