Postagens

Mostrando postagens de 2002

Qual tempo?

Jornal O Estado do Maranhão Sempre me ocorre fazer esta pergunta, às vésperas do Ano Novo: Passamos pelo tempo ou o tempo passa por nós? Ao longo do ano, a simples andar dos dias, das semanas e dos meses não nos dá, ou o faz de uma maneira muito atenuada, essa percepção de passagem do tempo ou de nossa passagem por ele. Períodos de vinte e quatro horas, de sete dias e ou de trinta dias são pequenos demais para fazer com que desejemos comemorá-los. As celebrações de períodos tão curtos se tornariam banais, desinteressantes e enfadonhas, pela sua freqüência. Deve ser por isso que não se comemoram aniversários mensalmente nem semanalmente. O fim de um mês, ou de um dia, e começo de outro, não nos oferece a mesma sensação de conclusão de uma volta completa e começo de outra dada pelo fim do ano. Esta última impressão nos faz sentir essa passagem como um marco temporal natural, adequado. È a intuitiva confirmação do retorno periódico de todas as coisas, até mesmo do próprio universo, no seu

Papai Noel

Jornal O Estado do Maranhão Definitivamente, o Natal mudou. Pelo menos na maneira das crianças pedirem seus presentes ao popular Bom Velhinho. Nos últimos anos, crescentemente elas estão enviando seus pedidos pela Internet. Mas, para sua decepção, as respostas ainda demoram muito. Mesmo assim, elas insistem. Uma menina irlandesa, por exemplo, disse em uma carta: “Papai Noel, eu acho você a pessoa mais legal da Internet”. Outra explicou o seu drama: “Querido Papai Noel, eu não tenho um endereço de e-mail. Então, estou usando o do meu irmão. Por favor, não deixe nossos presentes misturarem-se". Os números são pequenos, até agora, comparados com a maneira tradicional de pedir, mas, com o crescimento exponencial da grande rede, não estará longe o dia de as cartas eletrônicas superarem em quantidade as feitas à moda antiga. Quando essa época chegar, em tempo não muito distante, vai ver algum douto analista das tendências do mundo moderno irá aparecer com a sugestão de aposentadoria par

Algumas crônicas

Jornal O Estado do Maranhão Depois de dois anos deste exercício semanal de escrever crônicas aqui em O Estado do Maranhão , ocorreu-me a possibilidade de haver nelas material suficiente para compor um livro. Selecionei, então, utilizando critérios subjetivos, como é inevitável quando selecionamos os frutos de nosso próprio trabalho, as que me pareceram mais bem realizadas. Dessa maneira, elas teriam alguma esperança de escapar à corrosiva ação do tempo, juiz rigoroso que a tudo ameaça com a severa punição do esquecimento. Se, assim arrancadas de seu meio natural, o jornal, continuarem a parecer boas aos eventuais leitores, terão passado em um bom teste de qualidade. Se, pelo contrário, perderem qualquer sentido que possam ter tido, estarão reprovadas e, junto com elas, seu autor, mesmo antes do julgamento do tempo. Com isso em mente, compus o livro. Seu lançamento será depois de amanhã, dia 17, terça-feira, a partir das 19 horas, no Museu Histórico e Artístico do Maranhão. Na etimologi

Resgates

Jornal O Estado do Maranhão A quinta-feira da semana passada, dia 6 de dezembro de 2002,  foi um dia importante para a história do Maranhão. Digo história como ciência do acontecido, não simplesmente como uma narrativa de fatos, caso em que ela se aproxima da literatura. Eis o que eu quero dizer: naquele dia, na sede da Academia Maranhense de Letras, foi lançado o Catálogo dos manuscritos avulsos relativos ao Maranhão existentes no Arquivo Histórico Ultramarino . Já pelo título, pode-se ver que não exagero ao atribuir ao lançamento um grande valor para o estudo científico do nosso passado. O livro apresenta treze mil fichas, com sumários de documentos históricos relativos à província do Maranhão, editadas paciente e incansavelmente por Jomar Moraes. Esse trabalho passa a ser, daqui por diante, fonte de consulta obrigatória para qualquer estudo sobre a história do Maranhão no período de 1614 a 1833. Anteriormente, a fim de consultar as fichas, o pesquisador era obrigado a ir ao Arquivo

