31 de julho de 2016

Comando Único

Jornal O Estado do Maranhão

          Leio no saite da revista Veja: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pediu ao presidente Temer que a Secretaria do Orçamento seja retirada da estrutura do Ministério do Planejamento e incorporada à estrutura funcional de seu ministério. No momento atual, em que o país tenta se recuperar do desastre das administrações petistas bem como da maior recessão na história econômica do Brasil, catástrofes gestadas quando o PT tinha o comando da economia, o pedido do ministro deve ser aplaudido. Tomara que o presidente com ele concorde.
          As disputas existem faz décadas. Delas sempre são protagonistas os ministros da Fazenda e do Planejamento, em brigas pelo controle das políticas econômicas, em especial da fiscal, de sucessivas administrações. Em verdade são lutas pelo poder. Tal situação tem prejudicado a aplicação eficiente de medidas indispensáveis à saúde do PIB nacional. Exemplo recente, mas de modo algum novo, foi, no governo Dilma, o cabo de guerra entre Joaquim Levy, ministro da Fazenda, e Nelson Barbosa, então do Planejamento e depois da Fazenda em substituição a seu rival. Se ambos não quisessem adotar políticas equivocadas e fracassadas no mundo inteiro, como queriam, tudo já seria muito ruim. Mas esse não era o caso e tudo se tornou mais prejudicial ainda do que poderia ser inicialmente, com péssimos resultados, que começam a ser consertados pela administração atual.
          Agora situação semelhante se apresenta, com a diferença de ser intenção do novo governo adotar medidas já testadas com sucesso e aprovadas por dezenas e dezenas de países em todo o mundo. Certamente tais medidas terão efeitos colaterais inconvenientes, mas no fim irão restaurar a normalidade da economia e da vida das pessoas. Terá de ser assim. Se deixássemos para o futuro a ingestão dos remédios de gosto ruim, as dores da cura seriam fortíssimas, se comparadas às de agora, e os custos de aliviá-las, mais elevados. Ou poderia não haver sequer a possibilidade de curar o doente e então terminaríamos como a Venezuela. Lá o governo está forçando trabalhadores dos setores público e privado a se deslocarem para o campo a fim de trabalharem na produção de alimentos. Outros países comunistas, a China e o Camboja entre eles, já fizeram a mesma coisa. O resultado foi a morte, pela fome, de milhões de pessoas.
          Nas circunstâncias em que nos encontramos, qualquer obstáculo, por menor que seja – e a disputa entre ministros cria dificuldades adicionais nada triviais –, contribui com o aumento dos problemas. Já é tempo de se pensar na possibilidade de Fazenda e Planejamento constituírem unidade única de administração da política fiscal. Devemos nos livrar de arranjo institucional que estimula conflitos de competência entre os ministros, com prejuízos econômicos incalculáveis. Já chega de ver o Planejamos liberar recursos em valores acima do previamente estabelecido para cumprimento de metas fiscais, aparecendo como bom moço aos olhos de gastadores da Esplanada dos Ministérios; esses valores são pagos, ou não, pelo Tesouro Nacional, órgão da Fazenda, que aparece como vilã, na dependência de haver disponibilidade de caixa. Sob comando único, dificuldades dessa natureza seriam mínimas.

17 de julho de 2016

Duas estrelas

Jornal O Estado do Maranhão

          Desde 1993 a Argentina não ganha título algum de importância no mundo do futebol. Vice-campeonatos obtidos em várias competições avaliadas como relevantes no mundo da bola não são e nunca serão capazes de consolar o torcedor daquele país da frustação de não ser o campeão, de não ficar no “lugar mais alto do pódio”, no linguajar dos comentaristas esportivos. Eu também não me consolaria, caso o Brasil carregasse história tão negativa há 26 anos. Aqui tal circunstância seria motivo de impeachment, se não do presidente da República, pelo menos do presidente da CBF.
          Consideremos agora um segundo aspecto desse drama nacional-futebolístico. Tão longo período de ausência de vitórias importantes engloba justamente a carreira do maior jogador de futebol argentino de todos os tempos, na minha opinião, e um dos maiores de todos os tempos do universo futebolístico. Um dos traços mais característicos da genialidade de Messi está em ele repetir quase sempre a mesma jogada, sem que os adversários consigam pará-lo antes dele fazer o gol ou dar passes precisos a companheiros mais bem colocados para fazê-lo. Ora, a lógica mais rasteira nos diria que, conhecendo tanto a intenção do adversário quanto sua maneira de pô-la (este “pô-la” é homenagem ao presidente Michel Temer) em prática, seria fácil, dado o equilíbrio numérico das forças em duelo, bloquear o avanço de Messi. Mas tal não acontece. Mesmo prevendo o passo seguinte dele, os zagueiros poucas vezes lhe roubam a bola. Aí está, na minha visão, a genialidade dele. Parece fácil impedi-lo de entrar na defesa adversária, pela previsibilidade de suas jogadas, mas não é.
          Digo isso tudo com a intenção de ressaltar que a circunstância de Messi ser genial e o restante da seleção argentinas, em geral, ser tão somente mediana (sem falar da desorganização do futebol argentino, com reflexos sobre a seleção) coloca sobre ele mais pressão do que um homem possa suportar em condições normais. Ele não pode fazer milagres, se não houver quem colabore de forma minimamente competente com ele. Não se trata de ele não jogar bem na seleção. Bons auxiliares para ele estão em falta, isso sim.
          Como pessoa introvertida, ele reage à pressão colocada pelo torcedor argentino – acostumado a lhe faz cobranças descabidas –, de sua própria maneira e se recusa compreensivelmente neste momento a jogar por seu país. Apenas depois desta reação, a torcida abriu os olhos para o erro de colocar sobre seus ombros toda a responsabilidade pelos problemas de sua equipe e começa a mudar de atitude. Na Argentina, chegaram até a considerá-lo mais espanhol do que argentino.
          Em certa medida, o mesmo acontece com Neymar. Exigem dele que resolva tudo sozinho, pressionando-o indevidamente. Mesmo tendo temperamento mais extrovertido, ele vem dando sinais de estresse, pelo visto em algumas atitudes durante os jogos da Seleção. A diferença é que o Brasil sem Neymar apresenta um conjunto de jogadores melhor do que a Argentina sem Messi, penso eu.
          Pelo bem do esporte torço pela volta de Messi e pela afirmação de Neymar. Eles são as maiores estrelas do futebol sul-americano e das maiores do mundial. Sem eles este continente vê seu próprio futebol diminuído.

