2 de fevereiro de 2014

Rolezinho, a revolução?



Jornal O Estado do Maranhão

          Não sou estranho a shoppings da periferia de São Paulo, pois já estive no Aricanduva, conhecido como o maior da América Latina, inaugurado em 1991. Suas instalações não ostentam luxo, mas são de boa qualidade e seus frequentadores vêm de uma classe média que desfruta da segurança proporcionada por locais como esse bem como de espaço de estacionamento pois é em boa parte proprietária de automóvel. É um em meio a dezenas de templos do consumo da periferia.
          Entre seus jovens frequentadores, há os famosinhos, adolescentes desconhecidos fora de seus bairros, onde são muito populares. Lembram-se da novela da Globo, “Sangue Bom”, com seu famosinho da Casa Verde? É a mesma coisa. A fama deles vem da postagem na internet de originalidades como a de aspirar uma camisinha pelo nariz e retirá-la pela boca. Um deles tem treze mil amigos no facebook, conforme reportagem da Veja.
          Quando chegam aos shoppings, em encontros marcados pela internet, é grande o alvoroço. As fãs querem falar com eles, pedem autógrafos, dão gritinhos e pulinhos. Como disse um deles, morador do Capão Redondo, na Zona Sul: “Rolezinho é para ver os parça (parceiros), curtir, comer lanche e beijar na boca”.
          Eles vão lá consumir, como qualquer ser desprezível iludido pelo capitalismo insaciável por lucros. E tome roupas de marca, camisetas Abercrombie & Fitch, bonés John John e tênis Puma. E os pontos chiques da cidade? Evandro de Almeida, 20 anos, um frequentador famosinho do Shopping Metrô Itaquera e o do Tatuapé, responde: “Por que eu iria ficar duas horas dentro de um ônibus para fazer compras num lugar em que tudo é mais caro e ninguém me conhece?” Não se sabe por que, aparentemente do nada, eles resolveram promover correrias, gritando e cantando temas do funk. O negócio virou um grande tumulto, uma baderna.
          Imagine-se, leitor, com sua família numa tarde de sábado a passeio num shopping de São Luís. De repente, duas a três mil pessoas começam a dar gritos, correr e às vezes furtar alguma coisa. Você daria de ombros ou ficaria preocupado com sua segurança e de todo mundo, inclusive dos rolezeiros, e pediria para alguém chamar a polícia? Se você se preocupar, saiba que você é preconceituoso e discriminador de pessoas com base em... qualquer coisa. É a luta de classes e a guerra racial induzidas pelo PT, presentes em toda parte a um simples olhar, este, a partir de agora, considerado desrespeito aos “menos favorecidos”. O leitor reconhece nesses rapazes e moças hordas de revoltosos a ponto de derrubar o “sistema explorador”, conscientes de seu papel de revolucionários?
          Mas, claro, ninguém precisa concordar comigo quando digo que a diversão dos jovens, inicialmente brincadeira inconsequente, virou baderna. Qual a opinião do cidadão paulistano sobre os rolezinhos? O Datafolha perguntou.
          Entre os paulistanos, 82% são contra os rolezinhos. Entre as pessoas de 16 a 24 anos, os mais jovens, portanto, 70% são contra e entre os da faixa etária de 25 a 34 anos, 85%, eu disse 85%, também não aprovam. Sobre os objetivos dos rolezinhos, 77% acham que é só provocar tumultos, 73% são a favor de chamar a polícia e 72% dizem que os shoppings não agem com preconceito contra negros.
          Quando se olham os números por grau de escolaridade, o quadro é este: 83% das pessoas portadoras de nível fundamental, os menos instruídos, não gostam dos rolezinhos; os de nível universitário desgostam menos, mas ainda assim chegam a quase 80% (79%). Entre os com renda de até 2 salários mínimos, os mais pobres, robustos 80% são contra; entre os de renda mais elevada, com mais de 10 salários mínimos, 71%.
          Destes últimos, 16% aprovam (13% são indiferentes ou não sabem). Eles são como os esquerdista caviar do Leblon e da Esplanada dos Ministério: amam a revolução, mas só quando estão tomando seu chopinho nos bares da moda ou jantando nos restaurantes de luxo. Ninguém deve se espantar se eles, sem nenhum preconceito contra pobres e negros, disserem que o povo não reconhece a própria opressão.
          O certo é isto: os supostos discriminados não se olham como tal.

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