28 de dezembro de 2008

Cem Anos

Jornal O Estado do Maranhão

Cem anos. Um quase imperceptível pulsar do tempo medido pela eternidade do infinito universo. Um nada. Cem anos. Uma eternidade na escala do breve viver humano. Tempo mais longo, para a maioria de nós, do que aquele durante o qual podemos caminhar, com nossas angústias, paixões, ódios e amores, egoísmo e generosidade, utopias e ceticismo, por nosso microscópico planeta de uma pequena estrela perdida na periferia da Via Lactea. Tempo suficiente para construir uma obra que irá durar, em anos, muitas vezes cem, a iluminar a imensidão interior (o infinito maior é o próprio homem, Tribuzi nos diz) de cada um de nós e nossos sucessores. Celebramos os primeiros cem anos da Academia Maranhense de Letras, de muitos outros que nossos filhos e netos irão celebrar. Parte de uma série infinita no porvir, esta comemoração, dirigida pela Diretoria que tive a honra de presidir, composta, além de mim, por José Maria Cabral Marques, Jomar Moraes, José Chagas, Laura Amélia Damous, Marialva Mont’Alverne Frota e Alex Brasil, honrou as tradições da Casa. Tanto esta nos deu, a nós maranhenses, desde 10 de agosto de 1908. Este 2008, foi o momento de darmos a ela, com mais intensidade até do que o fazemos no cotidiano de nossa vida acadêmica, o que não é pouco, amor, dedicação, entusiasmo e tudo mais que o sentimento de orgulho que temos de a ela pertencer, nos indicava como dever inarredável, mas, ainda acima disso, revelava a nós mesmos a satisfação, o prazer, de quem tem a consciência de dar necessária contribuição à história de tão importante instituição cultural. E será sempre assim, porquanto, não sendo obra de ninguém individualmente, é obra de todos no decorrer do tempo. E tanto é assim que a Casa vive porque morremos, cedemos o caminho aos novos caminhantes que nos vêm substituir, com entusiasmo e determinação, quando regressamos ao pó de onde viemos, mas não nosso espírito, que esse não regressa, antes continua na Academia e será lembrado em cada solenidade de posse, e fora dela, se mais tivermos feito para merecer a lembrança. Felizes e contentes estávamos na noite do dia 22, ocasião em que entregamos a medalha do Centenário aos acadêmicos e amigos da Academia. Vimos então o muito realizado no Centenário. Foram dezessete eventos. O início das festividades deu-se a 6 de março, quando Vasco Mariz discorreu sobre a fundação de São Luís e lançou seu livro La Ravardière e a França Equinocial. No dia 28 de março, a professora Andréa Daher, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez uma apresentação acerca das missões religiosas francesas e portuguesas no Maranhão, nos primórdios da colonização, e uma sessão de autógrafo de seu livro O Brasil Francês: as singularidades da França Equinocial. O poeta Luiz Augusto Cassas lançou no dia 5 de junho o seu Evangelho dos peixes para a ceia de Aquário. No dia seguinte, foi Marco Lucchesi, poeta, ensaísta e tradutor de renome nacional, quem o fez, com seus livros Memória de Ulisses e Meridiano celeste, após proferir brilhante palestra sobre a poesia de Dante. Depois, Sebastião Moreira Duarte, no dia 17 de julho, fez uma exposição sobre Sousândrade. Em agosto, mês da fundação da Academia, no dia 15, José Sarney, em noite memorável, que contou com as presenças do presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni, e do ex-presidente, Marcos Vilaça, falou sobre a história da Casa e prestou homenagem aos fundadores. Milson Coutinho, ainda em agosto, no dia 22, nos ofereceu seu novo livro, Ouvidores-gerais e juízes de fora, em noite de autógrafos. Em 18 de setembro, Antônio Martins de Araújo falou sobre “A Permanência de Artur Azevedo”. Este é o ano do centenário de morte do teatrólogo maranhense. Ainda em setembro, no dia 26, o biógrafo Fernando Morais lançou O mago. Ivan Junqueira, da Academia Brasileira de Letras fez palestra, no dia 7 de outubro, sobre Gonçalves Dias. Ceres Costa Fernandes lançou, no dia 4 de dezembro apresentou novo livro de ensaios, Surrealismo & loucura e outros ensaios. Alberto Vieira da Silva homenageou os quatrocentos anos de nascimento do padre Vieira, no dia 11, falando acerca dos Sermões sobre Santo Antônio do grande jesuíta. A temporada de lançamentos em homenagem ao Centenário chegou ao final no dia 16 de dezembro com Waldemiro Viana e seu Passarela do Centenário, e José Chagas, com Portugal (discurso em versos). Tivemos ainda a fundação da Academia Maranhense de Ciências, cuja instalação solene foi realizada na AML, onde a nova entidade funcionou durante algum tempo, e a fundação da Federação das Academias de Letras do Maranhão, em que a AML teve e tem ativa participação. Por ocasião da solenidade de instalação, Sálvio Dino proferiu palestra sobre academias de letras e sobre a idéia de fundar a federação no Maranhão. Menciono em destaque dois lançamentos que nos orgulham muito. Um foi o a reprodução do álbum fotográfico confeccionado em 1908 por Gaudêncio Cunha, por encomenda do governo do Estado, com o fim de ser levado à Exposição Nacional daquele ano no Rio de Janeiro. Ele dá um retrato da São Luís do ano de fundação da Academia. O outro lançamento foi o da coleção, em parceria com a Universidade Estadual do Maranhão, de doze livros dos fundadores. Somente este trabalho, já valeria o festejo inteiro do Centenário, se não quiséssemos fazer mais nada, o que, claro, não foi o caso. A direção editorial da série esteve a cargo de Jomar Moraes, certamente conhecedor seguro das biografias dos fundadores e da obra deles. Destaco igualmente a participação especial da Academia na II Feira do Livro de São Luís, promovida pela prefeitura de São Luís e coordenada pela Fundação Municipal da Cultura, que, em homenagem ao Centenário, colocou à nossa disposição espaço exclusivo com primorosa decoração e entusiasmado comando, nas tarefas de planejamento e execução, de Lúcia Nascimento. Todas as realizações do Centenário, todo o brilho de que ele se revestiu, tornou-se possível porque contamos com o apoio da sociedade maranhense, prova inequívoca do prestígio da Academia. Pessoas e instituições, setor público e privado. Todas as contribuições, grandes ou pequenas, de alto valor monetário, ou de pequeno valor, foram importantes. A nenhum faltou compreensão do alto significado de comemorar o centenário da guardiã de nossas mais queridas tradições de cultura. Foi com o fim de fazer um congraçamento verdadeiro que nos reunimos naquela noite. Somos um único povo que, acima de eventuais divergências, tem o Maranhão para unir todos. Pudemos proclamar com orgulho que juntos fomos capazes de importantes realizações e, com isso, depositamos uma valiosa poupança no fundo de nosso capital cultural que, longe de crises e sobressaltos, sempre nos oferece altos rendimentos a serem investidos pelo bem de nossa terra.

21 de dezembro de 2008

Medalhas do Centenário

Jornal O Estado do Maranhão

Encerram-se amanhã as atividades da Academia Maranhense de Letras neste ano da graça de 2008, em que comemoramos o Centenário de sua fundação. Digo comemoramos porque a data não foi unicamente comemorada pela Academia, mas pela Casa e pelos maranhenses juntos. Pois de forma diferente desta não se pode interpretar a maré enchente de apoio, material ou não, que recebemos durante todo o ano, de todos os segmentos da sociedade. Órgãos públicos, do Estado e do município de São Luís, empresas privadas, pessoas físicas. Em todas as ocasiões, quando perceberam a necessidade de encontrar solução rápida para obstáculos com potencial de frustrar a realização de um determinado evento comemorativo, eles prontamente concorreram para afastá-los. É prova, tal resposta, do prestígio da Academia, da confiança geral em sua capacidade de bem administrar e do respeito pela sua história. Devo alertar o leitor com respeito às dificuldades iniciais, quando assumimos a Diretoria, ocasião em que enfrentamos problemas não totalmente inesperados, mas de enorme potencial paralisante. Como é fácil entender, montar a partir do zero uma programação a ser executada durante um ano inteiro e que deve se caracterizar pela boa qualidade e previsibilidade, com participantes daqui e de fora do Estado, donos de agendas de trabalho bastante apertadas, exigiria entre um e dois anos de cuidadosa preparação. Recursos financeiros têm de ser mobilizados, parcerias estabelecidas, compromissos assumidos, tudo exigindo tempo, dedicação e compromisso com a instituição. A não contar com os apoios externos e, em especial, com os internos, de parte da Diretoria da AML e dos acadêmicos, mais difícil ainda teria sido a superação dos eventuais entraves. Não quero individualizar aqui as colaborações. Afirmo, no entanto, que cada um deu a sua na medida de suas capacidades e de suas limitações de várias ordens. Se eventualmente alguém, podendo, não o fez, isso aconteceu na proporção de seus compromissos com a instituição. As comemorações trouxeram ao público familiaridade com os fundadores, cujos nomes aqui repito: Ribeiro do Amaral – o primeiro presidente, cargo que ocupou da fundação em 1908 até 1927, durante quase 19 anos, o mais velho, fundador da Cadeira número 11, atualmente vaga com a morte de Manoel Caetano Bandeira de Mello e para a qual foi eleito recentemente José Carlos Sousa Silva, que tomará posse no próximo ano – Domingos Barbosa, Alfredo de Assis Castro, Barbosa de Godóis, Godofredo Viana, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Inácio Xavier de Carvalho, Astolfo Marques, Antônio Lobo, Fran Paxeco e Armando Vieira da Silva, o mais novo, com 21 anos na época e fundador da Cadeira número 8, hoje ocupada por mim. Mas, eu dizia, encerram-se amanhã, dia 22, às 19 horas, na sede da AML, as atividades acadêmicas deste ano. Digo agora que o encerramento se dará com a entrega da medalha alusiva ao Centenário, e respectivo diploma, instituída pela Academia e destinada aos acadêmicos e a pessoas e instituições que de alguma forma colaboraram com a Academia nas festividades comemorativas do Centenário ou com ela têm consistentemente colaborado. Não importa o tamanho (na maioria das vezes não se pode sequer quantificar apoios), todos foram importantes. De cada um, segundo suas capacidades. O exemplo dos colaboradores frutificará. Eles expressam a vontade de prestigiar a mais antiga instituição cultural do Estado e uma das mais antigas do Brasil, e que no decorrer desses cem anos, se credenciou como a mais legítima guardiã de nossas mais caras tradições de cultura. Volto a fazer a pergunta, que fiz há duas semanas aqui nesta coluna: Quantas existem dedicadas à cultura que tenham esse tempo de vida e com tanto prestígio?

