20 de dezembro de 2015

Natal

Jornal O Estado do Maranhão

          Frequentei estabelecimentos católicos durante toda minha vida em escolas, até mesmo na pós-graduação, pois é católica a Universidade de Notre Dame, em Indiana, nos Estados Unidos, onde fiz mestrado e doutorado em Economia, entre 1978 e 1983, quando andei estudando alguns aspectos da atuação de multinacionais no Brasil, em especial o da criação de empregos, ao comparar-se empresas brasileiras com as primeiras. A única laica foi exatamente a primeira, o Jardim de Infância Dom Francisco, ali na praça da Alegria. Era praça da tristeza nos tempos antigos, pois ali se executavam condenados à morte, levando o povo a chamá-la de largo da Forca Velha. Antes de se chamar Dom Francisco, ela se chamara Decroly, em homenagem a Ovide Decroly, educador belga.
          Sintetizo essa trajetória tão só com o fim de dizer que tão longa convivência com o catolicismo e os ensinamentos cristãos, não apenas na escola, mas, também, na convivência familiar, em especial com minha mãe, avós, tios e tias, não me tornou uma pessoa religiosa. Todavia, longe de lamentar tal experiência, eu a considero inestimável. Muitos princípios morais presentes nos ensinamentos cristãos, foram e são de valor incomensurável para mim.
          Pessoas sem fé, como eu, não no homem, mas em vidas depois da morte e na existência de seres superiores, fazem parte de minoria que, segundo os biólogos evolucionistas, tem uma incapacidade radical nesse tipo de crença. Não é uma questão de escolha nem é algo contingente, produto de circunstâncias, mas necessário. O vulgo, ou não, declara serem elas destituídas de senso moral, como na famosa, mas errada, afirmação: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Bom, o ser humano é possuidor de um senso inato do certo e do errado. Intuitivamente, ele sabe que, por exemplo, matar é errado, é comportamento capaz de ferir sua intuição moral. Por que alguém agiria contra seus próprios instintos? A afirmativa sobre a existência de Deus parte da ideia de que a humanidade é destituída daquele senso. Quanto a isso, posso dizer: somos uma das minorias mais discriminadas. Vejo sobrancelhas se arquearem, muitas vezes sem nelas se descobrir nada de comportamento cristão, quando falo dessas ideias.
          Criado nessa milenar tradição, dela, uma das festividades de que mais gosto é a do Natal. Estão presentes em mim as noites da véspera de Natal e o nosso esforço de crianças para ficar acordados e ver Papai Noel chegar, sempre sem sucesso. Gostava e gosto pelo clima que se cria nessa época do ano, a reunião da família, amigos, o encontro com pessoas queridas, o sentimento de solidariedade humana, embora haja igualmente alguma tristeza.
          Talvez por isso, mas não apenas por isso, o conto de Machado de Assis mais do meu agrado é A Missa do Galo, obra prima do conto sem enredo e de uma única situação concentrada, simultaneamente um clima de tranquilidade e tensão, no encontro entre um jovem que espera a Missa do Galo e uma jovem senhora infeliz no casamento. Mil sugestões emergem de um simples diálogo entre os dois. Sem o Natal, sem o clima do Natal, tal tesouro teria ficado por ser criado.
          A todos, feliz Natal.

6 de dezembro de 2015

Causa e consequência

Jornal O Estado do Maranhão

          O processo de julgamento político da presidente Dilma Rousseff chegará a seu término com a retirada dela da cadeira que ora ocupa ou, alternativamente, com a continuação de seu mandato. Ninguém, no entanto, poderá afirmar, neste momento, com segurança, qual será seu desfecho.
          Dilma não é processada por roubo de recursos públicos, ocultação de contas bancárias na Suíça, aumento injustificado de patrimônio e ocorrências do gênero. Seu crime, de outra natureza, pelo menos pelo conhecido até o momento, é de responsabilidade, como previsto em lei, por ter ela, entre outras medidas, assinado suplementações ao orçamento federal sem a devida autorização do Congresso Nacional e executado programas de governo com o uso de recursos de bancos estatais, financiamento proibido por lei.
          Vivemos situação semelhante no já longínquo 1992, quando o presidente Collor teve de renunciar a seu cargo, depois de legítimo processo de impeachment contra ele. Seu mandato também era legítimo, mas tão só até o momento do cometimento de crimes contra a Constituição. Na época, o PT foi um dos comandantes da luta para derrubá-lo. A mesma tentativa o partido fez contra Fernando Henrique, Itamar Franco e José Sarney. Ficou famoso, na época, o bordão petista: fora FHC. No entanto, ninguém diz, agora, que o partido liderou tentativas de golpes, da mesma forma que não se pode chamar de golpe eventual impedimento da presidente. Como, se tudo está sendo encaminhado dentro do ordenamento constitucional? Evidente, sendo o julgamento político, político será o posicionamento do Congresso.
          Dilma já faz parte do minúsculo grupo de presidentes que viram o Legislativo julgá-los politicamente: somente ela, o geneticamente corrupto Collor, já citado, e Getúlio Vargas em 1954. Neste último caso, com absolvição do ex-ditador e, então, presidente.
          Como chegamos a tal situação, de todos os modos danosa ao país?
          Começamos a afundar com a ascensão do PT ao governo federal. As coisas ainda caminharam bem enquanto foi mantida a política econômica herdade dos dois governos anteriores. Depois, o PT achou de adotar heterodoxia econômica fracassada, antes, em vários países. Daí em diante, tudo começou a andar mal. Em paralelo, era montado pelo PT imenso esquema de corrupção, visando tanto enriquecer seus dirigentes com recursos públicos e destruir as instituições democráticas quanto garantir a permanência eterna do partido no poder. Com o fim de manter o esquema funcionando, Lula inventou uma candidata fantoche como sua sucessora. Eleita, ela mostrou ser incompetente em todas as áreas: administrativa, política e econômica. Até o irrevogável Mercadante seria melhor do que ela. A junção de uma administração econômica errada com a roubalheira desenfreada e mais a deterioração de qualquer princípio moral ou ético, levou-nos ao desastre em andamento. Se ela sair, será, igualmente, pelo conjunto de sua obra de destruição.
          A imensa maioria do povo brasileiro quer Dilma fora do governo, como desejou que Collor saísse. Ela é, simultaneamente, consequência e causa de nossos problemas. É hora de ir para casa brincar com os lindos netinhos.

29 de novembro de 2015

Marca da truculência e da prepotência



O texto baixo é de Carlos Nina, advogado, ex-juiz, ex-promotor e ex-presidente da OAB-MA.


Por conta da truculência, da prepotência, da mentira e da covardia de um preposto do Governo do Estado do Maranhão, não permaneci, como gostaria, no velório do querido amigo e poeta Nauro Machado, nesta tarde, na Academia Maranhense de Letras, onde estava seu corpo.

Por volta das 17 horas da tarde de hoje, 28/11/2015, dirigi-me com minha esposa ao velório de Nauro e, ao chegar à esquina da Academia com o beco do Teatro Arthur Azevedo, vimos que havia um veículo estacionado na transversal, com espaço suficiente ao lado para colocar o carro. Manobrei nesse sentido e uma pessoa que estava na frente, sem se apresentar, sem farda ou qualquer identificação, fez sinal de que ali não podia estacionar. Engatei a ré e já ia sair quando resolvi abrir a janela à direita, no lado onde minha esposa estava sentada, e perguntar o motivo pelo qual eu não poderia estacionar se havia outro veículo já estacionado na mesma posição. Ele, então, respondeu, com ares de prepotência, que estava guardando aquela vaga. Considerei um abuso e estacionei, com dificuldade porque ele insistia em ficar atrapalhando minha manobra.

Depois que desci do carro ele mandou que eu estacionasse abrindo espaço para deixar uma vaga para outro carro. Eu lhe disse que ia fazer isso, mas ele ficou no local atrapalhando, impossibilitando que eu deixasse outra vaga. Por isso, então, resolvi não atender sua ordem porque considerei desrespeitosa e abusiva sua conduta.

Entramos no salão da Academia, cumprimentei os familiares de Nauro e sentei-me ao lado de dois amigos, Fernando Sá Vale e Cel. José Antônio, aos quais relatei o que havia acontecido. Ocorreu-me, nesse momento – e disse aos dois -, que aquele “guardador de vaga” poderia, em represália, causar algum dano ao veículo. E resolvi voltar ao local onde deixei o carro.

O “guardador de vaga”estava lá, na calçada da Academia. Atravessei a rua e fui ao lado do carro que não estava visível para a porta da Academia. Olhei os pneus para ver se tinham sido esvaziados. Não. Vi a lateral do carro e lá estava, na porta dianteira, a confirmação de minha suspeita. A marca da vingança, da prepotência, da truculência. Um arranhão profundo o quanto pode uma chave de carro fazer.

Havia dois “flanelinhas” no local. Com certeza não foram eles. Fora o “guardador de vaga”.

Dirigi-me a ele, na calçada da Academia e perguntei: Foi você que fez aquele arranhão na porta do carro? Ele negou. Disse que o arranhão já estava ali quando eu cheguei. Mentira. Ele apontou logo os “flanelinhas” como suas testemunhas e outras pessoas que estavam na calçada.

Testemunhas de quê? Como poderia alguém ver o gesto furtivo, covarde, da ranhura que fora feita na porta do carro, que não era visível do outro lado da rua?

Perguntei-lhe para quem ele estava guardando aquela vaga porque - disse-lhe - ia esperar para informar de sua conduta. Ele não respondeu e, ao mesmo tempo, falava em um desses aparelhos de rádio, mandando alguém prosseguir.

