24 de setembro de 2012

Contra os comissários da ignorância


                                            Luiz Felipe Pondé,
Folha de S. Paulo de 24/9/2012

          O que é conservadorismo? Tratar o pensamento político conservador (“liberal-conservative”) como boçalidade da classe média é filosofia de gente que tem medo de debater ideias e gosta de séquitos babões, e não de alunos.
          Proponho a leitura de “Conservative Reader” (uma antologia excelente de textos clássicos), organizada pelo filósofo Russel Kirk. Segundo Kirk, o termo começou a ser usado na França pós-revolucionária.
          Edmund Burke, autor de “Reflexões sobre a Revolução na França” (ed. UnB, esgotado), no século 18, pai da tradição conservadora, nunca usou o termo. Tampouco outros três pensadores, também ancestrais da tradição, os escoceses David Hume e Adam Smith, ambos do século 18, e o francês Alexis de Tocqueville, do século 19.
          Sobre este, vale elogiar o lançamento pela Record de sua biografia, “Alexis de Tocqueville: O Profeta da Democracia”, de Hugh Brogan.
          Ainda que correta a relação com a Revolução Francesa, a tradição “liberal-conservative” não é apenas reativa. Adam Smith, autor do colossal “Riqueza das Nações”, fundou a ideia de “free market society”, central na posição “liberal-conservative”. Não existe liberdade individual e política sem liberdade de mercado na experiência histórica material.
          A historiadora conservadora Gertrude Himmelfarb, no seu essencial “Os Caminhos para a Modernidade” (ed. É Realizações), dá outra descrição para a gênese da oposição “conservador x progressista” na modernidade.
          Enquanto os britânicos se preocupavam em pensar uma “sociologia das virtudes” e os americanos, uma “política da liberdade”, inaugurando a moderna ciência política de fato, os franceses deliravam com uma razão descolada da realidade e que pretendia “refazer” o mundo como ela achava que devia ser e, com isso, fundaram a falsa ciência política, a da esquerda. Segundo Himmelfarb, uma “ideologia da razão”.
          O pensamento conservador se caracteriza pela dúvida cética com relação às engenharias político-sociais herdeiras de Jean-Jacques Rousseau (a “ideologia da razão”).
          Marx nada mais é do que o rebento mais famoso desta herança que costuma “amar a humanidade, mas detestar seu semelhante” (Burke).
          O resultado prático desse “amor abstrato” é a maior engenharia de morte que o mundo conheceu: as revoluções marxistas que ainda são levadas a sério por nossos comissários da ignorância que discutem conservadorismo na cozinha de suas casas para sua própria torcida.
          Outro traço desta tradição é criar “teorias de gabinete” (Burke), que se caracterizam pelo seguinte: nos termos de David Hume (“Investigações sobre o Entendimento Humano e sobre os Princípios da Moral”, ed. Unesp), o racionalismo político é idêntico ao fanatismo calvinista, e nesta posição a razão política delira se fingindo de redentora do mundo. Mundo este que na realidade abomina na sua forma concreta.
          A dúvida conservadora é filha da mais pura tradição empirista britânica, ao passo que os comissários da ignorância são filhos dos delírios de Rousseau e de seus fanáticos.
          No século 20, proponho a leitura de I. Berlin e M. Oakeshott. No primeiro, “Estudos sobre a Humanidade” (Companhia das Letras), a liberdade negativa, gerada a partir do movimento autônomo das pessoas, é a única verdadeira. A outra, a liberdade positiva (abstrata), decretada por tecnocratas do governo, só destrói a liberdade concreta.
          Em Oakeshott, “Rationalism in Politics” (racionalismo na política), os conceitos de Hume de hábito e afeto voltam à tona como matrizes de política e moral, contra delírios violentos dos fanáticos da razão.
          No 21, Thomas Sowell (contra os que dizem que conservadores americanos são sempre brancos babões), “Os Intelectuais e a Sociedade” (É Realizações), uma brilhante descrição do que são os comissários da ignorância operando na vida intelectual pública.
          Conservador não é gente que quer que pobre se ferre, é gente que acha que pobre só para de se ferrar quando vive numa sociedade de mercado que gera emprego. Não existe partido “liberal-conservative” no Brasil, só esquerda fanática e corruptos de esquerda e de direita.