14 de dezembro de 2008

Livros e Livros

Jornal O Estado do Maranhão

Depois da marcante noite do lançamento, em parceria com a Uema, de doze livros dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, na terça-feira da semana passada, dia 9, tivemos dois dias depois, na quinta-feira, dia 11, erudita, concorrida, emocionante e emocionada palestra do acadêmico Alberto Tavares Vieira da Silva, no encerramento do ciclo de palestras do Centenário. Ele confirmou seu conceito de grande conhecedor da obra do Padre Antônio Vieira e de palestrante seguro, com pleno domínio dos assuntos de que trata. O ciclo começou com o embaixador Vasco Mariz. Ele discorreu, ainda no início do ano, sobre a fundação de São Luís. A seguir a professora Andréa Daher, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez uma apresentação acerca das missões religiosas francesas e portuguesas no Maranhão, nos primórdios da colonização, comparando o trabalho das duas sob o ponto de vista do discurso sobre a catequese. Depois, Marco Lucchesi, poeta, ensaísta e tradutor de renome nacional (atualmente ele é curador da Exposição Machado de Assis, da Biblioteca Nacional), falou sobre a poesia de Dante. Sebastião Moreira Duarte, em sua palestra, teve como tema Sousândrade. Em agosto, mês da fundação da Academia, José Sarney, em noite memorável, que contou com as presenças do presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni, e do ex-presidente, Marcos Vilaça, falou sobre a história da Casa e prestou homenagem aos fundadores. Ivan Junqueira, também da ABL, fez uma apresentação sobre Gonçalves Dias. Alberto Vieira da Silva fechou a série. Outro encerramento verão os presentes à Academia nesta terça-feira, dia 16, às 19 horas. Para fechar as homenagens aos 100 anos de fundação da Casa de Antônio Lobo, dois acadêmicos completam a série de lançamentos que teve início nos primeiros meses do ano. Um será do livro Portugal (Discurso em versos), do poeta José Chagas. De seus inúmeros inéditos, ele resolveu editar este que é uma homenagem a Portugal. Inédito no sentido de ainda sem edição, mas não desconhecido, porque o poema Portugal foi recitado pelo próprio poeta na noite do Dia de Camões, no ano de 1997, na AML. Dispenso-me de comentar as qualidades literárias da obra. Eu já as indiquei ao informar que é de José Chagas. Basta isso. Digo apenas que são linhas de referência nesse livro o mar e mais Camões, Vieira e Fernando Pessoa (“a trindade ideal”). Na mesma noite, Waldemiro Viana, ocupante da Cadeira No 2, cujo patrono é Aluísio Azevedo, apresentará ao público o seu Passarela do Centenário & outros perfis. Ele, com tradição literária na família, pois é filho de Fernando Viana, que pertenceu à Academia, tomou seu pai como inspiração e mais especificamente o livro de Fernando chamado Passarela & outros perfis e escreveu esta nova Passarela, em que traça em sonetos bem humorados o perfil de seus companheiros na Casa de Antônio Lobo, onde, por sinal, há unanimidade no reconhecimento de Waldemiro como pessoa afável, de permanente bom humor, refletido nos sonetos, e de agradável convivência. Aliás, ele é um ficcionista de reconhecidos méritos e tem dado importante contribuição ao conto e ao romance maranhenses. A série começou com o Evangelho dos peixes para a ceia de Aquário, de Luís Augusto Cassas, e continuamos com Memória de Ulisses e Meridiano celeste, de Marco Lucchesi, Juízes de fora e ouvidores gerais, de Milson Coutinho, Surrealismo & loucura e outros ensaios, de Ceres Costa Fernandes e estes dois de agora. Mais ainda, a Academia publicou o Maranhão 1908, reprodução fotográfica, em edição de luxo, de álbum de fotografia de Gaudêncio Cunha, com apoio da Vale, e, também, os doze livros dos fundadores. Chagas e Waldemiro adicionam brilho ao o rico conjunto de obras publicadas no Centenário.

7 de dezembro de 2008

Doze Livros

Jornal O Estado do Maranhão

Estes são os livros e seus autores: Fundação do Maranhão, Ribeiro do Amaral; Silhuetas, Domingos Barbosa; Coisas da vida, Alfredo de Assis Castro; História do Maranhão, Barbosa de Godóis; Por onde Deus não andou, Godofredo Viana; Harpas de fogo, Corrêa de Araújo; O Palácio das Lágrimas, Clodoaldo Freitas; Missas negras, Inácio Xavier de Carvalho; Natal, Astolfo Marques; Os Novos Atenienses, Antônio Lobo; Poesias, Armando Vieira da Silva; O Maranhão: subsídios históricos e corográficos, Fran Paxeco. São esses os doze livros a serem lançados depois de amanhã, às 19 horas, na Academia Maranhense de Letras. São livros, esses, dos doze fundadores da Academia, centenária desde 10 de agosto deste ano. Perguntaram-me uma vez se não seria uma forma de criar mitos as homenagens aos fundadores. Afinal, o decano da Casa prestou-lhes especial reverência em agosto, quando os fez entrar solenemente, como todos viram – para dar provas de que eles continuavam vivos entre nós –, pelo corredor central do auditório da Academia, no seu prédio à rua da Paz, onde ela foi fundada a dez de agosto. Ali, naquele ano de 1908, era o local onde funcionava a Biblioteca Pública do Estado. Mais tarde, 31 anos depois, ele foi doado à Academia, sendo governador do Estado Sebastião Archer da Silva. Seu influente secretário-geral era Clodoaldo Cardoso, então presidente da Academia. Muito há de ter ele influenciado nessa decisão. Seja criação de mito. Melhor, aliás, que assim seja, pois os povos se afirmam como tal por meio de seus mitos fundadores. Eu prefiro o “Independência ou Morte”, a qualquer declaração burocrática de separação entre metrópole e colônia. É mais heróica e cria a imagem de nobreza de princípios. As virtudes romanas exaltadas por Tito Lívio ao escrever a famosa história de Roma não são menos reais do que as que por acaso eles de fato possuíssem. E o “Fico”? É mais bonito o “Diga ao Povo que Fico” do que a fria narrativa de acordos políticos de bastidores, feitos ao sabor de interesses governados pelo torpe metal. Mito ou não, Os Doze fundaram de fato uma instituição agora centenária e com isso deram relevante contribuição à vida cultural do Estado. Quantas existem dedicadas à cultura que tenham esse tempo de vida e com tanto prestígio? A coleção dos livros desses pioneiros tem dupla importância. Primeiro, o público interessado e, em particular, o historiador da cultura terão acesso imediato a esse conjunto de obras do final do século XIX e princípio do XX, representativas do ambiente cultural da época, que lutava com determinação contra as conseqüências da crise econômica do Estado, vinda das décadas anteriores. Eram, até agora, de difícil acesso, pela sua raridade. A partir de terça-feira, estarão à disposição de todos. Segundo, as obras têm importância por si mesmas. Romance, conto, poesia, história, inclusive literária, perfis biográficos, eis o conteúdo formal desse conjunto, a envolver qualidades estéticas inegáveis. Faço menção especial à parceria da Academia Maranhense de Letras com a Universidade Estadual do Maranhão. Desde o início das discussões acerca da possibilidade de as duas instituições tornarem efetiva a essa homenagem aos Fundadores, o reitor José Augusto Oliveira abraçou com entusiasmo a idéia. Daí por diante, com a colaboração do acadêmico Marialva Mont’Alverne Frota, também professor da Uema, e a competente e experiente direção editorial de Jomar Moraes, que elaborou notas e apreciações críticas sobre os autores e deles traçou os perfis biográficos, os trabalhos decorreram com poucos percalços. Como dissemos, eu e o reitor, na apresentação dos volumes: “A Academia e a Universidade estão orgulhosas desta realização em benefício das legítimas tradições culturais do Maranhão”.

30 de novembro de 2008

Caminhos da Educação

Jorna O Estado do Maranhão

Mais de uma vez fiz aqui comentários sobre problemas da Universidade brasileira. Minha preocupação com o assunto deriva da evidência de que a qualidade do sistema educacional de um país, em todos os níveis, é fator importante, quando estruturado em padrão de excelência, ao seu desenvolvimento. Os países do chamado Primeiro Mundo não têm bons sistemas educacionais pela razão de serem ricos. Ao contrário, são ricos porque os criaram desde o início de sua história moderna, como pré-requisito para o aumento da produtividade de sua mão de obra e riqueza e para seu desenvolvimento cultural, de tal maneira a gerar um círculo virtuoso cujos vetores são educação e crescimento a se reforçarem permanentemente. Nenhum povo pode aspirar ao respeito e admiração dos outros se não alcançar níveis educacionais desenhados com o fim da eliminação da pobreza e da degradação humanas. Entre as patologias que tenho apontado, está o paralisante assembleísmo. Tudo que não passar por infinitas e tediosamente longas assembléias, cuja representatividade quase nunca pode ser demonstrada e quase sempre representa apenas o ponto de vista de uma minoria barulhenta, embora semi-letrada, com suas palavras de ordem dinossáuricas, é classificado como autoritarismo e neoliberalismo, insulto máximo aos adversários na avaliação de setores auto-intitulados progressistas. Conselhos e mais conselhos vão acrescentando camadas de instâncias decisórias. Após certo ponto, provocam a paralisia de ação. Agora, vejo entrevista da professora Eunice Durham, ex-secretária de política educacional do Ministério da Educação e, atualmente, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas, da Universidade de São Paulo – USP. Ao analisar as diretrizes oficiais – repito, diretrizes oficiais – para os cursos de pedagogia ministrados pelas universidades brasileiras, ela verificou que entre 14 artigos e 38 incisos apenas dois itens têm alguma relação com o trabalho do professor na sala de aula. Na dia a dia, dessa orientação resulta que nos cursos pouco se dá atenção à formação prática dos futuros professores. “Em vez de aprenderem a dar aulas, os aspirantes a professor são expostos a uma coleção de jargões. Tudo precisa ser democrático, participativo, dialógico e, naturalmente, decidido em assembléia”. Os recém-formados, quando iniciam a carreira, adotam os bordões a que foram submetidos durante anos. Do não-ensino, só pode resultar o não-aprendizado. Esse, o perfil dos professores que nossa Universidade vem formando. Perguntarão os leitores se os próprios professores não se percebem como parte do problema da qualidade do ensino no Brasil, que tem, é bom dizer, mais de uma causa. Além da má formação, por cujo aperfeiçoamento não se tem notícia de greves de meses e meses, o absenteísmo é pandemia nacional nas escolas públicas. Naturalmente, os sindicatos fecham os olhos a isso, preferindo colocar toda a culpa no governo e nos baixos salários. Coisas do corporativismo. O professor falta em média um mês de trabalho por ano, mesmo em áreas sem problemas de segurança, e não sofrem um centavo de desconto em seu salário por não cumprir suas obrigações nem ameaça de demissão. Entre as urgências reformistas tão evidentes no Brasil, a maior é a da reforma educacional. O país se afogará num mar de incompetência cultural, social e econômica se nada de sério for feito logo. A história mostra que sem a base educacional não é possível deixar a pobreza no passado. A resolução dos problemas de ordem material de uma sociedade é a primeira condição para se alcançar uma sociedade não apenas próspera, mas feliz, qualquer que seja o significado atribuído a esta palavra, sintetizadora do sentido de viver. O caminho está dado.

