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Previsões

Jornal O Estado do Maranhão Fim de ano é época de fazer previsões. A temporada, curta e intensa, começa logo depois do Natal e vai até os primeiros dias do Ano Novo. É um bocado de gente tentando adivinhar os acontecimentos do ano seguinte, com o ar mais sério deste mundo, e do outro, e aquela segurança condescendente de quem sabe o que está dizendo. O mundo artístico vai ser abalado pela morte de um astro popular, uma grande transação no futebol – a venda de um jogador brasileiro no mercado europeu – vai agitar o meio esportivo mundial, o Brasil enfrentará dificuldades econômicas, o conflito no Oriente Médio ainda não terá solução, haverá terremotos e enchentes pelo mundo, os argentinos continuarão pensando que são europeus, e por aí vai. Coisas quase impossíveis de serem previstas. Trabalho de especialistas que, a troco, apenas, da satisfação de fazer o bem à humanidade, prevenindo possíveis tragédias, oferecem aos deficientes de dons adivinhatórios, como nós, a chance de acautelare

Noite amiga

Jornal O Estado do Maranhão É de Machado de Assis o famoso verso “mudaria o Natal ou mudei eu?”. É parte do “Soneto de Natal”, que fala de um homem que “naquela noite amiga” relembra seus dias de garoto. Quer, melancólico, reviver com versos as impressões de sua infância feliz. Mas, frente à folha branca, que hoje seria a tela do monitor de vídeo do computador, a inspiração se ausenta, “frouxa e manca”. Só lhe ocorre “o pequeno verso”, que se tornou grande com o correr dos anos. Que a expressão tenham permanecido, a ponto de entrar para o patrimônio particular de nossa bela língua, como um baú de onde todos podemos tirar um quinhão de filosofia popular e de senso comum, é prova da força extraordinária do fundador da Academia Brasileira de Letras. O soneto começa dando a impressão de desejar falar exclusivamente sobre o dilema do homem comum, dilacerado entre o desejo de expressar sentimentos e a incapacidade de fazê-lo. Exatamente como Pestana, do conto “Um Homem Célebre”, do próprio M

Cantar

Jornal O Estado do Maranhão A próxima terça-feira, dia 18 deste mês, será o dia do Coral João Mohana da Auditoria Geral do Estado – AGE fazer sua primeira apresentação, no centro administrativo do Estado, às 17:30 h. O grupo surgiu de uma iniciativa dos funcionários, por ocasião da implantação do Programa de Qualidade Total no órgão. A direção da casa acredita na importância dessa atividade para a criação de um clima de harmonia e entendimento entre os funcionários e, como conseqüência, para a melhoria dos serviços prestados à sociedade. Por isso, aceitou a sugestão e criou o coral, com o importante apoio da Fundação Estadual da Cultura, através de seu presidente, Dr. Bulcão. Alguém poderia supor que pessoas que trabalham com balanços, balancetes, orçamentos, relatórios, informática, cálculos financeiros, como é o caso na AGE, não poderiam interessar-se pelo canto coral, visto como atividade incompatível com as outras. A verdade, no entanto, é outra. Apesar de terem objetos diferentes,

A tia

Jornal O Estado do Maranhão Sou de uma geração criada em famílias grandes. Grandes não apenas porque os casais tinham muito mais filhos do que têm hoje, mas, também, pela convivência das gerações. Tinha-se contato freqüente, além dos irmãos e dos pais, com tios, primos e avós. O estilo de vida era outro e as exigências de sobrevivência econômica menores. Havia sobra de tempo para uso em formas de socialização hoje em desuso. Sem a televisão, computadores e jogos eletrônicos, as crianças tinham a oportunidade de estar mais vezes com as outras de sua idade. Os adultos podiam visitar os parentes e amigos à noite ou em fins de semana, sem nenhum sentimento de culpa pela conversa jogada fora. Os aniversários eram grandes e alegres reuniões familiares nas quais o espírito de camaradagem espontânea estava sempre presente. Ou dizer isso, agora, será mera idealização? Fico sem saber ao certo. Em famílias grandes, os conflitos são inevitáveis. Entre as minhas tias, uma participou mais de perto d