Chegaram, então, alguns carrões. Um deles estaciona em frente à entrada da Academia e desceu o Governador, a quem conheço há muitos anos, e me dirigi a ele, estendendo-lhe a mão (que ficou no ar, num gesto autoexplicativo).

Reclamei-lhe da conduta de seu preposto, mas Sua Excelência, confirmando o conceito que conquistou desde os primeiros tempos de campanha, deixou-me falando na calçada.

Fui, então, abordado, finalmente, por uma pessoa educada que me pediu que relatasse o que havia acontecido.

Pareceu-me outro preposto do Governador.

Ao iniciar o relato o “guardador de vaga” interferiu negando os fatos. Disse-lhe, então, que era mentiroso e que deveria ter coragem de assumir o que dizia e que fazia.

O novo preposto do Governador, educadamente, pediu-me para irmos ao local do carro. Viu a ranhura e, como qualquer pessoa de bom senso, passou o dedo sobre o local e constatou que aquela marca acabava de ser feita, inclusive porque o farelo da tinta e da lataria estavam lá, soltando com a passagem do dedo. Perguntou-me se eu tinha testemunhas. É evidente que não. Ou seja, educadamente ele estava me dizendo que nada poderia ser feito e que certamente não iria dar em nada.

Revoltei-me, não pela ranhura, em si, que podia ser reparada em qualquer oficina.

Revoltei-me pela truculência, pela prepotência, pela covardia e pela mentira. Minha esposa veio de dentro da Academia e confirmou a história ao mesmo acompanhante do Governador. Mas sentiu, também, que nenhuma providencia contra o abuso seria feita e pediu-me que saíssemos do local.

Assim fizemos.

Mas não poderia deixar sem registro público esse fato.

Não para que o Governo repare o dano causado por seu preposto, porque certamente vai negar e mentir.

É verdade que é um dano material de pequeno valor. Mas o veículo foi pago com fruto de nosso trabalho. Não com dinheiro fácil de origem duvidosa, prática comum nos altos escalões da política brasileira.

Faço o registro para prevenir responsabilidades, se algum outro dano material ou físico me acontecer ou à minha família, porque não se pode esperar outra coisa diante da mentira, da covardia, da truculência e da prepotência praticadas por agente a serviço do Governador do Estado, que se negou até a tomar conhecimento do fato, na hora em que estava acontecendo.

Carlos Nina

22 de novembro de 2015

Reforma necessária



Jornal O Estado do Maranhão

          Há duas semanas, a revista Veja tratou da doença brasileira do gigantismo burocrático, cujas sequelas aparecem, em especial, na redução da nossa capacidade de crescimento. Este é item em falta no mercado, após os desastres de política econômica produzidos pela administração do PT.
          O termo burocracia é quase sempre usado em sentido pejorativo para denominar o conjunto dos funcionários públicos. Contudo, é aplicado, também, a todos os empregados de grandes empresas privadas. Seu surgimento e crescimento, até alcançar a forma como a conhecemos hoje, estão ligados ao aparecimento dos estados nacionais modernos e seu crescente intervencionismo na economia, na vida política e, até, na vida privada das pessoas.
          O que era para ser uma instituição racional na operacionalização das funções estatais passou a ter vida autônoma e dedicar-se mais a sua própria sobrevivência e crescimento do que aos da sociedade. No Brasil, o fenômeno tanto se agigantou que suas despesas de custeio consomem a maior parte dos recursos financeiros nas mãos do Estado.
          Chegamos a uma situação, como mostrado na reportagem, de muitos empreendedores desistirem de fazer novos investimentos e, até, de decidirem fechar os negócios, por não suportarem mais as custosas armadilhas burocráticas.
          No Brasil, os empresários levam, em média, 153 dias para regularizar os imóveis onde suas empresas pretendem funcionar. São cinco meses em que ou a empresa funciona irregularmente ou não funciona e arca com os prejuízos impostos irracionalmente. Em outro item, o de abrir um negócio, o empreendedor tem de esperar 129 dias. Enquanto espera, faz o quê? Palita os dentes, enquanto o burocrata toma sua cerveja?
          Em seu artigo nesse mesmo número de Veja, Roberto Pompeu de Toledo fala do caso mencionado pelo jornalista José Casado em que este descreve situação surrealista vivida pela ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal. Ela foi tirar um documento em um cartório. Pediram-lhe o CPF da mãe, exigência aparentemente fácil de ser atendida. A ministra informou que, infelizmente, a suposta dona do documento havia morrido fazia trinta anos e nunca o tivera. Durona, a funcionária disse ser impossível atendê-la. E não atendeu mesmo. Muitos anos atrás, o governo federal criou um Ministério da Desburocratização. Funcionou durante curto período. Depois, a entropia prevaleceu e o próprio ministério se burocratizou até ser extinto.
          Querem ter uma boa avaliação do poder da burocracia? O governo Dilma anunciou uma redução do número de órgãos, medida que atingiria a burocracia federal, mas ajudaria no combate à inflação. Órgãos desimportantes, poucos, foram fundidos ou eliminados. Todavia, o total de cargos, contados em dezenas de milhares, permaneceu intocado, sem redução de um centavo de despesa.
          Enquanto a mentalidade burocrática for soberana e o país continuar incorrendo em custos altíssimos por sua causa, não daremos meio passo adiante em direção a um verdadeiro crescimento. Esta, a primeira reforma a ser feita no Brasil: quebrar mentalidades arcaicas desse tipo, com a criação de instituições modernas e livre da burocracia predatória.

8 de novembro de 2015

Abduzidos

Jornal O Estado do Maranhão

          Abduzida, abdução? Sim, abdução. Parece estranha, a palavra, incomum. No entanto, ela existe. É de origem latina, “abductione”, segundo os dicionários. Tem vários sentidos. Um deles, usado no curioso jargão jurídico, é de “rapto com violência, fraude ou sedução”. E daí? Daí que Elba Ramalho foi abduzida, provavelmente pelo uso de sedução. Por quem? Por ETs, ela afirmou à revista Veja.
          A afirmação é de 2001, na 11a. Conferência Internacional de Ufologia, em Curitiba, quando ela disse que esses misteriosos seres tinham implantado nela um chip que só pôde ser retirado com a ajuda de outros seres, celestiais, “ultra, supra, luminosos”, durante o sono, sem necessidade de cirurgias mediúnicas. Elba teve sorte. Outras quase cinco mil vítimas tiveram de recorrer a duas videntes do interior de São Paulo para extração dos objetos. O local do implante, no corpo da cantora, não foi especificado. No cérebro?
          O que desejavam, afinal, os ETs? Os do bem queriam, naturalmente, o bem dos terráqueos. Estes, de tão atrasados tecnologicamente, dependem de extraterrestres para uma coisa aparentemente tão simples como a retirada dessa, digamos, eletrônica embarcada. Mas os do mal, meus amigos! O primeiro estudo que fizeram e sempre fazem nos planetas conquistados é o da genética. Conhecendo bem nossa natureza, nossos instintos mais primitivos, aqueles a que o ex-deputado Roberto Jefferson se referiu ao falar dos sentimentos despertados nele por Zé Dirceu, ficou fácil a dominação da Terra e, por consequência, da política brasileira. A cantora afirmou que existia e, quem sabe, ainda exista, um pacto secreto entre vários países para a implantação dos tais chips. “Políticos brasileiros colaboram com esse governo oculto”.
          Se a conspiração continua ainda hoje, devemos esperar que as autoridades terráqueas (a ONU, os Estados Unidos?) ou, pelo menos, as brasileiras, chipadas também, contudo bem ativas, embora pareçam zumbis, deem, nos atual ambiente político-econômico conturbado do Brasil, “um depoimento lúcido sobre a presença de ETs” como dizia Elba? Pedir isso é também abdução, em outro sentido, o de “raciocínio cuja conclusão é imperfeita e, portanto, apenas plausível”. Plausível, sim, merecedor de aplausos pela boa intenção, mas impossível de ser atendido.
          Contei essa história a um amigo petista (sim, tenho amigos petistas). Ele deu, instantaneamente, um estalo: “Essa é a explicação para o Mensalão, o Petrolão e outros escândalos superlativos. O Brasil está dominado por alienígenas, vindos, sei lá de onde, de Saturno talvez. Só isso explica terem os membros do nosso partido se rendido à roubalheira”. Explicação bem plausível, pois tem-se visto coisas de outro mundo por estas bandas.
          Morta a charada e retirados os chips, por obra dos seres celestiais ultra, supra, luminosos, os companheiros abduzidos voltaram à vida honesta de sempre. Mesmo que os anéis de Saturno tenham sido perdidos, pois injustas desconfianças permaneceram a respeito desses pobres homens, quase todos os seus dedos, dedos ágeis, ficaram.