23 de novembro de 2008

Federação de Academias

Jornal O Estado do Maranhão

Em prosseguimento das comemorações do Centenário de fundação da Academia Maranhense de Letras, será lançada na próxima sexta-feira, dia 28, no auditório da AML, a Federação das Academia de Letras do Maranhão. A nova instituição já se fazia tardar, pois não é de hoje que a idéia circula entre acadêmicos e pessoas ligadas à vida literária do Maranhão. É natural que instituições dedicadas aos mesmos fins, neste caso, o da defesa e preservação das tradições culturais do estado e dos municípios, se unam. É o que está para acontecer. Existem, hoje, no Maranhão, 22 academias de letras: Imperatrizense de Letras; Açailandense de Letras; Sambentuense; de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons; Bacabalense de Letras; Pedreirense de Letras; Arariense-Vitoriense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas; Barreirinhense de Letras; Grajauense de Letras; Maranhense de Medicina; Pinheirense de Letras, Artes e Ciências; Vianense de Letras; Anajatubense de Letras; Caxiense de Letras; Brejense de Artes e Letras; Barra-Cordense de Letras; Cururupuense de Letras; Letras, Ciências e Ecologia do Leste Maranhense (sede em Timon); Maçônica Maranhense de Letras; Atheniense de Letras e Artes (sede em São Luís); Letras de Tutóia. Acrescentemos a essas a Academia Maranhense de Ciência, quer foi instalada este ano em solenidade na Academia Maranhense de Letras. São 23 no total, quantidade que torna viável a criação de uma Federação. Dessa união, deve-se esperar um alargamento do nosso mundo cultural. Posso apontar duas razões, pelo menos, justificadoras dessa afirmativa. Uma, de natureza material. Falo das facilidades que o novo órgão poderá criar na captação de recursos para projetos de toda ordem, direcionados ao fortalecimento de seus filiados. Como é bem conhecido, o respaldo de uma entidade como essa é de grande importância na liberação de recursos por entidades públicas atuantes na área cultural. Imaginemos, como exemplo, que as academias desejem modernizar suas práticas administrativas e, para tal fim, planejem investir na informatização, entendida não apenas como a compra de computadores e seus periféricos, mas também o treinamento de pessoal capaz de operá-los com eficiência. Um projeto voltado para as necessidades de todas, não apenas de alguns, elaborado com regras de participação previamente acordadas, por equipe de técnicos adequadamente capacitados, que é de se supor não estarem disponíveis em todas as sedes das academias, teria mais chance de sucesso com respeito a seu pleito do que projetos isolados e menores. Na fase de implantação e depois, ele tornaria mais fácil a troca de informações de ordem técnica entre os membros desse consórcio. Quem, sozinho, tivesse dificuldades nessa área, estaria apto a superá-las com a atuação conjunta. A outra razão é de ordem cultural. A existência da Federação tornará mais fácil o contato e troca de experiências entre as academias. Os benefícios que daí advirão são múltiplos. Ciclos de palestras, programas editoriais, concursos literários, pesquisas em fontes importantes para a história literária do Maranhão e dos municípios e diversas outras atividades poderão ser mais facilmente realizadas, com a participação das entidades filiadas, num processo de enriquecimento coletivo que de outra forma alcançaria um número limitado delas. Em suma, informações sobre os trabalhos de cada uma estarão disponíveis com rapidez para as outras, criando sinergia altamente positiva entre elas. A Academia Maranhense de Letras tem orgulho, como catalisadora de vontades e sonhos, de se parte do processo de criação da nova instituição. A Federação é de todos e de todos continuará a ser, graças ao profícuo trabalho que irá desempenhar daqui por diante.

16 de novembro de 2008

Cadernos e Dicionários

Jornal O Estado do Maranhão

Neste ano do Centenário de morte de Machado de Assis, muitas homenagens lhe foram prestadas. Uma delas, a exposição Machado de Assis: cem anos de uma cartografia inacabada, que teve como curador o poeta Marcho Lucchesi. Ele proferiu palestra sobre a Divina Comédia, de Dante, na Academia Maranhense de Letras em junho passado, como parte da programação do Centenário da Casa de Antônio Lobo. A iniciativa da exposição foi da Fundação Biblioteca Nacional.Ela possui diversos documentos do escritor carioca, como cartas, fotografias e artigos de jornal, a serem reunidos num livro, a Machadiana da Biblioteca Nacional, e lançará também uma edição fac-similar dos 19 números do jornal O Espelho, de Francisco Eleutério de Souza, em que Machado contribuiu regularmente, bem como o livro Pareceres do Conservatório Dramático Brasileiro, órgão para o qual Machado redigiu pareceres críticos sobre peças que deveriam ser encenadas. Em compasso com esse trabalho de alta qualidade, duas publicações devem ser mencionadas, tanto pela forma como pelo conteúdo. Uma é a edição especial dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, contendo em volume único dedicado a Machado os números 23 e 24, deste ano. Lá se pode encontrar a cronologia de Machado de Assis, publicada em 1958 na Revista do Livro e elaborada por J. Galante de Sousa, autor da importante Bibliografia de Machado de Assis (1955). À vista das pesquisas posteriores à publicação original do trabalho na Revista, em especial as de Gondin da Fonseca, Jean-Michel Massa e Raimundo Magalhães Júnior, a cronologia foi revisada e atualizada por Hélio Seixas Guimarães, autor do excelente Os leitores de Machado de Assis (2008), dando-nos uma visão atualizada de sua vida. Na seção de ensaios, encontramos conceituados estudiosos, como Alfredo Bosi, John Gledson, Lúcia Granja e o próprio Hélio Guimarães, este com uma avaliação crítica das diversas linhas teóricas desenvolvidas em torno da produção machadiana. Na seção Confluências, Carlos Heitor Cony, Antônio Cândido e Marcelo Coelho. Pode-se ver também um belo ensaio fotográfico sobre o Rio de Janeiro da época de Machado. De interesse para os pesquisadores é o levantamento de obras de Machado e sobre ele.A partir de uma seleção dos itens mais relevantes das bibliografias de Galante de Sousa, Jean-Michel Massa e Ubiratan Machado, o trabalho atualiza até este ano as referências sobre o escritor e chega a listar fontes como revistas e publicações eletrônicas, bem como adaptações para cinema, vídeo, televisão, teatro, dança, rádio, ópera e histórias em quadrinhos, fornecendo, ainda, o endereço dos sítios na internet dedicados a Machado. Publicação indispensável ao pesquisador. A outra publicação é o Dicionário de Machado de Assis, com dois mil verbetes, feito sob a chancela editorial da Academia Brasileira de Letras, e elaborado por Ubiratan Machado, autor da Bibliografia machadiana, 1959-2003 (2005). O prefácio é do presidente da ABL, Cícero Sandroni, que também participou das festividades do Centenário, durante sessão magna em agosto, que assinalou a data de fundação da Academia Maranhense, quando o decano José Sarney, fez uma palestra sobre a história da Casa e seus grandes vultos. Edição de luxo com capa dura e sobrecapa, será daqui por diante permanente fonte de pesquisa. Evidente é a utilidade do livro: em vez de termos de procurar em diversas fontes detalhes biográficos da vida do escritor, teremos agora, numa local apenas, todas as informações, o estado da arte com referência a ele. Não foi incluído no Dicionário, em acertada decisão, o levantamento das personagens das obras de ficção, porque isso foi feito anteriormente por Francisco Pati, no Dicionário de Machado de Assis (1958).

9 de novembro de 2008

Colégio de Obama

Jornal O Estado do Maranhão

Os Estados Unidos da América, ou simplesmente América, como os americanos gostam de se referir ao próprio país, são realmente um país extraordinário. Eles têm incrível capacidade de se reno-var, de se refundar. Há somente pouco mais de vinte anos, quando tive a oportunidade de concluir lá os cursos de mestrado e doutorado em economia, depois de uma temporada de cinco anos ininterruptos, não ocorria a ninguém a idéia de um negro ser eleito presidente da República. No entanto, Barak Obama, negro e filho de emigrante do Quênia, tendo vivido também na Indonésia, país de maioria muçulmana, agora é o presidente eleito da nação mais poderosa do mundo.
Grande já era, por ocasião de minha estada naquele país, o progresso dos direitos civis da população negra. No governo do presidente Lyndon Johnson, em 1964, com a promulgação do Civil Rights Act, Lei dos Direitos Civis, mudou-se a vergonhosa situação anterior. A Suprema Corte dos Estados Unidos, por exemplo, desde 1896, havia dado liberdade aos estados para impor legislação segregacionista e eles as impunham. Houve época em que os negros eram obrigados, por lei, a andar na parte de trás dos ônibus, deixando a da frente à disposição dos brancos. Nada indicava que hoje, meros 25 anos depois de minha volta para o Brasil, seria possível acontecer o que aconteceu na última terça-feira, com a eleição de Obama. A América merece a admiração do mundo, até dos esquerdistas primários, especialistas em “fazer uma colocação” contra o demônio ianque.
Perguntam-me leitores como surgiu o Colégio Eleitoral, que tem a função de eleger o presidente. Com o fim de responder, é preciso ir à história americana. As 13 colônias da costa leste da América do Norte conquistaram independência da Inglaterra em 1776. Exceto pelos Artigos da Confederação, tão-só um esboço de constituição, em vigor a partir de 1781, cinco anos, portanto, depois da separação da Inglaterra, nada havia que as unisse institucionalmente. Além disso, elas retificaram a Constituição em vigor até hoje apenas em 1789, ano da revolução Francesa e 13 anos após a independência. Este período testemunhou a existência de um Congresso fraco, como a única autoridade comum, a ausência de um Poder Executivo federal e outras dificuldades com origem no desejo de autonomia das ex-colônias. Havia tensão entre as aspirações autonômicas delas e a necessidade de um governo central com um mínimo de força capaz de mobilizar os recursos da nova nação para a adoção de medidas de interesse de todos.
No modelo adotado com o advento da Constituição, implantada sob influência dos federalistas Alexandre Hamilton, James Madison e John Jay, o presidente da nova república deveria ser eleito por um colegiado ao qual os estados enviariam representantes, eleitos, estes sim, diretamente pelo povo. Tratava-se de consolidar a federação, através da criação de um executivo federal forte, e, ao mesmo tempo, manter a autonomia dos membros. Estes, não o conjunto da população do entes federados, elegeriam o presidente, através de delegados.
O sistema não causaria divergência entre o resultado obtido pela soma dos votos populares de todo o país e o resultado do colégio eleitoral se não tivesse prevalecido ao longo do tempo a regra de o candidato a presidente ficar com todos os delegados onde ele obtiver a maioria dos votos populares, mesmo que por apenas um voto (sistema winner-take-all, o vencedor leva tudo). A alternativa seria uma divisão dos delegados, proporcional ao número de votos de cada candidato nos estados. Mas, nesse casso, o povo elegeria diretamente o presidente, contrariando o princípio da eleição pelos membros federados, que permitiu a criação da União ou, mais propriamente, dos Estados Unidos da América.
Essa, a história.

2 de novembro de 2008

Ivan Junqueira na AML

Jornal O Estado do Maranhão


Passado o momento cimeiro das comemorações do Centenário da Academia Maranhense de Letras, em agosto, sem isso ter significado a ocorrência, antes ou depois desse dia, de ocasiões de diminuição do brilho das festas, ficando sempre claro a todos a importância de uma instituição que se tornou com o tempo a mais importante referência cultural no Estado, eis que a Casa de Antônio Lobo se prepara para receber um dos maiores poetas do Brasil e, certamente, o mais importante de sua geração, Ivan Junqueira. Em agosto nossa emoção veio da demonstração pelo decano da AML, José Sarney, do poder da palavra em criar realidades, trazendo naquela hora, até nós, uma magia tão concreta, quanto concreto éramos nós presentes ali, naquela hora, magia encarnada nas figuras redivivas dos doze fundadores da Casa, e tão real a recriação que, quando o orador os convocou a entrarem no salão onde as palavras de encantamento ecoavam e a conclamação aos presentes a aplaudi-los de pé era ouvida, ninguém duvidou de estar naquele salão em 1908, no momento da fundação da Academia, quando lá funcionava a Biblioteca Pública do Estado, e as palavras eram pronunciadas naquele tom solene próprio à ocasião, próximas de nossos corações, quando o orador os chamou, eu dizia, por um momento ninguém duvidou de que lá eles estavam não apenas em espírito, como de fato estavam, mas em carne e osso, reconstruídos por um instante com o pó e o nada a que o implacável tempo de tudo destruidor os havia reduzido há décadas. Agora em outubro, no próximo dia 7, sexta-feira, a poesia mais uma vez irá nos emocionar, quando Ivan Junqueira, da Academia Brasileira de Letras, carioca de nascimento, iniciar sua palestra.. Será um poeta, um grande poeta, falando de um dos maiores de todos os tempos da poesia brasileira, Gonçalves Dias, o patrono da Academia Maranhense de Letras, que foi fundada exatamente no dia 10 de agosto quando ele completava 85 anos de morte. Agora vejam isto. Junqueira nasceu exatamente no dia da morte de Gonçalves Dias, 3 de novembro. Ivan chegou a cursar Medicina, mas não terminou seus estudos, passando em seguida ao jornalismo, na Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã, Jornal do Brasil e O Globo. Como crítico literário e ensaísta, colaborou em grandes jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e em publicações especializadas nacionais e estrangeiras, como Colóquio Letras, Revista do Brasil, Senhor, Leitura e Iberomania. Foi editor adjunto e editor executivo da revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional (1993-2002), tendo sido antes, em 1998, curador do Programa de Co-Edições da Fundação, período em que foram publicados 35 títulos de autores das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Ocupou os cargos de Tesoureiro (2001), Secretário-Geral (2002-03) e Presidente da ABL (2004-05). Junqueira ganhou dois Prêmios Jabuti, de poesia. Em 1995, com A sagração dos ossos, e este ano, com O outro lado. Sua produção poética inclui, além desses dois livros, Os mortos (1964), Três Meditações na Corda Lírica (1977), A rainha arcaica (1979), O grifo (1986). É autor de nove livros de ensaios e de 13 traduções de grandes nomes da literatura universal, como T. S. Eliot, Marguerite Yourcenar, Jorge Luís Borges, Dylan Thomas, Proust e Baudelaire. O escritor José Castello afirma: “Junqueira é um poeta que aposta na força encantatória da poesia: herdeiro do modernismo, vê com suspeita o afã pelo novo que comove os poetas mais jovens e sabe que todo esforço de renovação deve ser, também, um empenho de purificação da língua [...]”. Mais não preciso dizer para convidar o leitor para vir à AML, na próxima sexta-feira, dia 7, para ouvir esse grande homem de letras do Brasil, em homenagem ao Centenário.