23 de setembro de 2012

Degradantemente



Jornal O Estado do Maranhão

          Todo mundo deve se lembrar, pois a coisa causou surpresa. Nos jardins da mansão de Paulo Maluf, com quem o PT gastou durante anos toneladas de saliva e tinta, não propriamente com o fim de elogiá-lo, mas mostrá-lo como o dragão da maldade, da desonestidade, da corrupção, da falta de escrúpulos, da cara de pau, da embromation, o representante dazelites insensíveis e exploradores dos trabalhadores, o adepto do capitalismo selvagem e voraz, nos jardins de Maluf, como eu ia dizendo – não na sede do PT ou na do partido do novo aliado –, reuniu-se este com Lula e um coadjuvante, Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo, com o fim de deixar bem claro a todos que a partir daquele dia o Partido dos Trabalhadores (representante dos explorados por seu parceiro de agora, pode-se supor da retórica petista anterior à aliança com o malufismo) e seu ex-eterno adversário passariam a seguir juntos pela vida política. E tome fotografias dos três. Era de ver as caras do trio.

          Os bônus e ônus de tal aliança estariam evidentes a todos e especialmente aos eleitores paulistanos na eleição municipal no próximo mês. Lá pelas tantas o pobre do Haddad começou a dizer que em caso de vitória de sua candidatura seu aliado não levaria nada, não teria secretarias, influência na administração municipal, etc. A levarem-se a sério suas declarações, não houve um acordo, mas a submissão do malufismo ao petismo, pois em verdadeiros acordos todos os participantes ganham (e perdem) alguma coisa. Neste esdrúxulo caso, as vantagens seriam todas apenas de um dos lados. Por definição, um não acordo.
          Pois bem, leio e ouço agora uma notícia em que a princípio me recusei a acreditar. Levei uma boa meia hora tentando convencer a mim mesmo da correção de minha leitura. Mas, o negócio era tão, como posso dizer, degradante, é, isso, degradante que eu continuei a pensar um pouco mais. Transcrevo a notícia, como dada na Folha de S. Paulo, de maneira a dar ao leitor a oportunidade de fazer seu próprio julgamento. Vejam, por favor, se eu perdi alguma coisa ou se foi Haddad quem perdeu a vergonha: “Ao tentar proibir na Justiça Eleitoral um comercial de José Serra (PSDB), a campanha de Fernando Haddad (PT) afirma ser "degradante" a associação de sua imagem à de José Dirceu e de Delúbio Soares, seus colegas de partido, e à de Paulo Maluf, que integra a sua coligação.” Eu li de novo, desta vez acreditando ter lido tudo ao contrário. Quando terminei, li mais uma vez. Quem sabe o candidato do PT não havia dito “degradante”, mas algo como “instigante”, palavra tida em alta conta pelos resenhistas de livros na grande imprensa, quando falam de livros de que gostam. Ou talvez tenha sido “elegante”, ou “retumbante” ou um mero “irrelevante”, talvez “beatificante”, “brilhante”, “chamejante”, “confortante”, qualquer coisa, menos “degradante”.
          O leitor, que é bastante esperto, já percebeu a razão de meu espanto. O sujeito, comandado por Lula, se adianta no palco, chega perto do distinto público e anuncia, sem corar e sem que lhe tremam os músculos da face: eu e este homem somos irmãos agora. Daí a algumas semanas quer proibir a propaganda eleitoral de um adversário na disputa pela prefeitura porque ele o associou exatamente a quem? Aos candidatos a prefeito de São Paulo, Celso Russomano, José Serra, Gabriel Chalita, Soninha? Não e não, a propaganda o associa, quanta surpresa, a Paulo Maluf, repito Paulo Maluf, esse mesmo com quem o candidato do PT posou numa sessão se fotos.
          Já nem quero falar da rejeição a José Dirceu e Delúbio Soares, réus de alto coturno no STF por causa do mensalão e companheiros do candidato petista desde criancinhas. Isso é assunto deles. Sabe-se, porém, que a rejeição é eleitoreira, é de brincadeira, não vale nada. Nos bastidores José Dirceu continuará sendo amado pela turma, condenado ou não no tribunal.
          Mas a história com o malufismo é diferente. Ela revela a mentalidade petista do uso instrumental de supostos aliados unicamente para seus próprios fins. É a ética companheira na prática.