O leão e cabul

Jornal O Estado do Maranhão O leão de que falo não é nenhum valente guerreiro tribal afegão, possível herói da defesa de Cabul, na batalha recente que, afinal, não houve, pela sua posse. É o rei da selva mesmo, de nome Marjan, do zoológico da cidade. Seguindo sua natural propensão para devorar seres humanos insensatos o suficiente para aproximaram-se demais dele, especialmente quando o irrecusável apelo da fome se apresenta, abocanhou um combatente. O super-homem havia entrado na jaula para demonstrar valentia. O irmão do imprudente, num acesso de fúria santa que seria aplicada com melhores resultados nos campos de batalha, vingou-se jogando uma granada no animal, arrancando-lhe um olho e deformando-lhe o focinho. Pobre leão! Pôde apenas conservar sua vasta juba, restos inúteis de sua majestade espezinhada. Melhor sorte teve outro rei, o do Afeganistão, Mohammed Zaher Sha. Retirado, em 1973, de posto vitalício, onde pretendia ficar por toda sua eternidade terrena, foi, deposto, para a

Cimitarra

Jornal O Estado do Maranhão Tomo por empréstimo o título do novo livro de Laura Amélia Damous, Cimitarra , para dar notícia de seu lançamento, amanhã, às 19 horas, no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, na Praia Grande. Já quase tardava a nova obra. A última da autora foi dada à luz há oito anos. Somente o saber que essa poetisa sem par na cultura maranhense dá prioridade à qualidade e não, apenas, à quantidade da sua produção poética, tornou possível esperar esses anos todos, ainda que com mal controlada ansiedade e mal disfarçadas cobranças. A espera resultou ser recompensadora. Estão reunidos em Cimitarra poemas inéditos e outros recolhidos por Laura de seus livros anteriores, Brevíssima canção do amor constante , Arco do tempo e Trajes de Luzes . Como eu disse na contracapa “sua poesia é personalíssima. A concisão do verso, a surpresa dos achados poéticos, o rigor simultâneo à espontaneidade, a originalidade, a força expressiva do dizer, tudo confirma a excelente poe

Copa 2002

Jornal O Estado do Maranhão Pareceu e, de fato, foi um pouco ridículo, para uma potência do futebol como o Brasil, ter comemorado, na quarta feira passada, a classificação para a Copa do Mundo de 2002 como se tivesse vencido, por exemplo, uma Argentina, uma Itália ou uma Alemanha na partida final. Essa reação se explica pelo frustrações de uma inédita campanha de derrotas nos jogos eliminatórios, em disputa com antigos fregueses de caderno. Era inimaginável, até recentemente, irmos para um jogo com medo de perder para a Venezuela, país que tem como seus esportes mais populares o beisebol e o basquetebol, seguidos do futebol na preferência do público. No entanto, o receio esteve presente até o início do jogo. Felizmente, a lógica prevaleceu, o que nem sempre acontece no futebol. O time brasileiro venceu jogando, para valer, somente no primeiro tempo da partida. Afinal, o Brasil, em dezesseis Copas, ganhou quatro, foi vice-campeão em duas, terceiro em duas e quarto em uma, terminando, po

Um ano

Jornal O Estado do Maranhão Chego, com este, a 52 artigos dominicais aqui em O Estado do Maranhão . Escrevê-los tem sido uma experiência inestimável para mim nesses doze meses. Digo isso porque renovo semanalmente a chance de expor, com o máximo de boa fé, posso assegurar, algumas idéias e de receber a aprovação ou a desaprovação dos leitores. É claro que, em ambos os casos, o proveito maior é meu. Algumas vezes, concordando ou discordando, eles fazem-me perceber algumas nuances daquilo que tentei dizer, mas não disse com nitidez. Sou obrigado, dessa forma, a ter mais cuidado e certificar-me de que estou transmitindo exatamente o pretendido. Chego, assim, a outra vantagem desse exercício semanal. Ele me força a esclarecer melhor as idéias para mim mesmo, arrumá-las melhor, por assim dizer, para poder expô-las de forma mais clara. Ou menos obscura, pelo menos. Independentemente do mérito de minhas opiniões, tal treinamento torna possível, portanto, evitar interpretações equivocadas, mal

