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Mostrando postagens de setembro, 2003

A escola não entrou

Jornal O Estado do Maranhão Meu fim-de-semana passado foi culturalmente popular, pois passei boa parte do domingo ouvindo velhos boleros, da época em que todo mundo os ouvia, importados de Cuba, junto com seus bongôs e congas, embora nascidos na Espanha. Nesse tempo, ninguém lhes lançava “acusação” de ser estrangeiro e, portanto, indigno de boa recepção por estas bandas. Ouvi os conhecidos Perfume de Gardênia, Besame Mucho, Contigo em la Distancia, Vereda Tropical e muito mais. Só não ouvi Tristezas, considerado o primeiro bolero, composto pelo mulato cubano Pepe Sánchez, por volta de 1883. Sua letra diz amarguradamente : “'Tristezas me dan tus quejas mujer/ profundo dolor que dudes de mi/ no hay prueba de amor que deje entrever/ cuanto sufro y padezco por ti”. Depois do bolero, passei a ouvir seus parentes próximos. Soaram, assim, o mambo e o cha-cha-cha. Mais adiante, a lambada, o reggae, o samba, a música sertaneja, o pagode e qualquer outro ritmo popular que se possa imaginar.

Boletins

Jornal O Estado do Maranhão Um dia desses meti-me a desencavar papéis antigos de dentro de pastas antigas. A cor amarelada delas, junto com o acúmulo de poeira que nelas se viam e sentiam, revelaram a marca da passagem de pelo menos uns quarenta anos. Aí, dei com boletins da época em que eu cursava os antigos ginásio e científico no Colégio Maranhense, dos Irmãos Maristas. Pus-me, então, a pensar nessas intromissões repentinas do passado no nosso dia-a-dia como a fonte da incômoda sensação de que o tempo passou apressadamente por nós e não fomos capazes de realizar muitos de nossos projetos de vida. Não sei se atualmente ainda se usam esses livrinhos nas escolas. Era neles que o irmão titular, como era chamado o responsável por cada turma, registrava não só as notas dos alunos, isto é, os julgamentos objetivos feitos com a utilização de rigorosas provas mensais, como também as avaliações subjetivas, expressas por uma outra nota, dada à chamada “aplicação”. Eu sempre achei curioso esse

Angústias de vampiros

Jornal O Estado do Maranhão   Há uma coisa que não surpreende mais ninguém no poeta Luís Augusto Cassas. (Uma vez que deram de chamar poetisa de poeta, bem se poderia chamar o poeta de poeto). São as constantes boas surpresas que seus livros nos fazem. Em cada um, como no último, O vampiro da Praia Grande , seu talento originalíssimo nos oferece algo inesperado, com uma poesia que, sendo universal em sua essência, como toda boa poesia, já o é também no alcance de leitores em todo o Brasil, com sua força indiscutível e o reconhecimento da melhor crítica do país. Esse permanente surpreender me faz lembrar de João Cabral de Melo Neto: “[...] se pode aprender a escrever,/ mas não a escrever certo livro./ Escrever jamais é sabido;/ o que se escreve tem caminhos:/ escrever é sempre estrear-se/ e já não serve o antigo ancinho./Escrever é sempre o inocente/ escrever do primeiro livro./ Quem pode usar da experiência/ numa recaída de tifo?”. É isso. Cada livro é sempre uma estréia diante da qua