A arte de nosso tempo


Ferreira Gullar – Folha de S. Paulo, 23/9/2012

           Uma leitura possível da história das artes visuais - de que resultaram as manifestações contemporâneas - identificará a invenção da fotografia como um fator decisivo desse processo.
          A crítica, de modo geral, há muito associa ao surgimento da fotografia a mudança da linguagem pictórica, de que resultou o movimento impressionista.
          É uma observação pertinente, desde que se tenha o cuidado de não simplificar as coisas, ou seja, não desconhecer a existência de outros fatores que também influíram nessa mudança. Um desses fatores foi a descoberta da cor como resultante da vibração da luz sobre a superfície das coisas.
           Noutras palavras, o surgimento do impressionismo -que constituiu uma ruptura radical com a concepção pictórica da época- estava latente na pintura de alguns artistas de então, como, por exemplo, Eugène Delacroix e Édouard Manet, que já anunciavam a superação de certos valores estéticos em vigor. Não resta dúvida, no entanto, que a invenção da fotografia, por tornar possível a fixação da imagem real com total fidelidade, impunha o abandono do propósito de conceber a pintura como imitação da realidade.
          Se tal fato não determinou, por si só, a revolução impressionista, sem dúvida alguma libertou a pintura da tendência a copiar as formas do mundo real e, assim, deixou o pintor livre para inventar o que pintava.
          Pretendo dizer com isso que, se a cópia da realidade, pela pintura, se tornara sem propósito, isso não implicaria automaticamente em pintar como o fez Monet, ao realizar a tela "Impression, Soleil Levant", que deu origem ao impressionismo. Poderia ter seguido outro rumo.
          Mas, se o que nasceu naquelas circunstâncias foi a pintura impressionista, houve razões para que isso ocorresse. E essas razões, tanto estavam implícitas na potencialidade da linguagem pictórica daquele momento, como no talento de Monet, na sua personalidade criadora. É que assim são as coisas, na vida como na arte: fruto das probabilidades que se tornam ou não necessárias.
          A verdade, porém, é que, se não houvesse surgido uma maneira de captar as imagens do real de modo fiel e mecânico, o futuro da pintura (e das artes visuais em geral) teria sido outro. A pintura, então, livre da imitação da natureza, ganha autonomia: o pintor então podia usar de seus recursos expressivos para inventar o quadro conforme o desejasse e pudesse.
          Como consequência disso, não muito depois, nasceram as vanguardas artísticas do século 20: o cubismo, o futurismo, o expressionismo, o dadaísmo, o surrealismo -todos eles descomprometidos com a imitação da realidade.
          Mas essa desvinculação com o mundo objetivo terá consequências: a liberdade sem limites levará, de uma maneira ou de outra, à desintegração da linguagem artística, particularmente a da pintura.
          Os dadaístas chegam a realizar quadros mais determinados pelo acaso do que por alguma qualquer intenção deliberada do autor. E se a arte podia ser fruto de tamanha gratuidade, não teria mais sentido pintar nem esculpir. O urinol de Marcel Duchamp é resultado disso. Por essa razão, ele afirmou: "Será arte tudo o que eu disser que é arte". Ou seja, tudo é arte. Ou seja, nada é arte.
          Por outro lado, a fotografia, que nasceu como retrato do real, foi se afastando dessa condição e, como a pintura, passou também a inventá-lo. Por outro lado, ela ganhou movimento e se transformou em cinema, que tem como principal conquista a criação de uma linguagem própria, totalmente distinta da de todas as outras artes.
          Cabe aqui uma observação: a pintura não apenas fazia o retrato das pessoas, como também mostrava cenas da vida, como as ceias, os encontros na alcova, as batalhas, os idílios etc. Quanto a isso, mais que a fotografia, o cinema criou, com sua linguagem narrativa, um mundo ficcional, que nenhuma outra arte -e tampouco a pintura- é capaz de nos oferecer.
          A meu ver, o cinema, superando o artesanato, é a grande arte tecnológica, que criou uma linguagem própria -condição essencial para que algo seja considerado arte-, geradora de um univewrso imaginário inconfundível, de possibilidades inesgotáveis, sofisticado e ao mesmo tempo popular. O cinema é, sem dúvida, a arte de nosso tempo.


