Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2012

Contra os comissários da ignorância

                                            Luiz Felipe Pondé, Folha de S. Paulo de 24/9/2012           O que é conservadorismo? Tratar o pensamento político conservador (“liberal-conservative”) como boçalidade da classe média é filosofia de gente que tem medo de debater ideias e gosta de séquitos babões, e não de alunos.           Proponho a leitura de “Conservative Reader” (uma antologia excelente de textos clássicos), organizada pelo filósofo Russel Kirk. Segundo Kirk, o termo começou a ser usado na França pós-revolucionária.           Edmund Burke, autor de “Reflexões sobre a Revolução na França” (ed. UnB, esgotado), no século 18, pai da tradição conservadora, nunca usou o termo. Tampouco outros três pensadores, também ancestrais da tradição, os escoceses David Hume e Adam Smith, ambos do século 18, e o francês Alexis de Tocqueville, do século 19.           Sobre este, vale elogiar o lançamento pela Record de sua biografia, “Alexis de Tocqueville: O Profeta da Democracia”, de

Degradantemente

Jornal O Estado do Maranhão           Todo mundo deve se lembrar, pois a coisa causou surpresa. Nos jardins da mansão de Paulo Maluf, com quem o PT gastou durante anos toneladas de saliva e tinta, não propriamente com o fim de elogiá-lo, mas mostrá-lo como o dragão da maldade, da desonestidade, da corrupção, da falta de escrúpulos, da cara de pau, da embromation, o representante dazelites insensíveis e exploradores dos trabalhadores, o adepto do capitalismo selvagem e voraz, nos jardins de Maluf, como eu ia dizendo – não na sede do PT ou na do partido do novo aliado –, reuniu-se este com Lula e um coadjuvante, Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo, com o fim de deixar bem claro a todos que a partir daquele dia o Partido dos Trabalhadores (representante dos explorados por seu parceiro de agora, pode-se supor da retórica petista anterior à aliança com o malufismo) e seu ex-eterno adversário passariam a seguir juntos pela vida política. E tome fotografias dos três. Er

A arte de nosso tempo

Ferreira Gullar – Folha de S. Paulo , 23/9/2012            Uma leitura possível da história das artes visuais - de que resultaram as manifestações contemporâneas - identificará a invenção da fotografia como um fator decisivo desse processo.           A crítica, de modo geral, há muito associa ao surgimento da fotografia a mudança da linguagem pictórica, de que resultou o movimento impressionista.           É uma observação pertinente, desde que se tenha o cuidado de não simplificar as coisas, ou seja, não desconhecer a existência de outros fatores que também influíram nessa mudança. Um desses fatores foi a descoberta da cor como resultante da vibração da luz sobre a superfície das coisas.            Noutras palavras, o surgimento do impressionismo -que constituiu uma ruptura radical com a concepção pictórica da época- estava latente na pintura de alguns artistas de então, como, por exemplo, Eugène Delacroix e Édouard Manet, que já anunciavam a superação de certos valores estéticos e

Os 400: ao debate

Texto publicado na revista que saiu com a edição de 8/9/2012 do jornal O Estado do Maranhão           Não é incomum, a respeito da fundação de São Luís, ouvirem-se perguntas, geralmente de naturais de outros Estados, sobre as marcas culturais deixada pelos franceses aqui, porque a cidade foi por eles fundada, raciocinam os curiosos. Nenhuma há, eu digo. Não são nem nunca foram surpreendentes questionamentos desse tipo, pois é lógico pensar assim, caso quem indague não saiba que foi de apenas três anos a presença deles nestas terras no século XVII, de 1612 a 1615. Afinal, não se pode exigir de não maranhenses esse conhecimento, a não ser que se trate de um especialista no estudo da história ou de pessoas bem informadas. Muitos maranhenses também se surpreendem com tão curto período!           Houve de fato grande influência da França no Maranhão, mas apenas a partir do século XIX, como houve em todo o Brasil na literatura, nas artes plásticas, na música clássica e em várias outras áre

Mais, não menos eleições

                                                                 Jornal O Estado do Maranhão                        Ouvem-se muito por aí reclamações contra suposto número excessivo de eleições no Brasil, atualmente realizadas de dois em dois anos, alternando-se as municipais, para a seleção de prefeitos e vereadores, com as estaduais e nacionais, destinadas à escolha do presidente da República, deputados estaduais e federais e senadores da República. Vê-se aí que a separação eleitoral não segue a linha dos Poderes Executivo e Legislativo, com pleitos para todos os cargos do primeiro em determinado ano e do segundo daí a dois, pois isso provocaria um desalinhamento indesejado e indesejável entre os mandatos de um e de outro. No início da segunda metade de seu governo, o chefe do Executivo – municipal, estadual ou federal –, teria de renegociar todas as composições políticas com os partidos, apenas dois anos depois de tê-lo feito, no início do mandato, com todos os custos associados a