O canto da fabril

Jornal O Estado do Maranhão Ouço notícias sobre a possível mudança do nome do canto da Fabril. De acordo com uma proposta em tramitação na Câmara dos Vereadores de São Luís, segundo uma rádio local, a nova denominação seria canto Evangélico ou algo semelhante. Não me perguntem por quê. Poderia ser o início de um ecumenismo religioso? Haveria ali por perto igrejas cristãs, católicas ou protestantes, mesquitas xiitas ou sunitas, sinagogas, templos budistas ou de religiões afro-brasileiras, ou mesmo de qualquer um desses deuses de distantes terras orientais? Não se sabe. Mas talvez seja o caso que um lugar para abrigar todos esses lugares de adoração e oração esteja em planejamento pelas autoridades. Aquele local é atravessado por dois grandes eixos. Um, na direção norte-sul, leva, no sentido sul, ao antigo Caminho Grande e, no sentido norte, ao centro da cidade. Duas pontas olhando para a história de nossa cidade. Outro eixo, perpendicular ao primeiro, indica, para o lado leste, o rio An

Pedaços de eternidade

Jornal O Estado do Maranhão Um buraco negro está viajando em direção ao sistema solar à espantosa velocidade de quatrocentos mil quilômetros por hora. Pelos padrões da astronomia, ele passará a pequena distância do Sol, de “apenas” mil anos-luz. Não será capaz de causar qualquer dano ao nosso planeta ou aos outros do nosso sistema, na hipótese de manter sua atual trajetória que, segundo os especialistas, pode ser imprevisível. Caso ele mude, entretanto, vindo diretamente em nossa direção, poderemos cair nele. Seria quase como entrar pelo cano ou descer pelo ralo, negro ou não. Buracos negros não são buracos, no sentido de serem uma cavidade em uma superfície. Mas, dão a impressão de sê-lo porque, sendo estrelas extremamente compactas, têm uma descomunal força de gravidade. Sugam tudo que passa em sua proximidade, aprisionando, até mesmo, a luz. Esta, uma vez capturada nunca mais sai do interior deles. O resultado é tornarem-se completamente negros, ficando invisíveis aos instrumentos d

Pobres soltos

Jornal O Estado do Maranhão Em agosto último, no dia 4, fiz alguns comentários aqui sobre a decretação, por um juiz de Timon, da prisão de Bingo, um vira-lata. Eu procurava dar voz ao pobre animal, contra a injustiça sofrida. Tentei mostrar seu comportamento anterior, humano, pacato e ordeiro. Mencionei também a possibilidade de ele ter tido boas razões para seu ato de morder um vizinho chato e barulhento. Lembrei-me da descoberta de Rogério Magri, ex-metalúrgico que não chegou a presidente, mas foi ministro do Trabalho do governo Collor. Ele anunciou ao mundo que cachorro também é humano, contudo não tão irracional, creio. Menos irracional, com certeza, do que essa menina de São Paulo, Suzane von Richthofen. Ela premeditou – não direi de modo frio, porque todas as premeditações o são, porém inumana –, o assassinato de seus pais e levou seu namorado e um irmão dele, até a casa da família dela, há duas semanas, a fim de executarem barbaramente o casal, crime difícil de entender racional

Consenso

Jornal O Estado do Maranhão Poucos anos atrás, desenvolveu-se no Brasil uma polêmica, nos meios acadêmicos, na imprensa, entre os políticos, do governo e da oposição, e em todo lugar, sobre o equilíbrio das contas do governo. Alguns, a minoria, desprezados como “neoliberais”, defendiam o equilíbrio orçamentário. Outros diziam que orçamentos sistematicamente deficitários, com ou sem fontes adequadas de financiamento, não tinham nada a ver com o processo inflacionário de então. A inflação não viria daí, mas de um hipotético conflito sobre a distribuição da renda, com os diversos agentes econômicos tentando apropriar-se, simultaneamente, de parcelas crescentes do produto nacional. Mas, evidentemente, uma explicação teria de ser dada ao fato de passar-se de uma situação de harmonia a respeito do pedaço da riqueza nacional de que o capital e o trabalho se apropriavam, para outra de conflito. Invocava-se, a partir daí, uma explicação ideológica. O aumento da consciência da classe trabalhador