19 de outubro de 2008

Saídas confusas

Jornal O Estado do Maranhão

A educação de um povo, garante-me um amigo que já correu Ceca e Meca e olivais de Santarém, pode ser medida pela forma de conduzir automóveis. Não sei se isso é verdade. Se for, há motivos de preocupação com nossa cidade. Se fôssemos julgar pela postura de algumas pessoas ao volante, seria uma terra de gente mal educada. Ironicamente, o amigo chama a atenção para a falta de educação, exibida com orgulho. Onde? Nas portas das escolas, lugar de educação. O mau exemplo, diz ele, é dado pelos pais dos educandos. Estes, guiados por aqueles, acabarão igualmente mal educados. O que se vê é de lamentar, de fato. Na ânsia de apanhar seus amados filhos, depois das intermináveis três ou quatro horas de ausência, e não suportando mais tão longa separação, os pais não se importam de parar seus carros em filas duplas, triplas, quádruplas, impedindo a passagem de outros veículos. Não lhes ocorre, ou se ocorre não os comove, a possibilidade de alguém numa situação de emergência — um doente grave a caminho do hospital, um acidentado em busca de socorro urgente — tentar passar ali naquela hora. O importante é evitar a angústia do pobre rapaz, de não ver logo a mamãe ou o papai. Assim se evitarão traumas aos pobrezinhos. Danem-se o doente, o acidentado, o engarrafamento e a confusão. Na hora da saída das escolas, é um vale-tudo. Vale subir na calçada, buzinar desesperado, estacionar de qualquer jeito. Só não vale parar um pouco antes, ou depois, do portão e andar extenuantes cinqüenta ou cem metros. Cito o exemplo de uma escola do centro da cidade, porque tenho experiência da época em que trabalhei perto dela. A caminho de casa, tinha que passar diariamente na sua porta. Era sempre a mesma coisa: trânsito lento ou parado, esperando pelo saída dos alunos. Como em muitas outras saídas. O raciocínio dessas pessoas é simples. Digo mal. Não é simples, é simplista: fazer uma parada de, vamos dizer, trinta segundos no meio da rua, no lugar errado, não vai criar problema algum. Ora, se todos raciocinarem dessa mesma forma e tomarem a mesma atitude, o resultado é o que se vê. É a chamada falácia da composição. Em determinadas situações, se todos agirem com base, apenas, em seu interesse individual, o resultado será desastroso para todos, embora pareça vantajoso para cada um em particular. Espanta tratar-se de pessoas de classe média, com nível de renda alto, a julgar pelo valor das mensalidades escolares dos filhos ou seus carrões Formalmente, têm bom nível educacional. Vamos conceder o benefício da dúvida e admitir que sim. Mas, podem, no máximo, ter aprendido, quem sabe, soma e subtração. Como esse amigo diz, eles entraram na escola, mas a escola não entrou neles. Ou talvez entrou, mas era tão deficiente que não os formou. Deformou-os para o convívio social. Os órgãos encarregados do trânsito — não sei se municipais ou estaduais — têm sua parte de culpa. A sinalização de trânsito é ruim e a má conservação das ruas não ajuda. Mas o pedaço maior da culpa vai para os mal educados. Esse pessoal é o mesmo que não respeita a faixa de pedestre, ignora o sinal luminoso, anda na contramão (“’é só um pedacinho”), ultrapassa os limites de velocidade, não usa o cinto de segurança, reclama das barreiras eletrônicas, não pára na placa de “pare” e se acha o centro do mundo. No entanto, o cumprimento da lei é possível. Basta querer, não dar bola para a falsa importância dos infratores, alguns dos quais são da turma do “sabe com quem está falando?”. Brasília e outras cidades conseguiram. Nós também conseguiremos, se quisermos. Queremos mesmo? Esse pessoal sem educação bem que poderia ir à 2ª Feira do Livro de São Luís comprar livros e assistir palestras. Quem sabe, poderiam melhorar a própria educação e a dos filhos.

12 de outubro de 2008

A Feira do Livro

Jornal O Estado do Maranhão


A Feira começou. Falo da 2ª Feira do Livro de São Luís, que não é, de fato, a segunda, como a de 2007 não foi a primeira, na ordem cronológica de realização de evento cultural desse tipo em nossa cidade, porque outras, bem menores, já foram realizadas, mas nenhuma dúvida há de que, iniciada no ano passado, irá durar por muito tempo, em benefício da cultura maranhense, pois o novo prefeito a assumir a administração de São Luís em janeiro de 2009, em substituição a Tadeu Palácio, que a instituiu por lei, e as seguintes, irá cumprir rigorosamente e com igual brilho e entusiasmo a determinação inscrita na legislação municipal de realizá-la periodicamente. Tendo dela participado no ano passado e acompanhado um pouco mais de perto sua montagem este ano, sob o comando do presidente da Fundação Municipal de Cultura, Edirson Veloso, e a direção heróica da coordenadora geral, Lúcia Nascimento, com dedicação em tempo integral e a um ritmo frenético às tarefas de coordenação da montagem da Feira, enfrentando dificuldades próprias do setor público e inerentes à organização de um evento desse porte, com sua inevitavelmente complexa logística necessária para levar a bom termo a tarefa de fazê-lo acontecer, chego a pensar que a Feira deveria ser feita bienalmente, como as do Rio de Janeiro e de São Paulo, e não anualmente. Seria uma forma de garantir mais tempo a sua preparação e permitir a diluição de custos, sempre crescentes na proporção de seu crescimento e que enfrentam inevitavelmente as limitações do orçamento público ou, a esse respeito, de qualquer orçamento. Como se aprende no primeiro semestre dos cursos de economia, as necessidades humanas são sempre infinitas e os recursos para atendê-las, escassos. Não fora assim, estaríamos em verdade no paraíso, dedicados apenas às coisas do espírito, livres das enfadonhas e banais preocupações materiais da vida cotidiana. Como eu disse no ano passado, “acontecimento como esse não tem por fim a mera venda de livros, embora, evidentemente, a comercialização, ao colocar ao alcance das pessoas publicações que elas não teriam a oportunidade de conhecer sem a Feira, cumpre a importante função de ajudar na formação de novos leitores [...], fundamental no fortalecimento cultural de qualquer sociedade, e gera, ainda, na comercialização, incremento de renda para os agentes econômicos locais, objetivo econômico de que tanto se fala no discurso porém pouco se promove na prática”. É a chamada economia da cultura em ação, funcionando em favor da comunidade. A Feira presta este ano homenagem à Academia Maranhense de Letras, pelo Centenário da Casa de Antônio Lobo, que vem comemorando sua fundação desde o início do ano,com palestras, lançamento de livros e outras atividades. Foi criado lá um espaço especial, onde será montada uma exposição com peças do acervo da Academia, tais como medalhas a ela outorgadas e as que outorgou, livros raros, documentos históricos, como antigas atas e a espada da Academia Brasileira de Letras, pertencente ao acadêmico José Sarney, que também o é da AML,onde é o decano, tendo a ela doado aquele objeto de grande valor simbólico, durante a sessão solene realizada no dia 15 de agosto passado, que marcou a data de fundação da Academia, a 10 de agosto de 1908. O sucesso da Feira mostra a força da cultura local bem como a disposição para ler dos habitantes desta cidade. Isso é evidência de que, em presença de condições adequadas, capazes de dar às pessoas oportunidade de acesso ao livro, a preços moderados, elas não apenas o aceitarão, mas o farão com prazer e entusiasmo, especialmente o público jovem em processo de formação de hábitos de leitura. E jovens não faltarão, pois dezenas de escolas lá estarão presentes. Todos à Feira.

5 de outubro de 2008

Machado de Assis

Jornal O Estado do Maranhão

A segunda-feira passada, 29 de setembro, assinalou cem anos da morte de Machado de Assis. Apesar das vozes discordantes, que já se levantavam quando ele estava vivo e consagrado, sem a capacidade, porém, de estancar o crescimento da glória do grande escritor, cuja fortuna crítica cresce quase diariamente, ele tem tido aprovado com louvor, no maior teste a que um artista pode se submeter, o do tempo. Quantos escritores tiveram em sua época os aplausos das multidões, logo emudecidos, mal eles desceram aos “lugares pálidos, duros nus”, de que nos fala Adriano. Nas Fontes para o estudo de Machado de Assis (1958), J. Galante de Sousa nos dá, para os anos entre 1857 e 1957, 1.884 verbetes com referências a Machado. A Bibliographie descriptive, analytique et critique de Machado de Assis (1965), de Jean-Michel Massa, autor do melhor livro sobre o jovem Machado, A juventude Machado de Assis, 1839-1870: ensaio de biografia intelectual (1971), relaciona mais 132 relativas a 1957 e 713, a 1958. Ubiratan Machado (2005), em Bibliografia machadiana, 1959-2003, acrescenta 3.282, de 1959 a 2003, como indicado no título. No total, 6.011 verbetes Sabendo-se, no entanto, ser quase impossível a localização de tudo que se tem escrito sobre ele na imprensa, ou de todos s livros com estudos sobre ele. Pode-se, assim, dizer que o total deve ser maior e deverá ainda aumentar até o fim deste ano e depois. Os luxuosos Cadernos de Literatura Brasileira, nos seus números 23 e 24, publicados como um volume único dedicado a ele, reproduzem e ampliam, ano a ano, sob o título Cronologia de Machado de Assis, o trabalho de Galante de Sousa, a mais importante fonte sobre sua vida. Até agora, foram identificadas 209 menções escritas a sua obra, com média anual de 4,1, entre o início de 1857 e o final de 1907, ano anterior de sua morte. Apareceram mais 461, ou 14,9 por ano, em média, entre os anos de 1908 e 1938, este último imediatamente anterior ao do centenário de seu nascimento. De 1939 a 1957, logo antes do cinqüentenário de sua morte, foram outras 1.346, com média anual de 74,8, acima de seis por mês. Foram localizadas mais 3.995 entre 1958 e 2003, produzindo média por ano de 86,8, ou mais de sete por mês. A média não apenas cresce, mas o faz a taxas crescentes em todos os períodos delimitados por datas significativas com respeito a Machado, exceto no último. Quantas novas referências terão aparecido entre 2003 e 2008! Sua obra tem essa capacidade de falar às novas gerações, de oferecer novas leituras com o passar do tempo, de se refazer com novos leitores, sinais de permanência e de universalidade. Este último aspecto, é bom lembrar, tem sido objeto de amplas discussões no corpo da fortuna crítica de Machado de Assis. Seria, principalmente, nacional ou universal sua obra? A crítica tem se dividido entre as duas posições, alguns estudiosos colocando ênfase na dimensão nacional, outros nos aspectos universais. A quase 170 anos de seu nascimento a 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, e a 100 de sua morte em 1908, na cidade onde nasceu, a admiração de seus leitores é ainda mais intensa e crescente do que o foi no seu tempo. Não será exagero comparar tal destino, no que ele evidencia a capacidade que tem de dialogar com as sucessivas gerações, a figuras universais como Dante, Cervantes, Shakespeare e Camões. A posição de Machado na nossa cultura é ímpar. Importantes críticos (Sílvio Romero, Araripe Junior, José Veríssimo, Astrojildo Pereira, Lúcia Miguel Pereira, Augusto Meyer,Alfredo Bosi, John Gledson, Roberto Schwartz, etc.) têm se debruçado sobre seu legado literário, gerando uma multiplicidade de pontos de vista, o que mostra o lugar privilegiado que ele ocupa em nossa literatura.