25 de outubro de 2015

Brasil uber alles

Jornal O Estado do Maranhão

          De boas intenções, o inferno está lotado. Basta olhar a fé quase religiosa com que o poder estatal impõe decisões irracionais aos cidadãos. Anunciadas como benefícios a eles, ao homem comum, em especial se ele for comumente pobre, sendo prejudiciais, muitas vezes, aos de classe média, embora isso não seja dito, elas acabam resultando em remédios com efeitos opostos aos apregoados.
          A imprensa anunciava, há dias, dois deles. Um, foi a proibição, pelo Procon de Belo Horizonte, com respaldo da justiça, de concessão de descontos a consumidores que pagam suas compras em espécie, se igual desconto não for concedido ao pagamento com cartão de crédito. A alegação, que, por sua larga utilização, não é mais percebida como absurda, é de discriminação contra o comprador disposto usar seu cartão, por não haver, neste caso, o mesmo desconto. O resultado previsível é de o outro consumidor ficar proibido de desfrutar o desconto oferecido espontaneamente pelo vendedor na transação em espécie. A atitude do Procon, essa, sim, discriminatória, tem origem na ideologia antimercado e estatizante tão difundida no Brasil.
          Vejam bem, a utilização do desconto torna efetiva a clara vantagem financeira para o cliente desejoso de utilizá-lo. O outro, o do cartão, também obtém vantagem financeira, pois somente desembolsará o valor de sua compra numa data futura levada em conta por ele no momento da compra. Ora, a consideração do tempo pelos dois consumidores, procedimento básico em cálculos financeiros, avaliados, por eles, ainda, seus desejos, orçamentos, juros correntes, etc. , em decisão que é só deles, orienta-lhes as decisões. Um escolhe desembolsar logo; outro, depois, justamente porque as variáveis econômicas e financeiras de ambos não são as mesmas. Mas, o preço do produto o é nos dois casos. A forma de pagar e os desembolsos efetivos, sim, mudam, devido à diferença de datas. Lamentável a justiça sancionar um raciocínio torto e prejudicial ao consumidor, como o do Procon mineiro. Dado a irracionalidade da situação, o vendedor não dá desconto algum a ninguém.
          Outro suposto remédio, este bastante previsível, porque vem do pensamento petralha retrógrado, é o da criação pela prefeitura de São Paulo de serviço de táxi, como “solução” para afastar o avanço tecnológico e inovativo dos serviços do aplicativo Uber. O prefeito Haddad, o maníaco da ciclofaixa, tenta criar um serviço caro, de deslocamento mais lento do que os de outros táxis, pois não usará a faixa exclusiva destes, e sujeito a mil complicações burocráticas em sua operação. Mais uma vez, a mentalidade estatizante dá as caras. Em lugar de um serviço privado ágil, eficiente e mais barato do Uber, comparado com o do prefeito, este deseja um monstrengo feito com o fim de atender ao corporativismo dos taxistas tradicionais, não o usuário.
          O crescimento econômico e a prosperidade vêm, justamente, da criação de novas tecnologias, produtos e processos produtivos. É isso que o petista Haddad quer destruir. É dever do governo, nestas circunstâncias, sim, achar forma de dar apoio aos trabalhadores atingidos pela modernização. Bloqueá-la, jamais.
          Brasil uber alles, senhores.

4 de outubro de 2015

Eu não disse?

Jornal O Estado do Maranhão

          Chego em casa morto de fome (ninguém nunca está somente com fome, mas, sempre, morto de fome, não sei se leitor já observou esse fenômeno) e pergunto pelo almoço. Nossa colaboradora (colaboradora desde que o politicamente correto determinou que chamar alguém de empregada era humilhação punível com pesadas penas a serem cumpridas na penitenciária de Pedrinhas) apressou-se a dizer que eu iria almoçar ovo frito na manteiga. Ela mencionou, claro, outros pratos, como torta de camarão, o meu preferido. Mas, minha mente se fixou apenas no ovo e na manteiga. Minha reação foi instantânea e surpreendente até para mim mesmo. Abandonando minha postura no geral cordata e compreensiva e desatento à necessidade de não atiçar, com a colaboradora, a luta de classes, perguntei em voz alta, tentando parecer irônico: “Quer dizer que agora temos aqui, dentro de minha própria residência, uma conspiração para me encher de colesterol e me matar aos poucos? Eu, que praticamente acabei de fazer uma operação para a colocação de quatro pontes nas coronárias (aqui, exagerei um pouco, pois a cirurgia já tem um ano e sete meses), estarei sendo vítima de ataque traiçoeiro como esse? Ovo e manteiga? E de açúcar, ninguém quer me entupir? E doces e sorvetes, esses deliciosos alimentos tão discriminados, ninguém vai me oferecer?”
          Antes de terminar o micro discurso, já estava arrependido, pois percebi o obsoletismo de minhas palavras. É que, condicionado por décadas de uma campanha solerte paga pelo capital internacional contra as galinhas brasileiras, em verdade contra as brasileiras, galinhas ou não, mas nunca contra as patas gordas, eu tinha esquecido da sentença médica que absolveu tanto o ovo galináceo quanto a manteiga feita de leite bovino. Tinha me escapado não só a mera liberação, pelas autoridades da saúde, desses dois produtos que, devo falar a verdade, adoro, como, também, a recomendação dos pesquisadores de colocarmos nossa paranoia de lado e comermos, à vontade, manteiga e ovo, mas, com o cuidado de preservar nossa galinha, patrimônio nacional. Imediatamente pedi desculpas à companheira colaboradora, com a esperança de, com essa atitude, alcançar pelo menos uma espécie de trégua no conflito de classes.
          O certo é que, um dia, se pode comer certo prato, no outro não; às vezes, ele mata (devagarinho ou depressinha), outras, engorda e faz crescer e assim por diante. Se formos seguir todas essas recomendações e contrarrecomendações, acabaremos morrendo do estresse desse vai-e-volta alimentar, não da ingestão de comidas e bebidas não recomendáveis, sempre as mais gostosas. Quem sabe eu tenha desenvolvido placas coronarianas, que quase me mataram, sem nunca terem dado um assovio sequer de aviso, devido a essa confusão?
          Pelo menos, se amanhã disseram que coca-cola faz bem para cálculos renais, faz passar dor de cabeça ou protege contra mau olhado – não duvide da possibilidade, caro leitor – eu poderei apontar o dedo e dizer para quem vive me acusando de ser viciado no refrigerante e de não querer largar o vício: Eu não disse seus bobos?

20 de setembro de 2015

Ensaio de Milton Torres

Jornal O Estado do Maranhão

         Tenho aqui “A Epopeia Amazônica de frei Pedro de Santo Eliseu”, um estudo crítico, por Milton Torres, do poema épico “Viagem”, de autoria do frade carmelita, publicado pela Edusp, editora da Universidade de São Paulo. Um apógrafo localizado por Milton (autógrafo algum foi encontrado) nos Reservados da Biblioteca Nacional, de Portugal, serviu-lhe como texto de referência. O tema é a longa viagem em que os portugueses levaram prisioneiros espanhóis de Belém, rio Solimões acima, até Nova Cartagena, em 1714, a fim de devolvê-los a seus compatriotas, trinta e dois anos, portanto, antes do ano colocado pelo copista ao final do apógrafo (1746).
          Tão dilatado tempo entre a realização da jornada e o ano indicado pelo copista terá sido consequência das disputas pela posse do Solimões entre portugueses e espanhóis, não interrompidas pela da Paz de Utrecht – conjunto de acordos destinados a pôr fim à Guerra da Sucessão da Espanha (1701-1714) –, senão por breve tempo, tendo as contendas perdurado até quase a assinatura do Tratado de Madri, em 1750, que estabeleceu, na América, as fronteiras entre Portugal e Espanha.
         Não se sabe quando a “Viagem” foi escrita: se logo após o retorno do frade a Belém, tendo o autor mandado fazer uma cópia em 1746; ou se foi terminada pouco antes deste ano, às vésperas do Tratado, quando as relações entre os rivais ibéricos já eram amistosas. Evidente, publicar a epopeia no período anterior, de incertezas, seria arriscar-se à acusação de cavalheirismo com o inimigo, pois o poema mostra clima amistoso entre os contendores.
        Milton Torres analisou cuidadosamente a “Viagem” sob todos os aspectos relevantes a sua correta compreensão, sobretudo sua inserção no âmbito do universo mental português do século XVIII, ao fim do reinado de d. João V. Seu estudo se filia, assim, à corrente historiográfica conhecida como História das Mentalidades. Como ele observa, Os Lusíadas e As Metamorfoses, de Ovídio, estão evidentes como modelo do épico do frade.
          Vejamos, “en passant”, algumas das características do poema analisado por Milton Torres. Nele, o monarca absoluto é perfeito e, por derivação, sua escolha do capitão-mor e de todos as pessoas da cadeia de súditos alocados à organização e realização da viagem confere-lhes virtude. Também, dado que a colônia americana não carregasse na memória coletiva feitos comparáveis aos dos portugueses no Oriente, forçoso é, no poema, a transformação, pelo frade, sempre fiel à épica portuguesa ali ancorada, do grande rio em “Mar Oceano”, da jornada fluvial, em marítima e das canoas, em baixéis. A despeito das convenções do gênero, porém, ele mantém as realidades locais, como no caso dos toponímicos.
         Onde a realidade amazônica, no entanto, irrompe com força no épico de Santo Eliseu, em contradição com a retórica oficial, é nas referências à realidade do terrível tratamento dado aos índios, submetidos a evangelização pela “espada adamantina”, em trechos que seriam vetados, se submetido à costumeira censura oficial.
         Estudo erudito, que repele a erudição estéril e vaidosa, objetivo e brilhante. Conjunto impressionante de referências literárias e históricas em curto espaço.

6 de setembro de 2015

Igualdade: na partida ou na chegada?