22 de setembro de 2012

Os 400: ao debate


Texto publicado na revista que saiu com a edição de 8/9/2012
do jornal
O Estado do Maranhão

          Não é incomum, a respeito da fundação de São Luís, ouvirem-se perguntas, geralmente de naturais de outros Estados, sobre as marcas culturais deixada pelos franceses aqui, porque a cidade foi por eles fundada, raciocinam os curiosos. Nenhuma há, eu digo. Não são nem nunca foram surpreendentes questionamentos desse tipo, pois é lógico pensar assim, caso quem indague não saiba que foi de apenas três anos a presença deles nestas terras no século XVII, de 1612 a 1615. Afinal, não se pode exigir de não maranhenses esse conhecimento, a não ser que se trate de um especialista no estudo da história ou de pessoas bem informadas. Muitos maranhenses também se surpreendem com tão curto período!
          Houve de fato grande influência da França no Maranhão, mas apenas a partir do século XIX, como houve em todo o Brasil na literatura, nas artes plásticas, na música clássica e em várias outras áreas da cultura, porém nem de longe relacionada com a França Equinocial. A proeminência francesa, com base em sua maior força econômica em comparação com as outras potências mundiais da época, foi aos poucos declinando numa dinâmica de competição com a Inglaterra, até o surgimento de uma força econômico-cultural global inconteste, os Estados Unidos, no século XX, mas cuja ascensão se iniciou ainda no anterior e se consolidou após a Segunda Guerra Mundial.
          Pensar sobre isso por ocasião das comemorações sobre a passagem da data oficial comemorativa dos quatrocentos anos da cidade me leva a um importante tópico de estudos históricos, lamentavelmente não discutido em 2012. Trata-se da visão alternativa sobre nossa fundação, defendida pela professora Maria de Lourdes Lauande, mas não apenas por ela, pois nas nossas próprias Universidades e fora delas há defensores, não “achistas”, e competentes praticantes do ofício de historiador, da hipótese “lusitana” da professora, em oposição à francesa, para o início de São Luís.
          Não trago o assunto à consideração pública com o objetivo de defender tal posição, mas a fim de afirmar que ela não pode ser descartada com um simples dar de ombros ou com um “isso é besteira”. A hipótese francófila, hoje majoritária, tem muitos e respeitáveis defensores, todos estudiosos sérios da matéria. No entanto, o critério de verdade científica não pode ser numérico ou ideológico. A “besteira” tem de ser mostrada e demonstrada. Por outras palavras, a hipótese alternativa tem de ser desmentida com as técnicas de testes aceitas pela comunidade científica. Assim, um grande seminário poderia ser feito, sob a coordenação de nossas instituições acadêmicas – ainda há tempo para isso este ano –, em que uma discussão proveitosa das duas visões pudesse ocorrer.
          O progresso científico é feito assim, pelo debate de ideias, pelo confronto civilizado e bem intencionado das divergências, pelo estudo sério e sistemático, pela consideração bem educada do ponto de vista alheio. Em tal encontro, inevitavelmente, penso eu, surgiriam interessantes debates de questões prévias à fundação propriamente dita. O que caracteriza, afinal, fundar um núcleo urbano? Há um conceito aplicável a todas as épocas e a todos os lugares? Não estaremos caindo na armadilha de aplicar conceitos de hoje inadequados a fatos históricos tão distantes no tempo? Qual o papel dos mitos fundadores e das “épocas de ouro” na criação de uma consciência comunitária ou de um sentimento nacional útil à consolidação de uma sociedade em formação?
          Outro interessante conceito deve ser debatido: a “fundação letrada” das cidades – oposto à fundação pelas armas – usado pela professora Andrea Daher, que fez uma palestra nas comemorações do centenário da Academia Maranhense de Letras, quando eu ocupava a presidência da instituição em 2008, no seu O Brasil francês - as singularidades da França Equinocial (1612 – 1615. Na obra ela compara os diferentes discursos letrados de ordens religiosas francesas e portuguesas, sobre a fundação, no trabalho delas de catequese dos índios, e mostra a aderência de tais discursos aos interesses estratégicos de seus países de origem, França e Portugal.
          As possibilidades são incontáveis, em benefício dos estudos sobre nossa história. Falta tornar reais as discussões, não permitir que sejam eternamente potenciais. Ao debate, então.

