29 de novembro de 2015

Marca da truculência e da prepotência



O texto baixo é de Carlos Nina, advogado, ex-juiz, ex-promotor e ex-presidente da OAB-MA.


Por conta da truculência, da prepotência, da mentira e da covardia de um preposto do Governo do Estado do Maranhão, não permaneci, como gostaria, no velório do querido amigo e poeta Nauro Machado, nesta tarde, na Academia Maranhense de Letras, onde estava seu corpo.

Por volta das 17 horas da tarde de hoje, 28/11/2015, dirigi-me com minha esposa ao velório de Nauro e, ao chegar à esquina da Academia com o beco do Teatro Arthur Azevedo, vimos que havia um veículo estacionado na transversal, com espaço suficiente ao lado para colocar o carro. Manobrei nesse sentido e uma pessoa que estava na frente, sem se apresentar, sem farda ou qualquer identificação, fez sinal de que ali não podia estacionar. Engatei a ré e já ia sair quando resolvi abrir a janela à direita, no lado onde minha esposa estava sentada, e perguntar o motivo pelo qual eu não poderia estacionar se havia outro veículo já estacionado na mesma posição. Ele, então, respondeu, com ares de prepotência, que estava guardando aquela vaga. Considerei um abuso e estacionei, com dificuldade porque ele insistia em ficar atrapalhando minha manobra.

Depois que desci do carro ele mandou que eu estacionasse abrindo espaço para deixar uma vaga para outro carro. Eu lhe disse que ia fazer isso, mas ele ficou no local atrapalhando, impossibilitando que eu deixasse outra vaga. Por isso, então, resolvi não atender sua ordem porque considerei desrespeitosa e abusiva sua conduta.

Entramos no salão da Academia, cumprimentei os familiares de Nauro e sentei-me ao lado de dois amigos, Fernando Sá Vale e Cel. José Antônio, aos quais relatei o que havia acontecido. Ocorreu-me, nesse momento – e disse aos dois -, que aquele “guardador de vaga” poderia, em represália, causar algum dano ao veículo. E resolvi voltar ao local onde deixei o carro.

O “guardador de vaga”estava lá, na calçada da Academia. Atravessei a rua e fui ao lado do carro que não estava visível para a porta da Academia. Olhei os pneus para ver se tinham sido esvaziados. Não. Vi a lateral do carro e lá estava, na porta dianteira, a confirmação de minha suspeita. A marca da vingança, da prepotência, da truculência. Um arranhão profundo o quanto pode uma chave de carro fazer.

Havia dois “flanelinhas” no local. Com certeza não foram eles. Fora o “guardador de vaga”.

Dirigi-me a ele, na calçada da Academia e perguntei: Foi você que fez aquele arranhão na porta do carro? Ele negou. Disse que o arranhão já estava ali quando eu cheguei. Mentira. Ele apontou logo os “flanelinhas” como suas testemunhas e outras pessoas que estavam na calçada.

Testemunhas de quê? Como poderia alguém ver o gesto furtivo, covarde, da ranhura que fora feita na porta do carro, que não era visível do outro lado da rua?

Perguntei-lhe para quem ele estava guardando aquela vaga porque - disse-lhe - ia esperar para informar de sua conduta. Ele não respondeu e, ao mesmo tempo, falava em um desses aparelhos de rádio, mandando alguém prosseguir.

Chegaram, então, alguns carrões. Um deles estaciona em frente à entrada da Academia e desceu o Governador, a quem conheço há muitos anos, e me dirigi a ele, estendendo-lhe a mão (que ficou no ar, num gesto autoexplicativo).

Reclamei-lhe da conduta de seu preposto, mas Sua Excelência, confirmando o conceito que conquistou desde os primeiros tempos de campanha, deixou-me falando na calçada.

Fui, então, abordado, finalmente, por uma pessoa educada que me pediu que relatasse o que havia acontecido.

Pareceu-me outro preposto do Governador.

Ao iniciar o relato o “guardador de vaga” interferiu negando os fatos. Disse-lhe, então, que era mentiroso e que deveria ter coragem de assumir o que dizia e que fazia.

