9 de março de 2008

AML e Machado

Jornal O Estado do Maranhão

Este 2008, ano do Centenário da Academia Maranhense de Letras, assinala também os quatrocentos anos do nascimento do padre Vieira e os cem da morte de Artur Azevedo. Centenário de morte também é o do carioca Machado de Assis. Ele mantinha ligações com o Maranhão, pois tinha amigos daqui, a exemplo de Joaquim Serra, e admirava os intelectuais maranhenses, como mostrou desde cedo em sua carreira de cronista, aos 21 anos, quando pela primeira vez referiu-se à então Província, a 11 de dezembro de 1861, no Diário do Rio de Janeiro. Deu na ocasião notícia da volta de Gonçalves Dias de uma viagem ao norte do país na condição de membro de uma Comissão Científica de Exploração. Muito tempo depois, em 1894, no dia 27 de maio, na Gazeta de Notícias, ele relatou um fato ocorrido na Bahia e aproveitou para falar de grandes maranhenses, como fizera vezes sem conta antes. Deu-se que a moça de nome Martinha, de Cachoeira, na Bahia, havia apunhalado um homem que a insultara. Tal informação levou Machado a refletir sobre o destino e a história. Cita o caso da romana Lucrécia, mulher de L. Tarquínio Colatino, ultrajada, segundo a lenda, por Sexto Tarquínio, o que a levou a cravar um punhal no próprio peito, depois de revelar o fato ao marido e pedir a ele vingança contra Sexto. O historiador romano Tito Lívio, cujo objetivo ao escrever a famosa história de Roma era mais de exaltar os feitos romanos do que relatar fatos históricos fidedignos, dedicou um capítulo inteiro do Livro I de sua obra a ela.
Machado compara os dois fatos, um real e de seu tempo e o outro lendário. Este ficará no registro histórico, conclui. “Essa parcialidade dos tempos, que só recolhem, conservam e transmitem as ações encomendadas nos bons livros, é que me entristece, para não dizer que me indigna”. E por que o punhal de Martinha, ao contrário do de Lucrécia, será consumido “pela ferrugem da obscuridade”? “Martinha não profere uma frase de Tito Lívio, não vai a João de Barros, alcunhado o Tito Lívio português, nem ao nosso João Francisco Lisboa, grande escritor de igual valia”. Machado coloca aí João Lisboa no mesmo nível dos grandes historiadores universais.
Embora se diga indignado, sabe ele estar a história mais próxima da lenda e da obra de arte, como na obra de Tito, do que da ciência. Em crônica de 1876 dissera: “Minha opinião é de que a lenda é melhor do que a história autêntica. A lenda resumia todo o fato da independência nacional, ao passo que a versão exata o reduz a uma coisa vaga e anônima [...]. Eu prefiro o grito do Ipiranga; é mais sumário, mais bonito e mais genérico”.
No dia 12 de agosto, ainda de 1894, Machado descreve um suposto encontro ocorrido dois dias antes no centro da cidade. Discutiam os participantes sobre a emissão de trezentos contos em títulos, autorizada pela Assembléia Legislativa do Maranhão. Da discussão, surgiu a idéia de ter o Rio de Janeiro sua própria moeda municipal, concordando todos com sua adoção, a ser sugerida ao Conselho Municipal. Surgiram, porém dúvidas sobre a existência real desse corpo legislativo e começou nova discussão, até alguém pedir a palavra e afirmar que, ao debater a existência do conselho ou da própria emissão dos títulos, deviam lembrar-se os presentes de outra emissão maranhense, mais dadivosa, o nascimento de Gonçalves Dias a 10 de agosto, dia da fundação da Academia 14 anos depois. “Há setenta e um anos que o Maranhão no-lo deu, há trinta que o mar no-lo levou... Não sei se existem intendentes, mas Os Timbiras existem”.
Estas são, portanto, as ligações de Machado com a Academia: a morte no ano em que ela começou a viver, a amizade com Joaquim Serra, patrono da Cadeira 12, e a grande admiração por Gonçalves Dias, nume tutelar da Casa de Antônio Lobo.No dia 12 de agosto, ainda de 1894, Machado descreve um suposto encontro ocorrido dois dias antes no centro da cidade. Discutiam os participantes sobre a emissão de trezentos contos em títulos, autorizada pela Assembléia Legislativa do Maranhão. Da discussão, surgiu a idéia de ter o Rio de Janeiro sua própria moeda municipal, concordando todos com sua adoção, a ser sugerida ao Conselho Municipal. Surgiram, porém dúvidas sobre a existência real desse corpo legislativo e começou nova discussão, até alguém pedir a palavra e afirmar que, ao debater a existência do conselho ou da própria emissão dos títulos, deviam lembrar-se os presentes de outra emissão maranhense, mais dadivosa, o nascimento de Gonçalves Dias a 10 de agosto, dia da fundação da Academia 14 anos depois. “Há setenta e um anos que o Maranhão no-lo deu, há trinta que o mar no-lo levou... Não sei se existem intendentes, mas Os Timbiras existem”.
Estas são, portanto, as ligações de Machado com a Academia: a morte no ano em que ela começou a viver, a amizade com Joaquim Serra, patrono da Cadeira 12, e a grande admiração por Gonçalves Dias, nume tutelar da Casa de Antônio Lobo.

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