1954

Jornal O Estado do Maranhão A quase eleição de Marta Rocha como miss Universo, a Copa do Mundo da Suíça em que o Brasil perdeu para a Hungria, o suicídio de Getúlio Vargas e a presença de minha mãe na maternidade Benedito Leite, para ter uma menina, depois de cinco meninos em cinco anos, foram acontecimentos memoráveis de minha infância. Todos foram de 1954, quando eu tinha seis anos. Mas, por um desses saltos mortais da memória, que nos leva a reconstruir incessantemente o passado, minha visão deles mudou, até que eu pudesse vê-los todos juntos, como parte de um abrir de olhos para a vida e seus mistérios sem resposta. Mas, por muito tempo, eu os vi distantes uns dos outros, cada um com sua capacidade singular de emocionar. Na época, ou logo após, eu não poderia vê-los com o plácido olhar do adulto de hoje. Como poderia fazê-lo a criança que me contempla agora, com olhos serenos, ali do primeiro plano de uma foto antiga de casamento do tio Saul com Edilde, se mal tinha consciência de

Desenvolvimento sustentável

Jornal O Estado do Maranhão A consolidação e aceitação do conceito de desenvolvimento sustentável resultaram de discussões que, tendo início nos anos 60, tiveram dois marcos importantes, já em 1972, o estudo Limites do crescimento , do Clube de Roma, e a Conferência de Estocolmo. Ambos destacaram as ameaças à vida em nosso planeta e a impossibilidade de as gerações futuras poderem contar com uma base de recursos naturais adequada a suas necessidades, caso o estilo de desenvolvimento predador da época não mudasse. Ainda na década dos setenta, os debates enfatizaram também as relações entre estruturas concentradoras de poder e degradação ambiental. Em 1987, a Comissão das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – UNCED publicou um relatório, Nosso Futuro Comum . É desse documento a bem conhecida definição: "Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem as suas pr

Greve nas federais

Jornal O Estado do Maranhão O professor José Henrique Vilhena, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, em entrevista recente à Veja, afirma que “existe uma doença que ataca a graduação das universidades, o corporativismo”. Nasce daí um permanente estado de greve que impede a aprovação de qualquer proposta de mudança para melhorar o ensino, apesar do gasto da sociedade brasileira, de bilhões de reais por ano, com essas instituições.  Agora, 440.000 de seus alunos estão ameaçados de perder o vestibular e um semestre de estudos, com prejuízo imediato de oportunidades de trabalho, por causa de uma greve de dois meses. Os grevistas pedem um aumento de 75% e a incorporação de gratificações aos vencimentos. No caso dos professores, a Gratificação por Estímulo à Docência – GED. Sem levar em conta a curiosidade de pagar-se alguém para fazer algo para o que já é contratado, através de concurso público, pode-se ver a GED como parte de um sistema de estímulo à produtividade. Que

Um liberal

Jornal O Estado do Maranhão É do cientista político Nicola Matteucci a afirmação de que as dificuldades de uma definição consensual do que seja liberalismo são de três ordens. A primeira está na história do liberalismo, de ligação estreita com a democracia. Isso torna difícil distinguir um da outra porque é exatamente o liberalismo o critério utilizado para distinguir a democracia de cunho liberal da não-liberal. A segunda é que o liberalismo, nos diversos países, não apareceu simultaneamente. Na Inglaterra é um fenômeno do fim do século XVII. No resto da Europa, é do século XIX. Terceiro, as experiências liberais encontraram culturas e problemas políticos específicos que criaram diferentes perfis da doutrina em cada país. É por isso que ser liberal nos Estados Unidos é ser de esquerda. Aqui é ser de direita. No entanto, há algo constante nessas idéias. O liberalismo lutou sempre por instituições representativas e por ampla autonomia econômica e cultural da sociedade civil. Na ética e

Reformas

Jornal O Estado do Maranhão Do total de 420 deputados federais brasileiros, 156, equivalentes a 30% da Câmara dos Deputados, mudaram de partido durante a atual legislatura iniciada em 1999. No Senado, “apenas” 16% seguiram esse edificante exemplo. Partidos cresceram ou diminuíram, subiram ou desceram, engordaram ou emagreceram, sem dar a mínima satisfação aos eleitores ou à opinião pública e sem mudar a orientação ideológica ou os programas partidários para justificar essa movimentação toda. Houve um deputado que trocou sete vezes de partido. O ilustre representante do povo demorou longos 4 meses e 21 dias, em média, em cada um por onde passeou. Ele revelou o estranho desejo de mudar novamente, se alguém bater seu recorde, para recuperar o título de campeão. Outro, mais comedido em seu ímpeto mudancista, tendo pulado de galho modestas seis vezes, alegou que variou tanto porque, como bom democrata, não suportava por muito tempo os colegas travestidos de manda-chuvas. Revoltava-se por nã