O novo preposto do Governador, educadamente, pediu-me para irmos ao local do carro. Viu a ranhura e, como qualquer pessoa de bom senso, passou o dedo sobre o local e constatou que aquela marca acabava de ser feita, inclusive porque o farelo da tinta e da lataria estavam lá, soltando com a passagem do dedo. Perguntou-me se eu tinha testemunhas. É evidente que não. Ou seja, educadamente ele estava me dizendo que nada poderia ser feito e que certamente não iria dar em nada.

Revoltei-me, não pela ranhura, em si, que podia ser reparada em qualquer oficina.

Revoltei-me pela truculência, pela prepotência, pela covardia e pela mentira. Minha esposa veio de dentro da Academia e confirmou a história ao mesmo acompanhante do Governador. Mas sentiu, também, que nenhuma providencia contra o abuso seria feita e pediu-me que saíssemos do local.

Assim fizemos.

Mas não poderia deixar sem registro público esse fato.

Não para que o Governo repare o dano causado por seu preposto, porque certamente vai negar e mentir.

É verdade que é um dano material de pequeno valor. Mas o veículo foi pago com fruto de nosso trabalho. Não com dinheiro fácil de origem duvidosa, prática comum nos altos escalões da política brasileira.

Faço o registro para prevenir responsabilidades, se algum outro dano material ou físico me acontecer ou à minha família, porque não se pode esperar outra coisa diante da mentira, da covardia, da truculência e da prepotência praticadas por agente a serviço do Governador do Estado, que se negou até a tomar conhecimento do fato, na hora em que estava acontecendo.

Carlos Nina

22 de novembro de 2015

Reforma necessária



Jornal O Estado do Maranhão

          Há duas semanas, a revista Veja tratou da doença brasileira do gigantismo burocrático, cujas sequelas aparecem, em especial, na redução da nossa capacidade de crescimento. Este é item em falta no mercado, após os desastres de política econômica produzidos pela administração do PT.
          O termo burocracia é quase sempre usado em sentido pejorativo para denominar o conjunto dos funcionários públicos. Contudo, é aplicado, também, a todos os empregados de grandes empresas privadas. Seu surgimento e crescimento, até alcançar a forma como a conhecemos hoje, estão ligados ao aparecimento dos estados nacionais modernos e seu crescente intervencionismo na economia, na vida política e, até, na vida privada das pessoas.
          O que era para ser uma instituição racional na operacionalização das funções estatais passou a ter vida autônoma e dedicar-se mais a sua própria sobrevivência e crescimento do que aos da sociedade. No Brasil, o fenômeno tanto se agigantou que suas despesas de custeio consomem a maior parte dos recursos financeiros nas mãos do Estado.
          Chegamos a uma situação, como mostrado na reportagem, de muitos empreendedores desistirem de fazer novos investimentos e, até, de decidirem fechar os negócios, por não suportarem mais as custosas armadilhas burocráticas.
          No Brasil, os empresários levam, em média, 153 dias para regularizar os imóveis onde suas empresas pretendem funcionar. São cinco meses em que ou a empresa funciona irregularmente ou não funciona e arca com os prejuízos impostos irracionalmente. Em outro item, o de abrir um negócio, o empreendedor tem de esperar 129 dias. Enquanto espera, faz o quê? Palita os dentes, enquanto o burocrata toma sua cerveja?
          Em seu artigo nesse mesmo número de Veja, Roberto Pompeu de Toledo fala do caso mencionado pelo jornalista José Casado em que este descreve situação surrealista vivida pela ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal. Ela foi tirar um documento em um cartório. Pediram-lhe o CPF da mãe, exigência aparentemente fácil de ser atendida. A ministra informou que, infelizmente, a suposta dona do documento havia morrido fazia trinta anos e nunca o tivera. Durona, a funcionária disse ser impossível atendê-la. E não atendeu mesmo. Muitos anos atrás, o governo federal criou um Ministério da Desburocratização. Funcionou durante curto período. Depois, a entropia prevaleceu e o próprio ministério se burocratizou até ser extinto.
          Querem ter uma boa avaliação do poder da burocracia? O governo Dilma anunciou uma redução do número de órgãos, medida que atingiria a burocracia federal, mas ajudaria no combate à inflação. Órgãos desimportantes, poucos, foram fundidos ou eliminados. Todavia, o total de cargos, contados em dezenas de milhares, permaneceu intocado, sem redução de um centavo de despesa.
          Enquanto a mentalidade burocrática for soberana e o país continuar incorrendo em custos altíssimos por sua causa, não daremos meio passo adiante em direção a um verdadeiro crescimento. Esta, a primeira reforma a ser feita no Brasil: quebrar mentalidades arcaicas desse tipo, com a criação de instituições modernas e livre da burocracia predatória.