Jornal O Estado do Maranhão
          
          Uma das falácias esquerdistas mais influentes no Brasil é aquela da necessidade de “uma sociedade mais igual”, sem menção ao tipo de igualdade. Nesse entendimento, todas as sociedades têm como objetivo quase único a igualdade de resultados econômicos. Qual o significado de tal afirmação, na prática? O nível de renda de todos deveria ser igual, ou quase. Se não for, dizem, a sociedade será injusta, mas, a culpa pela distorção nunca será de escolhas individuais, ou de decisões equivocadas dos governos, e sim de um ser abstrato, “a sociedade”. Uma perna de pau, cuja contribuição aos bons resultados de sua equipe de futebol seja pequena, deveria receber, em salários, para evitar que a sociedade se torne “injusta”, tanto quanto Neymar recebe, embora este contribua com muito mais nas vitórias. Mas, qual a razão de uns contribuírem mais do que outros?
          Há diversas fatores explicativos, chamados de variáveis, tais como motivação individual, treinamento sistemático, adaptação ao ambiente de atuação dos atletas e outros. Esse conjunto pode ser alterado, em maior ou menor grau, por meio de acompanhamento metódico por equipes especializadas, em benefício do atleta, aumentando seu rendimento. Contudo, algo há que não pode ser alterado nas pessoas, pelo menos não de maneira eticamente aceitável. Trata-se da genética. Nenhum sistema, entre os melhores à disposição das comissões técnicas, irá transformar um jogador medíocre num Neymar, num Pelé, num Maradona, num Messi. Estes merecem ganhar mais, relativamente a seus companheiros “normais”, não pelo talento em si, mas, principalmente, pela valoração feita pelo mercado das habilidades fora de série deles. Isso tem expressão concreta sob a forma de compra de ingressos aos milhares e de produtos recomendados por eles, etc. A produtividade deles é tão alta que o valor por eles acrescentados ao produto (jogos vitoriosos) é, correspondentemente, muito alto também. Os clubes, assim mesmo, podem lhes pagar altíssimos salários e ainda ter lucros. Empresas futebolísticas estão no mercado com o fim de lucrar, não de ter prejuízo. Elas atendem à demanda dos consumidores de jogos de futebol.
          A analogia pode ser feita com uma competição de 100 metros. Na linha de largada, todos os atletas têm de estar em condições de igualdade. Se não estão, a responsabilidade é deles mesmos, para o bem ou para o mal. Em princípio, eles partem igualados quanto a treinamento, equipamento usado, etc. Chegará em primeiro, sistematicamente, o mais talentoso. Esse terá, “ceteris paribus”, a remuneração mais elevada, surgindo daí a diferença monetária em rendimentos. A Análise Estatística estuda esses casos por meio da técnica de regressão estatística, entre outras, introduzindo nas equações do sistema todos as variáveis já conhecidas. Cada uma delas, como as já mencionadas, explica um percentual da remuneração. O restante, aparentemente sem explicação, a fim de chegar aos 100%, é o talento, que é desigual entre os corredores, como o é na população. Na economia em geral, igualmente.
          No ponto de partida, o ingresso no mercado de trabalho, todos deveriam estar em igualdade de condições, com ajustes para as aspirações individuais, em informação, educação básica, saúde e demais variáveis que permitam uma competição equilibrada. Não é essa, no entanto, a situação atual. As pessoas começam em condições desiguais já na partida. Os de trás jamais poderão chegar ao final na frente. Onde o mercado pode falhar, como na educação, por exemplo, é papel do Estado, oferecê-la em alto padrão de qualidade aos de renda mais baixa. Porém, tal não se vê aqui. Tentar impor igualdade de resultados por decreto é matar a habilidade, o espírito empreendedor e o incentivo ao aumento de produtividade, elemento crucial no crescimento. Tantos talentos feneceram nos países socialistas por não receberem remuneração adequada a seu talento e sua produtividade. As disparidades só diminuirão quando as condições inicias forem iguais na largada. Cota nenhuma poderá mudar esse desarranjo nem evitá-lo.

23 de agosto de 2015

Um mau exemplo

Jornal O Estado do Maranhão

          Estive na Associação Comercial do Maranhão – ACM, na noite de quarta-feira, dia 19. Fui assistir ao painel Cenários Econômicos e o Novo Ambiente de Negócios no Maranhão, com a participação do economista Felipe Holanda, presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos – IMESC, e de Simplício Araújo, secretário de Estado de Indústria e Comércio do Maranhão – SEINC, expositores, ambos; como debatedores, João Gonsalo, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão e doutor em economia, e Gustavo Marques, arquiteto, consultor e vice-presidente da ACM.
          Apesar da menção a "cenários econômicos", o assunto não deu as caras na exposição de Simplício. Predominou em seu discurso uma retórica política recheada de acusações a seu antecessor, Maurício Macedo, sem menção explícita a este, mas, a ninguém escapou a intenção de Simplício. No entanto, quem lá estava, em sua maioria, tinha interesse, penso eu, em conhecer a visão do governo sobre a economia do Estado e o respectivo plano de ação governamental, pensado, supõe-se, como instrumento capaz de contribuir com alteração positiva de nossa obsoleta estrutura econômica.
          Foi atitude, essa do secretário, de atacar seu predecessor, que é profissional de reconhecida competência e correção, tendo construído, antes de ir para o setor público, brilhante carreira no setor privado, como responsável por setores importantíssimos da ALUMAR, onde goza de excelente reputação, mesmo hoje, foi atitude, eu dizia (o anacoluto, aqui, é recurso estilístico e não involuntário e vicioso, como os de Dilma) deselegante. Mas, nos dias correntes, quem se importa com elegância e boa educação, não é mesmo? Por que se preocupar com essas coisas, quando você pensa estar no topo do mundo, mundo de tiranetes das margens do Mearim? Parece-me, até, o ataque, uma descortesia aos promotores do evento. Em outras ocasiões, eles devem ter convidado também o secretário anterior para fazer palestras no mesmo auditório onde o atual o atacou.
          No entanto, Simplício, que, com certeza, será conhecido, ao fim de seu período na pasta, como um poço de virtudes morais e cívicas, um catão tecnológico, um caráter sem jaça, deve ter provas das denúncias feitas por ele de público e, portanto, será muito fácil dirigir-se ao Ministério Público ou à Polícia Federal e denunciar seu antecessor como um meliante da estirpe, assim, de um petralha, um dirceu, um genoíno, uma dilma, um lula. Em um nonassegundo, o alvo de suas acusações sentirá o braço pesado da justiça à velocidade de The Flash. Não duvide, caro leitor.
          Ao escrever, agora, percebo que dou oportunidade inestimável a Simplício, de evitar potencial acusação de prevaricação, pois, quem, ocupando cargo público, não leva ao conhecimento das autoridades falcatruas com dinheiros públicos, tendo delas tomado conhecimento, falta, "por interesse ou má fé aos deveres do seu cargo, do seu ministério" (Aurélio). Prevarica. É reles prevaricador.
          A noite, todavia, não foi só de escuridão. Houve claridade, clareza, clarividência. O professor João Gonsalo, em boa hora, deu uma aula de Economia, mostrando que: a) a crise econômica brasileira atual se deve, principalmente, a erros na condução da política econômica; b) a taxa de crescimento dos salários não pode subir indefinidamente, como tem ocorrido, acima da elevação da taxa de produtividade do trabalho, levando, caso persista, a sérios problemas econômicos, em particular, na indústria, sendo essa a principal razão para a chamada desindustrialização e não eventual sobrevalorização da taxa de câmbio; c) o Brasil, por motivação ideológica, se colocou à margem do fluxo de comércio internacional; d) o governo deve se limitar a investir na infraestrutura socioeconômica do Estado e, assim, aumentar a produtividade do setor privado e de toda a economia, requisito indispensável para o crescimento econômico.
          O espaço disponível não me permite falar de tudo. Digo, apenas: o professor deveria dar um curso intensivo para agentes públicos sem noção de economia.

9 de agosto de 2015

Um bom exemplo

Jornal O Estado do Maranhão

          Tenho aqui o volume 14, Número 3, da Revista de Pesquisa em Saúde – RPS, do Hospital Universitário – HU, este, da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. A publicação é de alta qualidade e segue normas de publicação adotadas pela comunidade acadêmica internacional. Dos vinte membros de seu conselho editorial, participam, como representantes da Universidade, apenas quatro, ou seja, um quinto. Baixa proporção como essa é sinal de disposição dos dirigentes das duas instituições a que a Revista está ligada bem como de seu corpo editorial, chefiado por Arlene Caldas, de ter avaliações isentas sobre o conteúdo dos artigos a ela submetidos. Alguns dos outros membros do Conselho são da USP, UFRJ, UNB e UHG, da Suíça, e de várias universidades de prestígio.
          Mesmo um leigo nessa área, como eu, pode facilmente perceber que não se trata de jogo de cartas marcadas, pelo qual avaliações benevolentes, por pares do entorno imediato do autor, na função de membros de conselhos editoriais, são feitas a fim de, mais tarde, invertidas as posições de avaliador e autor, serem retribuídas com a mesma benevolência. Chamam minha atenção, ainda, a boa qualidade dos textos em inglês dos "abstracts"e da tradução dos títulos dos artigos. Ao consultarem-se estes, se poderá encontrar a bem marcada característica de a RPS voltar-se, prioritariamente, para assuntos maranhenses, com levantamentos de informações primárias em instituições de saúde locais, como, por exemplo, o HU e o Centro de Saúde Genésio Ramos Filho, os dois em São Luís. Entre os dez artigos apresentados, há um, com o título "Contribuições das orientações pré-operatórias na recuperação de pacientes submetidos a cirurgias cardíacas", que me fala de perto, pois fiz há, aproximadamente, um ano e meio, cirurgia cardíaca para a colocação de quatro pontes nas coronárias.
          Agora, podemos perguntar sobre a posição da RPS nesta fase de sua história editorial e responder que não se pode dissociá-la das transformações por que passou a UFMA durante o reitorado do professor Natalino Salgado Filho. Vejam só. Quando ele assumiu a Reitoria em 2007, vindo da direção do HU, a Universidade, possuía, tão somente, um curso de doutorado, em funcionamento precário. Passou a 9 e mais 10 em cooperação com outras universidades brasileiras. Havia 12, de mestrado, que totalizam 35 hoje. Os incrementos, substanciais, como se vê, e não apenas quantitativos, levaram a UFMA a contabilizar atualmente mais de 1.200 alunos de mestrado e doutorado, não pequeno avanço, sem falarmos na recuperação de várias estruturas físicas e a construção de outras, entre estas a do Departamento de Inovação Tecnológica e Patentes, que já obteve 50 registros de patentes e contribui, expressivamente, com a desmistificação da tese esquerdista de que empresas privadas contaminam, com o vírus da fome de lucro, projetos de pesquisa acadêmica. Hoje, o Hospital Universitário realiza cirurgias cardíacas e neurocirúrgicas de alto complexidade, assim como transplantes de órgãos, permitindo que, além de atender pessoas sem alternativas financeiras de realizar procedimentos como esses em hospitais particulares, colabora com a UFMA no desempenho adequado do papel mais importante dela, o de instituição de pesquisa. Sem esta, o que é uma universidade, além de escola de 3o grau?
          Após da saída do professor Salgado, o Hospital foi dirigido pelos professores Maria do Desterro e Vinicius Nina. Atualmente, sua direção está a cargo da dra. Joyce Lages. Ela, como os demais, deram, com reconhecida competência, continuidade à expansão do HU, consolidando-o como centro de atendimentos do SUS e como instituição produtora de conhecimento sobre a realidade maranhense na área da saúde.
          A Universidade Federal do Maranhão e o Hospital Universitário são excelentes exemplos de como órgãos públicos podem ser bem administrados e oferecer a nossa população, à parte pobre, à remediada ou à rica, assistência médica de alta qualidade, sem discriminações, como é próprio do SUS, fonte de seus recursos que, afinal, são públicos.

