12 de agosto de 2001

Economistas, 50 anos de profissão

Jornal O Estado do Maranhão
Este ano, a semana do economista, a ser comemorada de 13 a 17 deste mês, será marcada, no Maranhão, pelos trinta e cinco anos de implantação do curso de economia na antiga Faculdade de Economia do Maranhão. No resto do Brasil, a comemoração será pela passagem dos cinqüenta anos de regulamentação da profissão. Aqui em São Luís, haverá, organizada pelo Conselho Regional de Economia, uma série de palestras diárias, às 19 horas, no auditório da Uniceuma. Economistas maranhenses e de outros Estados se reunirão para a discussão de temas como ética profissional, situação do setor externo da economia brasileira, conjuntura econômica e social do nosso Estado e origens da crise de energia elétrica no Brasil.
Não se pense, porém, que a profissão tem apenas esse meio século de existência. Ela é antiga de mais de duzentos anos. Firmou-se, com a obra de Adam Smith, no século XVIII, em paralelo à consolidação da moderna ciência econômica, chamada por Carlyle de sombria. Desde então, o estudo de escolhas e suas conseqüências sempre foi o dilema fundamental do economista. Talvez por isso, por mostrarem os resultados inevitáveis da adoção de políticas econômicas alternativas sujeitas sempre à escassez de recursos reais, eles sejam tão rejeitados pelos políticos.
 Estes costumam prometer, em época de eleições, mais saúde, segurança e educação, estradas asfaltadas, menos impostos, salários mais elevados, incentivos fiscais, miraculosos programas sociais, tudo simultaneamente, para implementação imediata, mas sem fonte visível de financiamento para as novas despesas. Dito de outra forma, oferecem o milagre da multiplicação das verbas.
Aí, os economistas aparecem para estragar a festa e advertir a sociedade, como são moralmente obrigados a fazê-lo, acerca das conseqüências desastrosas dessas promessas irresponsáveis, mas – ou por isso mesmo – atraentes. Eles são apenas os mensageiros, mas tornam-se os culpados das más notícias. No entanto, é nos momentos de crise que todos recorrem a eles em busca de orientação, a despeito, algumas vezes, dos insucessos de suas receitas, por conta, principalmente, da dificuldade de se levar em conta adequadamente, na teoria, as mudanças políticas e institucionais que afetam os resultados das políticas econômicas propostas.
No Brasil, a consolidação da economia como disciplina científica merecedora de ser ensinada em cursos universitários estende-se, inicialmente, até a primeira metade dos anos sessenta. Seus praticantes eram, em geral, engenheiros e advogados autodidatas, na maioria das vezes ligados a organismos governamentais, que discutiam sobre o desenvolvimentismo e publicavam ensaios sobre o assunto. Eram pessoas de formação prática que não dependiam do ensino de má qualidade das faculdades da época.
A fase seguinte viu o aparecimento de reformas curriculares e a renovação do quadro de professores com a implantação de programas de pós-graduação e o envio de estudantes para doutorados no exterior. A formação desses profissionais passou, portanto, a ser feita na Universidade e não mais nos órgãos do governo. Isso tudo tornou o ensino de economia mais profissionalizante e ajustou a formação do economista às necessidades do mercado, sem perda, porém, da característica inicial de ligação da ciência econômica com assuntos políticos e ideológicos.
A regulamentação da profissão foi feita em 1951, através da lei 1.411, de 13 de agosto. Mas, independentemente dos aspectos legais do exercício da profissão, os economistas têm dado uma contribuição importante à sociedade, que não se restringe ao campo econômico. Raramente, têm adotado uma atitude de distanciamento do mundo real. Ao contrário, tendo a política como um forte elo com o cotidiano das pessoas, a influência deles tem sido tão profunda na sociedade que até os homens ditos práticos, tão orgulhosos de seu desprezo pelo conhecimento teórico, estão sob o jugo de idéias de economistas mortos, como bem disse Keynes.

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