21 de setembro de 2008

Supostismo

Jornal O Estado do Maranhão

O leitor deve conhecer o gerundismo, praga sobre a qual falei mais de uma vez aqui. Ela é encontrada facilmente, ameaçadora, em qualquer empresa de telemarketing e em call centers de serviços de telefonia e distribuição de energia elétrica. Todo mundo um dia vai se deparar com ele: “sua reclamação sobre a constante falta de energia vai estar sendo atendida em breve”, ou “o senhor vai estar recebendo um comunicado sobre a resolução do problema”. Estrutura da língua inglesa com palavras em português, é forma de contaminação lingüística bastante danosa, porque, como afirmam especialistas no assunto, não se trata apenas da incorporação de palavras de outro idioma, normal no contato entre diferentes idiomas, mas da estrutura sintática estrangeira. O mal não tem dado sinais de diminuir o ímpeto. Ao contrário, o gerundismo, de tão comum, não chama mais a atenção. E, pior, muita gente não percebe seus próprios hábitos gerundistas e toca a usá-lo, achando-se sofisticado no falar. Os males, dizem os mais pessimistas, ou realistas, vêm em ondas, nunca isoladamente. Deve ser por isso que vemos a emergência de um parente próximo do gerundismo: o supostismo. Vejam esta notícia, entre centenas encontradas na imprensa diária, tirada ao acaso de um jornal do sul do país, não diferente dos locais neste aspecto: “Segundo ele, Ruth Cardoso teria sido quem impulsionou a unificação dos programas de transferência de renda e de combate à fome no país e teria sido ela quem persuadiu o então presidente Fernando Henrique a adotar esse sistema unificado em nível nacional.”. O que afinal, o jornal está tentando dizer? Que, segundo uma fonte, Ruth Cardoso fez isso ou aquilo? Ou que a fonte apenas supunha que ela fizera tais e tais coisas? Por que não dizer simplesmente “Segundo ele, Ruth Cardoso foi quem impulsionou [...]”. Se impulsionou ou não, fica evidente das palavras de quem deu a opinião, que não se confunde com a eventual opinião editorial. Se a intenção é salvar responsabilidades pela informação, fazendo o leitor identificar sua origem em alguém de fora da redação, sem ligações com o jornal, bastaria tirar o condicional, como sugeri. Tudo ficaria bastante claro. Essa é uma forma de supostismo meio disfarçado, sem o uso explícito da palavra suposto. Outro exemplo: “A prisão temporária foi pedida pelo Ministério Público Federal do Amapá, num desdobramento da Operação Toque de Midas, que investiga suposto esquema de fraudes em licitações no Estado.” Qual a razão do uso do “suposto”. O esquema existe, pois investigações foram feiras. Trata-se somente de obter provas contra os acusados. O suposto é dispensável. Tomemos outro exemplo hipotético do fenômeno, mas representativo de notícias sobre crimes de assassinato: “Segundo o delegado, o suposto assassino seria Fulano de Tal. Ele teria afirmado sua inocência, dizendo que no dia do crime estaria em outra cidade, a 300 quilômetros de distância do local do crime”. Parece-me um excesso de condicionantes: “segundo”, “suposto”, “teria” “seria”. Mais claro, direto e sem voltas seria dizer: “Segundo o delegado, o assassino é Fulano de tal [...]”. Transcrever a declaração do delegado é suficiente para prevenir-se contra a acusação de pré-julgamento. Já vejo a hora de lermos uma notícia como esta: “O presidente da República, com o suposto nome Lula, mas em verdade batizado como Luís Inácio da Silva, inaugurou mais uma obra do Programa de Suposta Aceleração do Crescimento – PRO-SACO, que, afirmam fontes governamentais, irá tirar supostos pobres da situação de dificuldades atual e, supostamente, torná-los ricos, felizes e satisfeitos, a fim de dedicarem-se em tempo integral a reflexões filosóficas sobre o sentido da vida e significado da morte”. Supostamente, supostamente.

14 de setembro de 2008

Artur Azevedo no Centenário

Jornal O Estado do Maranhão

Na próxima quinta-feira, dia 18, o professor Antônio Martins de Araújo, nascido na rua dos Afogados esquina com a do Ribeirão, bem perto do Teatro Artur Azevedo, a cujos espetáculos, sem exceção, assistiu entre cinco e treze anos de idade, fará palestra às 20 horas na Academia Maranhense de Letras, sob o tema “A Permanência de Artur Azevedo”, como parte da programação do Centenário da AML, que irá até o final do ano, e como homenagem ao centenário de morte do escritor. Não sei se o menino (sabe-se lá da imaginação das crianças) tinha especial admiração pelo grande maranhense que dá nome à Casa onde muitas vezes, garoto, eu ia assistir a filmes brasileiros – nessa época estava o teatro arrendado para uma firma comercial –, com os comediantes Oscarito, Grande Otelo e outros astros do cinema. Fato comprovado e bem conhecido é que ele veio a ser o maior especialista nacional em Artur Azevedo, ocupando presentemente cadeiras na Academia Maranhense de Letras e na Academia Brasileira de Filologia, sendo, da mesma forma, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Alguns leitores verão nele o jovem diretor do Liceu Maranhense, onde foi catedrático de Língua Portuguesa, durante o governo Newton Bello. Lá, fundou e dirigiu o Jornal do Lycêo Maranhense, encartado no Diário Popular, que tinha entre seus repórteres Milson Coutinho, hoje, como Antônio Martins, membro da Academia Maranhense de Letras. Era uma época em que o ensino ainda não havia caído no abismo da má qualidade. Outros o identificarão com o idealista presidente do Sindicato dos Professores Secundários de São Luís por vários anos, na década de cinqüenta. Para mim, é o cavalheiresco confrade da AML, o homem experiente disposto em todos os momentos a dar sua contribuição à Casa, o intelectual respeitado nos grandes centros culturais do Brasil, o conferencista sempre a andar pelo mundo divulgando as culturas brasileira e maranhense e o intelectual com estudos de filologia e crítica literária publicados em periódicos portugueses, alemães, japoneses e brasileiros. No Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1964, lecionou Literatura Dramática na Escola de Teatro Martins Pena, entre 1966 e 1991, na cadeira antes ocupada pelos maranhenses Coelho Neto e Viriato Correia. Em 1968, concluiu os cursos de Mestrado e Doutorado em Letras Vernáculas, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde lecionou Língua Portuguesa entre 1979 e 1997. Tem os seguintes livros publicados: Contos fora de moda (de Artur Azevedo), 1982; Artur Azevedo, a palavra e o riso, 1988 (edição de sua tese de doutorado), Chão do tempo, 1991 (2ª ed. Instituto Geia, 2005), A herança de João de Barros e outros estudos, Edições AML, 2003, Noel Rosa: língua e estilo, 1999, em co-autoria com Castelar de Carvalho. Ele editou toda a obra teatral de Artur Azevedo, sob o título O Teatro de Artur Azevedo, exceto as 30 peças originais e as 30 traduzidas, nunca localizadas, havendo informações, no entanto, de que foram representadas. Tem pronto um livro, Ensaios maranhenses, sobre a cultura maranhense, e ministra atualmente na Casa de Cultura Josué Montello curso em nível de mestrado sobre as diversas faces de Artur Azevedo – o teatrólogo, o contista, o cronista, etc. – e ministrará em seguida outro, Unidade e variedade da língua portuguesa hoje. Antônio Martins é titular da Cadeira de Morfologia no curso de pós-graduação do Instituto Superior de Língua Portuguesa, do Liceu Literário Português, no Rio de Janeiro. Mais não preciso dizer para demonstrar ao leitor a qualidade do palestrante da próxima quinta-feira, dia 18, na AML, em mais um evento, o 9º, do Centenário, para o qual estão todos convidados. Ninguém precisa apresentar convite na entrada.

7 de setembro de 2008

Cachorro, não

Jornal O Estado do Maranhão

A figura de Waldick Soriano, o cantor do povão, o brega-chique, morto há poucos dias, me traz à lembrança um pedaço de minha juventude. No final dos anos sessenta e começo dos setenta ele costumava se apresentar em muitas cidades do interior do Maranhão e em São Luís. Algumas vezes, esteve no antigo Cine Monte Castelo, em prédio cuja construção acompanhei desde a escavação das valas dos alicerces, pois eu morava a poucos metros do cinema. Lembro sobretudo do final da obra, quando os operários começaram a colocar as telhas na estrutura de madeira projetadas com o fim de sustentar a cobertura. Sentado na copa da nossa casa, um bangalô de classe média típico dos anos cinqüenta, sob os olhares vigilantes de minha mãe, que não nos liberava, a mim e meus irmãos, para as brincadeiras rotineiras a menos que déssemos conta sem vacilações dos deveres escolares do dia, era possível observar, dia a dia, o progresso do trabalho. A mim os trabalhadores pareciam empenhados na montagem de um grande quebra-cabeça com todas as peças do mesmo formato e tamanho, em lento progresso. Eles não executavam o serviço de tal maneira a criar, com as telhas, filas ou colunas de crescimento contínuo. Antes, produziam ilhas esparsas, aos poucos crescendo em direção umas das outras, até que suas bordas se juntassem, formando ilhas maiores, reunidas a seguir a outras, até o trabalho se completar. Os espaços entre elas, eu os via como os de um quebra-cabeça incompleto. Sempre que eu me detinha em contemplar o andamento de tudo aquilo durante um tempo mais longo do que minha mãe achava razoável para o sucesso da missão de chegar à escola sabendo as lições na ponta da língua, ela me chamava à realidade e lá se iam as telhas e a imaginação. Eu tinha a seguir de me voltar para os afluentes do Amazonas, o descobridor Pedro Álvares Cabral, o grito de Independência ou Morte, os verbos e advérbios. Ela foi minha melhor professora, ela mesma dada à leitura dos bons autores e capaz de escrever pequenas peças de teatro, apresentadas nas lojas maçônicas freqüentadas por meu pai. Inaugurado o cinema, logo a pracinha em frente se tornou ponto de encontro dos rapazes do bairro. Íamos lá conversar sobre tudo e nada, fumar cigarros Minister, ou Continental quando o dinheiro encurtava, de lá seguindo até o bar do Nezinho, ali bem perto, ou lugares mais afastados e não recomendáveis. O cinema virava casa de espetáculos com a chegada de um artista popular de fora Carlos Gonzaga, outro “brega”, era um deles, cantando Oh! Carol (gravada mais tarde por Caetano Veloso), Diana e vários sucessos. Outro, era Waldick Soriano, a quem já conhecíamos pelas músicas tocadas nas rádios e em todo lugar, mas também, no meu caso e no de alguns dos companheiros, pelas notícias, dando conta de supostos filhos que ele teria ao longo da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, que ouvíamos nos trens e em Pirapemas, onde íamos passar férias, na casa do amigo José Novais, hoje médico. Waldick, ídolo do povo simples, que gosta de ouvir canções de dor-de-cotovelo, sem nenhuma vergonha, como um tipo de catarse das agruras do cotidiano, servia, vejo isso com a visão de hoje, como uma espécie de antídoto contra a influência exagerada da música com pretensões legítimas à sofisticação, como a bossa-nova, de grande prestígio numa relativamente pequena classe média da época, mas desconhecida das massas, servindo, para nós, à formação de um gosto musical de raiz popular e mais amplo. Como acontece com freqüência, o brega de hoje pode ser o cult de amanhã. Veja-se o exemplo, no cinema, de Zé do Caixão. Releituras de Waldick já ocorrem. Sua Tortura de Amor foi gravada por Fagner (Hoje que a noite está calma/ E que minh’alma esperava por ti...). Brega ou chique, cachorro não é Waldick.