14 de junho de 2015

Consumidores, uni-vos!



Jornal O Estado do Maranhão

          Não poucas vezes, tenho falado contra o desamparo do consumidor, diante da falta de profissionalismo de empresas que o tratam com ares arrogantes de quem está fazendo favor a suas vítimas. Quem já teve a paciência de ler textos de minha autoria se lembrará de minha persistente defesa da economia de mercado e, portanto, da livre iniciativa, que se torna tangível na forma de empreendimentos livres do jugo estatal, com ampla liberdade de buscar o lucro em concorrência com outros. Em verdade, se fosse para ter prejuízo, quem se arriscaria no mercado? Essa busca, porém, não pode significar a competição sem regras ou o tratamento dos clientes com descaso. O lucro é bem-vindo, apenas se for obtido de forma civilizada.
          O capitalismo é uma forma de organizar a economia. Para funcionamento adequado, ele exige obediência a princípios éticos de parte dos empreendedores, assunto discutido pelo grande Adam Smith há quase dois séculos e meio. Esse regime econômico, ao contrário do propalado pelo esquerdismo primário, em especial do alto (ou do baixo) de suas cátedras nas universidades federais, não tem nada de anárquico, como a história econômica prova, com os inúmeros exemplos de sucesso na criação de riqueza para a humanidade. Os exemplos contrários, de fracasso, mostram o tanto de miséria, dor e pobreza criados, inevitavelmente, pelo socialismo real. Basta, para comprovar essa afirmação, observar a Coreia do Norte comunista, com seu ditador gorduchinho, que seria engraçado se não fosse um assassino de milhares de seres humanos, principalmente pela fome e pobreza, e compará-la com a rica democracia capitalista da Coreia do Sul.
          Não falo em tese nem por ouvir dizer, relato experiências – más experiências –vividas por mim no trato com empresas acostumadas a dar tratamento desrespeitoso aos demandantes de seus produtos e serviços. Foram duas recentemente.
          A primeira foi esta. Sempre otimista, adquiri, no ano passado, um televisor para ver o Brasil ganhar a Copa do Mundo de futebol. O aparelho apresentou defeito justamente poucas semanas depois de terminada a garantia de um ano do fabricante. Como eu havia contratado outra, do tipo estendida, tratei de utilizá-la. Recorri à Cardif Seguros, responsável pela cobertura financeira do reparo. A seguradora indicou, então, uma assistência técnica Sony, que faria o serviço, a firma E. R. Carvalho Costa, à rua dos Manacás no Jardim São Francisco. Aqui começaram os problemas. A empresa prometeu apanhar o aparelho no dia 6 de maio, mas, não o fez. Prometeu, novamente, fazê-lo no dia 7 e, de novo, nada. No dia 8, finalmente, levaram o televisor. Depois disso, não disseram mais nada. No dia 18, dez dias depois, telefonei pedindo informações. Disseram-me que o prazo era de 30 dias, num tom de “é pegar ou largar”. Reclamei com a seguradora, o que levou a assistência a ligar para minha residência, no dia 23, dando novo prazo de mais 30 dias para o conserto. Significa dizer, quase dois meses desde a data em que o televisor foi levado. Não é essa a forma correta de tratar clientes.
          O segundo caso é da área médica. Necessitando fazer exames cardiológicos, decidi, por sugestão de Graça, minha mulher, fazê-los, com agendamento prévio, no DOM, um centro de medicina diagnóstica. Um deles foi marcado para as dez e meia, horário por mim cumprido rigorosamente. Para encurtar a conversa, fui atendido à uma hora da tarde, duas horas e meia depois do horário agendado, mas, tão só, depois de reclamar da demora. Não me deram explicação alguma para tão longo atraso. Trata-se de caso de charmosos comerciais nos meios de divulgação, que mostram uma coisa, sendo o comportamento da prestadora de serviços outro. Eu senti como se me tivessem dito que o atendimento era pela famigerada ordem de chegada, prática pela qual quem atende maximiza receitas e o número de atendidos e estes, a chateação e o tempo de espera. O agendamento foi feito para quê, se não seria cumprido? Esse, o padrão de atendimento em toda parte.
          Consumidores de todo o mundo, proletários ou não, uni-vos!

24 de maio de 2015

Desajuste

Jornal O Estado do Maranhão

          Ora, vejam só como tudo anda embaralhado na política brasileira. Parcela dos que deveriam, porque teoricamente, da base de apoio ao governo no Congresso, apoiar o corte de despesas, aumento de receitas ou uma combinação das duas primeiras alternativas, são justamente os que se declaram contra, o PT e os partidos a ele associados. As medidas foram propostas pelo Executivo com o fim de tornar efetivo o indispensável ajuste nas contas públicas do Brasil, desarrumadas por Dilma em seu primeiro mandato. Portanto, Dilma terá de arrumá-las agora. Quem se esperava que fosse a favor, porque tomar medidas de contenção do gasto público se tornou necessário para a economia e cidadãos brasileiros, tomou posição contra, conforme manifestação de vários parlamentares do PSDB e partidos menores supostamente de oposição. Aliás, o PSDB tem se caracterizado por ser partido de oposição que não se opõe ao governo, de onde se pode concluir que deveria ser partido de aceitação.
          Economistas brasileiros advertiram as autoridades fiscais e monetárias, pelos meios de comunicação e em publicações técnicas, acerca da necessidade de se tomarem essas medidas logo, lá atrás, quando se tornou manifesta a necessidade de fazê-lo, em vista das pressões inflacionárias acumuladas desde o segundo mandato de Lula na presidência da República. Eu mesmo, numerosas vezes, fiz advertência semelhante como também mencionei o custo de não se tomar de imediato providências com o fim conter a inflação. Prevaleceu, no entanto, a ideia de não existir mal nenhum em se ter um pouco da doença inflacionária. Seria como uma mulher ficar um pouco grávida, só existe na imaginação. Com essa visão – qualquer estudante de primeiro período a reconheceria como inviável, ultrapassada e perigosa –, chegou-se à condição de, agora, termos custos econômicos e sociais muito mais elevados do que teríamos se as autoridades tivessem feito o dever de casa no momento certo. A política econômica heterodoxa adotada por Dilma, que diz ter feito faculdade de economia, tendo entrado na escola, sem a escola entrar nela, gerou tão só desastres ao redor do mundo. Como fiz anteriormente, repetidas vezes, peço: apontem-me, caros adeptos do vodu econômico, da dança da chuva, do milagre mundano, digam-me onde tal política resultou em aumento da riqueza das famílias, das empresas e da nação? Estou disposto a dar a mão à palmatória, se apenas um caso de sucesso me for apresentado. Em contraste com a heterodoxia, a ortodoxia inglesa deu excelentes resultados, como se vê nos dias atuais na Inglaterra, que colhe boa safra econômica derivada de seu ajuste na hora certa, consubstanciado no equilíbrio do orçamento. Ao mesmo tempo, os ingleses liquidaram com o mito sobre os supostos prejuízos políticos sofridos pelos governos, por ajustarem a economia de seus países, pois o fizeram e se saíram muito bem nas eleições gerais deste ano, sem estelionatos eleitorais, formando agora, o Partido Conservador, um governo que independe de outros partidos.
          O PT se declara contra a posição do Executivo, mas, sabe serem os cortes imperativos para a economia brasileira, quando se fala de combater a inflação e reativar a atividade econômica. Por isso, faz um jogo duplo: quer que os outros partidos da base do governo apoiem as medidas, enquanto boa parte do próprio PT vota contra. É, de um lado, a terceirização de ônus de ir contra propostas de equilíbrio orçamentário e, de outro, a apropriação pelo partido da imagem de preocupação com os trabalhadores. Nisso não inova, porque sempre agiu assim. Hoje, a maior resistência a Dilma não vem da oposição parlamentar. Vem de Lula, oponente do reequilíbrio das contas do país. É dele a orientação dada aos companheiros de não apoiarem o ajuste. Se obedecida, teremos aumento do desajuste, o inverso do pretendido corretamente pelo governo, liderado, na área econômica, pelo ministro Joaquim Levy. Mas, a Lula não interessa a sanidade da economia, mas, os votos que possa obter em possível, mas improvável, candidatura presidencial em 2018.