8 de novembro de 2015

Abduzidos

Jornal O Estado do Maranhão

          Abduzida, abdução? Sim, abdução. Parece estranha, a palavra, incomum. No entanto, ela existe. É de origem latina, “abductione”, segundo os dicionários. Tem vários sentidos. Um deles, usado no curioso jargão jurídico, é de “rapto com violência, fraude ou sedução”. E daí? Daí que Elba Ramalho foi abduzida, provavelmente pelo uso de sedução. Por quem? Por ETs, ela afirmou à revista Veja.
          A afirmação é de 2001, na 11a. Conferência Internacional de Ufologia, em Curitiba, quando ela disse que esses misteriosos seres tinham implantado nela um chip que só pôde ser retirado com a ajuda de outros seres, celestiais, “ultra, supra, luminosos”, durante o sono, sem necessidade de cirurgias mediúnicas. Elba teve sorte. Outras quase cinco mil vítimas tiveram de recorrer a duas videntes do interior de São Paulo para extração dos objetos. O local do implante, no corpo da cantora, não foi especificado. No cérebro?
          O que desejavam, afinal, os ETs? Os do bem queriam, naturalmente, o bem dos terráqueos. Estes, de tão atrasados tecnologicamente, dependem de extraterrestres para uma coisa aparentemente tão simples como a retirada dessa, digamos, eletrônica embarcada. Mas os do mal, meus amigos! O primeiro estudo que fizeram e sempre fazem nos planetas conquistados é o da genética. Conhecendo bem nossa natureza, nossos instintos mais primitivos, aqueles a que o ex-deputado Roberto Jefferson se referiu ao falar dos sentimentos despertados nele por Zé Dirceu, ficou fácil a dominação da Terra e, por consequência, da política brasileira. A cantora afirmou que existia e, quem sabe, ainda exista, um pacto secreto entre vários países para a implantação dos tais chips. “Políticos brasileiros colaboram com esse governo oculto”.
          Se a conspiração continua ainda hoje, devemos esperar que as autoridades terráqueas (a ONU, os Estados Unidos?) ou, pelo menos, as brasileiras, chipadas também, contudo bem ativas, embora pareçam zumbis, deem, nos atual ambiente político-econômico conturbado do Brasil, “um depoimento lúcido sobre a presença de ETs” como dizia Elba? Pedir isso é também abdução, em outro sentido, o de “raciocínio cuja conclusão é imperfeita e, portanto, apenas plausível”. Plausível, sim, merecedor de aplausos pela boa intenção, mas impossível de ser atendido.
          Contei essa história a um amigo petista (sim, tenho amigos petistas). Ele deu, instantaneamente, um estalo: “Essa é a explicação para o Mensalão, o Petrolão e outros escândalos superlativos. O Brasil está dominado por alienígenas, vindos, sei lá de onde, de Saturno talvez. Só isso explica terem os membros do nosso partido se rendido à roubalheira”. Explicação bem plausível, pois tem-se visto coisas de outro mundo por estas bandas.
          Morta a charada e retirados os chips, por obra dos seres celestiais ultra, supra, luminosos, os companheiros abduzidos voltaram à vida honesta de sempre. Mesmo que os anéis de Saturno tenham sido perdidos, pois injustas desconfianças permaneceram a respeito desses pobres homens, quase todos os seus dedos, dedos ágeis, ficaram.

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