21 de outubro de 2007

Em Revista

Jornal O Estado do Maranhão
Acaba de vir a público compilação de artigos publicados entre 1916 e 1920 na Revista Maranhense: Artes, Ciências e Letras. A publicação de agora, da Editora Uema, da Universidade Estadual do Maranhão, tem como organizadores os professores Antonio José Silva Oliveira, Ilma Vieira dos Nascimento, José Augusto Silva Oliveira e Maria Eliana Alves Lima e, na orelha, conta com esclarecedor texto do nosso confrade da Academia Maranhense de Letras, Marialva Mont’Alverne Frota, autor, entre outras obras, de Sousândrade: o último périplo. Os textos de 1887, primeira fase da Revista, que teve três números, não foram localizados ainda, apesar dos esforços dos pesquisadores. Os divulgados agora são da segunda fase.
Em 1916, vivíamos no Brasil experiência política de criação recente, pois tinha então apenas 27 anos a República brasileira. Esta nasceu sob influência do Positivismo, doutrina de cunho sociológico, com sua visão de estágios evolutivos da humanidade (teológico, metafísico e positivo), que, por sua vez, era parte do cientificismo daqueles tempos, percepção sobre a realidade social, ligada à ascensão da civilização industrial, alicerçada na convicção de que os problemas enfrentados pelas sociedades humanas poderiam sempre ser resolvidos com o auxílio das ciências da natureza ou das sociais.
No Maranhão, em luta com acentuado declínio econômico desde o século anterior e a despeito do ambiente nacional de entusiasmo pela ciência e pela necessidade de sua divulgação, predominavam as manifestações culturais literárias, caracterizadas por um saudosismo romântico a respeito das glórias do passado, ao tempo em que aquilo que se convencionou chamar de pré-modernismo já anunciava o modernismo brasileiro, que, como reação sistemática às formas de arte já superadas nos centros culturais do sul do país, aqui chegou só no fim da década de 40, após a volta, de Portugal, de Bandeira Tribuzi e do surgimento de uma nova e talentosa geração que divulgou entre nós o modernismo nacional, já em sua segunda geração.
A Revista Maranhense: Artes, Ciências e Letras, apesar do nome, tinha sua produção de artigos, embora diversificada, quase totalmente voltada para Artes e Letras, (80% de seus títulos eram de gêneros literários), ficando os de caráter científico em segundo plano do ponto de vista numérico, sendo evidente, no entanto, a importância atribuída por seus colaboradores à educação do povo, e não apenas das elites. Isso não significa dizer que assuntos científicos, especialmente os relacionados ao imperativo de seu ensino, não fossem tratados naqueles 80%. Não é demais enfatizar a prioridade da Revista à educação da sociedade, àquela altura com percentagem altíssima de analfabetos entre seus membros. Ou seja, havia um discurso consistente sobre a relevância de se ter formação científica moderna, mas poucos artigos científicos de fato, o que não é de causar surpresa pois não se dispunha de instituições de pesquisa naquele momento.
Um desses textos, de José Augusto Corrêa, saiu em fevereiro de 1917, propunha acharem-se quantias proporcionais tal que a soma dos extremos das proporções fosse 9, a dos meios, 6, e a soma dos quadrados dos quatro termos, 85. De resolução extremamente simples, mesmo na época, indica o nível dos artigos da Revista classificados como científicos.
Depurada de alguns defeitos editoriais, o que poderá ser facilmente feito em segunda edição, a publicação cumprirá melhor seu propósito de colocar ao alcance do público material importante para a compreensão de alguns aspectos de nossa vida cultural no início do século XX, período importante para o estabelecimento de uma reflexão informada sobre algumas características da sociedade maranhense hoje.
Está de parabéns a Universidade Estadual.

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