11 de maio de 2015

Laura

Jornal O Estado do Maranhão
          “Quando há dias fui enterrar o meu querido Serra, vi que naquele féretro ia também uma parte de minha juventude”. Perdoem-me os leitores por voltar, uma vez mais, à crônica de Machado de Assis, de 5 de novembro de 1888, na “Gazeta de Notícias”, por mim mencionada algumas vezes, aqui mesmo neste jornal, em que ele fala da morte de seu amigo maranhense Joaquim Serra. As circunstâncias me levam a lembrar desse belo texto.
          Quando evocamos o desaparecimento de amigos, queridos amigos, de pais e avós, de irmãos, de primos, de professores do tempo de criança, de simples conhecidos, falamos do passado, das experiências de vida em comum, de lembranças sobre as quais perdemos para sempre alguém capaz de entender, por uma simples palavra, sem necessidade de explicações e de elaborações, nossa intenção ao dizer algo. Ainda podemos falar desse passado, mas, quem nos ouvir a fala, jamais poderá captar emocionalmente o sentido particular da palavra dita, como o amigo fazia. Assim, podemos dizer que essas mortes nos fazem morrer um pouco a cada vez que se apresentam. Envelhecer é, em grande parte, tal acúmulo de perdas. As físicas são de menor importância, creio eu, e sempre podemos fazer um esforço para retardá-las.
          O que se pode dizer, porém, do falecimento prematuro de uma criança, do desaparecimento inesperado de uma vida em seu princípio? Aqui, tudo se inverte. Não estamos mais falando do passado perdido, mas, da perda do futuro. A morte de Laura Burnett Marão, há poucos dias, em violenta colisão com o carro de seu pai, de um veículo dirigido por motorista bêbado, responsável, provavelmente, por outros acidentes de trânsito semelhantes ao que a matou, como outros milhares de irresponsáveis o fazem diariamente por todo o país, sem as autoridades policiais se aplicarem para valer à repressão desses assassinos em potencial, algo fácil de fazer, quando se quer fazer, põe ante nossos olhos e corações realidade dolorosa.
          Não se perdeu tão só uma vida preciosa e tão recente, pois iniciada havia apenas 8 anos, o mesmo tempo de vida de Davi, meu filho e também neto. Por coincidência, o avô materno de Laura, Fred Burnett, foi meu colega no antigo ginásio, na mesma turma do Colégio Maranhense, dos irmãos Maristas bem como companheiro de escotismo. O tempo passou e nossos netos, Laura e Davi, acabaram na mesma turma na escola Maple Bear.
          Os pais da pequena Laura, Larissa e Marão Neto, e irmãos Felipe, gêmeo dela, e Vítor, o mais novo, perderam os sobrinhos e netos que viriam no amanhã que a ela foi criminosamente negado, e, ainda, os filhos dos netos, os filhos dos filhos dos filhos e assim por diante, até a consumação dos séculos numa sucessão infinita, como infinita é a dor. As gerações vindouras estarão desfalcadas deles. E quem pagará o preço de ter causado essa imensa tragédia? A crer-se nas nossas leis, na leniência de punição de pessoas embriagadas na direção de veículos motorizados, no máximo, o culpado confesso prestará alguns dias de serviços comunitários ou fará doação de cestas básicas a comunidades carentes e, depois, seguirá livre para repetir o crime. Carlos Diego Araújo Almeida é seu nome.
De qualquer modo, pensemos assim: muitas alegrias, não só tristezas, ficarão nas lembranças de seus pais e dos mais próximos: as primeiras palavras, a primeira vez de pronunciar mamãe, ou papai, os primeiros passos, os primeiros dentes de leite, o primeiro destes depois arrancado, o primeiro dia de escola, o mundo descoberto aos poucos, com seus belos olhos verdes claros. Elas servirão para amenizar o sofrimento de agora, assim como o tempo o faz, sem apagá-lo nunca, porém; assim como as palavras de consolo dos amigos amenizam também, mas, nada poderá fazê-lo completamente.
Os colegas elaboraram emocionalmente, cada um a sua maneira, a falta de Laura entre eles. Davi disse que ela tinha um clone e, pois, tudo voltaria a ser como antes. Ela não morrera de verdade. Ele tem razão. Ela estará viva para sempre na lembrança dos que a amaram e amarão por toda a eternidade.

12 de abril de 2015

Marxismo dialético?

O Estado do Maranhão
1. Expressões de fracasso – Se examinamos o dessituacionismo pré-patriarcal, somos confrontados com uma escolha: rejeitar a “comunicação poderosa”, de Bataille, ou concluir que a realidade é produto das massas. Porém, o assunto é interpolado no marxismo dialético, que inclui narratividade como paradoxo.
          O modelo de Sontag de libertarianismo capitalista sugere que a linguagem é capaz de significância. Portanto, Dahmus assegura serem empoderadores os trabalhos de Spelling.
          O tema primário da crítica do marxismo dialético de Parry é a característica definidora, e, portanto, a dialética da sociedade pré-dialética. Desse modo, se a “comunicação poderosa” de Batailleist prevalece, temos de escolher entre marxismo dialético e a apropriação modernista.
2. O paradigma neopatriarcal da narrativa e a teoria pré-dialética capitalista – “A realidade é parte da falta de sentido da cultura”, diz Bataille. A teoria pré-capitalista dialética implica classe como tendo um sentido intrínseco, mas, somente se narratividade é distinta de realidade. Porém, o objeto é contextualizado em uma “comunicação poderosa” de Bataille, que inclui consciência como um todo.
          Bataille usa o termo marxismo dialético para denotar o papel do escritor como participante. Portanto, o objeto é interpolado numa teoria pré-construtivista que inclui sexualidade como realidade.
3. A “comunicação poderosa” de Smith e Bataille – Se examinamos o discurso capitalista, somos confrontados com uma escolha: ou aceitar a “comunicação poderosa” de Bataille, ou concluir que o contexto vem da comunicação, se a teoria pré-dialética capitalista for válida. Qualquer número de narrativas sobre o campo comum entre narratividade e sociedade pode ser encontrado. Desse modo, a distinção figura/campo, que é tema central de Funcionários, de Smith, emerge novamente no Caçando Amy, ainda que num sentido mais autofalsificante.
          Se você, leitor atento, não entendeu nada da exposição até aqui é pela singela razão de não haver, mesmo, sentido nela. Não, você não desaprendeu a ler assim, sem mais nem menos, durante o sono, nem há tanta profundidade nesses parágrafos, de tal forma que somente os iniciados possam interpretá-los. Em verdade, o texto mais acima, até a palavra “autofalsificante,” foi gerado por aplicativo utilizado pelo site Comunications From Elsewhere. Alimentado por conjunto de frases feitas e vazias, e cheio de citações de autores reais e fictícios, elementos que são combinados aleatoriamente, no momento de gerar os textos, o aplicativo os cria em inglês. Vistos superficialmente, dão a impressão de profundidade, embora obscura. Meu trabalho foi, apenas, de tradução.
          Há um excelente e polêmico livro sobre o tema da enrolação intelectual, Imposturas intelectuais, o abuso da ciência pelo filósofos pós-modernos, de Alan Sokal e Jean Bricmont, publicado no Brasil em 1999. A origem da obra está num artigo de Sokal, na prestigiada revista Social Text, de estudos culturais, com citações sem sentido, mas verdadeiras, feitas por intelectuais franceses e americanos.
          A intenção dos autores era mostrar por que as citações eram absurdas e também combater a ideia de a ciência moderna não ser mais do que “uma construção social” entre muitas outras bem como rejeitar a mistificação intelectual, a linguagem deliberadamente obscura, os pensamentos confusos e o emprego incorreto de conceitos científicos nas ciências sociais. Entre os autores analisados no livro estão figuras reverenciadas como Jacques Lacan, Julia Kristeva, Bruno Latour, Giles Deleuze, Felix Guattari, Paul Virilio e outros.
          Portanto, caro leitor, se confrontado com obras obscuras, apresentadas como profundas e geniais, seja cético. Pode ser que você esteja vendo apenas um monte de besteiras incongruentes sob uma capa sofisticada. Faça sua própria leitura e não se impressione com afirmações desconectadas da prática científica séria. Apenas as de cunho religioso não necessitam de ser provadas. Nas ciências, a demonstração de hipóteses é indispensável.