31 de agosto de 2008

Independência e morte

Jornal O Estado do Maranhão

Vê, leitor, como funcionam as coisas na arena internacional. Em fevereiro deste ano, Kosovo, província da Sérvia, de maioria albanesa, declarou independência com o apoio dos Estados Unidos e alguns países da Europa. Outros, como a Espanha, Grécia, Bulgária e Chipre, se abstiveram de apoiar a posição americana por um motivo prático: eles têm também complexos problemas de separatismo em seus territórios. Na Ásia, a China, pela razão óbvia da luta do Tibete por sua separação, ficou calada, condenando com seu silêncio a ex-província sérvia. Na África, o Sudão não vê com bons olhos a onda separatista por causa da rebelião da província de Darfur. Agora, poucos meses depois, os mesmos Estados Unidos se dizem a favor da integridade territorial da Geórgia, ex-república soviética onde nasceu Stálin, que nunca chegou a falar russo sem sotaque, estimulada pelo governo ianque a se integrar à Otan, aliança militar ocidental hostil à Rússia. Os americanos declaram-se também contra a secessão das regiões georgianas chamadas Ossétia do Sul e da Abkhásia, que na prática já eram protetorados russos. Foram, no entanto, como vimos, contra a integridade da Sérvia, país eslavo de maioria cristã ortodoxa, como a Rússia, e desta aliado desde os tempos dos czares. Mas, não seriam eles a favor da integridade da Geórgia apenas porque, usando um raciocínio bem americano, Kosovo tinha viabilidade econômica, mas não as duas ex-províncias? Não. Esses novos “países” são inviáveis por qualquer critério, seja econômico ou de outra natureza. A separação, no caso georgiano, é apenas o primeiro passo para a anexação à Rússia. Em outro contexto, em que os interesses em jogo são muito menores, e em outra proporção, eles são como a maioria dos inviáveis municípios criados em tempos recentes no Maranhão. Quantas ossétias, abkhásias e kosovos existem aí pelo interior do Estado! A verdade é esta: a razão imediata da atual crise foi a tentativa da Geórgia, em cujo território passam dutos de transporte de gás e petróleo russos em direção à Europa Ocidental, de submeter à força aquelas duas regiões, ao preço da morte de muitos inocentes, com uma fracassada iniciativa militar, logo rechaçada pela Rússia. Esta não só expulsou as tropas adversárias daqueles territórios, como ocupou parte da terra de Stálin, atitude que não seria menos drástica por parte dos Estados Unidos se, por exemplo, a Venezuela tentasse anexar à força antigas áreas em disputa com um de seus vizinhos, ampliando sua área de influência anti-americana. A Geórgia é uma das venezuelas russas. É conhecida a política de Bush de usar esse pequeno país como apoio à estratégia de debilitar as posições russas na região. Esse, o motivo da insistência de seu governo em propor a entrada dos georgianos na Otan. Sem fazer julgamentos de ordem moral, que não servem de suporte a análises das relações internacionais, podemos dizer que a reação da Rússia não é surpreendente. O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, quis testar a reação dela. Pagou para ver e viu, incorrendo num custo alto. Os russos mostraram que seus interesses globais têm de ser levados em consideração. Os protestos e reações aparentemente indignadas, nobres e radicais dos Estados Unidos e aliados, mas comedidas em termos práticos, porque o custo de reagir de verdade seria muito alto comparado com os benefícios de contemporizar, irão rapidamente sumir do noticiário internacional, mas não o conflito latente. Um empresário americano, grande exportador de frangos e porcos para a Rússia, Jim Summer, disse "que é importante separar economia de política". É a regra do jogo entre grandes potências, a chamada realpolitik mais uma vez. Independência e morte é regra do jogo. Ou dependência sem morte.

24 de agosto de 2008

Emoção na noite

Jornal O Estado do Maranhão

A noite da sexta-feira, dia 15 de agosto, assinalou o momento cimeiro das comemorações do
Centenário da Academia Maranhense de Letras, que, no entanto, não terminaram naquele dia. Continuarão até o final do ano com o lançamento de livros, inauguração da Exposição do Centenário e palestras de Antônio Martins de Araújo, da AML e da Academia Brasileira de Filologia, sobre Artur Azevedo; Alberto Vieira da Silva, da AML, sobre o padre Antônio Vieira; Ivan Junqueira, da Academia Brasileira de Letras, sobre Gonçalves Dias; e Domício Proença Filho, também da ABL, sobre Machado de Assis. Quando os fundadores – Alfredo de Assis, Antônio Lobo, Astolfo Marques, Barbosa de Godois, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, I. Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Armando Vieira da Silva – foram chamados pelo decano da Casa e palestrante da noite, José Sarney, ao mesmo salão em que a criaram em 1908 e os vimos entrar conduzidos pela magia das palavras do orador, capazes de torná-los tão real quanto a nossa alegria em recebê-los em meio a geral aclamação, senti que não estávamos ali por mero acaso, mas por um mandado do destino que nos trouxe até aqui, neste jovem século, neste ano, neste mês, naquele dia, naquela hora e naquele instante, com o fim de celebrar o Primeiro Centenário, de muitos a serem festejados, e reafirmar nossa fé nas coisas do espírito, as únicas de fato indeléveis. A presença na solenidade da Academia Brasileira de Letras, representada pelo ex-Presidente Marcos Vilaça e pelo Presidente Cícero Sandroni, é, como este me afirmou em sua chegada a São Luís, prova do apreço daquela Casa pela nossa, herdeira de tantas tradições. Nisso, a ABL, que tantos maranhenses tem tido em seu quadro de membros efetivos e entre seus patronos e fundadores, segue o exemplo de seu primeiro Presidente, Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, admirador do Maranhão e seus homens de letras, em especial Gonçalves Dias, entre os quais tinha amigos próximos, como Joaquim Serra, sobre quem escreveu bela crônica por ocasião de sua morte em 1888. Quando o próprio Machado morreu em sua residência, no Cosme Velho, no Rio de Janeiro, numa época em que se morria em casa cercado do consolo dos familiares e amigos e não no ambiente indiferente, frio dos hospitais (hoje parece que já não morremos, mas somos mortos por antecipação por meio de sedação, que nos conduz ao nada antes do nada definitivo), estavam a seu lado os maranhenses Coelho Neto, Graça Aranha e Raimundo Correia, todos, como Joaquim Serra, patronos de Cadeiras na AML, como estavam também Mario de Alencar, Euclides da Cunha, José Veríssimo e Rodrigo Otávio, seus amigos de outros Estados. Grande tem sido a receptividade pela sociedade às nossas iniciativas com respeito às festividades, durante este ano: empresas e outras instituições privadas, gente da área cultural, o setor público. Constantes, as palavras de apoio e de reconhecimento aos nossos esforços com o fim de dar às celebrações do Centenário a dignidade devida à instituição guardiã de nossas mais caras tradições de cultura, evidência do respeito dos maranhenses por ela. Permanente, o apoio incondicional dos membros da Diretoria e dos acadêmicos residentes aqui e fora do Estado. Sinto-me feliz e orgulhoso pelo brilhantismo das comemorações. Ao assumir a Presidência da Academia por escolha dos confrades, eu tinha conhecimento das dificuldades inerentes à administração de uma instituição que, de um lado, não dispõe de muitos recursos materiais, mas, de outro, tem um patrimônio de inestimável valor, embora intangível, medido e contabilizado na moeda do prestígio por nós herdado dos fundadores e sucessores. Para se fazer muito, isto não é pouco.

17 de agosto de 2008

Ouvidores e juízes

Jornal O Estado do Maranhão

Mílson Coutinho, que lançará na próxima sexta-feira, dia 22 de agosto, às 20 horas, na Academia Maranhense de Letras, à rua da Paz, em mais um evento comemorativo do Centenário da Casa de Antônio Lobo, depois da bela sessão solene da última sexta-feira, em homenagem à fundação da Casa, o livro Ouvidores-gerais e juízes de fora: livro negro da justiça colonial do Maranhão (1612-1812), costuma se dizer um mero repórter de coisas antigas, lembrando de seu tempo de militância na imprensa maranhense. Este livro prova, mais uma vez, ser essa auto-avaliação parte da insuperável e sincera modéstia de Mílson. Mais de uma vez eu já disse, ao apreciar outras obras do autor, que poucos pesquisadores de nossa história têm faro tão aguçado para, indo às fontes primárias e embrenhando-se no aparente caos de milhares de documentos, deles extrair uma narrativa não verdadeira, num sentido ingênuo, pois sabemos que o estabelecimento da “verdade” passa pelo filtro ideológico ou de interesses pessoais dos cronistas da história, mas verossímil, essência da boa narrativa histórica ou de qualquer natureza. Pois é isso que mais uma vez fica evidente ao leitor atento. Louvando-se principalmente no acervo documental do Catálogo dos manuscritos avulsos relativos ao Maranhão existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Mílson estabelece pioneiramente a crua história dos representantes do sistema jurídico colonial português no Maranhão num período de 200 anos, até quase a Independência. Emerge da leitura de Ouvidores-gerais e juízes de fora, um retrato não tanto da natureza do sistema de justiça e administração coloniais nesta parte da América portuguesa, mas especialmente de como, dadas certas condições sócio-políticas, certo ambiente, o ser humano é capaz de se comportar em relação a seus semelhantes, revelando o torpe e baixo nele existente, embora se reconheça ser ele capaz igualmente de gestos nobres que, segundo um ceticismo radical, não passa de atitude interessada da qual não se sabe ainda a motivação, consciente ou inconsciente. Não existiria nunca gesto desinteressado? Ouvidores e juízes de fora, homens de “elevada cultura jurídica e humanística”, como assinala o autor, foram presos, deportados de volta ao Reino, excomungados por bispos arbitrários envolvidos nas paixões terrenas locais, expulsos da magistratura por governadores que ainda lhes faziam ameaças e os desterravam para regiões insalubres no interior do Estado, devendo-se ter em mente que as autoridades que dessa forma os castigavam não eram muito piores do que os punidos. Estes, apesar de suas próprias faltas, sofriam sem possibilidade de defesa na colônia e à revelia de formalidades legais ou de preocupações com as aparências. Governadores houve famosos pela desonestidade e arbitrariedade de suas decisões, atributos que os igualavam aos membros da magistratura perseguida por eles. A distância dos centros decisórios em Lisboa, a decadência de Portugal e a conseqüente escassez de recursos materiais para a manutenção e boa administração de seus domínios, a cultura patrimonialista portuguesa, o absolutismo então reinante, tudo isso contribuía para a caótica situação político-administrativa. A pretensão de Mílson não é de modo algum oferecer grandes linhas de interpretação da história do Maranhão, neste aspecto particular da atuação dos magistrados, pela utilização de abrangentes teorias da história, de qualquer linha de pensamento. É de desentranhar de uma rica documentação uma narrativa coerente num estilo caracteristicamente jornalístico com traços de uma oralidade própria do agradável conversador que ele é. O livro comemora os 195 anos de criação do Tribunal de Justiça do Estado, que dessa forma se associa às festividades da AML.