O futuro do livro

Jornal O Estado do Maranhão Na palestra do brasilianista francês Jean Soublin, na Academia Maranhense de Letras, sobre as imagens do Brasil na França ao longo dos séculos, encontro Sálvio Dino. Somos amigos desde o começo dos anos setenta, quando ele era um deputado estadual cassado “por atividades subversivas”, mas não ainda imortal, e eu um recém-formado economista. Naquela época éramos assessores de Jayme Santana, meu ex-colega de faculdade, então Secretário da Fazenda do Governo Pedro Neiva de Santana. Sálvio pergunta à saída do auditório se conheço o famoso Jean Paul Jacob, que anda prevendo a morte do livro de papel, esse antigo e querido companheiro. Olho para os lados, certificando-me da ausência de testemunhas da minha ignorância e, meio envergonhado, confesso baixinho que não, mas que já tinha tido notícia dessa conversa em algum lugar. Talvez, em algum canto de um suplemento dominical de um jornal qualquer. Ele, que prepara um livro sobre a dinâmica da ocupação do território

Tragédias

Jornal O Estado do Maranhão Não há justificativa de espécie alguma para os atentados ao povo norte-americano, com a perda de milhares de vidas de pessoas inocentes na destruição do World Trade Center e de parte do edifício do Pentágono. Perder apenas uma vida já seria suficientemente doloroso para qualquer povo. Os americanos conheceram, de repente, o sentimento de viver sob a ameaça do terror que aflige outros povos. Como o do Iraque. Lá, crianças morrem diariamente, como resultado do bloqueio econômico americano ao país, sem contar as outras mortes resultantes das bombas dos Estados Unidos na Guerra do Golfo. Ela foi feita para defender a ditadura do Kwait, tão odiosa quanto a iraquiana. A única diferença é que uma é a favor dos Estados Unidos, a outra contra. O povo iraniano viu os Estados Unidos treinarem e armarem esse mesmo Iraque, da mesma ditadura de Sadan, para a invasão do Iran. Armado e treinado por eles foi também Osama bin Laden quando combatia as tropas russas que foram o

Atenas, mas uma vez?

Jornal O Estado do Maranhão Entre o vasto material reunido por Jean-Michel Massa no seu Dispersos de Machado de Assis , há uma crônica de 3 de abril de 1866, publicada no Diário do Rio de Janeiro . Nela, Machado faz comentários sobre o primeiro volume, de um total de cinco, da obra de Sotero dos Reis, Curso de Literatura Portuguesa e Brasileira , produto de suas atividades de professor no Maranhão. Lamenta, então, a negligência no estudo da língua portuguesa no Brasil da época para afirmar que “ [...] o autor do Curso de Literatura é uma das raras exceções, e para avaliar o cuidado e o zelo com que ele estuda a língua de Camões e de Vieira, basta ler este primeiro volume [...]”. Em uma das notas a essa crônica, Massa afirma que Machado sempre manifestou certa benevolência com relação ao chamado Grupo Maranhense. Talvez, em sua opinião, por causa da amizade de Machado com Joaquim Serra. De fato, há referências elogiosas e freqüentes do escritor carioca ao amigo maranhense e a diversos

Magia

Jornal O Estado do Maranhão O patriotismo está em baixa no Brasil, a julgar pela atitude de um brasileiro famoso mundialmente, Paulo Coelho. Ele é homem de mil talentos, entre os quais os de compositor roqueiro, com várias parcerias com Raul Seixas, e escritor com mais de 32 milhões de livros vendidos em todo o pla­neta. Possui, ainda, poderes mágicos. Gera ventos e chuvas, desengarrafa o trânsito com a força do pen­samento, torna-se invisível, prevê o desempenho de presidentes da República, adivinha o nome de namorados de ministras da Fazenda. Não se compreende, por isso, sua recusa a usar tais capacidades em benefício da pátria, justamente quando atravessamos uma séria crise de energia. É evidente que ele não iria vulgarizar sua força, usando-a por um motivo sem importância. Mas, seria fora de propósito pedirmos a utilização tão-somente de sua capacidade de fazer chover? Afinal, o país não está precisando de um bom dilúvio bíblico? A prioridade nacional não é encher os reservatórios

Doutrinas em conflito?

