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Mostrando postagens de agosto, 2001

A avó

Jornal O Estado do Maranhão O menino gostava de ouvir as histórias da avó. Ela chegava às sete horas da noite, pequenina, ligeira, decidida como em tudo que fazia. Sentava-se em uma cadeira de balanço de madeira e lona no terraço do bangalô estilo anos 50, para conversar com a filha e encantar os netos. Abençoava uma a um antes de pegar, para abanar-se, o leque suavemente perfumado (cheiro de missa, de igreja?). Se não o trazia, usava o abano de palha de atiçar os fogareiros. Não era raro ela fumar um cigarro. Ele achava esquisito. Fumar não era coisa de homem? Trazia fragmentos do dia e da vida trivial só na aparência. A feira pela manhã, o emprego dos filhos, as dificuldades da vida, os vizinhos abelhudos, as zangas com a nora, os comentários da rua estreita e pequena, os bentivis e as andorinhas no beiral da porta-e-janela no centro da cidade. Nessa casa, uma telha deslocada deixava o sol marcar as horas com um raio oblíquo, formando um feixe de luz de partículas de poeira em suspen

A cidade, O homem

Jornal O Estado do Maranhão Os maranhenses orgulham-se do centro histórico de São Luís. Mas não foi sempre assim. Até1979, a situação era triste e dolorosa. Causava vergonha o abandono de seus prédios e ruas, fantasmas de pedra e cal. Eles sequer podiam perambular pela cidade em busca de redenção. Se tinham cometido pecados, já os haviam purgado no longo desamparo. A partir daquele ano, boas consciências desabrocharam. Sucessivos governos estaduais começaram a trabalhar pela preservação. Mas, nenhum fez tanto quanto o atual. Além de estar cumprindo a maior das etapas de investimentos no centro histórico, a governadora Roseana Sarney tomou a iniciativa que resultou na designação de São Luís, pela Unesco, como Patrimônio da Humanidade. Enquanto tratava de preservar, seu governo investia na infraestrutura de turismo. Os visitantes começaram a chegar em números crescentes. Não para contemplar ruínas e ouvir lamentações, mas para testemunhar a permanência de nossa história, da qual é bela a

Economistas, 50 anos de profissão

Jornal O Estado do Maranhão Este ano, a semana do economista, a ser comemorada de 13 a 17 deste mês, será marcada, no Maranhão, pelos trinta e cinco anos de implantação do curso de economia na antiga Faculdade de Economia do Maranhão. No resto do Brasil, a comemoração será pela passagem dos cinqüenta anos de regulamentação da profissão. Aqui em São Luís, haverá, organizada pelo Conselho Regional de Economia, uma série de palestras diárias, às 19 horas, no auditório da Uniceuma. Economistas maranhenses e de outros Estados se reunirão para a discussão de temas como ética profissional, situação do setor externo da economia brasileira, conjuntura econômica e social do nosso Estado e origens da crise de energia elétrica no Brasil. Não se pense, porém, que a profissão tem apenas esse meio século de existência. Ela é antiga de mais de duzentos anos. Firmou-se, com a obra de Adam Smith, no século XVIII, em paralelo à consolidação da moderna ciência econômica, chamada por Carlyle de sombria. De

Um livro de Lucy Teixeira

Jornal O Estado do Maranhão Eu vi Lucy Teixeira pela primeira vez em 1998 no lançamento da segunda edição de O Maranhão: subsídios históricos e corográficos , de Fran Paxeco. Jomar Moraes, presidente da Academia Maranhense de Letras, e eu vínhamos saindo, ao fim da solenidade, do auditório da Associação Comercial do Maranhão, no prédio do antigo Hotel Central. Aproximou-se uma figura de mulher pequenina, ágil, de olhos vivos. Jomar fez as apresentações. Ela falou sobre um livro de contos que planejava publicar. Acabei fazendo a editoração eletrônica do volume, o excelente No tempo dos alamares & outros sortilégios , publicado no mesmo ano. Mas, claro, eu já a conhecia anteriormente, por sua obra e por referências de Bandeira Tribuzi, com quem trabalhei durante alguns anos no Banco de Desenvolvimento do Maranhão. Sabia, assim, da força e originalidade de sua arte e de sua participação destacada em movimentos culturais aqui e fora do Maranhão. Em Belo Horizonte aonde fora estudar Dir