3 de julho de 2016

Reino encantado

Jornal o Estado do Maranhão

          Eu acho fascinante a relação de sogras com genros e, em especial, com noras. Eu falei uma vez, já faz oito anos, aqui neste espaço, sobre o famoso caso do então governador do Ceará, Cid Gomes. Ele, para alegria de sua querida sogra (ela, àquela altura, dava impressão de ser quase mais jovem do que a filha), fretou um jatinho executivo, com recursos do Estado governado por ele, o Ceará, e a levou e toda a família a um passeio pela Europa e Estados Unidos. Ele poderia, de fato, ser considerado o genro do ano, se fizessem concurso desse tipo, naquela época, naquele Estado. Ele desmentiu o mito de as sogras não serem amadas pelos maridos e mulheres das filhas e filhos.
          Tem mais. Quantos genros teriam a coragem de Cid de proclamar ao mundo seu amor por um ser tão vilipendiado como a sogra? Pois ele fez isso. Não é de emocionar, não nos faz pensar em como o ser humano é bom? Homem tido como esquentado, desses de não aceitar desaforo, de meter o dedo na cara dos adversários, de chamar para briga “lá fora”, como seu irmão Ciro, eterno candidato a presidente da República, ele se derrete todo (pelo menos, na época se derretia) quando o assunto é a mãe de sua mulher.
          Agora fui atraído por notícia sobre sogra e nora. Mas, sob outro ângulo, outro ponto de vista. A atriz Débora Secco que, segundo todos os indícios, anda esses dias com a cabeça nas nuvens, porque encontrou o que ela mesma chama seu príncipe encantado, acaba de revelar o segredo de como encontrar tal ser e faz questão de fornecer o segredo a todas as potenciais rivais. Ela se arrisca, pois, sem querer ser cético sobre o amor, sem nele desacreditar, alerto sobre o fato de encantos poderem acabar um dia e o príncipe querer se mandar. Se, então, ela desejar encontrar um novo amor, vai topar com sua fórmula já no domínio público. Isso, evidentemente, diminuirá suas chances nessa eterna competição por encantados. Contudo, ela foi em frente e deu a dica: prestem atenção, meninas, na maneira dele tratar a própria mãe, fiquem atentas. Se o tratamento for bom, vale a pena investir no cara. É pista infalível.
          “Sempre falei do príncipe encantado, e todo mundo ria de mim. Hoje consegui e sou uma pessoa muito feliz. Ele é um homem de raízes, trata a mãe dele muito bem.”
          Aí está. Se ele trata a mãe bem, tratará da mesma forma a futura esposa. Não tem erro. Sabem quem deu o conselho a Débora, fonte de tanta felicidade para ela? Sua própria mãe. Isso mesmo, a sogra de Hugo Moura, o príncipe encantado com quem ela se casou ou passou a morar, não estou certo. Atualmente ela está grávida dele e terá, em poucos meses, uma linda menina, Maria Flor. Será este nome merecida homenagem à mãe de Hugo, mulher que é verdadeira flor de pessoa?
          Uma coisa não entendi. Por que ele é “de raízes”? É porque tem suas origens aqui no Brasil, fincadas no solo pátrio? Ou essa característica vem de ele ser homem de princípios, como se vê do tratamento dado a sua mãe? Ou será porque seu amor tem princípio, mas não tem fim, é eterno?
          Não sei. Só sei que, hoje, Débora, como uma princesa, se sente feliz com seu príncipe.

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