Moleza

Jornal O Estado do Maranhão A história da humanidade tem sido, em grande parte, e continuará a ser até a consumação dos séculos, de dominação do mais fraco pelo mais forte. Impérios nascem e crescem pela agressão a vizinhos indefesos. Sociedades econômica e militarmente poderosas não têm duvidado em dominar pela força inimigos reais ou imaginários, visando à imposição violenta de seus próprios interesses. Visto de outro ângulo, os economicamente mais influentes, no interior de cada sociedade, sempre, ou quase sempre, mantêm o controle dos mecanismos de poder. De outra forma, deixarão de ser poderosos. Os outros têm de se conformar com uma posição subalterna. Mesmo onde existiu ou existe um aparente igualitarismo, nunca deixou de haver essa divisão social, não importa sob qual regime político. Nisso tudo, Karl Marx, excelente em análise e péssimo em previsão, hoje com baixa cotação no mercado das idéias, tinha razão. Pode-se discutir se esse fenômeno é uma inevitabilidade de todas as so

Em torno da casa

Jornal O Estado do Maranhão Toda minha infância e adolescência, eu as vivi em um bangalô no Monte Castelo, em frente ao Senai, na avenida Getúlio Vargas, parte do Caminho Grande dos tempos antigos, de onde somente saí para constituir minha própria família. Tenho lembranças muito tênues da mudança para lá, no início dos anos cinqüenta, vindos nós da rua Cândido Ribeiro, talvez em 1952. Tento deduzir o ano a partir das histórias ouvidas depois dos mais velhos em bate-papos familiares. Quase todos os que poderiam, hoje, dar-me alguma informação já retornaram ao pó, têm a memória enfraquecida pelo tempo e pela vida ou também não se lembram bem. Uma daquelas narrativas era sobre a ocasião de nossa ida para o Areial, como era chamado o bairro, classificado de fim de mundo por muita gente. Falava, pelo que eu podia perceber das conversas, da morte de meu avô materno, Luís de Melo Raposo, poucos dias antes do nascimento, em dezembro de 1949, de meu irmão Luís Carlos. Ele devia ter uns três ano

Machado e o Maranhão

Jornal O Estado do Maranhão Era freqüente a citação de escritores e coisas do Maranhão por Machado de Assis, nos seus artigos na imprensa do Rio de Janeiro. Jean-Michel Massa, autor de A juventude de Machado de Assis, observando essa ocorrência, ao coligir e anotar várias crônicas de Machado para os Dispersos de Machado de Assis , tentou explicá-la dizendo haver uma benevolência do escritor carioca com o Grupo Maranhense e o Estado, por causa de sua amizade com Joaquim Serra. No entanto, conforme argumentei há meses, aqui, melhor explicação está na admiração de Machado pelo talento do Grupo. Na época, o Rio de Janeiro era ainda uma cidade provinciana, embora experimentasse um acelerado crescimento. O Maranhão, por seu lado, gozava de prestígio literário em todo o Império, em boa parte originado no surto de crescimento econômico desde o final do século XVIII. Assim, não deveria causar surpresa um escritor do Rio de Janeiro admirar os maranhenses, a ponto de mencioná-los repetidas vez

Reforma política

Jornal O Estado do Maranhão Os Estados mais populosos do Brasil, particularmente os do Sul, sempre se queixaram de sub-representação na Câmara dos Deputados. É comum ouvir-se dizer, de um eleitor do Acre, para ficarmos no exemplo citado com mais freqüência, que ele vale diversas vezes um do Estado de São Paulo porque, para ser eleito neste, um deputado federal precisa de muito mais votos do que no outro. Se, no caso paulista, por hipótese, forem necessários cem mil votos para eleger um desses representantes e no acreano apenas dez mil, então, claro, o eleitor do Acre equivale a dez sulistas. Essa é, de fato, a situação. Ela surge de uma limitação imposta pela Constituição federal, com respeito à representação dos Estados na Câmara. O número de representantes de cada um aí é estabelecido na proporção direta, em princípio, de sua população. A maiores populações, portanto, deveriam corresponder, linearmente, maiores representações. Caso não houvesse limite algum, uma unidade da federação

Democracia em marcha

Jornal O Estado do Maranhão O Brasil mostra ao mundo, ao realizar as eleições de hoje, a solidez e a maturidade de sua democracia. Quem viveu, como eu vivi, os anos ditatoriais após o golpe de Estado de 1964 e, especialmente, os seguintes à edição do AI-5 em dezembro de 1968, pode avaliar a importância de termos hoje uma disputa eleitoral com a perspectiva de vitória de um candidato de um partido, o PT, cujas origens no movimento sindical, contudo, não gera rumores de intervenções das Forças Armadas no processo político nem de mudanças nas regras da disputa nem de interferência aberta ou oculta dos Estados Unidos. Mas, já foi assim. Uma afirmação como essa, pode parecer estranha às novas gerações. Elas cresceram vendo a realização periódica de eleições livres, sem questionamentos de seus resultados. Os jovens não conheceram, a não ser nos livros de história, os chamados senadores biônicos, eleitos indiretamente por indicação do presidente da República, este, por sua vez, um general sel