3 de agosto de 2008

Costumes Primitivos

Jornal O Estado do Maranhão

As velhas eleições, de um tempo de que não me quero lembrar agora, por certa antiguidade, eram exemplos de como poluir uma cidade impunemente. Ainda no tempo das cédulas de papel, que muito serviram para emprenhar urnas, método pouco ortodoxo de ganhar eleições, mas de modo nenhum estranho à política da época, o término da disputa eleitoral era ocasião de se ver ruas cobertas de papel, num ridículo arremedo de fim de festa de carnaval, postes enrolados em cartazes de papel vagabundo e de muito mau gosto e muros pichados com inscrições numa língua que chegava a lembrar em alguns detalhes a língua de Camões e Vieira. Depois veio a fase do showmício, palavra em processo de morte junto com a morte da coisa designada por ela, que deu emprego temporário a muita gente, mas desempregou a consideração pelo direito dos cidadãos de não ouvir música da Bahia e não aturar os astros da música axé com a farda típica da profissão: bonés de aba frontal virada pra trás, bermudão folgado até o meio da canela, camisão de cores berrantes estampado com flores, tênis de marcas famosas, ou não tanto, combinados com meiões até os joelhos, pulinhos ditos atléticos ao ritmo da batida insalubre (faz mal à saúde pelo alto volume de execução) do axé e gritos de “alô galera maravilhosa”. Os cantores de trios elétricos, como todos sabem, chamam todas as “galeras” de maravilhosas e amam desde pequenininhos a cidade onde se apresentam, sendo modestos, ainda, ao comentar a qualidade do próprio desempenho musical, assim como o são os jogadores de futebol, que ao marcar gols, nunca admitem ser competentes, mas apenas ter tido a “felicidade” de acertar um bom chute, graças a Deus, ajudando a equipe a conseguir um “resultado positivo”. Como no caso da bem-vinda e salvadora de vidas Lei Seca, que anda derrubando estatísticas de mortes no trânsito, como evidência de ser possível a legislação mudar velhos hábitos assim como velhos hábitos acabam gerando nova legislação, de alguns anos para cá novas leis eleitorais acabaram com a poluição visual causada pelas eleições, até mesmo com os showmícios, que até então pareciam existir desde o Big Bang, mas que terminaram, como tudo termina, no esquecimento e no pó. No entanto, a poluição mudou de forma, agora é principalmente sonora. Com a evolução da tecnologia de amplificação de som, qualquer carrinho se transforma num trio elétrico. Os candidatos a prefeito e vereador dispõem agora, a preços módicos (afinal de contas pra que serve o real valorizado senão para comprar, bem baratinhos, eletrônicos importados?) dispõem de equipamentos de som capazes de incomodar a paz universal. Pensam em ganhar votos, com certeza, mas os arrebenta-quarteirões com que eles jogam pelas ruas, só irritam os eleitores, fazendo os pretendentes perderem votos, depois de terem perdido a vergonha de incomodar a cidade. Aqui em São Luís a coisa está feia. Os candidatos não escolhem hora nem lugar para desrespeitar a legislação, ansiosos de lançarem poluidores sonoros no ambiente. Conheço de perto o caso da Raposa, outro município da ilha, a que vou pelo menos duas vezes por semana. Crime é a classificação a ser dada ao que eles fazem lá. Numa cidade com sua principal via urbana estreita em sua maior parte, eles agridem os eleitores mandando desfilar durante o dia todo carros de som a todo volume naquela via. É hábito antigo na cultura das eleições municipais. A Raposa deveria seguir o exemplo de Codó, onde todos, Ministério Público, Procon, autoridades policias e candidatos, se juntaram com o fim evitar esse tipo de perturbação da ordem pública? Onde estão as autoridades que não tomam providências? A justiça eleitoral não sabe disso? E o Ministério Público? Está na hora de mudar esses costumes primitivos.

27 de julho de 2008

Desenvolvimento sustentável II


Jornal O Estado do Maranhão

O período inicial da formação de uma nova visão sobre desenvolvimento sustentável viu crescer a insatisfação com o fracasso das tentativas de desenvolvimento industrial acelerado das regiões mais pobres e com a ameaça de exaustão dos recursos naturais. A conseqüência foi a rejeição das visões da época sobre desenvolvimento pela opinião pública e especialistas no seu estudo nos países industrializados e, em menor proporção, nos outros.
Muitos passaram a argumentar que, a fim de se alcançar o equilíbrio entre economia e ecologia, seria necessário deter o crescimento da população e do capital industrial ou diminuir sua taxa de crescimento. Os países do Terceiro Mundo recusaram-se a aceitar esse ponto de vista, porque achavam essa uma forma disfarçada de impedir seu próprio crescimento, e afirmavam que o aumento populacional em seus países não era a causa da destruição dos recursos naturais, promovida, ao contrário, pelos países ricos em seu afã de crescimento contínuo e ilimitado.
O passo seguinte foi a Declaração de Cocoyok e o Relatório da Fundação Dag-Hammarskjold que chamaram a atenção para a necessidade de mudança na forma de acesso à terra e recursos naturais, e na própria estrutura de poder, como condição necessária a um novo tipo de desenvolvimento.
Foram apontados os impactos sobre o ambiente nos países periféricos, derivados da pobreza de suas populações, obrigadas ao uso intensivo das únicas terras acessíveis a elas, em geral as mais pobres, mas sem condições de utilizá-las com técnicas adequadas a seu cultivo, assimcomo nos países mais ricos, como o resultado do consumo suntuoso que produz impactos negativos no ar, nos rios, nos mares, na flora, na fauna e nos seres humanos.
Na seqüência, o Relatório Brudtland apesar do seu tom vago, aprofundou a discussão sobre as relações entre economia, tecnologia e política e enfatizou a necessidade de se adotar uma nova ética que levasse em consideração a necessidade de se alcançar eqüidade entre as pessoas nas sociedades do presente – por si só um esforço extraordinário – e também entre as gerações, de tal modo que a geração atual não melhorasse a qualidade de sua vida em detrimento das gerações futuras.
Há, no Relatório, recomendações sobre medidas que deveriam ser tomadas por todos os governos (preservação da biodiversidade, controle do crescimento populacional, diminuição do consumo de energia, etc.) e a definição de metas para o conjunto das nações, entre elas a implantação pela ONU de um programa de desenvolvimento sustentável.
Finalmente as relações entre o desenvolvimento e o ambiente foram incorporadas ao discurso de quase todos os governos do mundo a partir da ECO-92. A essa altura, várias pesquisas e desenvolvimentos teóricos tinham aparecido e já havia um reconhecimento de que o desenvolvimento sustentável era o caminho da conciliação das necessidades de produção de um mínimo de bem-estar material para todos com as de preservar a base de recursos naturais.
A Conferência foi útil na consolidação da noção de eqüidade (inter e intragerações), abordada antes no Relatório Brundtland. A Declaração do Rio convoca todos os países a fazerem o máximo possível com o fim de promover o desenvolvimento sustentável.
A aceitação do desenvolvimento sustentável como um ideal a ser perseguido por todas as sociedades é consensual hoje. Conhecemos, pelo visto até aqui, a principal característica a ele associada: levar em consideração, genericamente, a economia, de um lado, e o ambiente, de outro. Fundamentos teóricos existem que nos permitem afirmar que, ao adotar tal visão, não estaremos perseguindo objetivos inconsistentes e inconciliáveis. Está fora do âmbito destas observações, porém, expor a teoria que fundamenta essa afirmação.

20 de julho de 2008

Desenvolvimento sustentável

Jornal O Estado do Maranhão

O conceito de desenvolvimento sustentável se firmou como resultado de um processo que se acelerou na década de 60 e que, até então, contava, entre os seus marcos mais importantes, com um estudo, Limites do crescimento, patrocinado pelo Clube de Roma, e com a realização da Conferência de Estocolmo, ambos de 1972. Tanto o estudo quanto a Conferência chamaram a atenção para a ameaça, derivada da degradação ambiental, ao sistema de sustentação de vida em nosso planeta e à capacidade das gerações futuras de poder contar com a base de recursos naturais para suas próprias necessidades.
A Declaração de Cocoyok, de 1974, e o Relatório da Fundação Dag- Hammarskjõld, de 1975, feito com a participação de 48 países, do UNEP – Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas e de 13 órgãos das Nações Unidas, apontaram as relações entre concentração de poder e degradação ambiental. As idéias contidas nesses documentos foram sistematicamente rejeitados pelos governos dos países industrializados.
Em 1987, a UNCED - Comissão das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brudtland, e por Mansour Khalid, publicou o relatório Nosso futuro comum, ou Relatório Brudtland. É desse documento a bem conhecida definição: "Desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades". Tentando, simultaneamente, contentar a opinião pública dos países do Primeiro Mundo, com sua ênfase quase exclusiva nos aspectos ambientais, senão unicamente no lado "verde" da discussão, e as demandas dos países do Terceiro Mundo, pressionados pela necessidade de combater a degradação humana resultante da pobreza absoluta, Nosso futuro comum era intencionalmente vago.
Por fim, em 1992, foi realizada a Conferência da UNCED no Rio de Janeiro, a Rio-92. Para se ter uma idéia do aumento do interesse da sociedade e dos governos do mundo inteiro pelo assunto, é suftciente mencionar que, enquanto em Estocolmo estiveram presentes 114 nações, representadas por 1.200 delegados, a maioria com status ministerial, e apenas dois chefes de Estado, Olaf Palme, da Suécia e Indira Gandhi, da Índia, ao Rio de Janeiro compareceram 106 chefes de Estado e, aproximadamente, 35.000 participantes de todos os níveis. Havia a esperança de que da Rio92 resultasse a) uma declaração de princípios para a proteção do meio ambiente e para o desenvolvimento; b) a assinatura de convenções sobre biodiversidade, mudança climática, biotecnologia e florestas; c) um plano de ação direcionado para o desenvolvimento sustentável no século XXI, a Agenda 21, e os correspondentes acordos financeiros para sua implementação; d) a redefinição do papel das diversas agência das Nações Unidas, para adequá-las à idéia de desenvolvimento sustentável; e) um tratado sobre transferência de tecnologia.
Na parte referente à declaração de princípios, não foi alcançado um acordo. Quanto ao item b, a despeito de 153 países terem assinado Convenção sobre a biodiversidade, os Estados Unidos se recusaram a fazê-lo, impuseram a retirada de diversas cláusulas da Convenção do Clima, em muito esvaziando-a e, ainda mais, não foi possível chegar-se a um acordo sobre as florestas e desertificação. Para a implementação da Agenda 21 foi criada a UNCSD - Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável e os correspodentes recursos financeiros passaram a ser administrados pelo GEF – Global Environmental Facility.
O conjunto de eventos e documentos descritos acima permite que se perceba a emergência de uma nova visão sobre os problemas de desenvolvimento, que analisaremos em próxima oportunidade.