9 de setembro de 2012

Mais, não menos eleições



                                                                 Jornal O Estado do Maranhão 

          
          Ouvem-se muito por aí reclamações contra suposto número excessivo de eleições no Brasil, atualmente realizadas de dois em dois anos, alternando-se as municipais, para a seleção de prefeitos e vereadores, com as estaduais e nacionais, destinadas à escolha do presidente da República, deputados estaduais e federais e senadores da República. Vê-se aí que a separação eleitoral não segue a linha dos Poderes Executivo e Legislativo, com pleitos para todos os cargos do primeiro em determinado ano e do segundo daí a dois, pois isso provocaria um desalinhamento indesejado e indesejável entre os mandatos de um e de outro. No início da segunda metade de seu governo, o chefe do Executivo – municipal, estadual ou federal –, teria de renegociar todas as composições políticas com os partidos, apenas dois anos depois de tê-lo feito, no início do mandato, com todos os custos associados a essas conversas em termos de perda de tempo escasso e de energias que poderiam ser mais bem aplicados na administração pública e na efetiva implantação de planos de governo. Portanto, faz todo o sentido que o assim chamado primeiro mandatário seja eleito simultaneamente aos membros do Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. 
          Alguns usam argumentos de natureza econômico-financeira, alegando gastos excessivos com os pleitos no sistema atual, com o fim de proporem a coincidência de todas as eleições, em todos os níveis. É verdade que as despesas operacionais indispensáveis à realização dos pleitos são bastante altas quando levamos em consideração as necessidades recorrentes cada vez que eles são realizados como atualmente. A elas deve ser acrescentada a exigência de atualização tanto do parque tecnológico de apuração dos votos quanto da estrutura de segurança dos procedimentos de votação já existentes, sob a forma de novos investimentos em, principalmente, novos equipamento de informática e em treinamento de pessoal a fim de operá-los. Todos esses desembolsos aumentam mais ainda com o horário eleitoral no rádio e televisão, que de gratuito, como é comumente apelidado, não tem nada porque o governo, e assim o contribuinte, como você e eu, caro leitor, paga às emissoras o tempo usado pelos candidatos em suas propagandas.
          Deveríamos ter mais e não menos oportunidades de manifestação a respeito de nossos representantes, quero dizer, eleições com maior frequência. O leitor já deve ter notado que nos anos eleitorais ou mesmo um pouco antes, a partir do terceiro ano de governo – vamos supor um pleito municipal como o de agora –, as cidades recebem um volume de obras ou ações da administração pública em muito superior ao realizado desde o início do mandato do prefeito. Ou seja, depois dos dois primeiros anos sem fazer quase nada, apenas entesourando pensando em investir só nos dois últimos, os dirigentes asfaltam ruas, tapam buracos, anunciam grandes projetos, investem em saúde e em educação, abrem novas vias de trânsito, fazem praças, se tornam mais acessíveis aos eleitores, etc. As cidades, embora sem nenhum planejamento, de alguma forma melhoram. Não vou dizer que se tornam exemplos de boa gestão pública, mas melhoram. Por que então não fazer eleições todos os anos em todos os níveis de governo? Dessa maneira, nossos dirigentes não teriam tempo de não fazer coisa alguma assim como também não teriam de usar o próprio horário eleitoral, podendo este ser eliminado sem prejuízo da democracia e com vantagem do erário. 

          Aí está a superioridade de minha proposta. Em vez de trabalhar por dois curtos anos ao longo de quatro, teriam de trabalhar o tempo todo e sem esse famigerado horário, o custo das eleições cairia a zero nesse item, diminuindo, assim, o custo total de realizá-las, com o benefício adicional de não termos de ouvir diariamente durante um período longo demais para nossa paciência, promessas fantasiosas e irresponsáveis. Quem quisesse fazê-las teria de comprar tempo de televisão como qualquer cliente das emissoras.
          Por favor, senhores, levem esta ideia a sério. Ela é a salvação do Brasil.

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