O ano-sousândrade

Jornal O Estado do Maranhão Joaquim de Sousa Andrade, Sousândrade, morreu em 21 de abril de 1902. Completam-se agora, portanto, cem anos de sua morte, motivo mais do que suficiente e justo para a Academia Maranhense de Letras considerar este 2002, como o fez, o Ano-Sousândrade. A Academia, como parte dos eventos que vem realizando nos últimos meses em homenagem a Sousândrade, realizou uma sessão especial em seu auditório, na última quinta-feira, dia 26, a fim de lançar, junto com a Gerência de Desenvolvimento Humano do Estado e com a de Desenvolvimento Regional de São Luís, o Concurso Ano-Sousândrade e um livro do professor Sebastião Moreira Duarte, acadêmico, ocupante da cadeira n o. 1, fundada por Barbosa de Godois. O concurso destina-se aos alunos da rede pública estadual do ensino médio da Grande São Luís, englobando os municípios de São Luís, São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar. O melhor trabalho de cada unidade de ensino, e, no geral, os dez melhores, que poderão aborda

O craque gojoba

Jornal O Estado do Maranhão Pergunta-me um leitor a razão de eu, tendo algumas vezes escrito sobre futebol, especialmente durante a última Copa do Mundo, vencida pela quinta vez pelo Brasil, nunca ter feito uma única e escassa referência ao futebol maranhense. Paro, penso e chego a uma conclusão. Não tendo nada de positivo para dele dizer, preferi calar. Tinha optado por não me manifestar sobre uma situação de completa decadência futebolística, como a que se observa em nosso Estado. Mas, devo dizer também, que esse silêncio foi, em certo grau, inconsciente, como agora percebo. Sei, todos bem sabem, da impossibilidade de exigir-se de nosso futebol desempenho comparável ao dos Estados mais ricos. Seria fora de propósito tomarmos como referência São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros Estados do Sul e Sudeste. A diferença, em termos, principalmente, de nível de renda, é grande. Tira-nos qualquer possibilidade de competir com eles, com chances mínimas de sucesso. A questão é, em g

Retórica insustentável

Jornal O Estado do Maranhão Em outubro de 2001, escrevi um artigo, aqui em O Estado do Maranhão , falando sobre o conceito de desenvolvimento sustentável e sua gradativa aceitação, por parte dos governos, no mundo todo. Eu terminei dizendo que haveria um encontro neste ano de 2002, em Johannesburg, África do Sul, a fim de avaliar o progresso alcançado na sua incorporação às políticas públicas, nos dez anos entre 1992 e 2002, e marcar a realização da Rio-92. “Será a hora de os países apresentarem os resultados de suas políticas para a implantação do desenvolvimento sustentável. Era para valer ou tratava-se de retórica, apenas?”. Agora, com o término do encontro, chamado Rio +10, realizado entre os dias 26 de agosto e 4 de setembro, julgamentos de seus resultados estão sendo feitos e continuarão a sê-lo durante algum tempo. É preciso levar-se em conta, nas avaliações, que o conceito de desenvolvimento sustentável incluiu a idéia de diminuição da pobreza e das desigualdades econômica e so

Bandeira Tribuzi

Jornal O Estado do Maranhão Há dias vinha eu pensando sobre os vinte e cinco anos da morte, completados hoje, do grande poeta Bandeira Tribuzi. De repente, uma coincidência, outro nome dado às tramas do destino, interpôs-se entre mim e algumas recordações da época em que nós dois fomos companheiros de trabalho no Banco de Desenvolvimento do Maranhão. Essa trama, atirou-me às mãos, aparentemente por acaso, mas, verdadeiramente, por desígnio anterior à luz e ao tempo, pelas mãos de Fernando Silva, justamente uma fotografia do pai de Tribuzi, Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes, de 1946, tirada em São Martinho de Gândara, freguesia do Concelho de Oliveira de Azemeis. Naquele tempo, o poeta estudava em Portugal. Seu pai, durante muitos anos um importante comerciante português em São Luís, da firma Pinheiro Gomes & Cia, aparece na foto ladeado pelo pai de Fernando, Adelino Silva, por Antônio Borges, outro comerciante português do Maranhão, e por um cunhado deste, João Baptista Neves de Oliv

