6 de setembro de 2015

Igualdade: na partida ou na chegada?

Jornal O Estado do Maranhão
          
          Uma das falácias esquerdistas mais influentes no Brasil é aquela da necessidade de “uma sociedade mais igual”, sem menção ao tipo de igualdade. Nesse entendimento, todas as sociedades têm como objetivo quase único a igualdade de resultados econômicos. Qual o significado de tal afirmação, na prática? O nível de renda de todos deveria ser igual, ou quase. Se não for, dizem, a sociedade será injusta, mas, a culpa pela distorção nunca será de escolhas individuais, ou de decisões equivocadas dos governos, e sim de um ser abstrato, “a sociedade”. Uma perna de pau, cuja contribuição aos bons resultados de sua equipe de futebol seja pequena, deveria receber, em salários, para evitar que a sociedade se torne “injusta”, tanto quanto Neymar recebe, embora este contribua com muito mais nas vitórias. Mas, qual a razão de uns contribuírem mais do que outros?
          Há diversas fatores explicativos, chamados de variáveis, tais como motivação individual, treinamento sistemático, adaptação ao ambiente de atuação dos atletas e outros. Esse conjunto pode ser alterado, em maior ou menor grau, por meio de acompanhamento metódico por equipes especializadas, em benefício do atleta, aumentando seu rendimento. Contudo, algo há que não pode ser alterado nas pessoas, pelo menos não de maneira eticamente aceitável. Trata-se da genética. Nenhum sistema, entre os melhores à disposição das comissões técnicas, irá transformar um jogador medíocre num Neymar, num Pelé, num Maradona, num Messi. Estes merecem ganhar mais, relativamente a seus companheiros “normais”, não pelo talento em si, mas, principalmente, pela valoração feita pelo mercado das habilidades fora de série deles. Isso tem expressão concreta sob a forma de compra de ingressos aos milhares e de produtos recomendados por eles, etc. A produtividade deles é tão alta que o valor por eles acrescentados ao produto (jogos vitoriosos) é, correspondentemente, muito alto também. Os clubes, assim mesmo, podem lhes pagar altíssimos salários e ainda ter lucros. Empresas futebolísticas estão no mercado com o fim de lucrar, não de ter prejuízo. Elas atendem à demanda dos consumidores de jogos de futebol.
          A analogia pode ser feita com uma competição de 100 metros. Na linha de largada, todos os atletas têm de estar em condições de igualdade. Se não estão, a responsabilidade é deles mesmos, para o bem ou para o mal. Em princípio, eles partem igualados quanto a treinamento, equipamento usado, etc. Chegará em primeiro, sistematicamente, o mais talentoso. Esse terá, “ceteris paribus”, a remuneração mais elevada, surgindo daí a diferença monetária em rendimentos. A Análise Estatística estuda esses casos por meio da técnica de regressão estatística, entre outras, introduzindo nas equações do sistema todos as variáveis já conhecidas. Cada uma delas, como as já mencionadas, explica um percentual da remuneração. O restante, aparentemente sem explicação, a fim de chegar aos 100%, é o talento, que é desigual entre os corredores, como o é na população. Na economia em geral, igualmente.
          No ponto de partida, o ingresso no mercado de trabalho, todos deveriam estar em igualdade de condições, com ajustes para as aspirações individuais, em informação, educação básica, saúde e demais variáveis que permitam uma competição equilibrada. Não é essa, no entanto, a situação atual. As pessoas começam em condições desiguais já na partida. Os de trás jamais poderão chegar ao final na frente. Onde o mercado pode falhar, como na educação, por exemplo, é papel do Estado, oferecê-la em alto padrão de qualidade aos de renda mais baixa. Porém, tal não se vê aqui. Tentar impor igualdade de resultados por decreto é matar a habilidade, o espírito empreendedor e o incentivo ao aumento de produtividade, elemento crucial no crescimento. Tantos talentos feneceram nos países socialistas por não receberem remuneração adequada a seu talento e sua produtividade. As disparidades só diminuirão quando as condições inicias forem iguais na largada. Cota nenhuma poderá mudar esse desarranjo nem evitá-lo.

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