13 de julho de 2008

Sousândrade na Academia


Jornal O Estado do Maranhão

A Academia Maranhense de Letras dará continuidade na próxima quinta-feira, dia 17, à série de palestras comemorativas do seu Centenário. Como nas outras que vem promovendo desde o início do ano, esta será em sua sede, na rua da Paz, às 20 horas. O palestrante será da própria Academia, não vem de fora como os anteriores, todos de excelente nível tanto em estudos históricos, como no caso de Andrea Daher, quanto em literatura, e especificamente em poesia, a exemplo de Marco Lucchesi, só para dar dois exemplos. O expositor será Sebastião Moreira Duarte, que na Academia Maranhense de Letras ocupa a Cadeira No 1, patroneada por Almeida Oliveira, fundada por Barbosa de Godois e ocupada antes por Luís Carvalho e Antenor Bogéa. O acadêmico é estudioso da obra de Sousândrade, sobre quem falará, numa análise comparativa com o poeta romântico inglês George Gordon Byron, o sexto Lord Byron, uma das figuras mais influentes do Romantismo.
Sebastião nasceu no Ceará, estudou na Paraíba e em Pernambuco onde fez o curso secundário nos Aspirantados Salesianos de Recife, Carpina e Jaboatão. Após abandonar a vida religiosa, radicou-se no Maranhão, sendo atualmente professor de universidades particulares e aposentado da Universidade Federal do Maranhão. É mestre em Administração Universitária pela Universidade do Alabama e doutor em Literatura Latino-Americana pela Universidade de Illinois. Foi visiting scholar das Universidades de San Diego, na Califórnia, e de Illinois (Urbana-Champaign) além de professor da Universidade de Knoxville.
Sua bibliografia inclui no campo poético Novena de Natal, 1977; Canto essencial, 1979; Calen­dário lúdico , 1998. Na ensaística, O périplo e o porto, 1990; Estu­dos sobre o mosaico, 1992; Épica americana: O Guesa, de Sousândrade e o Canto general, de Pablo Neruda, 1992, livro proveniente de sua tese de doutoramento. Traduziu, ainda, de John Dewey: Meu credo pedagógico, 1980; de Peggy Sharpe: Espelho na rua: a cidade na obra de Eça de Queirós, 1989; de Roberto Malighetti: O Quilombo de Frechal: identidade e trabalho de campo em uma comunidade brasileira de remanescentes de escravos, 2007. Editou, também, com introduções e notas: Padre Mestre Inácio Rolim, do Pe. Heliodoro Pires, 1991; Extrato de gramática grega, do Pe. Inácio de Sousa Rolim, 1993; Noções da história natu­ral, do Pe. Inácio de Sousa Rolim, 1993; Virgílio brasileiro, de Manuel Odorico Men­des, 1995; Traduções de Voltaire (tragédias Mérope e Tancredo), 1999; Viagem ao norte do Brasil, de Ives d’Evreux, 2002 Publicou os livros de crônica Crônicas de Campo Serrano, 1980; Do miolo do sertão, 1988 (2a edição, 1992). Dirigiu as coleções Documentos Sertanejos, para a Editora Estado do Piauí, 1990-1992, e a Coleção Maranhão Sempre, para a Editora Siciliano, 2001-2002, a última com o patrocínio cultural do governo do Estado, quando era governadora Roseana Sarney.
Sousândrade nasceu em Guimarães, em localidade que faz parte na atualidade de Mirinzal, a 9/7/1832 e morreu em São Luís a 21/4/1902. O Guesa, sua obra mais importante, tem como tema a lenda do sacrifício, após longa peregrinação, de um jovem, que, imolado, tornaria possível a continuidade de seu povo. Sousândrade identifica seu destino pessoal com o do jovem índio, vê no drama deste semelhança com o dos povos nativos da América, oprimidos pelos sistema colonial, e defende uma república utópica.
A revalorização da obra de Sousândrade deve-se em grande parte à publicação de inéditos dele por Jomar Moraes e Frederick Williams em 1970. Considerado um poeta extravagante em sua época, disse Sousândrade essas palavras famosas: "Ouvi dizer já por duas vezes que o Guesa Errante será lido 50 anos depois; entristeci – decepção de quem escreve 50 anos antes".

6 de julho de 2008

Eis a questão

Jornal O Estado do Maranhão

Formou-se uma polêmica de forma alguma trivial, porque centrada em ameaça concreta a nossas vidas, a respeito da chamada Lei Seca. Esta não cria, mas torna mais estreitos os limites, menores do que os anteriores, mas não zero, de ingestão de bebidas alcoólicas, além dos quais é ilegal dirigir veículos automotores.
Comecemos pelos números. As estimativas correntes falam de 50 mil mortos no trânsito anualmente no Brasil, grande parte em acidentes envolvendo pessoas alcoolizadas. Temos mais mortes no trânsito em um ano do que os Estados Unidos tiveram em toda a Guerra do Vietnam. Mas, esperem. De fato, a realidade terrível é pior ainda, porque as estatísticas se referem tão-só a falecimentos no local do acidente, com omissão de óbitos em hospitais e de seqüelas inevitável nos feridos, componentes de um batalhão dez vezes maior do que o de mortos.
A recente lei não inovou no uso de bafômetros para medir o teor alcoólico do sangue de infratores. Antes, como hoje, eles têm a opção constitucional de não se submeter a essa avaliação, pois não são obrigados a produzir provas contra eles mesmos, como qualquer aluno do primeiro período de direito deve saber.
Ninguém está, como não poderia estar, proibido de beber. Proibido está é de beber e depois sair dirigindo por aí, ameaçando vidas, e ser ele mesmo juiz da quantidade de álcool que pode ingerir sem risco aos outros. O bêbado, no entanto, é a pessoa menos qualificada para avaliação de suas próprias habilidades. O sujeito, claro, pode saborear quantos barris de cerveja quiser, de vinho, de uísque ou de Caninha 51. Pode depois quebrar móveis em casa, se lhe der na veneta, pode se suicidar jogando-se com o carro da ponte ou jogar dinheiro fora. Problema dele. Não pode é bater na mulher, jogar os filhos do alto de edifícios ou assassinar usando como armas a bebida e o automóvel. O álcool deve andar no tanque, não no sangue e no cérebro enevoado do motorista.
No Brasil há leis que não pegam, sempre por inércia até aqui. Agora, parece haver uma campanha com o fim de fazer a lei não pegar, para depois dizerem que não pegou. Surgiram de repente estatísticas surrealistas revelando queda de 25% na venda de bebida em bares e restaurante no primeiro fim de semana após a vigência da lei, levando, afirmam, a considerável aumento do desemprego no setor, o que justificaria a revogação dela. Bem, o argumento também justificaria a permanência da produção de cocaína na Colômbia, mas nem assim as pessoas defendem sua manutenção, a não ser, claro, os produtores da droga. Nem seus consumidores o fazem.
Direitos constitucionais estariam sendo violados. Quais? O de matar impunemente? Quem vai para a cadeia no Brasil por crimes no trânsito? Chega a ser patética a história sobre a possibilidade de multa e prisão a quem dirigir após ingerir xarope contra tosse, usar líquidos de higiene bucal ou ingerir alimentos servidos ao molho de vinho. Se algum agente da polícia prender alguém por isso, deve, ele sim, ser preso. Seria, esse procedimento, problema de aplicação da lei, facilmente corrigível, não da lei. Tal lenda me recorda a resistência que houve em São Luís contra as barreiras eletrônicas, que tantas vidas têm salvado, nas ruas da cidade. Todo mundo seria assaltado se diminuísse a velocidade ao passar por elas. O negócio era acelerar e atropelar quem estivesse na frente. Até o momento não se tem notícia da previsão ter se confirmado.
Essa lei é, no trânsito, o equivalente da Lei de Responsabilidade Fiscal na economia. Servirá para mudar práticas antes consideradas imutáveis. Quando a preservação de vidas humanas está em jogo, melhor é pecar por excesso, se necessário, do que por falta. Beber ou não beber ao volante, eis a inevitável e inarredável questão.

29 de junho de 2008

Uma boa escola

Jornal O Estado do Maranhão

Fomos, membros da Diretoria da Academia Maranhense de Letras, fazer uma visita no dia 20 deste mês ao Centro de Ensino Maria Mônica Vale, no Vinhais. Estávamos lá eu, como presidente, José Maria Cabral Marques, vice-presidente, Jomar Moraes, secretário-geral, Alex Brasil, 2º tesoureiro e Ceres Costa Fernandes, membro do conselho fiscal.
Antes de conhecê-la, nós como que já a conhecíamos. Ceres tinha repetidas vezes nos dado notícias dela, seja durante sessões da AML, seja em conversas informais. A acadêmica conhece a Mônica Vale por experiência pessoal e sempre nos disse que a escola desmente a idéia de que o setor público não tem a capacidade de ensinar bem. De fato, o ensino oferecido pelo Estado no Brasil (ou o ensino de modo geral) não tem bom conceito na sociedade, embora se conheçam as exceções de sempre, a confirmarem a regra. Muito já se progrediu, pois hoje todos encontram vaga para estudar, porém mais ainda tem de ser feito ainda com respeito à qualidade.
Mas o caso aqui é outro. Ocorre o seguinte. Todos os anos a Mônica Vale realiza um Momento Literário, com temas escolhidos pelos alunos. Este ano eles decidiram homenagear a Academia pelos 100 anos de sua fundação, após terem homenageado Ceres, dando o nome dela à biblioteca da escola que naquele dia viu a inauguração de uma estante de autores maranhenses. Esta realização bem revela a importância dada por eles à cultura maranhense, à leitura e à literatura.
Eles não valorizam tão-só a literatura. Uma adaptação do famoso e delicioso conto de Artur Azevedo, O plebiscito, e outra de Maria da tempestade, romance de João Mohana, que ocupou a Cadeira No 3 da AML, cujo patrono é Artur Azevedo, foram encenadas. Não imagine, leitor, os jovens atores como meros decoradores de textos com o fim repeti-los ante a platéia. Houve, como há sempre, cuidadosa preparação, com discussão e interpretação do texto pelo elenco e orientadores, de tal forma a todos terem plena compreensão das obras. A impressão que tive foi de um ambiente em que a participação dos alunos no planejamento das atividades escolares relacionadas a sua própria educação em sentido amplo é valorizada, caminho sem dúvida enriquecedor, produtivo e humanizador da escola e, em especial, dos alunos, de que é exemplo a Rádio Estação Jovem.
Imagino ser de melhoria na qualidade do ensino e do aprendizado o resultado das práticas adotadas na Mônica Vale. Se for de fato assim, como acredito ser, então algo pode ser aprendido e transferido a outros estabelecimentos da rede de ensino público. Deve-se ter em mente que a experiência não é única. Outras escolas do Estado atuam de forma semelhante, sendo a ênfase na leitura a característica individualizadora da Mônica Vale. No entanto, podemos tomá-la como modelo e daí projetar possíveis soluções para os problemas educacionais do nosso sistema de ensino de nível médio. Pode-se e deve-se indagar a respeito das razões que levaram a uma situação de sucesso como essa. Se funcionou lá, é possível que funcione em outras.
O diferencial está no corpo docente treinado e motivado? Nos equipamentos, não necessariamente sofisticados? A motivação vem dos responsáveis pelas políticas públicas para a educação? Ou tudo está ligado às características sócio-econômicas dos alunos? Se não existe ainda, deveria existir uma equipe de técnicos encarregada de avaliar situações análogas e de responder a perguntas como essas, propondo a aplicação sistemática ao sistema de ensino dos fatores que possam conduzir a bons resultados e a remoção dos impeditivos. Se já existe, então é necessário colocar em práticos os diagnósticos até aqui realizados.
De qualquer forma a Mônica Vale é prova da possibilidade de os governos oferecerem educação de boa qualidade.

Machado de Assis no Amazon