29 de março de 2015

Os olhos da cara


Jornal O Estado do Maranhão

          O governo do PT levou a economia brasileira a uma situação de crise em que qualquer solução do problema custará, inevitavelmente, os olhos da cara dos brasileiros. A inflação é alta, o desemprego cresce, a recessão persiste. Todos esses males podem ser traduzidos como perda de renda das famílias. O estado de nossa economia hoje não permite o vislumbre de uma saída indolor – qualquer uma –, do buraco, pois o preço a pagar pela incompetência, reforçada pela ideologice esquerdista barata, é muito alto e pago pelas pessoas comuns. Estas gostariam de continuar, porém mal conseguem, com sua vida decente, criando seus filhos, produzindo sem sentir o bafo do Estado no seu pescoço, sem ver diariamente nos meios de comunicação notícias sobre bilhões e bilhões roubados das empresas estatais e dos cofres públicos – como se estivéssemos falando de roubo de galinha de quintal, como nos velhos tempos –, recursos, afinal, arrancados dos nossos bolsos, num país com uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo.
          A visão de que “um pouco de inflação não faz mal” já produziu e, pelo visto, continuará a produzir, desastres econômicos em série. Ideias sobre suposta desconexão entre, de um lado, gastos públicos descontrolados, persistentemente acima das receitas, e, de outro, inflação levaram, em todos os países onde postas em prática, a processos inflacionários, conducentes, no fim, à desorganização da produção, desabastecimento e convulsões sociais, com as más consequências de todos conhecidas, golpes de Estado, em suma, ao caos socioeconômico. Peço, encarecidamente aos leitores a indicação de apenas uma economia de mercado em que as chamadas políticas econômicas heterodoxas tenham, como essas do PT, dado resultado. Ou melhor, resultados deram. Foram, todavia, maus resultados, resultados calamitosos. Marx dizia que a realidade muda as ideias e não o contrário, falando a respeito do materialismo dialético, embora não se saiba como poderia existir uma dialética da matéria. Seja como for, se esqueceu de nossos esquerdistas, para quem, não importa qual seja a realidade, basta apenas acreditar em “boas” ideias, “ideias libertadoras”, ter fé religiosa nelas, a fim de que a realidade mude. É o que chamo de economia de vodu. Acredite e tudo de bom (ou de ruim) acontecerá.
          No caso do Brasil, essas políticas criaram feia realidade, perceptível, até, por Dilma Roussef. Acertadamente, mas a contragosto, sem convicção profunda, sem acreditar em suas próprias receitas do momento, mas pressionada pelas circunstâncias, resolveu fazer um ajuste econômico, cortando gastos e aumentando receitas. Como tinha prometido o paraíso a seus eleitores na campanha pela reeleição, justamente o contrário do que tenta fazer agora, a popularidade dela “deu uma queda, foi ao chão”, como Teresinha de Jesus, da cantiga de roda. Gente de seu próprio partido, o PT, comandada por Lula, reclamou, pediu a ela que revertesse as medidas já tomadas, de corte de despesas. Ora, atender tal demanda equivale a voltar às políticas fracassadas. Dito de outra maneira, é aprofundar os males da economia, com custo maior, ainda, do que o custo de fazer o ajuste, Mas, Lula e sua turma estão preocupados com outra coisa: a possibilidade, ou não, de ele se candidatar, a presidente em 2018. Associado às medidas impopulares, mas necessárias, de Dilma, sua candidatura some. Por isso, o pedido dele de mais do mesmo.
          Resumindo, se mantiverem as medidas corretas, a um preço alto, porque vêm tarde, Dilma e o PT ficam mais impopulares (já não falo da roubalheira), mas resolvem o problema, com choro e ranger de dentes no caminho. Se volta à antiga política, exigência eleitoreira de Lula, aprofunda a crise e, com ela, de imediato, os custos, para o país, de solucioná-la, pela confusão econômica a ser criada. Mais adiante, quando a realidade se impuser novamente, resolvê-la custará muito mais. Eis porque eu disse no início que qualquer solução do problema custará os olhos da cara. Caro, tudo é, numa economia inflacionária.

15 de março de 2015

Sem um barulho desses

Jornal O Estado do Maranhão

          Machado de Assis gostava de dizer que suportamos com paciência a cólica alheia. De fato, as pessoas são compreensivas, quando não partícipes de situações em que, por exemplo, alguém reclama de ameaças ao exercício de direito assegurado a ele pela Constituição. Aí então, pedem calma ao reclamante mesmo ao custo, para a vítima, de a aceitação do conselho representar, na prática, a espoliação de um direito constitucional. Essa a situação dos moradores da área onde moro: paciência, diziam os que moram longe daqui.
          Tal reflexão me ocorreu quando li a notícia de decisão tomada, em Apelação Cível, pela Primeira Câmara Cível, do Tribunal de Justiça do Maranhão, confirmando decisão de primeira instância, em que funcionou como relator o desembargador Jorge Rachid Maluf. O Apelante era a casa noturna Chinelo de Dedo, encravada em área residencial, à avenida Joaquim Mochel, no Cohatrac IV, e os Apelados, Maria Celeste Gonçalves de Jesus e outros. Estes são moradores do entorno do estabelecimento. Eles ingressaram na Justiça contra a poluição sonora causada pelo Chinelo: tloc, tloc, tloc. O Juiz de Direito da 8ª Vara Cível da Capital, Luiz Gonzaga Almeida Filho, julgou procedente o pedido para determinar o fechamento do estabelecimento. A casa noturna apelou.
          Uma das pragas mais disseminadas em São Luís é exatamente essa. Falo daquele tipo de poluição sonora cujos causadores são pessoas que, por estarem tocando seu trabalho, se acham no direito de estabelecer regras próprias de comportamento, com desprezo pelas leis. De outro ângulo, se estas não são cumpridas porque o criminoso é pobre, caso em que, como proclamado muitas vezes por ideólogos do monopólio da sensibilidade social, o criminoso deveria ser automaticamente perdoado; ou, ao contrário, porque é rico e, em o sendo, não precisaria do sistema legal na defesa de seus legítimos interesses, admissão involuntária, parece-me, de que usar o poder econômico pessoal é valido, se o objetivo é se sobrepor aos demais cidadãos, por cima da legislação, se a lei não é cumprida, eu dizia, e aceitamos passivamente desrespeito como esse, então melhor seria voltar às cavernas, onde a vontade do mais vicioso prevalecia.

          A poluição sonora, como a morte repentina, não escolhe local para dar as caras. Ocorre nos chamados bairros populares e nos dos “endinheirados”. Os moradores da área onde moro reagiram a partir de 2012 contra uma situação como essa e vencemos a luta. Tenho notado que reagir não é regra geral. Muita gente prefere aguentar calada, sofrer noites mal dormidas, sujeitar-se a estresse prolongado, que lhe prejudica a própria saúde, do que reclamar da afronta.
          Quando, na ocasião, tomamos medidas legais contra os desmandos perturbadores, alguns conhecidos me perguntavam quem era o padrinho político do criador do incômodo. Eu dizia não saber e, mesmo, não acreditar haver um. Eu adicionava à minha resposta desejar, apenas, saber se nossas reclamações estavam respaldadas por uma fumacinha de bom direito e de provas aceitáveis numa corte de Justiça, porque, na esfera administrativa nada obtivemos de 17 órgãos públicos federais, estaduais e municipais, exceto do Iphan-MA. Parte do preço a pagar é receber, como recebi, e-mails ameaçadores, supostamente anônimos.
          Contudo, há, sim, esperança de mudança. Exemplo a animar nossas expectativas é a posição do desembargador Jorge Rachid, na apreciação da acima referida Apelação Cível. Vejam o final de seu voto: “Entendo que o fim de tais ações não deve ser necessariamente o fechamento da casa noturna, [...] mas, reduzir a níveis aceitáveis o volume das potentes aparelhagens de som, geradoras de perturbação, intranquilidade e outros prejuízos à saúde, porém, quando não se consegue esta diminuição, pode haver sim o fechamento do estabelecimento. [...] Assim, deve prevalecer no caso o interesse público, mantendo-se a sentença que determinou o fechamento do estabelecimento, razão pela qual voto pelo improvimento do apelo”.
          Esperamos possa esse entendimento firmar jurisprudência e possamos dormir sem um barulho desses.

1 de março de 2015

Nossa moral e a deles

Jornal O Estado do Maranhão

          O ex-ministro Guido Mantega e sua esposa, Eliane, foram recentemente hostilizados na lanchonete do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Algumas pessoas sugeriram ao casal tratar-se no SUS ou mudar-se para Cuba, além de gritarem impropérios aqui impublicáveis. Ao agirem dessa forma, os agressores se igualaram àquele assalariado pelo PT, que perseguia por toda parte o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, apenas porque este tomara decisões contrárias aos interesses escusos do partido no julgamento do Mensalão.
          As regras de convivência das sociedades civilizadas, ou das pretendentes a sê-lo, rejeitam atitudes como essa, que igualam os autores da agressão não apenas ao celerado petista desejoso de criar constrangimentos a Barbosa, mas os igualam, principalmente, à costumeira amoralidade petista, segundo a qual todos os meios são válidos se for para o bem do PT. Justificar a agressão a Guido é adotar o lema petista: “Nós agredimos, mas os petralhas também agridem”. É equiparar-se moralmente ao petismo, o que não é boa coisa.
          Querem ver uma coisa? Lula, depois de iniciar, em seu governo, a destruição da Petrobrás, entregando-a a uma quadrilha de companheiros, achou de fazer há poucos dias “um ato em defesa” dela, cinicamente, após a descoberta da ladroagem na empresa. Macaqueando o comportamento do regime venezuelano, levou ao tal encontro – feito não na praça, onde o povo poderia participar e vocalizar sua insatisfação com o roubo como método de se manter no poder, mas, sim, no conforto de ares condicionados –, uma tropa de choque de tipo diferente daquele usado pelo governo, quando a oposição consegue instalar CPIs e o governo tem interesse em nada apurar-se. Esta é a tropa de choque da imoralidade. Lula levou uma tropa de choque físico, como as SS de Hitler, composta de gente jovem, forte e truculenta, que partiu contra adversários que protestavam contra o desmantelo da Petrobrás. O fim é “mostrar a esses direitistas quem manda nesse país”. Tanto é assim, que Lula disse: “[...] mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stedile colocar o exército dele nas ruas”.
          O que ele chama de exército é um bando de invasores sem respeito algum às leis, mas com muito ódio à democracia, acostumados a sugar cada pingo do leite que jorra das tetas estatais. E o caudilho referido pelo Apedeuta é Pedro Stédile, trotskista obsoleto, porém perigoso, capo do MST. Ele invade propriedades produtiva, destrói laboratórios de pesquisa e disse que suas tropas estão prontas a defender Dilma, no caso de impedimento da presidente, como se impedir presidentes não fosse mecanismo democrático previsto na constituição do Brasil e, por sinal, já aplicado contra Collor, quando o PT era o mais entusiasmado defensor de sua aplicação. Virou golpe agora?
          Comportamento dessa natureza não haverá nas manifestações de 15 de março a favor do impeachment de Dilma Roussef. Os cidadãos de bem, os inconformados em carregar nas costas uma das cargas tributárias mais altas do mundo, somente para ver seu dinheiro escorrer pelo ralo da corrupção, irão às ruas pacificamente. Não se deixarão intimidar pela violência dos tontons macoutes de Lula, como não cairão na tentação, eles mesmos, de lançar mão (ou pé) da mesma violência dos lulistas, a não ser com o fim de defender-se. Deixemos conduta como essa com o petismo.
          E já que falei de trotskismo me vem à mente o livro “Moral e Revolução”, de Trotsky, que contém um texto chamado “Nossa Moral e a Deles”, em que ele justifica os crimes das vanguardas revolucionárias porque elas seriam a encarnação do futuro risonho da classe trabalhadora. Coincidência com o pensamento petista não é mera coincidência.
          Vamos inverter os termos da proposição trotskista. Nossa moral – a moral daqueles que não justificam a violência, o assassinato de prefeitos, o roubo, a violência, a perseguição aos adversários, os petrolões – é diferente da deles, mestres na arte de justificar toda espécie de crimes. Temos orgulho de que seja assim.
          E vamos à manifestação pelo impeachment.