Jornal O Estado do Maranhão Há uma luta na cidade. Não chega a ser uma guerra, daquelas onde vale tudo, com repercussões imensas e imprevisíveis, com ódios irreconciliáveis. Mas não se trata também de um conflito corriqueiro, vulgar. Em verdade vos digo, caríssimos leitores, ser essa luta de outro tipo. Não tem nada em comum com outras, profanas, vistas diariamente nos meios de comunicação. Não provoca dores físicas. Apenas as espirituais, de difícil avaliação pelos padrões banais do cotidiano. Não fere o corpo, mas a alma. O caso apareceu na imprensa de São Luís há algumas semanas. Da leitura da notícia redigida de forma um tanto obscura, pude entender que uma igreja, ostentando em seu nome a palavra paz, entrou com um pedido de reintegração de posse de um templo no qual funciona uma outra igreja intitulada evangélica. O advogado desta disse que iria apresentar ao juiz, na audiência de justificação, um termo de concessão de direito de posse fornecido pela extinta Cohab-MA em 1994. Fez

A avó

Jornal O Estado do Maranhão O menino gostava de ouvir as histórias da avó. Ela chegava às sete horas da noite, pequenina, ligeira, decidida como em tudo que fazia. Sentava-se em uma cadeira de balanço de madeira e lona no terraço do bangalô estilo anos 50, para conversar com a filha e encantar os netos. Abençoava uma a um antes de pegar, para abanar-se, o leque suavemente perfumado (cheiro de missa, de igreja?). Se não o trazia, usava o abano de palha de atiçar os fogareiros. Não era raro ela fumar um cigarro. Ele achava esquisito. Fumar não era coisa de homem? Trazia fragmentos do dia e da vida trivial só na aparência. A feira pela manhã, o emprego dos filhos, as dificuldades da vida, os vizinhos abelhudos, as zangas com a nora, os comentários da rua estreita e pequena, os bentivis e as andorinhas no beiral da porta-e-janela no centro da cidade. Nessa casa, uma telha deslocada deixava o sol marcar as horas com um raio oblíquo, formando um feixe de luz de partículas de poeira em suspen

A cidade, O homem

Jornal O Estado do Maranhão Os maranhenses orgulham-se do centro histórico de São Luís. Mas não foi sempre assim. Até1979, a situação era triste e dolorosa. Causava vergonha o abandono de seus prédios e ruas, fantasmas de pedra e cal. Eles sequer podiam perambular pela cidade em busca de redenção. Se tinham cometido pecados, já os haviam purgado no longo desamparo. A partir daquele ano, boas consciências desabrocharam. Sucessivos governos estaduais começaram a trabalhar pela preservação. Mas, nenhum fez tanto quanto o atual. Além de estar cumprindo a maior das etapas de investimentos no centro histórico, a governadora Roseana Sarney tomou a iniciativa que resultou na designação de São Luís, pela Unesco, como Patrimônio da Humanidade. Enquanto tratava de preservar, seu governo investia na infraestrutura de turismo. Os visitantes começaram a chegar em números crescentes. Não para contemplar ruínas e ouvir lamentações, mas para testemunhar a permanência de nossa história, da qual é bela a

Economistas, 50 anos de profissão

Jornal O Estado do Maranhão Este ano, a semana do economista, a ser comemorada de 13 a 17 deste mês, será marcada, no Maranhão, pelos trinta e cinco anos de implantação do curso de economia na antiga Faculdade de Economia do Maranhão. No resto do Brasil, a comemoração será pela passagem dos cinqüenta anos de regulamentação da profissão. Aqui em São Luís, haverá, organizada pelo Conselho Regional de Economia, uma série de palestras diárias, às 19 horas, no auditório da Uniceuma. Economistas maranhenses e de outros Estados se reunirão para a discussão de temas como ética profissional, situação do setor externo da economia brasileira, conjuntura econômica e social do nosso Estado e origens da crise de energia elétrica no Brasil. Não se pense, porém, que a profissão tem apenas esse meio século de existência. Ela é antiga de mais de duzentos anos. Firmou-se, com a obra de Adam Smith, no século XVIII, em paralelo à consolidação da moderna ciência econômica, chamada por Carlyle de sombria. De