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Mostrando postagens de maio, 2005

Pirataria

Jornal O Estado do Maranhão     Mais de uma vez aqui apontei o que considero uma boa medida da educação, digamos deficiente, de nossa classe média: o tamanho das filas duplas e triplas de automóveis nas portas de escolas particulares, no horário de saída dos alunos, com os previsíveis resultados danosos sobre nossas atividades diárias e nosso direito de circular livremente nas ruas, afinal públicas e não propriedade privada. Essas pessoas, com um nível de renda relativamente alto, tiveram, supõe-se, acesso ao ensino formal. No entanto, tudo indica, a absorção de noções de civilidade porventura a eles transmitidas foi nenhuma. Tudo piorou ultimamente em vez de melhorar, já que os pais, com seus belos veículos sofisticados, símbolos de status social de tão forte contraste com a pobreza em volta, continuam se achando especiais e imunes, portanto, à aplicação da lei, num procedimento típico de sociedades marcadas por grande desigualdade entre os cidadãos. Esse problema, evidente do lado

Tudo como dantes?

Jornal O Estado do Maranhão   Para que nenhum corrupto ficasse com inveja dos semelhantes, três escândalos com agentes públicos apareceram esta semana ao mesmo tempo na imprensa. Gangues municipais, estaduais e federais fizeram, parece, um acordo pelo qual no momento em que uma turma fosse flagrada com a mão na cumbuca, as outras, a fim de demonstrar solidariedade profissional, arranjariam uma maneira de terem suas atividades também expostas ao julgamento público, mas não, se possível, ao julgamento da justiça que, lenta e burocrática, tarda e falha muitas vezes, punindo, de preferência, quando pune, pobres coitados sem dinheiro para contratar bons e, até, maus advogados. No caso da corrupção federal, é de se imaginar que é pagão, pois não tem padrinhos, o malfeitor visível, mas não o mais importante, um sujeito chamado Marinho, funcionário dos Correios, que aparece recebendo propina de três mil reais numa fita de vídeo gravada por anônimo empresário. Sendo assim, não precisará, na

Pelo Telefone

Jornal O Estado do Maranhão     Quem viveu a era da telefonia estatal e monopolista no Brasil pode avaliar, hoje, o imenso progresso obtido pelo Brasil com a privatização do setor. Para obter uma linha de telefone fixo penava-se em filas durante meses e anos e se pagavam preços tão altos que ter um dava ao seu possuidor o status de investidor e não meramente de consumidor. No modelo então vigente, o adquirente era obrigado a financiar, antes, até, de ter o serviço, o investimento a ser feito pelas estatais, recebendo delas em contrapartida ações que no mercado eram negociadas com deságio. Com a chegada do celular móvel, a situação do usuário não melhorou em nada. Ter acesso a um ficava na dependência de se conhecer a pessoa certa, no cargo certo, com a influência certa na empresa estatal, a fim de conseguir a novidade, e, mesmo assim, a espera não era pequena. Quem não conhecesse gente influente que se danasse. Afinal, aquilo era coisa exclusiva da elite. O zé-povinho que se roesse d

O Intelectual Ratzinger

Jornal O Estado do Maranhão     Da mesma forma que no mundo real, existe no virtual a boataria delirante, propagada por uma boca-a-boca eletrônico, que já tem até nome, buzz . São paranóias, teorias conspiratórias, meias verdades (que afinal, não deixam de ser mentira inteira somada a meia mentira), preconceitos e muita coisa mais, a circular velozmente na internet. Veja o caso do papa Bento XVI. Há sobre ele todo tipo de distorção. Chegaram a acusá-lo de adepto do nazismo, por ter feito parte da juventude hitlerista. Não mencionam, todavia, a obrigatoriedade de os jovens alemães servirem a essa organização nem a atitude do jovem Ratzinger, de ter desertado do exército de Hitler. Menos grosseira, mas, não menos deturpada é a tentativa de nele colocarem o selo de grande inquisidor, obscurantista inflexível, incapaz de perceber a complexidade do mundo moderno e de dialogar com visões do mundo divergentes da dele. No entanto, não é que o investigador-mor se arrisca a debates? Em janeiro

John Gisiger

Jornal O Estado do Maranhão     Um dia um norte-americano que vivera toda sua infância e adolescência no Brasil, decidiu deixar a confortável posição de arquiteto-chefe de conceituado escritório de engenharia bem como os altos salários que poderia obter em outras empresas, no Rio de Janeiro, onde morava. Não estava satisfeito com seu próprio estilo de vida. Sem dizer nada a ninguém, partiu numa longa viajem que o levaria, ele esperava, ao encontro de si mesmo e dos outros seres humanos. Vendeu em Goiânia seu automóvel e seguiu até a fronteira do Brasil com a Colômbia. Desceu depois o rio Amazonas em pequenos barcos, fascinado pela floresta tropical, e chegou a Manaus onde trabalhou por alguns meses em firma de arquitetura. Seguiu depois até Belém, lá permanecendo pouco tempo. Decidiu a vir a São Luís, chegando aqui a bordo de uma típica “canoa costeira” em 1977. Alugou o mirante do prédio construído por Lourenço Belfort em 1756 no Largo do Carmo, e pôs-se, já tomado de amores pela ci