17 de fevereiro de 2015

Os progressistas do xixi

Blogs e Colunistas
17/02/2015
 às 17:39

Os progressistas do xixi, do cocô, do vômito e das drogas adoram a cidade inventada por Fernando Haddad, este flagelo que se abateu sobre São Paulo. Em 2016, ele concorre à reeleição, tendo Chalita como vice. Quer dizer: pode piorar!

O prefeito Fernando Haddad concedeu na semana passada uma entrevista ao “Jornal da Manhã”, da Jovem Pan. Tomou uma surra de Marco Antonio Villa. Não conseguiu responder a uma só questão de modo objetivo. Jogava todos os embates para o terreno ideológico: ele seria o “progressista”, e Villa, o “reacionário”; ele seria “o bem”, e o interlocutor, “o mal”: uma trapaça tipicamente petista. Mas o prefeito dispõe de algo que falta a seu interlocutor: uma equipe de comunicação organizada para distorcer a verdade e puxa-sacos financiados, encarregados de repetir uma mentira para ver se ela passa por verdade. Espalharam a versão, falsa como a cidade que Haddad anuncia em seu discurso, de que o prefeito foi o grande vencedor de um confronto que não existiu. Como se sabe, o político é ele — logo, quer é a versão; ao outro, só interessavam os fatos, que o prefeito fez questão de ignorar. E é de fatos que trato aqui.
Na madrugada desta terça, a Polícia Militar teve de recorrer a bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo para dispersar ditos foliões que se reuniam na Vila Madalena. Foi Haddad quem transformou o bairro num mijódromo a céu aberto, num vomitódromo a céu aberto, num cagódromo a céu aberto, num motel a céu aberto, numa área livre — mais uma! — para o consumo de todas as drogas ilícitas, vendidas abertamente e aos brados.
Os moradores do bairro que se danem. Os pagadores de IPTU que se danem. Os cidadãos que se danem. As maiorias que se danem. Afinal, como Haddad fez questão de deixar claro a Villa, ele é um homem “moderno”, e quem se importa com direitos individuais, com Constituição, com Código Penal, com o mínimo necessário de ordem para manter a civilidade é só um reacionário.
No dia 9, relatei no programa “Os Pingos nos Is” (link aqui), na Jovem Pan, o que eu havia constatado numa visita que fiz a amigos na Vila Madalena. Reproduzo um trecho da minha fala:
“Em frente à casa desse meu amigo, havia fezes, urina, vômito, tocos de cigarro de maconha, latinhas queimadas por uso de crack… Ninguém gosta daquela festa à porta da sua casa. E aí é que começa a civilização. Não existe civilização sem reconhecer a existência do outro. Se você não quer ninguém fazendo xixi na porta de sua casa, não faça xixi na porta da casa alheia. Se você não quer ninguém vomitando na porta de sua casa, não vomite na porta da casa alheia. Se o poder público promove uma coisa dessas, como o sr. Haddad está promovendo, para dar uma de moderninho, é preciso cobrar dele a responsabilidade. Aliás, as pessoas já estão cobrando: nota dele [no Datafolha]: 4,2%; rejeição: 44%. O problema é o cara abraçar uma pauta sem olhar a cidade real”.
Pois é…
No dia 2 de julho do ano passado, durante a Copa do Mundo, escrevi neste blogum post cujo título era este: “A Vila Madalena se transformou na Cracolândia dos descolados”.
Vila Madalena 1
Lia-se lá:
Na Cracolândia, não valem as leis do Código Penal. Na Vila Madalena, também não.
Na Cracolândia, não vale a Lei Antidrogas. Na Vila Madalena, também não.
Na Cracolândia, o Artigo 5º da Constituição, que assegura direitos fundamentais — entre eles, o de ir e vir — não tem vigência. Na Vila Madalena, também não.
Na Cracolândia, os moradores reais da região não têm como reivindicar seus direitos. Na Vila Madalena, também não.
Na Cracolândia, tudo é permitido, menos cumprir a lei. Na Vila Madalena, também.
Na Cracolândia, os proprietários viram o seu patrimônio virar pó; na Vila Madalena, também.
Na Cracolândia, a via pública serve de banheiro ou de motel. Na Vila Madalena, também.
Então qual é a diferença entre a Cracolândia e a Vila Madalena: o preço que se paga para frequentar uma e outra; o estrato social de seus frequentadores; os produtos que se vendem nas ruas.
(…)
No dia 10 de julho, voltei ao tema:
Vilma Madalena 2
Muito bem! Na madrugada desta terça, quando a brigada da limpeza chegava para maquiar o desastre — sim, maquiar, porque o grosso da sujeira fica lá; é impossível removê-la rapidamente —, foi recebida com hostilidade por vagabundos disfarçados de foliões. A Polícia Militar foi atacada com garrafas e teve de revidar. Pessoas se feriram, inclusive um policial.
A culpa é de Fernando Haddad, é claro! Angelo Filardo, subprefeito de Pinheiros, admitiu que a coisa saiu do controle — ah, não me digam! E afirma: “O bairro não comporta esse tamanho de evento. Precisamos, a médio prazo, desmontar essa bomba”. A médio prazo???
A imprensa é condescendente com a desordem. Na Folha, leio o seguinte título:“Popularização da Vila Madalena gera rixa entre moradores e antigos foliões”. Como??? Popularização? Quer dizer que “povo” é aquilo que faz xixi, vomita e caga na rua? “Povo” é aquilo que não respeita o pactuado? Que não segue as regras mínimas da civilização? Leio na reportagem: “Nesta segunda-feira (16), seis universitários saíram de São Bernardo do Campo, na Grande SP, levando um megacooler com 600 cervejas e uma caixa de som potente. (…) um casal que mora a uma quadra dali passa. O homem aponta para a caixa de som. ‘Você não mora aqui, mora?’, pergunta a um dos estudantes. ‘Pois é, tem gente que mora, e esse barulho incomoda. Vocês podiam ir para outro lugar.’”
E segue a reportagem:
“Os meninos abaixam o volume, e o casal vai embora. Minutos depois, o som volta a tocar no volume inicial.”
Como? “Meninos”??? Universitários saídos de São Bernardo com um megacooler com 600 cervejas??? Meninos??? Cá para mim, eu reservaria a palavra “meninos” para, sei lá, “Os Meninos Cantores de Viena”.
Na reportagem da Folha, aliás, um testemunho resume o tamanho do problema. Diz uma tal Bárbara que a turma vai pra lá porque é onde “tem mais muvuca, além de bastante polícia”Vale dizer: o poder público foi sequestrado e posto a serviço de quem transgride a lei. Se a Polícia Militar cumpre a sua função, aparece no noticiário como aquela que espanca os “Meninos Cantores de Viena”.
Por que o Ministério Público não fez nada até agora? Não sei! Falta de vergonha? Falta de espírito público? Falta de isenção? Sugiro aos moradores da Vila Madalena que consultem seus advogados e acionem a Prefeitura. O poder público não tem o direito de tirar o seu sossego, de cassar suas prerrogativas, de promover a depredação e a desvalorização do seu patrimônio, de incentivar o desrespeito ao Código Penal, de rasgar a Constituição.
Eis aí a cidade administrada pelo “moderno” Fernando Haddad. Segundo ele, quem não gosta de sua gestão são os reacionários. Os progressistas do xixi, do vômito, das fezes e das drogas adoram a sua obra.
Em 2016, Haddad concorre à reeleição — provavelmente com Gabriel Chalita como vice. Caso reeleito, em 2018, haverá folião fazendo cocô na sua sala, leitor. E você fará o quê? Sei lá… Pode abrir um dos livros de autoajuda de Chalita. Afinal, você tem o direito de fazer cocô na própria sala.
Por Reinaldo Azevedo

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