As valois

Jornal O Estado do Maranhão A gente pegava o ônibus a pouca distância de nossa casa, defronte do Senai, perto do Cine Monte Castelo, no bairro do mesmo nome. Íamos em nossos uniformes com as letras ST, iniciais de Santa Terezinha, escola das irmãs Valois, bordadas no bolso esquerdo da camisa branca de mangas curtas. O percurso, de pouco mais de mil metros, até lá, na esquina da avenida Getúlio Vargas com uma rua que leva ao bairro do Matadouro, hoje Liberdade, parecia uma longa jornada. Os ônibus, quase sempre cheios, principalmente de comerciários rumo ao centro da cidade, e de pacatos funcionários públicos, eram lentos, velhos e maltratados. Eram, porém, os únicos coletivos da pequena cidade, em que poucas pessoas possuíam automóvel, coisa de gente rica. Os cobradores permaneciam em um incessante ir e voltar da parte dianteira à traseira do ônibus, sacudindo moedas enfileiradas na palma da mão voltada para cima, em um tilintar até hoje em meus ouvidos, chamando os passageiros ao paga

Rio + 10

Jornal O Estado do Maranhão A Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio +10, numa referência à Rio-92, será realizada entre 26 de agosto e 4 de setembro, em Johannesburg, África do Sul. Seus organizadores divulgaram recentemente um estudo das Nações Unidas, “Desafio Global, Oportunidades Globais”, que servirá de base às discussões do encontro. Algumas das conclusões são bastante pessimistas. Caso o atual padrão de desenvolvimento seja mantido por mais vinte e cinco anos, o uso de combustíveis fósseis e a emissão de gases geradores do efeito-estufa aumentarão consideravelmente. Quase três bilhões e meio de pessoas sofrerão inevitavelmente de falta de água e as florestas continuarão a desaparecer rapidamente. Segundo, ainda, o estudo, a poluição atmosférica causa, atualmente, a morte de três milhões de pessoas. Outras trezentas milhões sofrem de malária, um bilhão não têm acesso a água potável e dois bilhões a saneamento básico. Em outro estudo, a Organização

Promessas

Jornal O Estado do Maranhão As eleições presidenciais sempre foram, e sempre serão, um prato cheio de promessas delirantes, inconsistentes e danosas à economia. Essa patologia acentua-se com a aproximação da data da votação. Quanto mais próxima esta, mais besteiras os candidatos produzem, com pose e ares de sabichões. Tem para qualquer gosto. Você vê necessidade de o país criar dez milhões de empregos? Algum pretendente ao poder promete ajoelhado. Os juros são altos? Nada de preocupação. Um decreto eliminará o problema que, por maldade e má fé, o governo atual não quis resolver. O salário é baixo, impedindo a compra da geladeira, do fogão, do automóvel, da televisão, dos brinquedos dos filhos, dos Cds de Xitãozinho e Xororó? Uma lei, aumentando o salário de todos, levará a classe operária ao paraíso, no primeiro dia de governo. Tudo muito fácil. As aposentadorias são baixas, o funcionalismo público não teve acréscimos nos vencimentos? Vamos aumentá-los, para torná-los “dignos” e “justo

Bingo

Jornal O Estado do Maranhão Eu vi Bingo na televisão. O pobre caminhava surpreso, deprimido, alheio ao ambiente, indeciso, sem rumo, com o olhar perdido no horizonte, cheio de revolta contra as injustiças da vida. Não caminhava propriamente. O coitado era conduzido por um amigo que, de vez em quando, acariciava-lhe a cabeça e enxugava-lhe, furtivamente, incontroláveis lágrimas, saídas dos olhos melancólicos de Bingo. Ele fora preso. Até aquele momento, não sabia por quê. O que acontecera? Qual o seu crime? Assaltara, roubara, matara, atentara contra a economia ou a segurança nacional, comandara um ataque especulativo contra a moeda nacional, dera um golpe no mercado financeiro, sumira com o dinheiro de fundos de pensão, renegara a pátria? Falara mal do presidente, do papa, dos evangélicos, dos militares, dos políticos? Envolvera-se em um incidente diplomático? Nada disso. Mordera um vizinho. Mordera? Sim, mordera. Ele irritara-se com algo desagradável nos modos do vizinho e, usando um